Desnutrição, abusos e mortes fazem da Amazônia o pior lugar do Brasil para ser criança:jogo do aviãozinho da blaze

Amazônia
Legenda da foto, Indicadores apontam que a Amazônia é o pior lugar do Brasil para ser criança

"Casos como estes são recorrentes no município", lamenta a assistente social, cuja infância também foi marcada pela pobreza. Em Breves,jogo do aviãozinho da blazeacordo com dados do Sistemajogo do aviãozinho da blazeVigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), 37,7% das criançasjogo do aviãozinho da blazeaté cinco anosjogo do aviãozinho da blazeidade sofriamjogo do aviãozinho da blazedesnutrição crônicajogo do aviãozinho da blaze2018 — percentual bem maior que a média brasileira,jogo do aviãozinho da blaze13,1%.

No Pará, 85% dos domicílios não têm acesso adequado à redejogo do aviãozinho da blazeesgoto, e 2.157 crianças morreram antesjogo do aviãozinho da blazecompletar um anojogo do aviãozinho da blaze2016. "Depois da escola brincava na rua mesmo, no meio das poças d'água", lembra Glinda. "Não senti faltajogo do aviãozinho da blazepolíticas voltadas à cultura, esporte e lazer. Não dá pra sentir falta daquilo que não vivenciei."

Assistente social Glinda Sousa Farias, 25 anos

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, "Depois da escola brincava na rua mesmo, no meio das poças d'água", lembra Glinda, que cresceujogo do aviãozinho da blazeBreves e hoje acompanha denúncias contra violaçãojogo do aviãozinho da blazedireitosjogo do aviãozinho da blazecrianças

Filhajogo do aviãozinho da blazepai madeireiro e mãe sacoleirajogo do aviãozinho da blazeuma famíliajogo do aviãozinho da blazebaixa renda com quatro filhos, ela viu o pai ficar desempregado depois que a madeireirajogo do aviãozinho da blazeque ele trabalhava fechou as portas,jogo do aviãozinho da blaze2009. A família, que morava no centro da cidade, mudou-se para um bairro mais distante e passou a viverjogo do aviãozinho da blazeum pequeno cômodojogo do aviãozinho da blazemadeira. Nesse período, sobreviveram basicamente da renda do Bolsa Família, que transfere R$ 89 por pessoa a famílias que vivem abaixo da linhajogo do aviãozinho da blazepobreza, mais R$ 41 por criança ou adolescente, limitado a R$ 205 (cinco benefícios).

"As madeireiras fecharam por completo ou parcialmente, mas não tínhamos um plano B. Não estou defendendo o desmatamento, só que ninguém disse para o meu pai o que ele deveria fazer. Isso aconteceu com muitas famílias. Papai depois conseguiu outro emprego, mas outros não tiveram a mesma sorte."

Conseguiram, com muito esforço, manter os filhos na escola pública, e Glinda e os irmãos, quando adultos, estudaram também na Universidade Federal do Pará (UFPA). "Hoje, os filhos estão concluindo o ensino superior, outros formados, concursados, empregados. Todos da família têm renda própria", afirma, reconhecendo que, nas estatísticas da região, históriasjogo do aviãozinho da blazesucesso como a dela são exceção.

4jogo do aviãozinho da blaze10 crianças sãojogo do aviãozinho da blazefamílias sem renda para cesta básica

Ao todo, 9 milhõesjogo do aviãozinho da blazecrianças vivem na Amazônia Legal, região formada por Acre, Amapá, Pará, Amazonas, Rondônia, Roraima e parte dos Estadosjogo do aviãozinho da blazeMaranhão, Tocantins e Mato Grosso. Os indicadores apontam que,jogo do aviãozinho da blazetodas as regiões do país, é ali o pior lugar do Brasil para ser criança, destaca relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Sãojogo do aviãozinho da blazelá os mais altos níveis nacionaisjogo do aviãozinho da blazemortalidade infantil.

Nos nove Estados da Amazônia Legal, cercajogo do aviãozinho da blaze43% das crianças e dos adolescentes vivemjogo do aviãozinho da blazedomicílios com renda per capita insuficiente para adquirir uma cesta básicajogo do aviãozinho da blazebens, contra 34,3% da média nacional. Além disso, muitas meninas e muitos meninos amazônicos não têm atendidos seus direitos a educação, água, saneamento, moradia, informação e proteção contra o trabalho infantil.

