Sob ameaçabbb 22 betanocortes no governo Bolsonaro, cursosbbb 22 betanociências sociais e humanas concentram diversidade racial:bbb 22 betano
Cursosbbb 22 betanoengenharia - consideradas todas as modalidades- possuem,bbb 22 betanomédia, um aluno negro para cada nove brancos. Em arquitetura e urbanismo ebbb 22 betanoodontologia, a proporção ébbb 22 betano1 para 12.
Os dados pintam uma diferença gritante entre os quadrosbbb 22 betanodiversidade racialbbb 22 betanocursosbbb 22 betanohumanas ebbb 22 betanocursosbbb 22 betanociências biológicas e exatas.
Para a diretora do Programabbb 22 betanoEstudos Brasileiros da Universidadebbb 22 betanoOxford, Andrezabbb 22 betanoSouza Santos, o eventual cortebbb 22 betanoinvestimentosbbb 22 betanocursosbbb 22 betanociências sociais e humanas traria como efeitobbb 22 betanocurto prazo um "embranquecimento" das universidades federais.
"O acesso que as pessoas têm hoje a cursos como física, engenharia e medicina não é democrático e universal, porque são cursos com notabbb 22 betanocorte alta e alto custobbb 22 betanomanutenção durante o processobbb 22 betanoformação. Muitos negros estudarambbb 22 betanoescolas públicasbbb 22 betanobaixa qualidade e sem professores especializadosbbb 22 betanoáreasbbb 22 betanoexatas e biológicas", disse à BBC News Brasil.
"Uma reduçãobbb 22 betanorecursos na áreabbb 22 betanohumanas, sem levarbbb 22 betanoconta o processo educativo desde a base, nas escolas públicas, terá como efeito elitizar o conhecimento a curto prazo, reduzindo negros e pobres nas universidades", avalia a professora, que dá aulasbbb 22 betanopolítica na Universidadebbb 22 betanoOxford e tem doutoradobbb 22 betanoantropologia social.
No dia 26bbb 22 betanoabril, Jair Bolsonaro anunciou, pelo Twitter, que o novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, "estuda descentralizar investimentosbbb 22 betanofaculdadesbbb 22 betanofilosofia e sociologia (humanas)", com o objetivobbb 22 betano"focarbbb 22 betanoáreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como veterinária, engenharia e medicina".
Pouco depois, o Ministério da Educação (MEC) anunciou um contingenciamento geralbbb 22 betano30% nos orçamentosbbb 22 betanotodas as universidades federais. Não está claro, porém, como seria feito o corte específico nas áreasbbb 22 betanohumanidades e ciências sociais, já que a Constituição Federal garante autonomia às universidades para gerenciar os recursos repassados pelo governo federal e distribuí-los aos respectivos departamentos.
Segundo o professor Paulo Calmon, diretor do Departamentobbb 22 betanoCiência Política da Universidadebbb 22 betanoBrasília (UnB), os repasses do governo federal para cada universidade, atualmente, seguem critérios objetivos que levambbb 22 betanoconta, por exemplo, a relação professor/aluno, o tamanho do campus, númerobbb 22 betanocursos oferecidos, custobbb 22 betanovida do local e o oferecimento ou nãobbb 22 betanomestrados e doutorados.
Há ainda recursos orçamentários extras para projetos específicos das universidades que possam ser vinculados a determinadas políticas públicas.
"Por exemplo, uma universidade pode estar desenvolvendo um programabbb 22 betanopesquisa relacionada a dengue e Zika, que leve à construçãobbb 22 betanoum novo laboratório e que receba recursos extras por complementar uma política pública do governobbb 22 betanocombate a epidemias. Ou um programa do governo na áreabbb 22 betanoagricultura pode justificar repassesbbb 22 betanopesquisas nessa área", exemplifica.
É possível, diz o professor, que esses recursos extras acabem sendo direcionados, no governo Bolsonaro, para projetosbbb 22 betanodepartamentosbbb 22 betanomedicina e exatas.
Outra possibilidade seria reduzir bolsasbbb 22 betanoinstitutos ligados ao governo federal (CAPES e CNPQ) para pesquisasbbb 22 betanociências sociais e humanas, direcionando esses recursos para áreas biológicas ebbb 22 betanoexatas.
Há ainda o temorbbb 22 betanoque as negociações entre reitores e o Ministério da Educação por liberaçãobbb 22 betanoverbas contingenciadas acabem envolvendo compromissos informais quanto a repasses maiores para um setor ou outro.
