As trágicas histórias dos brasileiros que morrem na fronteira do México com os EUA:as melhores apostas

Homem joga coroaas melhores apostasflores na água

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O que motiva brasileiros a deixar o país e encarar os riscos da travessia e o desconhecido rumo a ilegalidade nos EUA?
Fotoas melhores apostaspai e filha que morreram afogados ao tentar cruzar o rio

Crédito, AFP

Legenda da foto, Fotoas melhores apostaspai e filha salvadorenhos que morreram afogados ao tentar cruzar o rio gerou comoção mundial

A BBC News Brasil conversou com parentesas melhores apostasmortos nessas circunstâncias e pessoas que lidam com as mortes, como Tiago.

Os familiares aparecem nesta reportagem com informações e nomes alterados. Em alguns casos, por serem eles mesmos imigrantes ilegais, temem ser identificados pelas autoridades e deportados. Em outros, têm medoas melhores apostasretaliaçãoas melhores apostascoiotes - como são chamados aqueles que organizam as travessias ilegais pela fronteira. Há também casosas melhores apostasque querem evitar que o resto da família reviva o trauma da perda.

Suas histórias revelam o que motiva brasileiros a deixar o país e encarar os riscos da travessia e o desconhecido num lugar novo, alémas melhores apostascomo são organizadas as viagens, o que pode dar errado e como isso tudo é vivido pelas pessoas que estão no Brasil ou aguardam seus maridos, sobrinhos, primos nos Estados Unidos.

"É como entrar numa guerra"

Tanto Tiago quanto outras pessoas que lidam com imigrantes ilegais dizem que muitos têm ilusãoas melhores apostasque a travessia da fronteira é "simples", como era há décadas atrás, mas desde o atentado às Torres Gêmeas,as melhores apostas2001, o governo reforçou a segurança nas fronteiras e nos últimos anos tem tentando dificultar a entradaas melhores apostasilegais, o que tem acarretado numa sérieas melhores apostasmortes.

Além disso, dizem, a fronteira se tornou mais perigosa com o acirramentoas melhores apostasconflitos ligados ao tráficoas melhores apostasdrogas.

"Um senhor do interior entraria desavisado numa favela do Rioas melhores apostasJaneiro sem saberas melhores apostasnada? Não entraria. Mas é esse tipoas melhores apostasperigo que ele corre ao tentar atravessar a fronteira", diz Tiago.

"Já me aconteceuas melhores apostasnão conseguir tirar um corpo do México porque o lugar onde ficava a funerária do lado mexicano estavaas melhores apostasmeio a uma guerra entre policiais e traficantes. A gente sofrendo para ajudar a família e o corpo lá".

Isso aconteceu, por exemplo, no casoas melhores apostasWesley, um dos brasileiros mortos na fronteira nos últimos cinco anos. Seu corpo foi achado no Rio Grande, do lado mexicano e só foi enviado ao Brasil semanas depois. "Quanto mais tempo passávamos sem o corpo, mais a dor aumentava", lembra um tio.

Imigrantes atravessam o Rio Grande

Crédito, AFP

Legenda da foto, O Rio Grande tornou-se um símbolo da crise migratória que assola os EUA

A causaas melhores apostassua morte até hoje não é clara. Os parentes suspeitam que ele tenha sido assassinado pelos coiotes.

"Se a pessoa tem algum conflito com eles, se não quer carregar drogas ou algo assim, eles matam", diz o tio.

Ele próprio já havia feito a travessia da fronteira pelo Rio Grande, anos antesas melhores apostasseu sobrinho morrer no mesmo lugar.

"[Na minha região, no interior do Brasil] você sempre conhece alguém que traz [brasileiros ilegalmente para os Estados Unidos]. Mas eu não tinha ideia do que era [a viagem]. A gente só vê o perigo quando já está na estrada", diz ele, que segue como imigrante ilegal.

Ele e outros com quem a BBC News Brasil conversou contam que os grupos que organizam as travessias clandestinas são compostos por diversas pessoas e,as melhores apostasgeral, o migrante só conhece uma ponta da cadeia. Silvio embarcou no Brasilas melhores apostasum avião rumo ao México. Lá, foi recebido por um agente local, que depois o encaminhou a outro e assim foi até chegarem no deserto.

A travessia pelo rio durou cercaas melhores apostas15 minutos, mas foi aterrorizante para Silvio. No escuro da noite, uma pessoa do seu grupoas melhores apostascercaas melhores apostas50 migrantes foi levada pela correnteza e morreu afogada. "Eles [os coiotes] não estão nem aí. Se alguém fica para trás, morre lá e pronto", diz.

Gráfico sobre mortes na fronteira dos EUA com o México

"Sonho americano é só isso, um sonho"

O primoas melhores apostasAndrea passou mal no deserto, já do lado americano da fronteira, e foi deixado para trás. Seu corpo foi achado no dia seguinte por oficiais americanos.