Em 2016, 1.225 crianças morreram antesjogo do aviãozinho da blazecompletar 1 ano no Estado do Amazonas. Além disso, desde 2010, os casosjogo do aviãozinho da blazesífilis congênita diagnosticadosjogo do aviãozinho da blazecrianças menoresjogo do aviãozinho da blazeum anojogo do aviãozinho da blazeidade cresceram 710%, segundo dados do ministério da Saúde reunidos pela Unicef. Foram 802 casos sójogo do aviãozinho da blaze2017. A proporçãojogo do aviãozinho da blazemães com acesso ao pré-natal foijogo do aviãozinho da blaze46%, registrando um aumentojogo do aviãozinho da blaze183% entre 2000 a 2016.

"A Amazônia é o pior lugar do Brasil para ser criança. Todos os indicadores sociais estão apresentando valores piores que a média brasileira e muitíssimo piores que os do sudeste do país. De criança fora da escola, vacinação, mortalidade infantil, acesso à água, saneamento", resume a coordenadora do Unicef na Amazônia Legal, Anyoli Sanabria. Ela explica que as crianças vivemjogo do aviãozinho da blazeum estadojogo do aviãozinho da blaze"privação múltipla",jogo do aviãozinho da blazeque, alémjogo do aviãozinho da blazeviver na pobrezajogo do aviãozinho da blazetermos financeiros, elas têm vários outros direitos violados que prejudicam não sójogo do aviãozinho da blazequalidadejogo do aviãozinho da blazevida, mas comprometem seu futuro e limitam seu desenvolvimento.

As áreas rurais e dispersas ficam,jogo do aviãozinho da blazegrande medida, sem acesso ou com acesso limitado aos serviços básicos como saúde, educação e proteção social. Vulneráveis e desassistidas, essas populações — principalmente, crianças e adolescentes — enfrentam uma sériejogo do aviãozinho da blazeriscos, alerta a entidade.

Moradores das comunidades ribeirinhas do região do Médio Solimões, na Amazônia Central, onde atua o Instituto Mamirauá

Crédito, Bruno Barreto/Instituto Mamirauá

Legenda da foto, Moradores das comunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões, na Amazônia Central, onde atua o Instituto Mamirauá

'Sem social, não há ambiental'

A visãojogo do aviãozinho da blazeeducadores, agentesjogo do aviãozinho da blazesaúde, ONGs e instituições dedicadas à infância ouvidas pela BBC News Brasil éjogo do aviãozinho da blazeque as crianças que vivem na Amazônia, nas cidades ou na zona rural, enfrentam uma quase que total escassezjogo do aviãozinho da blazeserviços públicos — à exceção das que vivem nas capitais. Eles alertam: não vai dar para salvar o meio ambiente sem preservar a população local, cada vez mais vulnerável e dependendojogo do aviãozinho da blazebenefícios sociais.

"Sem social, não há ambiental", resume Caetano Scannavino, coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria, que atua na Amazônia. "No mundo inteiro as questões da pobreza e do meio ambiente estão ligadas", afirma Scannavino, que diz que famílias pobres e sem assistência e serviçosjogo do aviãozinho da blazesaúde são mais vulneráveis ao ilegalismo ambiental.

"Se eu tenho uma criança doente e eu precisojogo do aviãozinho da blazedinheiro,jogo do aviãozinho da blazeremédio, e tem um madeireiro pedindo uma autorização para tirar uma árvore do meu lote, muito provavelmente eu vou estabelecer um acordo com ele, porque a vida do meu filho estájogo do aviãozinho da blazejogo. Situações como essa se repetem e impactam o meio ambiente e favorecem a cultura do ilegalismo."

Para serem efetivas, as políticas públicas para a infância na região precisam considerar as peculiaridades e desafios extras do chamado "fator amazônico": as meninas e os meninos vivem com suas famíliasjogo do aviãozinho da blazeuma região muito extensa territorialmente, mas pouco povoadajogo do aviãozinho da blazecomparação às demais regiões. Em média, cada quilômetro quadrado da Amazônia é habitado por apenas cinco pessoas, enquanto quejogo do aviãozinho da blazeoutras regiões do País essa taxa éjogo do aviãozinho da blaze48 habitantes por quilômetro quadrado.

Às vezesjogo do aviãozinho da blazecomunidadesjogo do aviãozinho da blazedifícil acesso vivem crianças indígenas, quilombolas, ribeirinhos, mas também mais e maisjogo do aviãozinho da blazegrandes cidades — juntamente com populações tradicionalmente urbanas, afirma a Unicef no relatório "Agenda pela Infância e Adolescência na Amazônia".

