'Agricultores podem ser aliados na proteção da Amazônia, o que não podemos é aceitar milícias e bandidos', diz pesquisador:pix casino

Floresta amazônica com árvores derrubadas

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Legenda da foto, Pesquisador diz que agricultores podem ser aliados na proteção da Amazônia

Ele diz que "a presença do Exército é bem-vinda", ao comentar o decreto do governo que colocou,pix casinomaio a junho, as rédeas das açõespix casinofiscalização e combate ao desmatamento nas mãos das Forças Armadas — tirando-as do Ibama, que passou a ser subordinado aos militares.

Mas diz que é cedo para avaliar o resultado das operações militares realizadas até agora. O governo anunciou que, até o dia 21/05, "26 pessoas foram presas por delitos ambientais e outros crimes durante as ações do Exército, e que foram aplicadas multas no valorpix casinoR$ 8,7 milhões". Além disso, foram apreendidos motosserras, tratores, caminhões e embarcações.

O fatopix casinoo Exército ter descartado a destruição do equipamento apreendido, entretanto, preocupou Veríssimo. "Se não usarmos essas medidas (destruiçãopix casinoequipamento apreendido), que são comprovadamente eficazes, eu tenho um poucopix casinodúvida se vão conseguir combater o desmatamento", diz.

Leia abaixo trechos da entrevista concedida à BBC News Brasil,pix casinoque pesquisador alerta para as graves consequências do aumento do desmatamento. Ele também comenta a fala do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles,pix casinoque é preciso aproveitar a pandemia para "passar a boiada" na mudançapix casinolegislação ambiental.

pix casino BBC News Brasil - O último boletimpix casinodesmatamento da Amazônia do Sistemapix casinoAlertapix casinoDesmatamento (SAD),pix casinoabril, registrou um aumentopix casino171%pix casinorelação a abrilpix casino2019. O que explica esse aumento expressivo?

Floresta amazônicapix casinochamas

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Legenda da foto, Pesquisador disse que, apesar da pandemia, desmatamento seguepix casinoalta na Amazônia

pix casino Beto Veríssimo - Apesar da diminuição da atividade econômica por causa da pandemia, o desmatamento esse ano, não sópix casinoabril, maspix casinotodos os meses, tem se mantidopix casinouma tendênciapix casinoalta. E isso tem uma explicação dupla: uma é a menor presença da fiscalização no campo. O segundo fator é o fatopix casinoque governo não prioriza o combate ao desmatamento.

O calendário do desmatamento vaipix casinoagostopix casino2018 até julhopix casino2019, então pega pouco do governo Temer. Mas neste ano,pix casinoagostopix casino2019 até julhopix casino2020, vai ser totalmente na conta do governo atual. Ainda faltam dois meses para termos os números, mas toda a tendência é que a gente vai ter mantido esse crescimento, com um aumento seguido do desmatamento por dois anos. É bastante preocupante.

pix casino BBC News Brasil - Como a mudança do comando das operaçõespix casinofiscalização do Ibama para o Exército afeta esse cenário? As operações que o Exército tem feito estão tendo algum efeito no combate ao desmatamento?

pix casino Veríssimo - As operações começarampix casinoabril e maio. É cedo para dizer se vai ter impacto, nos dadospix casinomaio, que saempix casinojunho, vai ficar mais claro se a ação das Forças Armadas está conseguindo. O que a gente sabe, historicamente, é que há um efeito positivo quando há uma operaçãopix casinocombate ao desmatamento ostensiva, com a presençapix casinoaparato policial — porque o Ibama não tem força policial, eles precisam do aparato da Polícia Federal, do Exército etc. Então a presença do Exército é bem-vinda, a gente estápix casinouma situação muito complicada na Amazônia. Mas não dá para dizer ainda se vai ter efeito da maneira como eles estão fazendo.

pix casino BBC News Brasil - Como você avalia o que eles têm feito até agora, como o comando da operação ter mudado para o Exército e essa decisãopix casinonão destruir os equipamentos dos criminosos ambientais pegospix casinoflagrante?

pix casino Veríssimo - O ideal nessas operações é contar com a parceriapix casinotodas as instituições, da Polícia Federal, do Ibama, do Exército — e o Ibama tem todo o know howpix casinocomo fazer, esse conhecimento não pode ser ignorado.

