As trágicas histórias dos brasileiros que morrem na fronteira do México com os EUA:site de aposta f1
A BBC News Brasil conversou com parentessite de aposta f1mortos nessas circunstâncias e pessoas que lidam com as mortes, como Tiago.
Os familiares aparecem nesta reportagem com informações e nomes alterados. Em alguns casos, por serem eles mesmos imigrantes ilegais, temem ser identificados pelas autoridades e deportados. Em outros, têm medosite de aposta f1retaliaçãosite de aposta f1coiotes - como são chamados aqueles que organizam as travessias ilegais pela fronteira. Há também casossite de aposta f1que querem evitar que o resto da família reviva o trauma da perda.
Suas histórias revelam o que motiva brasileiros a deixar o país e encarar os riscos da travessia e o desconhecido num lugar novo, alémsite de aposta f1como são organizadas as viagens, o que pode dar errado e como isso tudo é vivido pelas pessoas que estão no Brasil ou aguardam seus maridos, sobrinhos, primos nos Estados Unidos.
"É como entrar numa guerra"
Tanto Tiago quanto outras pessoas que lidam com imigrantes ilegais dizem que muitos têm ilusãosite de aposta f1que a travessia da fronteira é "simples", como era há décadas atrás, mas desde o atentado às Torres Gêmeas,site de aposta f12001, o governo reforçou a segurança nas fronteiras e nos últimos anos tem tentando dificultar a entradasite de aposta f1ilegais, o que tem acarretado numa sériesite de aposta f1mortes.
Além disso, dizem, a fronteira se tornou mais perigosa com o acirramentosite de aposta f1conflitos ligados ao tráficosite de aposta f1drogas.
"Um senhor do interior entraria desavisado numa favela do Riosite de aposta f1Janeiro sem sabersite de aposta f1nada? Não entraria. Mas é esse tiposite de aposta f1perigo que ele corre ao tentar atravessar a fronteira", diz Tiago.
"Já me aconteceusite de aposta f1não conseguir tirar um corpo do México porque o lugar onde ficava a funerária do lado mexicano estavasite de aposta f1meio a uma guerra entre policiais e traficantes. A gente sofrendo para ajudar a família e o corpo lá".
Isso aconteceu, por exemplo, no casosite de aposta f1Wesley, um dos brasileiros mortos na fronteira nos últimos cinco anos. Seu corpo foi achado no Rio Grande, do lado mexicano e só foi enviado ao Brasil semanas depois. "Quanto mais tempo passávamos sem o corpo, mais a dor aumentava", lembra um tio.
A causasite de aposta f1sua morte até hoje não é clara. Os parentes suspeitam que ele tenha sido assassinado pelos coiotes.
"Se a pessoa tem algum conflito com eles, se não quer carregar drogas ou algo assim, eles matam", diz o tio.
Ele próprio já havia feito a travessia da fronteira pelo Rio Grande, anos antessite de aposta f1seu sobrinho morrer no mesmo lugar.
"[Na minha região, no interior do Brasil] você sempre conhece alguém que traz [brasileiros ilegalmente para os Estados Unidos]. Mas eu não tinha ideia do que era [a viagem]. A gente só vê o perigo quando já está na estrada", diz ele, que segue como imigrante ilegal.
Ele e outros com quem a BBC News Brasil conversou contam que os grupos que organizam as travessias clandestinas são compostos por diversas pessoas e,site de aposta f1geral, o migrante só conhece uma ponta da cadeia. Silvio embarcou no Brasilsite de aposta f1um avião rumo ao México. Lá, foi recebido por um agente local, que depois o encaminhou a outro e assim foi até chegarem no deserto.
A travessia pelo rio durou cercasite de aposta f115 minutos, mas foi aterrorizante para Silvio. No escuro da noite, uma pessoa do seu gruposite de aposta f1cercasite de aposta f150 migrantes foi levada pela correnteza e morreu afogada. "Eles [os coiotes] não estão nem aí. Se alguém fica para trás, morre lá e pronto", diz.