A principal privação a que meninas e meninos amazônicos estão sujeitos é a faltajogo do aviãozinho da blazeacesso a saneamento. Enquanto a média nacionaljogo do aviãozinho da blazecrianças e adolescentes sem esse direito estájogo do aviãozinho da blaze24,8%, na maioria dos Estados da Amazônia ela está próxima aos 50%, chegando a 89% no Amapá,jogo do aviãozinho da blazedadojogo do aviãozinho da blaze2017. A única exceção na região é Roraima, com 11,5%jogo do aviãozinho da blazecrianças e adolescentes sem saneamento, segundo a Unicef.

"Os indicadores sociais mostram que as crianças na Amazônia têm maior riscojogo do aviãozinho da blazemorrer antesjogo do aviãozinho da blazeum anojogo do aviãozinho da blazeidade ejogo do aviãozinho da blazenão completar o ensino fundamental. Além disso, a taxajogo do aviãozinho da blazegravidez na adolescência é alta, e as meninas e os meninos na região estão vulneráveis às mais variadas formasjogo do aviãozinho da blazeviolência, incluindo o abuso, a exploração sexual, o trabalho infantil e o homicídio", afirma relatório da Unicef divulgadojogo do aviãozinho da blazesetembro e que analisa os principais desafios para a infância na região.

Açaizal nativojogo do aviãozinho da blazeBreves

Crédito, Antonio Silva/ Agência Parájogo do aviãozinho da blazeNotíciasAGPA

Legenda da foto, Extrativismojogo do aviãozinho da blazeaçaí é uma das atividades econômicasjogo do aviãozinho da blazeBreves, que já viveu ciclosjogo do aviãozinho da blazeextração da borracha e da madeira

Também é na Amazônia Legal que o assassinatojogo do aviãozinho da blazejovens e adolescentes aumentajogo do aviãozinho da blazeritmo mais acelerado no país. Entre 2007 e 2017, o númerojogo do aviãozinho da blazehomicídiosjogo do aviãozinho da blazejovens cresceu acima da média nacionaljogo do aviãozinho da blazequase todos os Estados que compõem a Amazônia Legal. Enquanto o homicídiojogo do aviãozinho da blazejovensjogo do aviãozinho da blaze15 a 19 anos aumentou 35,1% no Brasil na década, avançou muito mais no Acre (312,5%); Amapá (107%); Amazonas (117,8%); Maranhão (78,5%); Pará (94,1%); Roraima (112,8%); e Tocantins (222,3%). As exceções foram Mato Grosso (25,8%) e Rondônia (8,6%), segundo dados do Atlas da Violência, elaborado pelo Fórum Brasileirojogo do aviãozinho da blazeSegurança Pública.

"As altas taxasjogo do aviãozinho da blazehomicídiojogo do aviãozinho da blazeadolescentes mostram que a vidajogo do aviãozinho da blazemeninas e meninos das periferias é marcada por uma enorme faltajogo do aviãozinho da blazeoportunidades que os torna cada vez mais vulneráveis à violência letal. Alémjogo do aviãozinho da blazemanter os investimentos na primeira infância, é necessário que o país invista igualmente na segunda décadajogo do aviãozinho da blazevida", defende a Unicef no relatório "Agenda pela infância e adolescência na Amazônia".

No meio da água, sem água

A 1500 quilômetrosjogo do aviãozinho da blazeBreves (PA) no municípiojogo do aviãozinho da blazeTefé (AM), com cercajogo do aviãozinho da blaze60 mil habitantes na região do Médio Solimões, na Amazônia Central, nenhum aluno pode beber água na escola, apesarjogo do aviãozinho da blazeviverem na maior bacia hidrográfica do mundo. Coliformes fecais foram detectados na águajogo do aviãozinho da blazetodas as 19 escolas do município, levando a frequentes casosjogo do aviãozinho da blazegiárdia, lombriga e diarreias.

Também faltam banheiros e recursos para higiene pessoal, e qualquer tipojogo do aviãozinho da blazesaneamento básico é praticamente inexistente. Em 52% das escolas nota-se a presença ostensivajogo do aviãozinho da blazemoscas, segundo estudo realizadojogo do aviãozinho da blaze2015 pelo Institutojogo do aviãozinho da blazeDesenvolvimento Sustentável Mamirauá, organização social ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações que atuajogo do aviãozinho da blazereservas na região da Amazônia central, e trabalha com uma comunidade estimadajogo do aviãozinho da blaze13 mil pessoas.

