Muita chuva, poucos testes e mais gente na rua: o que levou Amazonas a explosãonbb 2024 23casosnbb 2024 23covid-19:nbb 2024 23
Em Manaus, onde estão cercanbb 2024 2380% dos casos confirmados no Estado até agora, essas taxas são ainda maiores. Houve até agora 762 casos por milhãonbb 2024 23habitantes, o quinto pior índice entre as capitais, e 72 mortes por milhãonbb 2024 23habitantes, o maior entre todas as capitais.
Foram confirmados até a última terça-feira (21/4) 2.270 casos e 193 mortes - o quarto e quinto maior total do país respectivamente. A taxanbb 2024 23mortalidade do vírus no Amazonas,nbb 2024 238,5%, também está acima da média nacional,nbb 2024 236,4%.
A situação se agravou ainda mais porque o Amazonas está perigosamente pertonbb 2024 23ter ocupado todos os seus leitosnbb 2024 23Unidadesnbb 2024 23Terapia Intensiva (UTI) da rede pública, que ficam, todos,nbb 2024 23Manaus.
A taxanbb 2024 23ocupação chegou a 95% no inícionbb 2024 23abril e levou os governos federal e estadual a mobilizar verbas, equipamentos, profissionais e a abrir novos hospitaisnbb 2024 23regimenbb 2024 23emergência para tentar impedir o colapso total do sistemanbb 2024 23saúde.
Na terça-feira passada (14), a Prefeituranbb 2024 23Manaus anunciounbb 2024 23nota que, por causa do grande aumento do númeronbb 2024 23sepultamentos no cemitério público Nossa Senhora Aparecida, decidiu abrir valas comuns para enterrar as vítimas do novo coronavírus.
A gravidade da crise levou o prefeitonbb 2024 23Manaus, Arthur Virgílio (PSDB), a se reunir na segunda-feira (20/4) com o vice-presidente, Hamilton Mourão, para pedir ajuda ao governo federal para uma situação, que, segundo dissenbb 2024 23entrevista à Folhanbb 2024 23S. Paulo, deixounbb 2024 23sernbb 2024 23emergência para se tornar um "estadonbb 2024 23calamidade".
Na entrevista, Virgílio criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por ter respondido "não sou coveiro" ao ser questionado sobre o número aceitávelnbb 2024 23mortes nesta pandemia.
"Não sei se ele serviria para coveiro. Talvez não servisse. Tomara que ele assuma as funçõesnbb 2024 23verdadeiro presidente da República. Uma delas é respeitar os coveiros", disse Virgílio, que chorou ao falar do assunto, segundo a Folha.
A BBC News Brasil conversou com profissionaisnbb 2024 23saúde que atuam no Amazonas para entender o que levou situação a se agravar tão rápido ali, e eles apontaram alguns dos motivos que contribuíram para o Estado ter o quadro mais crítico do país nesta pandemia.
Épocanbb 2024 23chuvas aumenta circulaçãonbb 2024 23vírus e internações por síndromes respiratórias
O primeiro motivo é o clima. Os mesesnbb 2024 23novembro e abril concentram o maior volumenbb 2024 23chuvas no Estado, e isso favorece a proliferaçãonbb 2024 23vírus que causam síndromes respiratórias, explica a imunologista Bárbara Baptista, pós-doutoranda da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Amazonas.
"Na épocanbb 2024 23chuvas, as pessoas ficam maisnbb 2024 23ambientes fechados, com pouca ventilação, respirando o mesmo ar, o que gera um aumentonbb 2024 23infecções virais", diz Baptista.
A temporadanbb 2024 23chuvas coincidiu justamente com a épocanbb 2024 23que o novo coronavírus, descobertonbb 2024 23dezembro na China, começou a se espalhar pelo mundo.
E, neste ano, choveu acima da média,nbb 2024 23acordo com o Instituto Nacionalnbb 2024 23Meteorologia (Inmet). Em Manaus, foram 441,9 mmnbb 2024 23janeiro, bem mais do que os 270 a 300 mm que normalmente chovem neste mês. Em fevereiro, foram mais 232,1 mm, abaixo da média para o mês.
Mas o acumuladonbb 2024 23674 mmnbb 2024 23janeiro e fevereiro fez do primeiro bimestrenbb 2024 232020 o mais chuvoso dos últimos quatro anos. E,nbb 2024 23março, voltou a chover mais do quenbb 2024 23costume.
A temporadanbb 2024 23chuvas aumenta a circulaçãonbb 2024 23vírus que causam problemas respiratórios - como influenza comum, adenovírus e H1N1 -, e eleva o númeronbb 2024 23pessoas internadas nos hospitais pelas doenças que causam.