Gerson trabalhava num supermercado na pequena cidadeas melhores apostasonde vem a família. Perdeu o emprego e começou a se organizar para tentar a vida nos Estados Unidos.

Fez contato com uma pessoa que já havia organizado travessiasas melhores apostasconhecidos dele e rumou para o México. Andrea, que já vivia ilegalmente nos Estados Unidos, estava apreensiva durante a viagem do primo. Pediu que ele a avisasse, por telefone, a cada passo que desse.

"Disse pra ele: 'se você sumir, eu tenho que procurar por você. Se você sumir, ninguém vai avisar que você sumiu'", conta ela.

Quando ele chegou a uma cidade fronteiriça do México, num sábado, a procurou, dizendo que os coiotes avaliaram que aquele não seria um bom dia para fazer a travessia, pois havia muitos guardas pelo caminho. Avaliariam a situação no dia seguinte. O domingo passou sem qualquer notíciaas melhores apostasGerson. Andrea achou que ele estivesseas melhores apostascontato com outros parentes ou que não tivesse deixado o México ainda. Apenas na segunda-feira recebeu a ligação da pessoa que havia organizado a viagem, dizendo que Gerson havia sofrido um acidente na travessia e estava morto.

Andrea emigrou para os Estados Unidos fugindo do ex-marido. "Não vim pelo sonho americano, vim obrigada", diz ela. "Voeias melhores apostasSão Paulo para o Peru. De lá, voei para Cancún,as melhores apostasCancún, para a Cidade do México, da Cidade do México para Mexicali (cidade fronteiriça). Ali, atravessei a pé a fronteira e me entreguei às autoridades. Eles olharam minha documentação e me liberaram", diz ela. Mais tarde, deu entrada num pedidoas melhores apostasasilo ao governo americano.

Parte recém-construída do muro na fronteira EUA-México

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Parte recém-construída do muro na fronteira EUA-México

Quando seu primo morreu, Andrea assinou um documento se responsabilizando pelo envio do corpo ao Brasil. Um conhecido disse a ela que, ao se apresentar às autoridades, poderia chamar atenção para o fatoas melhores apostasque era também uma imigrante ilegal e isso talvez provocasse um processoas melhores apostasdeportação, o que não aconteceu, ou pesar negativamente no seu pedidoas melhores apostasasilo.

"Mas eu nem pensei nisso. Nessas horas você não tem muito tempo para pensar. E não tem que pensar, mesmo. O que eu ia fazer, deixar meu primo lá, morto? A mãe dele ficou uma semana sem falar quando soube que ele tinha morrido. Ela tinha que enterrar o filho dela."

Ela mesma também sofreu. "Eu tive que ir ao médico, tomei remédio para dormir por muito tempo. Quando dormia, sonhava com ele. A verdade é que me senti culpada. Culpada porque não mandei mensagem para ele naquele dia. Se eu soubesse que ele estava atravessando, eu poderia avisar a patrulha, e ele seria preso, mas talvez estivesse vivo'".

"Ele tinha o que todos têm, o sonho americano. O sonhoas melhores apostasque você vai conseguir adquirir imóveis e coisas que você não consegue no Brasil, porque tem pouco emprego, o salário mínimo não dá pra viver e, no interior, quando você tem emprego, ganha só um salário mínimo. É aí que bate o desespero. Mas não passa disso, um sonho. Você até consegue juntar algum dinheiro, mas isso custa aas melhores apostasvida, porque você vai ter dois empregos, vai dormir quatro horas por noite, e aí aas melhores apostasvida passou. Quem vive o sonho americano não vive. Na grande parte dos casos, não vai acontecer, e você pode morrer tentando", diz Andrea.

Enviando corposas melhores apostasvolta ao Brasil

A empresaas melhores apostasTiago, a Padref, cuida da parte burocrática e prática do envio do corpo ao Brasil. Ela foi aberta depois que o próprio passou por duas perdas - um primo que morreu num acidenteas melhores apostascarro e um conhecido que se matou após ser demitido.

Nesses casos, Tiago observou que companhias que faziam esse serviço muitas vezes cobravam preços exorbitantes dos estrangeiros. "Percebi que poderia ter um lucro pequeno e entregar um serviço importante para a comunidade brasileira", diz ele.

A Padref cobra entre 5,5 mil e 10 mil dólares pelo serviço. Outra empresa consultada pela BBC, a G7 Mortuary Shipping, no entanto, cobra entre 4 mil e 8 mil.

Tanto ele quanto pessoasas melhores apostasoutras companhiasas melhores apostasrepatriaçãoas melhores apostascorpos ouvidas pela BBC News Brasil dizem que não é raro encontrar casosas melhores apostasque essas organizações cobram preços exorbitantesas melhores apostasestrangeiros, muitas vezes desesperados e desinformados.