A destruição dos equipamentos é recomendada. Tem duas maneiraspix casinoinibir o infrator, (que comete) o desmatamento ilegal. Uma é prendendo, mas o infrator normalmente não está lá, é um laranja, um funcionário. A outra, mais eficaz, é quando você penaliza o infrator, quando o crime é claramente configurado, destruindo o equipamento. É como quando há apreensãopix casinodroga, você tem que incinerar a droga. A carga, quando a madeira é ilegal, tem que ser apreendida. Não tem como contemporizar com desmatadores ilegais, ladrõespix casinoflorestas públicas, extratores ilegaispix casinomadeira. Para a ilegalidade, a força da lei.

Se não usarmos essas medidas, que são comprovadamente eficazes, eu tenho um poucopix casinodúvida se vão conseguir combater o desmatamento (com as operações). A gente já observou no passado que o quepix casinofato faz com que outros desmatadores, que estão nos arredores daquele local sendo fiscalizado, parempix casinodesmatar, é quando você apreende e destrói equipamentos. Quando isso acontece, os infratorespix casinofato diminuempix casinoatividade num raio expressivo com medopix casinoprejuízos econômicos importantes. Eles não têm muito medopix casinoser presos, acabam sendo soltos.

Árvores cortadas na floresta amazônica

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Legenda da foto, 'A gente já observou no passado que o quepix casinofato faz com que outros desmatadores, que estão nos arredores daquele local sendo fiscalizado, parempix casinodesmatar, é quando você apreende e destrói equipamentos'

pix casino BBC News Brasil - O risco aos fiscais e ambientalistas aumentou também nesse momentopix casinoalto desmatamento?

pix casino Veríssimo - A gente teve um episódiopix casinoque um fiscal do Ibama foi agredido na região do Pará, teve uma tentativapix casinoRondôniapix casinoemboscar fiscais... A gente não tem um levantamento, mas eu diria o seguinte: a gente está assistindo a um aumento do desmatamento na Amazônia, isso é um fato, está observando que esse desmatando está acontecendopix casinoregiões onde há pouca presença do Estado, onde há muitos crimes ambientais associados (extração ilegalpix casinomadeira, garimpo ilegal, invasãopix casinoflorestas públicas). Isso tudo configura uma ambientepix casinoilegalidade nocivo e perigoso.

pix casino BBC News Brasil - Existe um discurso, que é bastante encampado pelo atual governo, que contrapõe o desenvolvimento econômico à preservação da Amazônia, como se as leispix casinoproteção fossem burocracias que atrasam o desenvolvimento. Existe alguma realidade nesse argumento?

pix casino Veríssimo - Não. As pessoas confundem. O desmatamento da Amazônia não melhorou a economia da Amazônia. Nos anos 1970, quando 99% da floresta ainda estavapix casinopé, a região participava do Produto Interno Bruto mais ou menos na mesma proporção que participa hoje. E nesse meio tempo você desmatou 20% da Amazônia, tem o dobro dissopix casinodegradação. Ou seja, o modelo baseado no desmatamento não gerou prosperidade na Amazônia, não gerou desenvolvimento econômico, não gerou progresso social — a gente está vendo agora o drama da saúde, que é um problema endêmico e se agrava com o coronavírus. Então, desmatamento não gera desenvolvimento, não gera aqui epix casinolugar nenhum no mundo. E ele inibe investimento — que investidor sério vai querer investir na Amazônia, rodeada por ilegalidade?

O desmatamento está acontecendo muito mais nesse caráter especulativo do que no caráter produtivo. Ninguém está expandindo o desmatamento para aumentar a produçãopix casinosoja — está se desmatando onde a produção agrícola não está presente,pix casinoregiões afastadas. O que é uma tragédia pro Brasil. É um roubopix casinopatrimônio público, você tem um prejuízo para os cofres, tem um prejuízo ambiental, tem um ambiente conflagradopix casinoconflitos que impede bons investimentos econômicos.