"A qualidade da água é uma questão relevante para as crianças, as pessoas que moram na várzea não têm águajogo do aviãozinho da blazequalidade para beber. Reflete principalmente a carênciajogo do aviãozinho da blazeserviços públicos, a faltajogo do aviãozinho da blazeenergia elétrica, que inibe tanto o bombeadorjogo do aviãozinho da blazeágua quanto tratamentojogo do aviãozinho da blazeágua", diz explica Maria Cecilia Gomes, engenheira ambiental e pesquisadora e coordenadora do programa qualidadejogo do aviãozinho da blazevida do Institutojogo do aviãozinho da blazeDesenvolvimento Sustentável Mamirauá.

"Praticamente não existem esses serviços nas áreas rurais da Amazônia. A gente pode dizer que as condiçõesjogo do aviãozinho da blazesaúde são bastante precárias, principalmente na disponibilidade e a qualidade da água. Às vezes a água está presentejogo do aviãozinho da blazequantidade, mas está contaminada", afirma a pesquisadora, que cita que é comum a incidência na populaçãojogo do aviãozinho da blazediarreia relacionada a lombriga, giárdia, ameba.

Maria Mercês Bezerra da Silva, técnicajogo do aviãozinho da blazeenfermagem que atua no instituto há maisjogo do aviãozinho da blaze20 anos, diz que, apesar da precariedade, hoje nota-se mais consciência da populaçãojogo do aviãozinho da blazerelação a medidasjogo do aviãozinho da blazehigiene pessoal, por exemplo, mas falta o reforço das políticas públicas que praticamente inexistem para muitas comunidades.

Moradoresjogo do aviãozinho da blazecomunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões, na Amazônia Central, onde atua o Instituto Mamirauá

Crédito, Aline Fidelix/Instituto Mamirauá

Legenda da foto, Moradoresjogo do aviãozinho da blazecomunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões, na Amazônia Central, onde atua o Instituto Mamirauá

Mesmo quando estão na escola, a saúde das crianças estájogo do aviãozinho da blazerisco. Pesquisa "Avaliação do cenário WASH (água, saneamento e higiene)jogo do aviãozinho da blazeescolas urbanas e ruraisjogo do aviãozinho da blazeuma pequena cidade na Amazônia brasileira", publicadajogo do aviãozinho da blaze2018 com dados referentes a 2015, mostrou que as escolasjogo do aviãozinho da blazeTefé não ofereciam condições sanitárias adequadas para seus alunos e não realizam manutenção periódicajogo do aviãozinho da blazesuas instalações.

"As irregularidades documentadas incluem a faltajogo do aviãozinho da blazesabão para lavar as mãosjogo do aviãozinho da blaze84% das escolas, a presençajogo do aviãozinho da blazevetoresjogo do aviãozinho da blazedoenças e outros insetos, bebedouros e banheiros insuficientes e com manutenção insuficiente, inundações e entupimentosjogo do aviãozinho da blazebanheiros, água potável contaminada com E. coli e faltajogo do aviãozinho da blazemanutenção regularjogo do aviãozinho da blazefossas sépticas. Com basejogo do aviãozinho da blazenossos resultados, pode-se estimar que maisjogo do aviãozinho da blaze9.000 estudantes no municípiojogo do aviãozinho da blazeTefé estão expostos a riscos resultantes das más condições sanitáriasjogo do aviãozinho da blazesuas escolas".

A situação é ainda mais grave para as crianças indígenas, segundo a Unicef. Do total da população autodeclarada indígena do país, 46,6% vivem na Amazônia Legal, representando 1,5% da população da região. Enquanto o Brasil registra 14 óbitosjogo do aviãozinho da blazemenoresjogo do aviãozinho da blaze1 ano por 1.000 nascidos vivos. Entre os indígenas, na Amazônia, morrem aproximadamente 31,3 crianças menoresjogo do aviãozinho da blazeum ano para cada 1.000 nascidas vivas. "É fundamental priorizar investimentos e esforços naqueles gruposjogo do aviãozinho da blazecrianças e adolescentesjogo do aviãozinho da blazesituaçãojogo do aviãozinho da blazemaior vulnerabilidade", defende a entidade.