"Ainda não tivemos informação sobre como serão os cortes. Não sei se haverá influência nos editaisbbb 22 betanopesquisa ou programasbbb 22 betanoexpansão, para priorizar áreasbbb 22 betanociências duras ou se, na gestão dos próximos concursos para professor, os indicadores para a contratação pendam para uma área do conhecimentobbb 22 betanodetrimentobbb 22 betanooutra", especula Calmon.
Procurado pela BBC News Brasil, o MEC se limitou a dizer que "os recursos destinados a quaisquer áreas do conhecimento serão estudadosbbb 22 betanoforma a priorizar aquelas que, no momento, melhor atendem às demandas da população".
"Nesse sentido, não há que se falarbbb 22 betanoperdas ou ganhos, trata-se, apenas,bbb 22 betanoreadequação à realidade do país", afirmou o ministério.
Por que há mais negros nas ciências sociais e humanas?
Mas, para a diretora do Programabbb 22 betanoEstudos Brasileiros da Universidadebbb 22 betanoOxford, se essa "priorização" envolver cortesbbb 22 betanorecursos nas áreasbbb 22 betanociências sociais e humanas e redução no númerobbb 22 betanovagas ofertadas, haverá perdas, sim - e para os negros.
A explicação para a concentraçãobbb 22 betanodiversidade racial na áreabbb 22 betanohumanas passa por diferentes fatores, diz Andreza Santos. Ela destaca que grande parte dos estudantesbbb 22 betanobaixa renda é negra, e estudabbb 22 betanoescolas públicas - algumasbbb 22 betanobaixa qualidade e com carênciabbb 22 betanoprofessores especializados nas áreasbbb 22 betanociências biológicas e da natureza, como física, química e biologia.
"Os cursos menos concorridos, com notabbb 22 betanocorte mais baixa no Sisu, acabam sendo a portabbb 22 betanoentrada para estudantes mais pobres e - como a pobreza tem um aspecto racial - negros", afirma a professora.
Ela explica que, quando são analisados os númerosbbb 22 betanomatrículas por raça, há uma correlação entre o percentualbbb 22 betanonegros e a notabbb 22 betanocorte média dos cursos no Sistemabbb 22 betanoSeleção Unificada (SISU) do Ministério da Educação. Quanto maior a notabbb 22 betanocorte, menor a proporçãobbb 22 betanonegros.
"Há alguns cursos que não estão na áreabbb 22 betanoexatas, mas que também possuem notabbb 22 betanocorte alta por serem tradicionais e elitizados, como Relações Internacionais e Direito. Nesses cursos, também há proporção menorbbb 22 betanonegros", afirma.
Segundo os dados do Censo Nacionalbbb 22 betanoEnsino Superior 2017, para cada negro no cursobbb 22 betanoDireito há sete brancos. Nobbb 22 betanoRelações Internacionais, a proporção ébbb 22 betano1 para 9, equivalente aobbb 22 betanoengenharia.
Mas alguns cursosbbb 22 betanoexatas e ciências da saúde trazem uma dificuldade adicional para alunosbbb 22 betanobaixa renda. Segundo a professora da Universidadebbb 22 betanoOxford, são faculdades que exigem custos mais altos para que o aluno se mantenha ou que demandam muitos anosbbb 22 betanoestudo antes do exercício da profissão, como medicina.
"Um aluno que faz arquitetura e urbanismo ou engenharia precisa comprar materiais que, às vezes, são caros. Professores emprestam, mas, para muitas disciplinas, é preciso criar um portfolio e a qualidade do material tem influência", explica.
"O mesmo ocorre com cursos como medicina, que demandam livros caríssimos e anosbbb 22 betanoespecialização. Portanto, não é só a questãobbb 22 betanoacesso. Tem também a discussãobbb 22 betanocomo vai ser manutenção da pessoa naquele curso."
Por fim, Andreza Santos diz que é possível que alunosbbb 22 betanobaixa renda também não optem por cursosbbb 22 betanoexatas e biológicas por faltabbb 22 betanoexposição a essas áreas do conhecimento nas escolas públicas.
"Há um deficitbbb 22 betanoprofessores especializadosbbb 22 betanomatemática, química, física e biologia nas escolas públicas. Então, o aluno acaba ficando menos exposto a conhecer essas áreas e a selecioná-las no vestibular", diz.
Para a professora, se o governo quer ter mais formandosbbb 22 betanoexatas e medicina sem excluir a população negra e pobre das universidades, é preciso que a mudança comece no ensino médio, para despertar o interesse dos alunos e prepará-los para que consigam acompanhar o ritmo do aprendizado nessas áreas, nas universidades.