Você tende a piorar a situação social daqueles territórios. Acaba criando municípios que são incapazespix casinoter uma arrecadação suficiente para ter serviços públicos, o que onera o contribuinte brasileiro... é o pior dos mundos. A situação do Amazonas com a pandemia é um exemplo dessa precariedade. Destrói recursos naturais, mantém pobreza, inibe investimentos e aumenta ilegalidade.

O desmatamentopix casinofato é um problema ambiental, essa é a face que a gente conhece e a face que o mundo inteiro se preocupa. Mas o desmatamento é, sobretudo, uma tragédia socioeconômica, que beneficia grupos muito pequenospix casinosetores que operam na ilegalidade.

Árvores queimadas na Floresta Amazônica

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Legenda da foto, 'O desmatamento inibe investimento — que investidor sério vai querer investir na Amazônia, rodeada por ilegalidade?'

pix casino BBC News Brasil - Como promover o desenvolvimento sem destruir o meio ambiente?

pix casino Veríssimo - É como se a gente tivesse três Amazônias. Existe uma, que tem 20% das áreas desmatadas, que corresponde ao leste do Pará, ao sul do Pará, centro-norte do Mato Grosso, penetra no meiopix casinoRondônia, algumas faixas no sul do Amazonas e do Acre. Essa é uma área quepix casinofato o governo deveria ter um foco no desenvolvimento, na assistência técnica, no aumento da produção agropecuária. A gente precisapix casinofato alocar os recursos escassos do governo para aumentar a produtividade com o uso das áreas que já foram desmatadas, apoiar produtores nessa área.

Se os recursos escassos fossem focados para esse território, a gente poderia ter um aumentopix casinorenda e produtividade sem desmatar um hectare. Nessa faixa toda existem muitas áreas que estão subaproveitadas. De cada dez hectares desmatados, apenas um tem produtividade agropecuária na média da produtividade brasileira. Seis têm produtividade abaixo (da média). E três não têm nada, o capim ficou áspero e cheiopix casinoespinho, nem o boi quer mais. São áreas que hoje não produzem mais nada.

Temos também uma segunda Amazônia, que corresponde a uns 40%, com municípios gigantes, como Altamira, no sul, centro-norte e centro-sul do Amazonas, grande parte da parte central do Pará — é uma áreapix casinofloresta, que não faz o menor sentido desmatar. Com o desmatamento, estamos levando pobreza, crime organizado, não vai gerar riqueza para o país — nessa área temos que combater, temos que fazer um foco ostensivopix casinocontrole.

E temos ainda uns 40%pix casinoterras indígenas,pix casinounidadespix casinoconservação, que estão ainda relativamente protegidas, quase que passivamente, porque não são alvo aindapix casinograndes ameaças. Não quer dizer que elas estão imunes, mas elas estão relativamente protegidas.

O que a gente precisa na Amazônia é uma agendapix casinouso inteligente dos recursos,pix casinoaproveitamento das áreas que foram desmatadas até 2008 epix casinoproteção das áreaspix casinofloresta.

pix casino BBC News Brasil - Como a aprovação da PL 2633/2020, sobre regularização fundiáriapix casinoterras da União, que ganhou o apelidopix casinoPL da grilagem, pode afetar esse quadro?

pix casino Veríssimo - A regularização é importante, mas precisa ser feita com cuidado,pix casinoárea já consolidadas, com duas, três décadaspix casinoprodução, onde o desmatamento aconteceu até 2008 (ano determinado como linhapix casinocorte pelo Código Florestal), onde hápix casinofato produtores, não especuladores. Quem continuou desmatando depois dessa data, invadiu florestas públicas, é um movimento totalmente diferente, não pode regularizar áreas que foram griladas. E os produtores regularizados vão ter que respeitar o Código Florestal.