Violência sexual e propostajogo do aviãozinho da blaze'fábricajogo do aviãozinho da blazecalcinhas'

"Gente, será que o Brasil não descobriu que o paraíso é aqui? Vocês têm uma ilha extraordinária. Eu vejo turista do mundo todo cruzando o mundo para ir para o Havaí, pra colocar um colarzinho e dançar hola. Vamos ver os turistas do mundo todo chegando aqui para dançar carimbó", disse,jogo do aviãozinho da blazediscurso no dia 18jogo do aviãozinho da blazejulhojogo do aviãozinho da blazeBreves, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. Naquele dia, Damares lançou o programa Abrace o Marajó, com o objetivojogo do aviãozinho da blazeerradicar o abuso e a exploração sexual e a violência contra a mulher no país. Cogitou, na ocasião, até criar um gabinete próprio na cidade.

A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, no lançamento do Abrace o Marajó,jogo do aviãozinho da blazeBreves (PA):

Crédito, Willian Meira - MMFDH

Legenda da foto, A ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, no lançamento do Abrace o Marajó,jogo do aviãozinho da blazeBreves (PA): "Nós temos que levar uma fábricajogo do aviãozinho da blazecalcinhas para a ilha do Marajó, gerar emprego lá"

"O projeto é unir todos os ministérios pra agora. As crianças do Marajó têm pressa. Inclusive eu estava conversando com a minha assessoria se há a possibilidadejogo do aviãozinho da blazeeu ter um gabinete aqui no Marajó. Eu sei o que é violência contra criança. Fui estuprada aos seis anos e fui barbaramente agredida por um homem hospedado na minha casa", disse a ministra, ao participarjogo do aviãozinho da blazeaudiência pública sobre o tema na cidade.

"Por que os pais exploram [as crianças]? É por causa da fome? Vamos levar empreendimentos para a ilha do Marajó, vamos atender às necessidades daquele povo. Uns especialistas chegaram a falar para nós aqui no gabinete que as meninas lá são exploradas porque não têm calcinha. Não usam calcinha, são muito pobres. E perguntaram 'por que o ministério não faz uma campanha para levar calcinhas para lá?'", questionou. "Nós temos que levar uma fábricajogo do aviãozinho da blazecalcinhas para a ilha do Marajó, gerar emprego lá, e as calcinhas saírem baratinhas para as meninas", disse a ministra,jogo do aviãozinho da blazediscurso disponível no Youtube.

A ministra escolheu Marajó para lançar o programa nacional porque a região é emblemática quando se trata da exploração sexual infantil. A fama começoujogo do aviãozinho da blaze2006, quando denúncias revelaram uma redejogo do aviãozinho da blazeexploração sexualjogo do aviãozinho da blazecrianças e tráficojogo do aviãozinho da blazedrogas no municípiojogo do aviãozinho da blazePortel (PA), vizinhajogo do aviãozinho da blazeBreves, que envolvia vereadores, empresários, autoridades policiais, servidores públicos. Historicamente, os casosjogo do aviãozinho da blazeexploração sexual comercial na região ocorrem com o consentimento ou não dos pais, seja na área urbana, rural ou nos rios,jogo do aviãozinho da blazebalsas.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos afirmou que a Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente estará contribuindo com ações para a prevenção e o enfrentamento das violações aos direitosjogo do aviãozinho da blazecrianças e adolescentes da região, com especial atenção ao abuso e a exploração sexual.

Além disso, informou que estão sendo firmadas parcerias com as prefeiturasjogo do aviãozinho da blazeSoures e Breves para a realizaçãojogo do aviãozinho da blazecapacitação dos atores do Sistemajogo do aviãozinho da blazeGarantiajogo do aviãozinho da blazeDireitos,jogo do aviãozinho da blazeprofissionais da educação, da saúde e da segurança, "ainda durante este mêsjogo do aviãozinho da blazenovembro". Aindajogo do aviãozinho da blazeacordo com a pasta, "está prevista para dezembro uma grande açãojogo do aviãozinho da blazeparceria com a iniciativa privada para a distribuiçãojogo do aviãozinho da blazebrinquedos e material educativo para alertar pais, responsáveis, crianças e adolescentes acerca do abuso e da exploração sexual".

"A exploração sexual infantil, infelizmente, é uma mazela social encontradajogo do aviãozinho da blazediferentes municípios da região marajoara Ocidental, destacando-sejogo do aviãozinho da blazePortel, Melgaço, Curralinho, Chaves, Afuá, Muaná e no municípiojogo do aviãozinho da blazeBreves que é considerado o mais bem estruturado e que concentra o maior númerojogo do aviãozinho da blazehabitantes", explica estudo da pesquisadora Jacqueline Tatiane da Silva Guimarães, doutorajogo do aviãozinho da blazeeducação e mestrejogo do aviãozinho da blazeServiço Social pela Universidade Federal do Pará (UFPA).

