De prostituta a católica e passista no Carnaval: quem é Maria Lata D'Água, que sambava com 20 litroscasa devolve a apostaágua na cabeça:casa devolve a aposta
Muito religiosa, se identifica principalmente com duas personagens da Bíblia: Maria Madalena, prostituta que, segundo a história, foi a primeira pessoa a ver Jesus após a ressurreição, e a samaritana do poço, com quem Jesus conversou e que se tornoucasa devolve a apostaseguidora. "Somos iguais, Deus me usou muito para contar a história delas", diz ela.
De vestido longo e colorido, argolas nas orelhas ecasa devolve a apostatradicional peruca chanel com franja, Maria recebeu a BBC News Brasil no asilo católico onde mora "porque quer", no interiorcasa devolve a apostaSão Paulo, e contoucasa devolve a apostahistória.
Brincando no caminho até a água
Maria nasceucasa devolve a aposta1933,casa devolve a apostaDiamantina, Minas Gerais. Perdeu o pai aos dois anoscasa devolve a apostaidade.
Com a mãe e o irmão, teve infância simples, mas se divertia. No vaivém da casa da família até a bica onde buscavam água, Maria brincavacasa devolve a apostaequilibrar latas na cabeça, o que serviucasa devolve a apostatreino para a personagem que mais tarde incorporaria. Sua mãe era lavadeira e a família também vendia lenha, catada pelas crianças.
O catolicismo veiocasa devolve a apostaberço. Seu nome, Maria Mercedes, é homenagem a Nossa Senhora das Mercês, outra designação da Virgem Maria. Foi batizada e ia à missa todos os domingos, mas conta que sempre foi uma menina travessa. "Eu queria liberdade", diz ela.
Quando Maria se aproximava do final da infância,casa devolve a apostamãe foi morar no Riocasa devolve a apostaJaneiro, onde arrumara trabalho como empregada doméstica. As crianças ficaram morando com a avó por alguns anos, e, depois quecasa devolve a apostamãe se casou com um funcionário do porto da cidade, foram morar com eles numa casa confortável no subúrbiocasa devolve a apostaBelford Roxo, cidade bem próxima ao Riocasa devolve a apostaJaneiro, na Baixada Fluminense.
"Na escola, fiz amizades com umas meninas que gostavamcasa devolve a apostafaltar às aulas. A gente fingia que ia para a escola, mas na verdade íamos para a praia, para o cinema", diz ela. Foi numa salacasa devolve a apostacinema que teve umacasa devolve a apostasuas primeiras experiências sexuais pagas. "As pessoas estão falando agora dessas coisascasa devolve a apostaabusocasa devolve a apostacriança, mas isso é antigo", diz ela.
A mãe, muito rígida, faziacasa devolve a apostatudo para controlar a filha adolescente, mas não conseguia. Maria fugia dos castigoscasa devolve a apostacasa e passava dias dormindo na rua. A mãe ia atrás, levava-a para casa, mas Maria sempre fugiacasa devolve a apostanovo. Isso aconteceu três vezes. "Quando ela soube que eu não era mais menina (virgem)...", diz Maria, e faz um gesto com a mão, como quem diz, "largou".
'Quer ser artista?'
"A vida na rua era muito difícil, então, quando me chamaram para morar numa casacasa devolve a apostaprostituição, aceitei", conta ela. Desse período, lembra que tomava remédios para passar as noites acordada e bebia "para aguentar o trabalho".
Passou um breve período morando com um homem que, no início, parecia gentil, mas depois, passou a espancá-la com frequência. Voltou à casacasa devolve a apostaprostituição, onde foi protegida por um cafetão quando seu ex tentou encontrá-la.
Um dia, estava na porta, quando um homem que passava perguntou se ela queria "ser artista". Foi assim que subiu num palco pela primeira vez, na peça "A Vida do Palhaço Dudu". Fazia o papelcasa devolve a apostauma das amantescasa devolve a apostapalhaço, Margarida, e tinha uma fala. Com a peça, ganhou dinheiro o bastante para deixar a casacasa devolve a apostaprostituição e se mudar para uma pensão.
