Após derrotas no Congresso, Bolsonaro tenta criar base e negocia cargos com centrão:
Segundo congressistas e pessoas que trabalham na articulação política do governo, o principal negociador pelo lado do governo nas tratativas com o "centrão" é o ministro da SecretariaGoverno, o general da reserva Luiz Eduardo Ramos.
A "luz amarela" acendeu-se no Palácio do Planalto depois que os deputados impuseram ao governo uma derrota na votação do planoajudaR$ 90 bilhões aos Estados e municípios, na última segunda (13). Na ocasião, a posição governista foi preterida por 431 votos a 70.
Na luta para ganhar musculatura no Congresso, o Planalto não conta só com a simpatia do general Ramos eBolsonaro. Segundo os jornais brasileiros, o governo está negociando o comandoórgãos federais com legendas do centrão, como PP, PL e Republicanos.
Estariam na mesa o controle do Departamento NacionalObras Contra a Seca (DNOCS); do Fundo NacionalDesenvolvimento da Educação (FNDE); da Fundação NacionalSaúde (Funasa); do Banco do Nordeste e do Departamento NacionalInfraestruturaTransportes (Dnit); alémcargos no segundo escalão do Ministério da Saúde, na gestão do oncologista Nelson Teich.
O teor das negociações foi confirmado à BBC News Brasil por pessoas que estão à par das conversas.
Na noitedomingo (19), Bolsonaro também fez um aceno ao cacique do PTB, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB). O presidente fez uma transmissãosuas redes sociais na qual aparecia, no Palácio da Alvorada, assistindo a um vídeo ao vivoJefferson. No trecho divulgado, o petebista acusava Rodrigo Maiatramar um "golpe parlamentarista" contra o presidente da República.
O chefeum dos partidos envolvidos nas negociações diz que não há qualquer contradição nas açõesBolsonaro. O presidente está "cortando a intermediação" feita por Rodrigo Maia entre o governo e os deputados do centrão.
"Em relação aos demais partidos do 'centrão', o que está havendo é que o Rodrigo Maia está deixandoser um intermediário. Ele era intermediário. Agora não é mais. Aí acho que a relação (entre o governo e os deputados) tende a melhorar", diz o líder partidário.
"Está meio que havendo uma cisão. Agora vamos ter o Centrão 1 (ligado a Maia) e o Centrão 2 (dos demais partidos), por assim dizer", diz ele à BBC News Brasil, sob condiçãoanonimato.
No jargão da política, o termo "centrão" é uma designação pejorativa usada para referir-se a partidos conservadores sem orientação ideológica clara, que costumam buscar proximidade com o Executivotrocacargos e outras benesses. Partidos como PP, PL, PSD, PTB, Republicanos, PSC, Pros, Solidariedade, PEN, PTN e PHS, entre outros, costumam ser enumerados entre os integrantes do grupo, embora os dirigentes dessas legendas geralmente rejeitem a alcunha.
Política não paroumeio à pandemia
Na quarta-feira (22), Bolsonaro recebeu o presidente nacional do MDB, o deputado federal Baleia Rossi (SP), e o líder do partido no Senado, Eduardo Braga (AM). Nesta quinta (23), Bolsonaro deverá se encontrar com o presidente nacional do Democratas, o prefeitoSalvador (BA), ACM Neto.
No casoMDB e DEM, políticos ligados às duas legendas negam que cargos estejam sendo negociados.
"O MDB não tem nenhuma intençãoindicar qualquer cargo no governo. Acho que este tema não deve nem circular neste momento, porque estamos no meiouma pandemia, uma situação na qual a população está sofrendo. Portanto o MDB não pede, não reivindica e não ocupará qualquer cargo", disse Baleia Rossi a jornalistas, depois da reunião com Bolsonaro.
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FinalTwitter post
O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), disse que o objetivo do partido é reconstruir a relação com Bolsonaro, mas que isso não envolve cargos.