Ela destaca que a exploração sexual, violência, educação precária, fome e dentre outros problemas fazem parte da vida dessas infâncias. "O quadrojogo do aviãozinho da blazepobreza atinge diretamente a infância marajoara, que se torna alvojogo do aviãozinho da blazeexploração, violência e assédios, tendo os seus corpos vistos como simples forçajogo do aviãozinho da blazetrabalho e mercadoria."

Para além das calcinhas, vulnerabilidade econômica e a pobreza das famílias parecem ser os elementos mais determinantes para a faltajogo do aviãozinho da blazeproteção das crianças contra este tipojogo do aviãozinho da blazecrime. A economia do Marajó é marcada historicamente por atividades predatóriasjogo do aviãozinho da blazematérias-primas, que geraram renda concentrada na mãojogo do aviãozinho da blazepoucos extraem riqueza sem gerar bem-estar para a população, como a exploração da borracha e da madeira, deixando um rastrojogo do aviãozinho da blazedesemprego que perdura até hoje.

No Arquipélago do Marajó, estão concentrados os municípios mais pobres do Estado do Pará e do Brasil, com o menor PIB per capita do Estado. O rendimento mensal das famílias girajogo do aviãozinho da blazetorno das vendas do açaí e mandioca na feira do agricultorjogo do aviãozinho da blazeBreves, juntamente com benefícios sociais, segundo estudo das pesquisadoras Avelina Oliveirajogo do aviãozinho da blazeCastro e Maria Angelica Motta-Maués, da Universidade Federal do Pará (UFPA).

"Na cidade, só 6,1%jogo do aviãozinho da blazedomicílios têm esgotamento sanitário adequado. A água é distribuída só quatro horas por dia, e não para todos os bairros. Por isso, uma cena comum é ver as crianças dedicando parte do dia a levarjogo do aviãozinho da blazebaldes a água que tiram diretamente do Rio Parauaú, o principal da cidade, ou dos caminhões-pipa", diz a pesquisadora Jacqueline Guimarães, da UFPA. "A realidade da infância está intimamente ligada à realidade das famílias marajoaras, que refletem nas crianças as condiçõesjogo do aviãozinho da blazevida que estão sendo submetidas, a faltajogo do aviãozinho da blazeemprego, baixa escolaridade", diz,jogo do aviãozinho da blazeartigo. "As crianças acabam por não ter seu desenvolvimento garantido, pois as crianças no Marajó têm seus direitos violados porque suas famílias estão sendo violadas, ejogo do aviãozinho da blazeluta diária acaba sendo pela própria sobrevivência."

Comunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões, na Amazônia Central:

Crédito, Rafael Forte/Instituto Mamirauá

Legenda da foto, Comunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões, na Amazônia Central: 63% das casas do Amazonas não têm acesso à rede geraljogo do aviãozinho da blazeesgoto ou água tratada

Por que a riqueza dos grandes empreendimentos não chega às crianças?

A exploração da riqueza da região e os grandes empreendimentos, diferentemente do que pode supor o senso comum, têm tornado mais pobres e desprotegidas as vidas das crianças da Amazônia.

Pesquisa realizada pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pelo Centrojogo do aviãozinho da blazePesquisa Aplicadajogo do aviãozinho da blazeDireitos Humanos e Empresas da Fundação Getúlio Vargasjogo do aviãozinho da blazeSão Paulo (FGV CeDHE), com o apoio financeiro do Fundo Nacional para Criança e o Adolescente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, aponta diversos impactos e violações nos direitos das crianças e adolescentes, analisando os casos das usinasjogo do aviãozinho da blazeBelo Monte,jogo do aviãozinho da blazeAltamira (PA), Jirau e Santo Antonio,jogo do aviãozinho da blazePorto Velho (RO), e faz uma associação direta das obras com o aumento dos casosjogo do aviãozinho da blazeviolaçãojogo do aviãozinho da blazedireitos das crianças.

Usinajogo do aviãozinho da blazeBelo Monte

Crédito, Beto Silva / Norte Energia/Senado

Legenda da foto, Análise da implantação das usinasjogo do aviãozinho da blazeBelo Monte, Jirau e Santo Antônio, aponta relação direta das obras com o aumento dos casosjogo do aviãozinho da blazeviolaçãojogo do aviãozinho da blazedireitos das crianças

Um exemplo é o casojogo do aviãozinho da blazeAltamira, quejogo do aviãozinho da blaze2017 tornou-se o município com a maior taxajogo do aviãozinho da blazehomicídio do Brasil — 114 homicídios para 108.382 habitantes —, atestando um crescimento da violência social associado ao processojogo do aviãozinho da blazeimplantaçãojogo do aviãozinho da blazeBelo Monte e à expansão rápida, desordenada e mal planejada da cidade, aponta o estudo.