"Sonho americano é só isso, um sonho"
O primosite de aposta f1Andrea passou mal no deserto, já do lado americano da fronteira, e foi deixado para trás. Seu corpo foi achado no dia seguinte por oficiais americanos.
Gerson trabalhava num supermercado na pequena cidadesite de aposta f1onde vem a família. Perdeu o emprego e começou a se organizar para tentar a vida nos Estados Unidos.
Fez contato com uma pessoa que já havia organizado travessiassite de aposta f1conhecidos dele e rumou para o México. Andrea, que já vivia ilegalmente nos Estados Unidos, estava apreensiva durante a viagem do primo. Pediu que ele a avisasse, por telefone, a cada passo que desse.
"Disse pra ele: 'se você sumir, eu tenho que procurar por você. Se você sumir, ninguém vai avisar que você sumiu'", conta ela.
Quando ele chegou a uma cidade fronteiriça do México, num sábado, a procurou, dizendo que os coiotes avaliaram que aquele não seria um bom dia para fazer a travessia, pois havia muitos guardas pelo caminho. Avaliariam a situação no dia seguinte. O domingo passou sem qualquer notíciasite de aposta f1Gerson. Andrea achou que ele estivessesite de aposta f1contato com outros parentes ou que não tivesse deixado o México ainda. Apenas na segunda-feira recebeu a ligação da pessoa que havia organizado a viagem, dizendo que Gerson havia sofrido um acidente na travessia e estava morto.
Andrea emigrou para os Estados Unidos fugindo do ex-marido. "Não vim pelo sonho americano, vim obrigada", diz ela. "Voeisite de aposta f1São Paulo para o Peru. De lá, voei para Cancún,site de aposta f1Cancún, para a Cidade do México, da Cidade do México para Mexicali (cidade fronteiriça). Ali, atravessei a pé a fronteira e me entreguei às autoridades. Eles olharam minha documentação e me liberaram", diz ela. Mais tarde, deu entrada num pedidosite de aposta f1asilo ao governo americano.
Quando seu primo morreu, Andrea assinou um documento se responsabilizando pelo envio do corpo ao Brasil. Um conhecido disse a ela que, ao se apresentar às autoridades, poderia chamar atenção para o fatosite de aposta f1que era também uma imigrante ilegal e isso talvez provocasse um processosite de aposta f1deportação, o que não aconteceu, ou pesar negativamente no seu pedidosite de aposta f1asilo.
"Mas eu nem pensei nisso. Nessas horas você não tem muito tempo para pensar. E não tem que pensar, mesmo. O que eu ia fazer, deixar meu primo lá, morto? A mãe dele ficou uma semana sem falar quando soube que ele tinha morrido. Ela tinha que enterrar o filho dela."
Ela mesma também sofreu. "Eu tive que ir ao médico, tomei remédio para dormir por muito tempo. Quando dormia, sonhava com ele. A verdade é que me senti culpada. Culpada porque não mandei mensagem para ele naquele dia. Se eu soubesse que ele estava atravessando, eu poderia avisar a patrulha, e ele seria preso, mas talvez estivesse vivo'".
"Ele tinha o que todos têm, o sonho americano. O sonhosite de aposta f1que você vai conseguir adquirir imóveis e coisas que você não consegue no Brasil, porque tem pouco emprego, o salário mínimo não dá pra viver e, no interior, quando você tem emprego, ganha só um salário mínimo. É aí que bate o desespero. Mas não passa disso, um sonho. Você até consegue juntar algum dinheiro, mas isso custa asite de aposta f1vida, porque você vai ter dois empregos, vai dormir quatro horas por noite, e aí asite de aposta f1vida passou. Quem vive o sonho americano não vive. Na grande parte dos casos, não vai acontecer, e você pode morrer tentando", diz Andrea.
Enviando corpossite de aposta f1volta ao Brasil
A empresasite de aposta f1Tiago, a Padref, cuida da parte burocrática e prática do envio do corpo ao Brasil. Ela foi aberta depois que o próprio passou por duas perdas - um primo que morreu num acidentesite de aposta f1carro e um conhecido que se matou após ser demitido.