"Imigrante não costuma ter tanto dinheiro guardado, então isso gera ainda mais sofrimento, porque a família não consegue enterrar o parente, às vezes tem que fazer vaquinha, e o trauma aumenta", diz ele. Seu tio, que vive no Brasil, faz parteas melhores apostasum sindicatoas melhores apostasfuneráriasas melhores apostasGoiás, por isso ele já tinha algum conhecimento sobre o ramo.

Homem e criança tentam atravessar Rio Grande

Crédito, AFP

Legenda da foto, Famíliasas melhores apostasmigrantes com crianças cruzam todos os dias o Rio Grande na tentativaas melhores apostaschegar aos Estados Unidos

Assim como o Itamaraty, Tiago também diz que o númeroas melhores apostasbrasileiros mortos na fronteira é maior do que o que indicam os dados oficiais. "Os motivos que levam os parentes a não registrarem essas mortes são vários - faltaas melhores apostasconhecimento, a burocracia envolvida, a questão do idioma, o medo dos oficiaisas melhores apostasimigração", opina.

As mortes na fronteira são especialmente penosas porque com frequência a família fica sem respostas. "Fazemos a identificação por uma aliança ou uma tatuagem, mas a causa da morte fica faltando", lamenta.

De imigrante ilegal a empresário

Tiago se considera um "dreamer", como são chamados os imigrantes ilegais que foram levados para os Estados Unidos ainda crianças, estudaram lá e muitas vezes se consideram americanos, mas não o são oficialmente. Tiago, no entanto, teve mais sorte. Após quase dez anos como ilegal, conseguiu a cidadania por meio do seu padrasto, que é americano e patrocinou seu visto após casar-se com a mãeas melhores apostasTiago.

O nome "dreamer" vem da siglaas melhores apostasum projeto para tornar essas pessoas cidadãos, o Development, Relief and Education for Alien Minors Act (Atoas melhores apostasDesenvolvimento, Auxílio e Educação para Menores Estrangeiros,as melhores apostastradução livre). Mas também se refere às esperanças dos que deixam seus países para construir uma vida nova num lugar desconhecido.

Asas melhores apostasTiago eram construir uma vida confortável e ajudar a comunidadeas melhores apostasbrasileiros que vivem no país.

Ele próprio foi ajudado por alguém com uma postura similar: um empregadoras melhores apostassua mãe, que é faxineira.

Tiago Prado

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Tiago se considera um "dreamer", como são chamados os imigrantes ilegais que foram levados para os Estados Unidos ainda crianças e estudaram por lá

Tiago se mudou para os Estados Unidos com a mãe quando era adolescente, após seu pai ser assassinado num assalto. Foi estudar numa escola pública no lesteas melhores apostasBoston, que abandonou aos 16, e foi fazer bicos. "Boston é uma cidade racista, ainda que seja um racismo velado. Os próprios professores diziam que 'pessoas como nós' chegaríamos no máximo a um community college (faculdades públicas, cujos cursos duram apenas dois anos)", diz.

"Muitos dos meus amigos viraram criminosos e vários deles estão presos hoje."

Quando finalmente conseguiu seu documentoas melhores apostascidadão americano, aos 21, resolveu voltar a estudar.

Fez um supletivo, pago pelo chefe da mãe e, anos mais tarde, conseguiu uma bolsa para a universidade Tufts. Foi trabalhar no mercado financeiro, ramo do chefe da mãe, mas deixou o emprego para se dedicar à empresaas melhores apostasrepatriação funerária e seguradora.

Também se dedica a outros projetos, como uma ONG que ajuda brasileiros a navegarem o sistema educacional americano.

"Da mesma forma que me ajudaram, quero ajudar os brasileiros também."

Línea

as melhores apostas Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube as melhores apostas ? Inscreva-se no nosso canal!

Pule YouTube post, 1
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosas melhores apostasautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaas melhores apostasusoas melhores apostascookies e os termosas melhores apostasprivacidade do Google YouTube antesas melhores apostasconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueas melhores apostas"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdoas melhores apostasterceiros pode conter publicidade

Finalas melhores apostasYouTube post, 1

Pule YouTube post, 2
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosas melhores apostasautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaas melhores apostasusoas melhores apostascookies e os termosas melhores apostasprivacidade do Google YouTube antesas melhores apostasconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueas melhores apostas"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdoas melhores apostasterceiros pode conter publicidade

Finalas melhores apostasYouTube post, 2

Pule YouTube post, 3
Aceita conteúdo do Google YouTube?

Este item inclui conteúdo extraído do Google YouTube. Pedimosas melhores apostasautorização antes que algo seja carregado, pois eles podem estar utilizando cookies e outras tecnologias. Você pode consultar a políticaas melhores apostasusoas melhores apostascookies e os termosas melhores apostasprivacidade do Google YouTube antesas melhores apostasconcordar. Para acessar o conteúdo cliqueas melhores apostas"aceitar e continuar".

Alerta: Conteúdoas melhores apostasterceiros pode conter publicidade

Finalas melhores apostasYouTube post, 3