A hidrelétrica controlada pelos governos francês e brasileiro acusadacódigo promocionalbetanomatar 80 mil peixes na Amazônia:código promocionalbetano

hidrelétrica Sinop

Crédito, MPE-MT

Legenda da foto, Cercacódigo promocionalbetano13 toneladascódigo promocionalbetanopeixes morreram às margens do rio Teles Pires, na área do reservatório da usina hidrelétrica Sinop

A Sinop Energia, responsável pela hidrelétrica, é formada por estatais do setor energético dos dois países. Tanto para o Ministério Público Estadual quanto para o Federal, o crime ambiental no Teles Pires foi causado pela usina durante o enchimentocódigo promocionalbetanoseu reservatório.

A concessionária responsável pela hidrelétrica une as estatais Electricitécódigo promocionalbetanoFrance (EDF) e Eletrobras, e detém os direitoscódigo promocionalbetanoexploração da usina até o anocódigo promocionalbetano2043. Líder mundial no setor, a EDF é sócia majoritária no consórcio, com 51% das ações sob seu comando. Os 49% restantes estão divididos entre duas empresas controladas pela Eletrobras.

Menoscódigo promocionalbetanoseis meses após a tragédia, a Secretariacódigo promocionalbetanoMeio Ambiente do Mato Grosso autorizou o funcionamento da usina, no dia 20código promocionalbetanoagosto. A decisão fomentou críticas, pois pesquisadores defendem que o governo do Estado tem sido conivente com a concessionária, independentemente das críticas socioambientais à iniciativa.

A Secretaria rebate dizendo que todas suas decisões sobre a hidrelétrica foram baseadascódigo promocionalbetanocritérios técnicos.

"Existe um discurso que as usinas trarão desenvolvimento, vão movimentar a economia local e que serão benéficas. Isso influencia a postura do governo, muitas vezes conivente [com os projetos], mesmo quando há críticas ou estudos que sugiram eventuais problemas", diz João Andrade, coordenadorcódigo promocionalbetanoDireito Socioambiental no Instituto Centrocódigo promocionalbetanoVida (ICV).

A organização não governamental é uma das que monitoram a expansãocódigo promocionalbetanohidrelétricas e outros projetoscódigo promocionalbetanoinfraestruturacódigo promocionalbetanoMato Grosso.

'Não existem danos ambientais', diz consórcio

Peixes mortos no rio Teles Pires

Crédito, MPE-MT

Legenda da foto, Para o Ministério Públicocódigo promocionalbetanoMato Grosso, a morte dos peixes no rio Teles Pires foi causada pela usina durante o enchimentocódigo promocionalbetanoseu reservatório

O crime ambiental no Teles Pires foi o episódio mais gravecódigo promocionalbetanoum longo imbróglio entre o Ministério Público, a Sinop Energia e o governocódigo promocionalbetanoMato Grosso.

A iniciativa franco-brasileira é contestada por órgãoscódigo promocionalbetanocontrole estaduais e federais há pelo menos sete anos; neste mês, o caso teve novos capítulos.

No dia 20código promocionalbetanosetembro, a Justiça Federal acatou um pedido feito pelo Ministério Público Federalcódigo promocionalbetanoMato Grosso e suspendeu a licençacódigo promocionalbetanooperação concedida pelo governo estadualcódigo promocionalbetanoagosto.

Porém, no dia 24, menoscódigo promocionalbetanouma semana após a decisão, a mesma Justiça Federal voltou atrás. O juiz Murilo Mendes autorizou a retomada das atividades na hidrelétrica até esta terça-feira, 1ºcódigo promocionalbetanooutubro, quando será julgada uma ação civil pública sobre a matançacódigo promocionalbetanomaiscódigo promocionalbetano81 mil peixes no Teles Pires.

O MP do Estado acusa a Sinop Energia e o governocódigo promocionalbetanoMato Grossocódigo promocionalbetanoserem responsáveis por um crime ambiental no rio. Aindacódigo promocionalbetanofevereiro, o Ministério Público pediu o bloqueiocódigo promocionalbetanoR$ 20 milhões da concessionária franco-brasileira para "garantir a efetividade da eventual condenação para finscódigo promocionalbetanoreparação dos danos".

No mesmo mês, a secretariacódigo promocionalbetanoMeio Ambiente multou a Sinop Energiacódigo promocionalbetanoR$ 50 milhões por conta do episódio.

Pesquisadores como Philip Fearnside, do Instituto Nacionalcódigo promocionalbetanoPesquisas da Amazônia, têm criticado o projeto desdecódigo promocionalbetanoconcepção. Integrante da equipe que recebeu o Nobel da Pazcódigo promocionalbetano2007 por pesquisas sobre mudanças climáticas, o perito defende punições ao consórcio franco-brasileiro.