O Estado tem um sistemanbb 2024 23saúde com capacidade limitada. Até meadosnbb 2024 23março, havia 533 leitosnbb 2024 23UTI nas redes pública e privada, segundo o governo estadual. Isso corresponde a 13 leitos para cada 100 mil habitantes, 40% abaixo da média nacional,nbb 2024 2320 leitos a cada 100 mil habitantes.
Em uma épocanbb 2024 23que há ainda menos leitos disponíveis por causanbb 2024 23outras doenças, aumenta muito a chancenbb 2024 23um hospital lotar com o fluxonbb 2024 23pacientes extra gerado pela pandemianbb 2024 23um vírus altamente contagioso.
Um estudo recente apontou que uma pessoa é capaznbb 2024 23infectar outras 2,79, masnbb 2024 23rápida disseminação tem levado epidemiologistas a revisar o índice para maisnbb 2024 233.
"O sistemanbb 2024 23saúde da região pode não estar dando conta não só por causa da covid-19, mas por outras doenças que circulam na região nesta época", afirma Baptista.
A BBC News Brasil pediu uma entrevista à Secretarianbb 2024 23Saúde do Amazonas sobre o aumento do númeronbb 2024 23casos no Estado, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
População aderiu menos ao isolamento social
Baptista também aponta que muitos amazonenses,nbb 2024 23especialnbb 2024 23Manaus, não cumpriram devidamente as recomendaçõesnbb 2024 23isolamento social.
"O governo começou a fazer campanhas no inícionbb 2024 23março, mas não houve resposta. A gente via muitas pessoas nos mercados, farmácias, e não se respeitava as regrasnbb 2024 23distanciamento neste lugares para evitar a disseminação", diz a pesquisadora.
"Talvez as pessoas tenham pensado que estavam lidando com algo distante, que estava acontecendo nas grandes metrópoles, mas se esqueceram que Manaus tem tudo que estas cidades têm."
Essa também é a opiniãonbb 2024 23Guilherme Pivoto, consultor da Sociedade Brasileiranbb 2024 23Infectologia no Estado.
"Manaus é a capital financeira da região Norte, com um fluxo grandenbb 2024 23pessoasnbb 2024 23fora do país, principalmente da América do Norte. Temos voo direto para Miami, por exemplo."
O médico diz que ele e seus colegas costumam circular bastante pela cidade, porque trabalhamnbb 2024 23vários hospitais, e a percepção comum énbb 2024 23que havia muito movimento nas ruas com o comércio aberto, mesmo após os primeiros casos serem confirmados.
"Conforme as medidas foram sendo reforçadas, as pessoas foram aos poucos aderindo mais, até mesmo nos bairros periféricos, mas, no meu pontonbb 2024 23vista, tinha mais gente na rua do que deveria", diz Pivoto.
O monitoramento da adesão ao isolamento social feito por empresasnbb 2024 23tecnologia aponta na mesma direção, segundo apurou a BBC News Brasil.
O Google acompanha, com base nos sinaisnbb 2024 23GPSnbb 2024 23celulares, a quedanbb 2024 23circulaçãonbb 2024 23estabelecimentos comerciais enbb 2024 23recreação, supermercados e farmácias, parques, estaçõesnbb 2024 23transporte público e locaisnbb 2024 23trabalho,nbb 2024 2326 Estados e no Distrito Federal.
A empresa já divulgou dois relatórios sobre o assunto, ambos feitos depois dos decretos estaduaisnbb 2024 23isolamento social - no Amazonas, a decisão começou a valernbb 2024 2323nbb 2024 23março. Os índices destas datas - 29nbb 2024 23março e 5nbb 2024 23abril - foram comparados com a circulação média registrada nas semanasnbb 2024 233nbb 2024 23janeiro a 6nbb 2024 23fevereiro.
Nos dois levantamentos, a circulação no Amazonas caiu menos do que na média do paísnbb 2024 23todas as cinco categorias.
Em 29nbb 2024 23março, o Estado teve a menor redução do país no movimento das estaçõesnbb 2024 23transporte público, e a sexta menornbb 2024 23comércio e recreação.
Uma semana depois, o Amazonas registrou a segunda menor queda nas estações, atrás sónbb 2024 23Goiás, e a nona menornbb 2024 23comércio e recreação.
Pornbb 2024 23vez, a empresa In Loco criou um índicenbb 2024 23isolamento social próprio, com base nas informaçõesnbb 2024 2360 milhõesnbb 2024 23celulares, coletadas desde 1ºnbb 2024 23março.
