No desmatamento atual, Amazônia chega a 'pontovalsports betnão retorno'valsports betaté 30 anos, diz pesquisador referência sobre clima:valsports bet
Segundo Carlos Nobre, há evidênciasvalsports betque o "pontovalsports betnão retorno" está prestes a ser atingidovalsports betalguns locais da Floresta Amazônica, especialmente nas regiões sul e leste da floresta — a estação seca do ano está ficando mais longa nesses locais, e a temperatura está subindo.
"Nossos cálculos indicam que se o desmatamento continuar nesta taxa —valsports bettoda a Amazônia, não estou falando apenas da (floresta) brasileira — ou se subir, temosvalsports bet15 a 30 anos no máximo antes disso, antesvalsports betultrapassarmos irreversivelmente este ponto", disse ele na entrevista à BBC News Brasil.
Os dados sobre o desmatamento na Amazônia tornaram-se fontevalsports betdesgaste para o governovalsports betjulho e agosto deste ano, quando medições preliminaresvalsports betoutro sistema do Inpe, o Deter, apontaram para um crescimento do desmatamento.
Em 19valsports betjulho, num café da manhã com jornalistas, o presidente da República, Jair Bolsonaro, disse que os dados preliminares do Inpe não eram corretos — e que o então presidente do Instituto, o físico Ricardo Galvão, estaria "a serviçovalsports betalguma ONG (organização não-governamental)". A crise resultou na demissãovalsports betRicardo Galvão do comando do Inpe, no começovalsports betagosto.
Agora, diz Carlos Nobre, as informações do Prodes (que tem nívelvalsports betconfiança superior a 95%) confirmam as suspeitas levantadas pelo Deter sobre o aumento no desmatamento.
"Era muito correto afirmar que haveria um aumento muito significativo do desmatamento, e o Prodes confirmou. Não há dúvida disso", disse.
Os dados divulgados na segunda-feira não dizem respeito somente à gestãovalsports betJair Bolsonaro, iniciadavalsports betjaneirovalsports bet2019. Mesmo assim, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiuvalsports betentrevista a jornalistas na segunda-feira que será preciso "adotar uma estratégia diferente", articulada com os governos estaduais, para combater o aumento no desmatamento.
Jair Bolsonaro tem criado polêmicas com ambientalistas desde a campanha eleitoralvalsports bet2018. Durante a campanha, disse repetidas vezes que não faria a demarcaçãovalsports betnovas terras para indígenas e quilombolas, alémvalsports betcriticar o trabalho da fiscalização ambiental.
Depoisvalsports beteleito, enviou ao Congresso medida para fundir a pasta do Meio Ambiente com a Agricultura — mas a proposta foi rejeitada. Mesmo assim, alterações na estrutura do órgão fizeram com que o Meio Ambiente perdesse quase 20%valsports betseus analistas. Já no Ibama, os sinais emitidos por Brasília e a faltavalsports betdirigentes nas unidades do órgão fizeram com que o númerovalsports betmultas caísse apesar do aumento do desmatamento.
Carlos Nobre é doutorvalsports betmeteorologia pelo Institutovalsports betTecnologiavalsports betMassachusetts (MIT, na siglavalsports betinglês), e já presidiu o Painel Brasileirovalsports betMudanças Climáticas, alémvalsports better integrado o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU, o IPCC.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
valsports bet BBC News Brasil - Quão graves são os dados do Prodes publicados pelo Inpe nesta segunda-feira? Deveríamos estar preocupados?
valsports bet Carlos Nobre - Devemos sim ficar bem preocupados. Os dados mostram um aumento considerável do desmatamento, na verdade uma continuidade no aumento que é observado desde 2015. (O desmatamento) deu um salto. Chegando pertovalsports bet10 mil quilômetros quadrados (desmatados), e um crescimentovalsports betquase 30%valsports betrelação a 2018. Logicamente que isso é bastante preocupante, e eu acho que não dá mais para continuar na inação. É preciso uma ação muito rigorosa agora para reduzir o desmatamento e as queimadas na Amazônia, quevalsports betgrande parte são ilegais.