"A empresa tem que se responsabilizar pelos impactos, e as empresas responsáveis pelas outras barragens devem também ser responsabilizadas pelos impactos das suas obras", diz Fearnside.

O rio Teles Pires tem outras três hidrelétricascódigo promocionalbetanogrande portecódigo promocionalbetanoseu curso, todas também alvoscódigo promocionalbetanocríticas por contacódigo promocionalbetanoimpactos sobre meio ambiente, povos indígenas e ribeirinhos.

À BBC News Brasil, o consórcio formado pela EDF e pela Eletrobras nega culpa no caso. A empresa afirma que "não existem danos ambientais decorrentes da implantação da usina hidrelétrica Sinop, mas alguns impactos ambientais negativos inerentes à implantaçãocódigo promocionalbetanoempreendimento dessa magnitude".

Um desastre evitável?

O possível crime ambientalcódigo promocionalbetanotorno da hidrelétrica Sinop não veio sem avisos. Nos últimos anos, peritos e especialistas alertaram que o enchimento do reservatório traria danos irreversíveis ao rio Teles Pires e àcódigo promocionalbetanobiodiversidade.

O principal problema seria a alteração nos níveiscódigo promocionalbetanooxigênio nas águas do rio durante esta etapacódigo promocionalbetanosua instalação.

O fenômeno aconteceria como consequência do alagamentocódigo promocionalbetanovegetações que não foram removidas do local escolhido para o reservatório, mantendo grande quantidadecódigo promocionalbetanobiomassa para ser decomposta. Com isso, o rio se tornaria hostil à vidacódigo promocionalbetanopeixes e outras espécies que dele dependem.

Peixes mortos no rio Teles Pires

Crédito, MPE-MT

Legenda da foto, Peritos e especialistas já tinham alertado sobre a possibilidadecódigo promocionalbetanoum problema ambiental na área

Philip Fearnside foi um dos alertaram sobre o risco da operação. O perito diz que "apenas 30% da vegetação havia sido removida da área [quando as comportas foram abertas], ao invés dos 100% exigidos por lei — uma lei que tem sido amplamente ignorada [em Mato Grosso]".

"Deixar árvorescódigo promocionalbetanoum reservatório como o da hidrelétrica Sinop contribui para diversos impactos ambientais, como a emissãocódigo promocionalbetanogasescódigo promocionalbetanoefeito estufa — especialmente metano — e a transformaçãocódigo promocionalbetanomercúrio nacódigo promocionalbetanoforma venenosa, metil-mercúrio", afirma Fearnsidecódigo promocionalbetanoseu relatório sobre o caso.

Logo após a matança dos peixes, uma equipe do Centrocódigo promocionalbetanoApoio às Promotoriascódigo promocionalbetanoJustiçacódigo promocionalbetanoMato Grosso visitou a área para medir os danos. Baseado no relatório sobre o caso, o MPcódigo promocionalbetanoMato Grosso diz que a Sinop Energia removeu apenas 86 km² da vegetação na área inundada — o reservatório alagou 300 km², o equivalente a três vezes a área da capital do Espírito Santo, Vitória.

"Se as medidascódigo promocionalbetanoteorcódigo promocionalbetanooxigênio feitas pela Politec (Perícia Oficial e Identificação Técnica) estão certas, não há dúvidacódigo promocionalbetanoque a faltacódigo promocionalbetanooxigênio na água era suficiente para matar os peixes, e a turbidez [das águas do rio] seria só uma agravante", diz Philip Fearnside.

Tanto a concessionária franco-brasileira quanto o governocódigo promocionalbetanoMato Grosso negam a hipótese. A Sinop Energia diz que "atende plenamente às exigências do licenciamento ambiental", enquanto a Secretariacódigo promocionalbetanoMeio Ambiente alega que "a manutençãocódigo promocionalbetanoparte da vegetação se deu dentro dos padrões da norma vigente, com apoiocódigo promocionalbetanodados técnicos".

Economiacódigo promocionalbetanogastos, críticas e pesquisas ignoradas

Menoscódigo promocionalbetanoduas semanas após as mortescódigo promocionalbetanopeixes no Teles Pires, o MPcódigo promocionalbetanoMato Grosso tentou punir os executivos responsáveis pela Sinop Energia. Em 13código promocionalbetanofevereiro, os promotores Marcelo Caetano Vacchiano e Joelsoncódigo promocionalbetanoCampos Maciel pediram o monitoramento, pela Justiça,código promocionalbetanoparte do conselho administrativo da empresa.

