Jovem baiana é primeira brasileira a ganhar prêmio global da ONU sobre meio ambiente:
NascidaSalvador, Beserra começou a desenvolver a tecnologia aos 15 anos,2013, depoisganhar uma bolsa para jovens cientistas oferecida pelo CNPq (Conselho NacionalDesenvolvimento Científico e Tecnológico), do governo federal.
De lá para cá, ela criou 10 versões distintas até chegar à tecnologia atual, que purifica água não-potável usando a luz solar, sem produtos químicos ou filtros descartáveis.
Segundo a ONU, 1,8 bilhãopessoas bebem água imprópria ao consumo humano no mundo. No Brasil, segundo dados divulgados neste ano pelo Intituto Trata Brasil, cerca35 milhõespessoas não têm acesso a redeságua potável.
BatizadoAqualuz, o dispositivo foi acopladofasetestes a cisternas na região do semi-árido do nordeste brasileiro e já garante acesso a água limpa para 265 pessoas.
"Até o fim do ano chegaremos a mais 700", afirma. "É uma metodologia muito fácil e viável para estas regiões. O dispositivo dura 20 anos,média, e só precisa ser limpo com água e sabão."
'Democratizar o acesso a água potável'
Vencedora da categoria América Latina e Caribe da premiação oferecida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Beserra quer agora expandir a tecnologia para fora do Brasil.
"A gente não esperava (o prêmio), foi uma grande surpresa. Agora, sabemos que não só vamos ter o retorno financeiro para investir no projeto, como também estamos abrindo portas para expandir a tecnologia para África, Ásia e outros países da América Latina", diz.
"A meta é democratizar o acesso a agua potável", prossegue a criadora do Aqualuz, que é capazlimpar até 10 litroságua4 horas.
O dispositivo também batiza uma startup que Beserra criou durante a graduaçãobiotecnologia na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Agora elevada a uma das "ideias mais inovadoras e arrojadas para solucionar os desafios ambientais mais urgentes do nosso tempo", segundo a ONU, a solução criada pela jovem brasileira pode frear os impactos devastadores da nona principal causamortestodo o mundo.
Segundo a Organização MundialSaúde, só2016, 1,4 milhãopessoas morreramdecorrênciadoenças diarréicas contraídas pelo consumoágua contaminada.
A ONU aponta que estas mortes estão "diretamente ligadas à faltaágua potável e à faltasaneamento eacesso à higiene" e que os problemas atingem principalmente "populações jovens, vulneráveis ou que vivemzonas rurais remotas".
Bolsonaro: 'Por favor, não desestimule a ciência'
Sobre a repercussão negativa da politica ambiental brasileira no exterior, criticada por especialistas e líderes mundiaismeio ao avanço do desmatamento e das queimadas, a jovem diz ver oportunidades.
"É triste, mas ao mesmo tempo isso gera uma visibilidade para o Brasil e a gente pode aproveitá-laforma positiva", diz.
A reportagem pergunta o que Beserra diria ao presidente Jair Bolsonaro — que estaráNova York quando a jovem for premiada, caso a viagem presidencial à Assembleia Geral da ONU se confirme.
"Eu diria ao presidente que, por favor, não desestimule a ciência e o empreendedorismo local. Se não houver estímulo, as pessoas vão se desmotivar."
No início do mês, o CNPq anunciou que não pode garantir verbas para o pagamentoquase 80 mil bolsistas brasileiros a partirsetembro.
Primeira fontefinanciamento da jovem premiada pela ONU, o CNPq foi criado1951 para estimular pesquisas científicas no país com o pagamentobolsas a alunosgraduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado, alémprojetos independentes.
Os cortes no investimentoeducação vêm sendo criticados há meses. Em julho, sete ex-presidentes do CNPq escreveram uma carta conjunta, apontando que a "grave condição orçamentária e financeira da agência que colocarisco décadasinvestimentosrecursos humanos e infraestrutura para pesquisa e inovação no Brasil".
A brasileira pretende investir os US$ 15 mil (R$ 61,3 mil) que ganhará na premiação no projeto. Outros US$ 9 mil (R$ 36,7 mil) são oferecidos pela ONU para investimento"comunicação e comercialização, alémformação, orientação e convites para participarreuniõesalto nível da ONU".
Em todo o mundo, mil jovens se inscreveram no prêmio — que teve, alémAnna Luisa, outros seis vencedores ao redor do mundo. No total, 158 brasileiros se inescreveram — destes, outros três ficaram entre os 35 finalistas da premiação.
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