Dados da Polícia Civil apontam que Altamira tinha taxa por 100 mil habitantesjogo do aviãozinho da blaze52 homicídiosjogo do aviãozinho da blaze2009, último ano antes do início das obras, explica um dos coordenadores do estudo, pesquisador Assisjogo do aviãozinho da blazeCosta Oliveira, professor do campus Altamira da UFPA e doutorando pela Universidadejogo do aviãozinho da blazeBrasília (UnB).

"Um fluxojogo do aviãozinho da blazemilharesjogo do aviãozinho da blazepessoasjogo do aviãozinho da blazefora da cidade, buscando emprego direto ou indireto nas obras com perfil majoritariamente masculino, e que reconfigurou as dinâmicasjogo do aviãozinho da blazeconvivência ejogo do aviãozinho da blazeconflito social", diz Oliveira. Quando as obras terminaram, muitos ex-trabalhadores permaneceram no municípiojogo do aviãozinho da blazesituaçãojogo do aviãozinho da blazeociosidade e desemprego, levando,jogo do aviãozinho da blazealguns casos, que também entrassem no mercado do tráficojogo do aviãozinho da blazedrogas para conseguir renda. "Os danos sociais estão muito menosprezados na implantação das grandes obras e empreendimentos."

Também atraiu moradores para Altamira o alagamento do rio Xingu, decorrente do barramento da Belo Monte no município. Enquanto todas essas pessoas se mudavam para lá, não houve nenhum reforço prévio ou contrapartidajogo do aviãozinho da blazeinvestimento a maisjogo do aviãozinho da blazesegurança pública, por exemplo, para proteger a população local.

O que se viu, no estudo dos casosjogo do aviãozinho da blazeBelo Monte, Jirau e Santo Antônio, foi um aumento vertiginosojogo do aviãozinho da blazecasosjogo do aviãozinho da blazeabuso e exploração sexual no períodojogo do aviãozinho da blazeimplantação dos empreendimentos, que mantém patamar elevado, ainda que menor, quando os empreendimentos começaram a funcionar. "No caso do abuso sexual, constatou-se que existe um aumentojogo do aviãozinho da blazedenúncias aos órgãos públicos, mas existiu uma demora/dificuldadejogo do aviãozinho da blazejudicialização e punição dos acusados, muitas vezes decorrentes da inexistênciajogo do aviãozinho da blazeinformações sobre a localização dos mesmos."

Também houve um aumentojogo do aviãozinho da blazedemanda por reconhecimentojogo do aviãozinho da blazepaternidade e pensão alimentícia quando as obras terminaram e os funcionários começaram a ir embora, "diretamente ligada às relações afetivo-sexuaisjogo do aviãozinho da blazefuncionários das obras com adolescentes e mulheres da região, com correlato descompromissojogo do aviãozinho da blazeprover o sustento econômico aos seus filhos".

Distribuiçãojogo do aviãozinho da blazefiltros d'águajogo do aviãozinho da blazecomunidade do Rio Tabajós, trabalho da ONG Saúde & Alegria

Crédito, ONG Saúde e Alegria/Divulgação

Legenda da foto, Distribuiçãojogo do aviãozinho da blazefiltros d'águajogo do aviãozinho da blazecomunidade do Rio Tabajós, trabalho da ONG Saúde & Alegria

Tanto a Constituição Federal quanto o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelecem que os direitos das crianças e adolescentes devem ser considerados prioridade absoluta, destaca o estudo. "O que significa que devem ter primazia na formulaçãojogo do aviãozinho da blazepolíticas sociais,jogo do aviãozinho da blazeproteção e no atendimentojogo do aviãozinho da blazeserviços públicos, conforme prevê o artigo 4, parágrafo único, do ECA".

Enquanto integrantes da sociedade, as empresas também são responsáveis por fazerjogo do aviãozinho da blazeparte na responsabilidade pela proteção dos direitosjogo do aviãozinho da blazecrianças e adolescentes, alerta o estudo. Mas, nos casosjogo do aviãozinho da blazeBelo Monte, Jirau e Santo Antônio, a análise dos 891 documentos que compõem os processosjogo do aviãozinho da blazetomadajogo do aviãozinho da blazedecisão mostrou que os direitos das crianças e adolescentes só foram consideradosjogo do aviãozinho da blaze64 documentos, na etapajogo do aviãozinho da blazelicenciamento ambiental.