valsports bet BBC News Brasil - Ao longo deste ano, falou-se muito sobre um estudo do senhor a respeitovalsports betum "pontovalsports betnão retorno" da Amazônia, isto é, um certo limite do desmatamento a partir do qual a floresta se tornaria uma savana, parecida com o Cerrado. O quão perto estamos disso?
valsports bet Carlos Nobre - Olha, nós temos uma sérievalsports betsinais (de problemas) vindos da região amazônica, (especialmente) do sul e do leste da Amazônia. A estação seca (nestes locais) está ficando mais longa. Se ela passarvalsports betquatro meses, atingimos esse pontovalsports betnão retorno. Está ficando mais quente também. Então são vários sinaisvalsports betque o sul e o leste da Amazônia estão chegando perto desse pontovalsports betnão retorno.
Nossos cálculos indicam que se o desmatamento continuar nesta taxa —valsports bettoda a Amazônia, não estou falando apenas da (floresta) brasileira — ou se subir, temosvalsports bet15 a 30 anos no máximo antes disso, antesvalsports betultrapassarmos irreversivelmente este ponto.
valsports bet BBC News Brasil - E nesse caso, as consequências não seriam sentidas apenas naquela região.
valsports bet Carlos Nobre - Impacta o clima da Amazônia, (mas também) impacta o climavalsports betoutros lugares da América Latina. Por exemplo, a floresta esfria o ambiente, mantém as temperaturas mais baixas. Se você desmata, as temperaturas aumentam aí qualquer coisa entre 2 e 3 graus (Celsius). Esse ar mais frio que passa pela Amazônia ele chega ao Cerrado, então você já teria um aumentovalsports bettemperatura no Cerrado, que já é quente. Então prejudicaria a produtividade agrícola e a vegetação do Cerrado.
Há muitos estudos que indicam também que o vapor d'água que passa pela Amazônia alimenta as chuvas no sul da bacia do (Rio da) Prata (na Argentina).
E pode ter influência também nas chuvasvalsports betoutras partes do Brasil, ainda que os estudos científicos ainda não tenham descrito todos os mecanismosvalsports betdetalhe, mas pode ter impactovalsports betoutras regiões também.
valsports bet BBC News Brasil - É possível estimar quantos desses 9.762 km² quadradosvalsports betdesmatamento apurados pelo Prodes são fruto da derrubada ilegal?
valsports bet Carlos Nobre - Olha, não dá para dizervalsports betárea. Mas o que é possível dizer,valsports betforma qualitativa, é que aproximadamente 90% do desmatamento detectado pelo sistema Deter (do Inpe) são ilegais.
Sãovalsports betdois tipos. 40% disso é roubovalsports betterra, grilagem. E o restante é desmatamentovalsports betpropriedade privada, mas sem autorização legal para este desmatamento. Para você desmatarvalsports betpropriedade privada, é preciso permissão (do órgão ambiental). Na maioria dos casos são desmatamentos que excedem o limite da reserva legal, ou invade uma áreavalsports betproteção permanente, como uma nascente ou a margemvalsports betum rio.
valsports bet BBC News Brasil - Algumas pessoas insistemvalsports betuma oposição entre preservação da Amazônia e a realizaçãovalsports betatividades produtivas naquela região. Como é a dinâmica do desmatamento naquele bioma?
valsports bet Carlos Nobre - Algo acimavalsports bet80%, ou pertovalsports bet90% do desmatamento na região é ilegal, como já dissemos. Então (o desmatamento) é muito controlado pelo crime organizado, pela grilagem, pelo roubovalsports betterra. Então não tem uma verificação muito robusta, científica, que dê sustentação à ideiavalsports betque o desmatamento está reduzindo a pobreza (da população da Amazônia). De que está havendo um grande aumento da produção agropecuária,valsports betque as famílias estão se beneficiando. Isso não existe.
Não existe relação entre o aumento do desmatamento e a redução da pobreza, a redução da desigualdade (na região). E eu não estou falando sobre o anovalsports bet2019. Eu estou falando dos últimos 50 anos nos quais existe essa prática. Na Amazônia, o desmatamento está muito associado com o crime.