"Na nossa visão, o foco tem que ser na rotasaída da crise, da pandemia. Temos uma crise econômica instalada, uma crisesaúde. E se vier uma nova crise política, ela vai ser ruim para todo mundo. Ruim para o Planalto, ruim para o Congresso, ruim para o Supremo. Vamos tentar afastar as diferenças e construir uma agenda mínima consensual", disse ele à BBC News Brasil.
Na semana passada, Bolsonaro já havia recebido representantesoutros partidoscentro-direita. Na sexta-feira (17), conversou com líderes do Republicanos (antigo PRB), o deputado JhonatanJesus (RR); do PL (antigo PR), o deputado Wellington Roberto (PB); e do PP, deputado Arthur Lira (AL) — o alagoano voltou a marcar presença na agenda presidencial na segunda-feira (20). Outra presença constante na agendaBolsonaro é o deputado Fábio Faria (PSD-RN); ele é próximo dos filhos do presidente.
Antes ainda, na quarta-feira (15), Bolsonaro recebeu o presidente nacional do PSD, o ex-ministro Gilberto Kassab, junto com alguns deputados da legenda.
Derrotassérie
A nova tentativa do governocompor uma base no Congresso vem depoisuma sériederrotas. E, o que é pior, do pontovista palaciano, é que várias delas tiveram impacto orçamentário.
Em meadosmarço, por exemplo, os congressistas derrubaram um vetoJair Bolsonaro e ampliaram o acesso das pessoas carentes ao BenefícioPrestação Continuada (BPC), espetando uma contacercaR$ 20 bilhões ao ano na União.
Mais recentemente, o Congresso deixou caducar diversas medidas provisórias apresentadas por Bolsonaro. Este tipomedida entravigor imediatamente depoiseditada pelo governo, mas precisa ser aprovada pelo Legislativoaté 180 dias. Depois deste prazo, elas perdem a validade.
Na última segunda-feira (13), a Câmara impôs ao governo uma dura derrota na votação do "Plano Mansueto",ajuda a Estados e municípios. Contra a orientação do governo, os deputados aprovaram a proposta, com custoR$ 89,6 bilhões, por 431 votos a 70.
"O Plano Mansueto foi um alerta muito grande. O governo entendeu que, pós-pandemia, a situação vai ser muito difícil. Durante a pandemia já está difícil. E não pode deixar que o (aumento do) gasto público inviabilize o governo e o Brasil pelos próximos anos", diz um assessor palaciano cujo trabalho é acompanhar as votações no Congresso.
"A gente tinha uma segurança na pauta econômica. Em geral, as iniciativas que importavamaumento do gasto público eram controladas pelo Rodrigo Maia e pelo próprio centrão. O governo tinha tranquilidade. Mas agora o Maia e o centrão estão aumentando gastos. Isso acendeu o sinalalerta", diz ele à BBC News Brasil, sob anonimato.
A disputa pela presidência da Câmara
A aproximaçãoBolsonaro com os partidos do Centrão também miraoutro objetivo, este maislongo prazo: a disputa pelo comando das duas casas do Legislativo — principalmente da Câmara dos Deputados —, no começo do ano que vem.
Pelas regras atuais, Rodrigo Maia (DEM-RJ) não poderia concorrer a mais um mandatodois anos à frente da Câmara, que ele comanda desde 2016. Embora o fluminense não costume tratar deste assunto, políticos do entornoBolsonaro acreditam que ele tentará estender seu mandato, ou colocar um aliado no posto — desfecho que os governistas não desejam.
Entre congressistas, circulam como possíveis sucessoresMaia os nomes dos deputados Arthur Lira (PP-AL) e Marcos Pereira (Republicanos-SP). O primeiro contaria com o apoio informal do Palácio do Planalto, enquanto o segundo é o atual vice-presidente da Casa.
Nos últimos dias, circulou entre congressistas um vídeo gravado num celular, no qual Arthur Lira aparece ao ladoBolsonaro.
Na gravação, o presidente manda um abraço a familiaresLira. "Estou aqui ao lado do maridão, do pai. Um grande abraço a vocês dois. Tamo junto, valeu", diz ele. "São grandes fãs e toda hora me pediam isso", diz Liraseguida.
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