Nesses casos, Tiago observou que companhias que faziam esse serviço muitas vezes cobravam preços exorbitantes dos estrangeiros. "Percebi que poderia ter um lucro pequeno e entregar um serviço importante para a comunidade brasileira", diz ele.
A Padref cobra entre 5,5 mil e 10 mil dólares pelo serviço. Outra empresa consultada pela BBC, a G7 Mortuary Shipping, no entanto, cobra entre 4 mil e 8 mil.
Tanto ele quanto pessoassite de aposta f1outras companhiassite de aposta f1repatriaçãosite de aposta f1corpos ouvidas pela BBC News Brasil dizem que não é raro encontrar casossite de aposta f1que essas organizações cobram preços exorbitantessite de aposta f1estrangeiros, muitas vezes desesperados e desinformados.
"Imigrante não costuma ter tanto dinheiro guardado, então isso gera ainda mais sofrimento, porque a família não consegue enterrar o parente, às vezes tem que fazer vaquinha, e o trauma aumenta", diz ele. Seu tio, que vive no Brasil, faz partesite de aposta f1um sindicatosite de aposta f1funeráriassite de aposta f1Goiás, por isso ele já tinha algum conhecimento sobre o ramo.
Assim como o Itamaraty, Tiago também diz que o númerosite de aposta f1brasileiros mortos na fronteira é maior do que o que indicam os dados oficiais. "Os motivos que levam os parentes a não registrarem essas mortes são vários - faltasite de aposta f1conhecimento, a burocracia envolvida, a questão do idioma, o medo dos oficiaissite de aposta f1imigração", opina.
As mortes na fronteira são especialmente penosas porque com frequência a família fica sem respostas. "Fazemos a identificação por uma aliança ou uma tatuagem, mas a causa da morte fica faltando", lamenta.
De imigrante ilegal a empresário
Tiago se considera um "dreamer", como são chamados os imigrantes ilegais que foram levados para os Estados Unidos ainda crianças, estudaram lá e muitas vezes se consideram americanos, mas não o são oficialmente. Tiago, no entanto, teve mais sorte. Após quase dez anos como ilegal, conseguiu a cidadania por meio do seu padrasto, que é americano e patrocinou seu visto após casar-se com a mãesite de aposta f1Tiago.
O nome "dreamer" vem da siglasite de aposta f1um projeto para tornar essas pessoas cidadãos, o Development, Relief and Education for Alien Minors Act (Atosite de aposta f1Desenvolvimento, Auxílio e Educação para Menores Estrangeiros,site de aposta f1tradução livre). Mas também se refere às esperanças dos que deixam seus países para construir uma vida nova num lugar desconhecido.
Assite de aposta f1Tiago eram construir uma vida confortável e ajudar a comunidadesite de aposta f1brasileiros que vivem no país.
Ele próprio foi ajudado por alguém com uma postura similar: um empregadorsite de aposta f1sua mãe, que é faxineira.
Tiago se mudou para os Estados Unidos com a mãe quando era adolescente, após seu pai ser assassinado num assalto. Foi estudar numa escola pública no lestesite de aposta f1Boston, que abandonou aos 16, e foi fazer bicos. "Boston é uma cidade racista, ainda que seja um racismo velado. Os próprios professores diziam que 'pessoas como nós' chegaríamos no máximo a um community college (faculdades públicas, cujos cursos duram apenas dois anos)", diz.
"Muitos dos meus amigos viraram criminosos e vários deles estão presos hoje."
Quando finalmente conseguiu seu documentosite de aposta f1cidadão americano, aos 21, resolveu voltar a estudar.
Fez um supletivo, pago pelo chefe da mãe e, anos mais tarde, conseguiu uma bolsa para a universidade Tufts. Foi trabalhar no mercado financeiro, ramo do chefe da mãe, mas deixou o emprego para se dedicar à empresasite de aposta f1repatriação funerária e seguradora.
Também se dedica a outros projetos, como uma ONG que ajuda brasileiros a navegarem o sistema educacional americano.
"Da mesma forma que me ajudaram, quero ajudar os brasileiros também."
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