"Não dá para fazer essa mudança só direcionando recursos nas universidades. Se é para estimular essas áreas sem excluir negros e pobres, a mudança precisa ocorrer lá atrás, com mais investimentobbb 22 betanomatemática ebbb 22 betanociências da natureza nas escolas públicas, para que as pessoas consigam acompanhar esses cursos e ter esses cursos no radar delas."
A professa ressalta que, no governo Dilma Rousseff, a políticabbb 22 betanodirecionar bolsas do Ciência sem Fronteiras para pesquisas nas áreasbbb 22 betanociências da natureza e biológicas também resultou na exclusãobbb 22 betanonegros e estudantesbbb 22 betanobaixa rendabbb 22 betanogeral, que se concentram, predominantemente,bbb 22 betanoáreasbbb 22 betanohumanas e ciências sociais.
O Censo da Educação Superiorbbb 22 betano2014, feito quando o programa estava no auge, mostra que 70% dos beneficiados com bolsas para estudar fora do país eram brancos.
"Essa ideiabbb 22 betanofocar a políticabbb 22 betanodisciplinas específicas já começou na gestão passada com o Ciência sem Fronteiras. Os negros também foram menos favorecidos", diz Andreza Santos.
Mas... mais recursos para exatas e medicina não significaria mais vagas?
À primeira vista é possível pensar que a realocaçãobbb 22 betanorecursosbbb 22 betanohumanidades para áreas como medicina, matemática, física e engenharia poderia resultar num aumentobbb 22 betanovagas nesses cursos, equivalente aos possíveis cortesbbb 22 betanovagas nas faculdadesbbb 22 betanohumanas.
E, com mais vagas, a concorrência para cursosbbb 22 betanociências biológicas e da natureza seria menor, o que poderia ensejar um acesso maiorbbb 22 betanoestudantesbbb 22 betanobaixa renda e negros a esses cursos.
Mas a diretora do Programabbb 22 betanoEstudos Brasileirosbbb 22 betanoOxford explica que essas áreas do conhecimento exigem custo elevado por vaga, já que são necessários equipamentos, infraestruturabbb 22 betanopesquisa, material e tecnologia.
Um exemplo: só o laboratóriobbb 22 betanoFísica Experimental inaugurado neste ano na Universidade Federal da Amazônia custou R$ 2 milhões. Por isso, dificilmente a realocaçãobbb 22 betanorecursos significaria equivalência no númerobbb 22 betanovagas e redução das notasbbb 22 betanocorte.
"O gasto nas áreasbbb 22 betanohumanas já é muito mais baixo que os gastos nas ciências puras, que são áreas mais caras. Cortar dessas faculdades e realocar não teria impacto algumbbb 22 betanodesenvolver as áreasbbb 22 betanociências duras, só significaria um desmonte das ciências sociais e humanas", acrescenta o professor Francisco Ortega, do departamentobbb 22 betanoSaúde Social, da Faculdadebbb 22 betanoMedicina da Universidade Federal do Riobbb 22 betanoJaneiro (UFRJ).
Retorno dos cursos à sociedade
Ortega, que tem pesquisas voltadas a políticas públicas na área da saúde, também argumenta que a tendência mundial hoje é o estímulo à interdisciplinaridade, ou seja, investirbbb 22 betanoestudos que combinem tanto conhecimentosbbb 22 betanohumanidades quantobbb 22 betanociências exatas e biológicas.
"É jogar dinheiro fora ter políticasbbb 22 betanosaúde,bbb 22 betanonutrição,bbb 22 betanocombate a epidemias que tratem todas as populações como idênticas. Diferenças culturais ebbb 22 betanohábito das classes alta, baixa, média, muçulmana, católica, evangélica têm impacto e, para encontrar soluções, é fundamental a parceria com profissionais da filosofia, sociologia e antropologia."
Andreza Santos também questiona o critério adotado pelo governo para classificar cursos que "trazem retorno imediato à sociedade". Segundo ela, alunosbbb 22 betanoperiferia que cursam humanas e ciências sociais muitas vezes aplicam, depois, o conhecimento que adquiriram para desenvolver as próprias comunidades, produzindo retornos econômicos.
"É comum estudantesbbb 22 betanoserviço social e antropologia fazerem pesquisa sobre a própria favela, bairro ou cidade. Fazem censos da quantidadebbb 22 betanomoradores, do perfil deles, analisam os benefícios e problemasbbb 22 betanomorar ali", diz.
"Com esses dados, organizam prioridades para acesso a serviços públicos. Por exemplo, nem toda área pobre tem muito crime. Portanto, às vezes não é policiamento que se precisa, a prioridade pode ser asfalto ou saneamento. Esses cursosbbb 22 betanociências sociais e humanas têm um impacto positivo na sociedade que muitas vezes não é quantificadobbb 22 betanosalários", conclui.
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