Alguns criminosos ganham (com o desmatamento). Alguns criminosos ganham muito. Mas grande parte da população não tem qualquer benefício. Você pega, por exemplo, uma grande fazendavalsports betpecuária: ela contrata pouquíssimos empregados, que quando ganham um salário mínimo estão ganhando bem. Então não é um modelo que reduz a pobreza ou que traz bem-estar à população amazônica.
valsports bet BBC News Brasil - O númerovalsports bet2019, mesmo sendo muito alto, está abaixo das taxas que ocorriam até 2008. O que é que foi feito para baixar o desmatamentovalsports betlá para cá?
valsports bet Carlos Nobre - O que aconteceu foi um plano chamado PPCDAm (Planovalsports betAção para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal). Foi muito efetivo entre 2005 e 2014. Reduziu o desmatamentovalsports bet75%. Foi uma somavalsports bettrês ações principais, mas a mais efetiva foi (o aumento da) fiscalização, com uma articulação importante entre Polícia Federal, Ibama, órgãos estaduaisvalsports betmeio ambiente, polícias militares, Ministério Público.
Essas açõesvalsports betfiscalizaçãovalsports betcampo foram devidamente financiadas e começou a aumentar muito o risco do criminoso ambiental, reduzindo o desmatamento.
Não podemos esquecer quevalsports bet2005 a 2014 a produção agropecuária da Amazônia dobrou. Dobrou. Então produção não tem nada a ver com o desmatamento.
A outra política foivalsports betincentivo aos municípios que reduziram o desmatamento, e punição aos que aumentaram. Isso teve um efeito muito bom. Prefeituras, câmarasvalsports betvereadores, todos passaram a se empenhar, porque tinha muitos benefícios vindo do governo federal.
E por fim, uma políticavalsports betdemarcaçãovalsports betáreas protegidas evalsports betterras indígenas muito efetiva, que barrou o avanço dessa fronteira do desmatamento ilegal.
Essas eram as três "pernas" principais desta política. Se você perguntar o que o governo deve fazer se estiver falando sério a respeitovalsports betfrear o desmatamento? Deve voltar a aplicar as coisas que deram certo. Principalmente a fiscalização. Tem que arrumar (dinheiro), tem que mandar o ministro da Economia (Paulo Guedes) abrir um pouco o cofre para financiar todas as ações necessárias à redução da ilegalidade.
valsports bet BBC News Brasil - Em meados do ano, os veículosvalsports betimprensa estavam citando dadosvalsports betum outro sistema do Inpe, o Deter, que já indicava um aumento no desmatamento. À época, o governo dizia que aqueles dados não eram suficientes para atestar um aumento no desmatamento.
valsports bet Carlos Nobre - A informação estava correta. A gente sabe que o Deter captura entre 60 e 70% do que o Prodes, que foi lançado hoje, mostra. Portanto o Deter, pegando seis meses do Deter antes do lançamento do Prodes, ele mostrava 40, 50%valsports betaumento. Era muito correto afirmar que haveria um aumento muito significativo do desmatamento, e o Prodes confirmou. Não há dúvida disso. O que foi feito lá atrás, que foi divulgado uma tendênciavalsports betaumentovalsports betjunho, julho, agosto, está absolutamente correto.
O Deter capturou a tendênciavalsports betaumento.
valsports bet BBC News Brasil - O dado que foi divulgado nesta segunda-feira (18) é um dado ainda preliminar. Os dados consolidados do Prodes só sairão no 1º semestrevalsports bet2020. Por que isto ocorre?
valsports bet Carlos Nobre - A Amazônia, por ser coberta por vários satélites, possui centenas e centenasvalsports betimagens diferentes, a depender da resolução do satélite. E aí, para poder lançar isso logo agoravalsports betoutubro, novembro, o Inpe pré-seleciona as áreas onde está sendo observado o mais intenso desmatamento. Aí ele mede toda aquela área e faz um cálculo estatístico e diz 'olha, quando eu olhar todas as imagens, provavelmente vai ter este valor'.
E aí, às vezes, quando o Inpe processa todas as imagens, lá por abril ou maio, que ele lança o dado anual, esse dado às vezes é um pouquinho maior ou um pouquinho menor. O númerovalsports bethoje é uma estimativa do que será o número final, quando analisadas todas as imagens. (A variaçãovalsports betanos anteriores foivalsports bet2% a 7% para mais ou para menos, acrescenta o pesquisador).
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