Ao final da temporada, foi convidada para participarcasa devolve a apostaoutro show, estecasa devolve a apostapassistas e ritmistas que dançavam e tocavam para turistas que chegavamcasa devolve a apostanavio. Foi nessa época que conheceu Mercedes Baptista, "a primeira bailarina negra que dançavacasa devolve a apostaponta", como diz Maria, com admiração, e começou a frequentar suas aulascasa devolve a apostadança folclórica.
Certa noite, na rua, viu uma senhora fazer um númerocasa devolve a apostadança com uma lata d'água na cabeça e pensou: "Eu sei fazer isso!"
Levou a ideia ao Salgueiro. O presidente não aceitou que o número entrasse nos desfiles, mas alguém lhe disse "vai na Portela". Na época, a escola era patrocinada pelo bicheiro Natalino José do Nascimento, conhecido como Seu Natal.
"Ele me deu muito apoio, foi ele quem me aceitou", diz ela. "Quando cheguei na quadra, vi uma imagemcasa devolve a apostaNossa Senhora da Conceição. As cores eram azul e branco, as cores da Nossa Senhora. Sempre fui devota dela. Disse, 'é esta que eu quero'". Passou maiscasa devolve a apostavinte anos desfilando pela escola.
'Marie Bidon D'eau'
A escola dava as roupas para o desfile, mas não pagava pela apresentação. Maria ganhava a vida fazendo shows e, às vezes, se prostituindo.
"Sempre bebi muito para ter coragem. Bebia antescasa devolve a apostatodos os desfiles", diz ela.
Na época, era comum que gruposcasa devolve a apostadança passassem temporadas se apresentando fora do país. Sua primeira viagem foi para o Paraguai. Depois, se mudou para a Itália e,casa devolve a apostaseguida, para a Suíça, onde conheceu seu marido, hoje morto.
Maria conta que as passistas - negras, na maioria - sofriam muito racismo.
"Para viajar para a Europa, exigiam um bonito perfil. Por causa do meu nariz, que é largo, eles pediam para eu fazer cirurgia plástica. Várias das minhas amigas operaram o nariz, o bumbum. Eu dizia, 'não, se me quiser, vai me querer assim, mesmo'. Eu me olhava no espelho e pensava, 'não vou ser eu'. E no final das contas eu era a mais bonita!", diz ela, e cai na gargalhada.
"A única parte do corpo que me incomoda é meu cabelo. Sempre usei peruca. Eu me sentia com caracasa devolve a apostavelha com meu cabelo natural", diz ela. "Eu pedi a Deus, 'não me dê pelancas!', e até hoje não tenho. Só tenho estas rugascasa devolve a apostasorriso. Mas sem peruca, envelheço."
'Eu ouvi o chamado'
Em 1982, já casada, se mudoucasa devolve a apostavolta para o Brasil. Continuou participando do Carnaval e se apresentando, mas também passou a frequentar igrejas ligadas à Renovação Carismática, corrente que surgiu na décadacasa devolve a aposta1960 tentando adotar um estilo mais moderno para a prática do catolicismo e que,casa devolve a apostamuitos aspectos, lembra igrejas evangélicas pentecostais.
Foi nessa época que conheceu a Canção Nova, comunidadecasa devolve a apostamissionários sediadacasa devolve a apostaCachoeira Paulista, que temcasa devolve a apostaprópria universidade, canaiscasa devolve a apostatelevisão e rádio.
"Em 1990, participeicasa devolve a apostaum retiro deles e dei meu primeiro testemunho (depoimento sobrecasa devolve a apostavida aos membros da igreja). Depois daquele dia, nunca mais desfilei", diz ela.
Fez formação vocacional e, depois da mortecasa devolve a apostaseu marido ecasa devolve a apostamãe, se mudou para Cachoeira Paulista.
Há dois meses, decidiu deixarcasa devolve a apostacasa e se mudar para um asilo católico numa cidade vizinha. Lá, reza, vai à missa e joga conversa fora com funcionários e colegas, a quem ela se refere, brincando, como "as velhas".
"Sempre disse que, quando ficasse mais idosa, moraria numa casacasa devolve a apostarepouso. As pessoas me ofereceram companhia, mas eu não quis. Sempre quis ter minha liberdade. Sou o que sou. Nunca mudei."
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