Os dados mostram que, na primeira semana após o decretonbb 2024 23isolamento social entrarnbb 2024 23vigor no Amazonas, o índicenbb 2024 23adesão no Estado foinbb 2024 2351%, cinco pontos percentuais a menos do que a média brasileira,nbb 2024 2356% - e essa diferença chegou a um piconbb 2024 2311 pontos percentuaisnbb 2024 2325nbb 2024 23março.
O Amazonas ficou naquela semana muito abaixonbb 2024 23algumas das maiores adesões do país, como por exemplo no Ceará e no Rio Grande do Sul (60%),nbb 2024 23Goiás (61%),nbb 2024 23Santa Catarina (62%) e no Distrito Federal (64%).
O infectologista Bernardino Albuquerque, presidente do comitênbb 2024 23enfrentamento ao coronavírus da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), avalia que faltou, num primeiro momento, uma campanhanbb 2024 23comunicação mais eficiente para esclarecer à população a importâncianbb 2024 23ficarnbb 2024 23casa.
"A população não tem o hábitonbb 2024 23fazer isso quando tem uma gripe comum. E isso não foi obedecido, principalmente por quem tinha sintomas mais leves, e a doença foi ganhando corpo", diz o médico.
Barbara Baptista, da Fiocruz, avalia que também pode ter havido falhas na fiscalização do cumprimento do decreto.
"Na última semana, ainda tinha muito comércio não essencial aberto. Se isso acontece a esta altura, alguma coisa está errada, não só por parte dos comerciantes, mas também porque alguém não foi lá e mandou fechar", diz a imunologista.
A boa notícia notícia é que, na segunda semana após o decreto, a diferença entre o índice do Amazonas e do Brasil caiunbb 2024 23cinco para três pontos percentuais.
E, na terceira semana, o Estado ficou quase dois pontos percentuais acima da média nacional - com 54%, foi a maior média semanal desde o decreto até então.
Com poucos testes, não é possível rastrear casos e saber o tamanho real da epidemia
Bernardino Albuquerque, da Ufam, diz também que a testagem é insuficiente no Estado - um problema comumnbb 2024 23todo o país.
"A confirmaçãonbb 2024 23casos foi muito seletiva e demorada,nbb 2024 23um velocidade muito menor do que a da propagação do vírus", afirma o infectologista.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, até 16nbb 2024 23abril, 8.072, ou 1,69% dos 476.272 testes laboratoriais para covid-19 distribuídos aos Estados, foram destinados ao Amazonas.
Com muitos casos suspeitos e poucos exames, a testagemnbb 2024 23todo o Brasil foi restrita aos casos mais graves.
Além disso, há apenas um centro credenciado no Estado para fazer os exames. O Laboratório Centralnbb 2024 23Saúde Públicanbb 2024 23Manaus era capaznbb 2024 23analisar 80 amostras por dia no finalnbb 2024 23março, segundo o governo estadual.
"O sistemanbb 2024 23vigilância no Estado tem uma capacidade pequena, e ele se esgotou. Está trabalhando com a capacidade máxima", diz o infectologista Guilherme Pivoto.
De acordo o Ministério da Saúde, o Amazonas já concluiu, até 16nbb 2024 23abril, 4.298 examesnbb 2024 23casos suspeitosnbb 2024 23covid-19, o décimo maior total entre os Estados.
Mas estãonbb 2024 23falta no mercado reagentes usados para identificar o coronavírusnbb 2024 23testes laboratoriais, disse a Fundaçãonbb 2024 23Vigilâncianbb 2024 23Saúde, que é ligada à Secretaria Estadualnbb 2024 23Saúde.
Isso gerou um acúmulonbb 2024 23centenasnbb 2024 23exames à esperanbb 2024 23análise. O tempo para sair o resultado, que há duas semanas era eranbb 2024 2324 a 48 horas, passou para até cinco dias.
Albuquerque explica que isso não permite saber o real tamanho da epidemia do Amazonas nem rastrear todos os casos, o que aumenta as chances do coronavírus se propagar.
Pessoas com sintomas leves ou assintomáticas, que representamnbb 2024 23média 80% dos casos, não são identificadas e isoladas. Elas continuam a circular e podem infectar quem faz parte dos gruposnbb 2024 23risco,nbb 2024 23que a doença tende a ser mais devastadora.
Por isso, Albuquerque alerta: "Estamos entrandonbb 2024 23um momento muito difícil,nbb 2024 23que a doença está saindo da classe média para as classes menos favorecidas, nas quais as medidasnbb 2024 23isolamento são muito mais difíceisnbb 2024 23serem aplicadas, porque há mais pessoas vivendonbb 2024 23casas menores. Então, como esse vírus é muito transmissível, a tendência da situação é se agravar ainda mais."
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