Então essa regulação dependepix casinoonde, com quais condições. É preciso que haja um grande debate para separar o interesse legítimo e o ilegítimo, e é algo que não tem condiçõespix casinoacontecer no meiopix casinouma pandemia, precisa ser quando o país tiver com oxigênio para discutir isso.

pix casino BBC News Brasil - Em um vídeopix casinouma reunião do presidente com ministros divulgado na semana passada, o ministro Ricardo Salles diz pix casino que é preciso aproveitar o "momentopix casinotranquilidade"pix casinoque a atenção da mídia está voltada para o coronavírus para "passar a boiada" e aprovar diversas flexibilizações. Que tipopix casinomedidas são essas, que poderiam ser aprovadas sem a atenção da mídia? Como você avalia as consequências dessa postura do governo?

pix casino Veríssimo - Ele não diz quais são as medidas. O dever dele, inclusive constitucional, deveria serpix casinopreservar. Mas o que a gente está assistindo desde 2019, quando houve a posse (do presidente) é que essas falas não são apenas falas, elas se traduzempix casinoresultado. (O presidente Jair Bolsonaro) já dava (antes) sinais, mensagens, já dizia que não ia criar novas áreas protegidas, não ia criar reservas indígenas. A gente vê que sinais e mensagens se tornam políticas que acabam favorecem o aumento do desmatamento. E o perigo é que se tomem outras medidas que possam agravar ainda mais o problema.

Então houve um recrudescimento, esse governo na verdade não teve nenhuma propostapix casinopreservação do meio ambiente, as falas são no sentidopix casinoque (eles não enxergam) o desmatamento como um problema.

pix casino BBC News Brasil - A situação da Amazônia tem atraído muito a atenção da mídia internacional. Como está a imagem do Brasil no exterior quanto a isso? E como isso pode afetar o país?

pix casino Veríssimo - A questão do coronavírus trouxe luz para como a destruição ambiental gera um impacto. Temos diversas doenças que vêmpix casinoanimais que tiveram habitats destruídos, que vêmpix casinoflorestas tropicais. E os impactos da destruição da Amazônia para o clima vão ser muito mais dramáticos do que um único vírus, então o mundo inteiro está muito preocupado com isso, muito preocupado com o Brasil.

Então, com certeza, conforme aumenta a destruição, aumenta também a pressão internacional sobre o país, não sópix casinogovernos, mas empresas, corporações. Então "se é da Amazônia eu não compro", "se é da Amazônia eu não invisto", o impacto econômico pode ser muito grande.

A destruição da Amazônia pode parecer algo muito longe, muito distante da realidade do dia a dia das pessoas. Mas as consequências não são restritas àquela região. Como a destruição desse ambiente vai afetar alguém que estápix casinoSão Paulo oupix casinoPernambuco? Tem várias formaspix casinoque afeta, mas três principais.

Uma é essa questão da saúde — da possibilidadepix casinopandemias vindas da destruição do ambiente,pix casinoproblemas respiratórios que podem se agravar com as queimadas. A fumaça das queimadas não atinge muito o Nordeste, mas atinge o Sudeste, chega até o Paraná. E gera problemas respiratórios graves, piores aindapix casinomomentopix casinouma pandemiapix casinouma doença que afeta o sistema respiratório como a covid-19.

Outro aspecto principal é como a destruição Amazônia afeta as mudanças climáticas, ela é enorme, tem muito carbono, ela é realmente um termômetro do mundo, afetas as chuvas, os ventos, o clima do país e do mundo inteiro. É um impacto tremendo, não estamos falandopix casinomilhares, estamos falandopix casinouma escalapix casinodezenaspix casinomilhõespix casinopessoas.

E afeta também a economia do país — grande parte do PIB brasileiro depende das águas da Amazônia,pix casinoum regimepix casinochuvas que é afetado pelo desmatamento, entãopix casinodestruição é um risco enorme para a própria economia. E os agricultores, produtores agropecuários, a maioria têm consciência disso. Os agricultores podem ser aliados, o que não podemos é contemporizar com ladrõespix casinoflorestas públicas, milícias, bandidos especuladores.

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