Como a Sinop Energia é um consórcio franco-brasileiro, havia a possibilidadecódigo promocionalbetanodiretores fugirem do país. Os promotores pediram que o então presidente da usina, o engenheiro francês Jean Christophe Marcel Jos Delvallet, e outros três membros do conselho fossem obrigados a usar tornozeleiras eletrônicas, alémcódigo promocionalbetanoserem proibidoscódigo promocionalbetanoentrar na área da hidrelétrica ecódigo promocionalbetanoórgãos ambientais do Estado.

Procurada, a Sinop Energia diz que "o sr. Jean Christophe não é mais o Diretor-Presidente da companhia e nunca lhe foi imputado o usocódigo promocionalbetanotornozeleira eletrônica ou qualquer outra medida que limitasse, ainda que parcialmente, seus direitos civis".

Peixe morto

Crédito, MPE-MT

Legenda da foto, Segundo o Ministério Público, o grupo responsável pela usina teria cometido os crimescódigo promocionalbetanoassociação criminosa e irregularidades ambientais

Segundo o MP estadual, o grupo responsável pela usina teria cometido os crimescódigo promocionalbetanoassociação criminosa e uma sériecódigo promocionalbetanoirregularidades ambientais: descumprimentocódigo promocionalbetanoobrigaçãocódigo promocionalbetanorelevante interesse, fraudecódigo promocionalbetanoprocedimento administrativo, omissão ou fraudecódigo promocionalbetanolicenciamento e poluição.

O MPcódigo promocionalbetanoMato Grosso também diz que os responsáveis pela Sinop Energia escolheram métodos mais baratos para instalar a usina, que não garantiam a proteção ambiental do rio ecódigo promocionalbetanosua biodiversidade.

Em inquérito policial sobre o caso, os promotores dizem que o método escolhido "teve caráter estritamente econômico-financeiro", pois assim haveria "economiacódigo promocionalbetanogastos com supressão vegetal, destinaçãocódigo promocionalbetanoprodutos florestais" e o consórcio poderia até ser "dispensadocódigo promocionalbetanopagamentocódigo promocionalbetanoreposição florestalcódigo promocionalbetanovirtudecódigo promocionalbetanonão ter realizado a remoção".

A Secretaria Estadualcódigo promocionalbetanoMeio Ambiente nega qualquer responsabilidade. Já a empresa franco-brasileira afirma que "a supressão da vegetação, além das demais ações preparatórias ao enchimento do lago, foi corretamente planejada e executada".

Problemas há maiscódigo promocionalbetanosete anos

Desde 2012, tanto o Ministério Público Estadual quanto o Federal questionam a viabilidade ambiental da hidrelétrica. Mas os problemas ligados à usina vão além: à épocacódigo promocionalbetanoconcessãocódigo promocionalbetanolicenças para instalação, por exemplo, a Procuradoria da Repúblicacódigo promocionalbetanoSinop identificou irregularidadescódigo promocionalbetanooutras etapas do projeto.

Em uma ação civil pública, protocoladacódigo promocionalbetanojunhocódigo promocionalbetano2018 pelo procurador Felipe Giardini, o MPFcódigo promocionalbetanoMato Grosso viu problemas na aquisiçãocódigo promocionalbetanoterras pela Sinop Energia. O MP federal acusava o consórcio franco-brasileirocódigo promocionalbetanoter comprado imóveis na área onde a usina seria construída por um valor muito abaixo do preçocódigo promocionalbetanomercado.

A diferença entre os valores orçados pela empresa e os avaliados pelo Instituto Nacionalcódigo promocionalbetanoColonização e Reforma Agrária (Incra) é significativa. Segundo o MPF, o preço estipulado pelo Incra eracódigo promocionalbetanoaproximadamente R$ 12 mil, enquanto o consórcio franco-brasileiro pagou R$ 3 mil por hectare. Maiscódigo promocionalbetano200 famílias viviam nas redondezas, ocupando a chamada Gleba Mercedes, um assentamento da reforma agrária.

A empresa nega as acusações. A Sinop Energia diz que conseguiu fazer acordos com 90% dos proprietários na região atingida pela usina, alegando que isso "mostracódigo promocionalbetanoforma incontestável que a metodologiacódigo promocionalbetanoavaliação e o preço pago pelos imóveis foi correta". Mas a disputacódigo promocionalbetanotorno da área ainda parece longe do fim.

Em pesquisa no sistema eletrônico da Justiça Federal da 1ª Região, responsável por analisar o caso, a BBC News Brasil constatou que ainda existem processoscódigo promocionalbetanoandamento. As ações pedem indenização por danos morais causados pela Sinop Energia.

Línea.

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