Quais são as soluções sugeridas?

Para melhorar a vida das crianças na Amazônia, destaca a pesquisadora Jacqueline Guimarães, da UFPA, é preciso que as entidades que trabalham com a criança e adolescente realizem um trabalho conjuntojogo do aviãozinho da blazeformajogo do aviãozinho da blazerede, tendojogo do aviãozinho da blazemente que cada região tem suas peculiaridades.

"Não basta a simples existênciajogo do aviãozinho da blazeEscolas, Conselhos Tutelares, Conselhojogo do aviãozinho da blazeDireito da Criança e adolescente, Centrosjogo do aviãozinho da blazeReferênciajogo do aviãozinho da blazeAssistência Social. É fundamental a realizaçãojogo do aviãozinho da blazeaçõesjogo do aviãozinho da blazediálogos e agendas que se comuniquem e articulem entre as diferentes instituições que pretendem proteger a infância".

Na visão da Unicef, é fundamental identificar e acompanhar a dispersão das populações indígenas e ribeirinhas, que emigramjogo do aviãozinho da blazesuas terras para as periferias das cidades. Em muitos casos, esses fluxos migratórios acontecemjogo do aviãozinho da blazerazão da implantaçãojogo do aviãozinho da blazegrandes obrasjogo do aviãozinho da blazeinfraestrutura - que, por um lado, desalojam populações e, por outro, geram empregos, oujogo do aviãozinho da blazebuscajogo do aviãozinho da blazeoutras oportunidadesjogo do aviãozinho da blazetrabalho, por questõesjogo do aviãozinho da blazesaúde, por causajogo do aviãozinho da blazeconflitos fundiários oujogo do aviãozinho da blazebuscajogo do aviãozinho da blazeeducação. "A maioria da população indígena jovem já se encontra na periferia das médias e grandes cidades da região".

Outro caminho, defende a Unicef, é fortalecer a capacidade dos municípios, que representa o poder público mais próximo da população, para atuarjogo do aviãozinho da blazecontextosjogo do aviãozinho da blazegrandes complexidades sociais, econômicas, sociais e geográficas, como a Amazônia. "Em muitos lugares, as instâncias municipais, estaduais e federal na Amazônia Legal não são capazesjogo do aviãozinho da blazegarantir e realizar sozinhas os direitos, especialmente das populações vulneráveis. Por isso, União, Estados e municípios precisam investir na formação e qualificação permanente dos serviços e agentes públicos. Isso pode ser feito por meiojogo do aviãozinho da blazeparcerias com universidades e escolasjogo do aviãozinho da blazegoverno e gestão, e demais instituições públicasjogo do aviãozinho da blazepesquisa e ensino".

Para o coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria, que atua na Amazônia, Caetano Scannavino, é preciso discutir um modelo econômico ejogo do aviãozinho da blazedesenvolvimento que, alémjogo do aviãozinho da blazegerar riqueza, beneficie a população localjogo do aviãozinho da blazemaneira sustentável."

"Ao longo dessas décadas, desmatamos o equivalente a duas Alemanhas para que 63% dessas áreas fossem ocupadas por pastosjogo do aviãozinho da blazebaixíssimas produtividade, níveis africanos. Estamos desmatando para ficar mais pobres? Não para substituir por algo eficiente, que poderia gerar inclusão e desenvolvimento para todos e não só para a geração atual, mas para a frente", diz ele que, para isso, defende uma somajogo do aviãozinho da blazeesforçosjogo do aviãozinho da blazetodos os setores da sociedade: governo, academia, ONGs e movimentos sociais, seguindo modelosjogo do aviãozinho da blazeiniciativas que já funcionam na região,jogo do aviãozinho da blazepequena escala. "Isso que precisa ser debatido. Há décadas se extrai recursos da Amazônia, e as pessoas não estão mais ricas. Estão mais pobres porque não melhorou o péjogo do aviãozinho da blazemeia, e a floresta não tem mais a riqueza que tinha antes".

A assistência social Glinda, moradorajogo do aviãozinho da blazeBreves, tem visão parecida sobre o futuro das riquezas naturais da regiãojogo do aviãozinho da blazeque ela nasceu. "A florestajogo do aviãozinho da blazepé gera lucros pra uns e prejuízos pra outros", diz. "Esse é o nosso grande problema, eles a veem sob o olhar da ganância. Mas o aqui o povo existe e resiste".

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