Projetoaposta presidente sportingbetleiaposta presidente sportingbetcriminalização do funk repete história do samba, da capoeira e do rap:aposta presidente sportingbet
A proposta diz apenas: "É fato eaposta presidente sportingbetconhecimento dos brasileiros, difundido inclusive por diversos veículosaposta presidente sportingbetcomunicaçãoaposta presidente sportingbetmídia e internet com conteúdos podre (sic) alertando a população o poder público do crime contra a criança, o menor adolescente e a família. Crimeaposta presidente sportingbetsaúde pública desta 'falsa cultura' denominada funk".
Depois do pareceraposta presidente sportingbetRomário, o texto deve passar por comissões no Congresso e pode ir à votação na Câmara eaposta presidente sportingbetseguida no Senado.
A possível criminalização do funk vem causando polêmica. Adeptos da música dizem que, apesaraposta presidente sportingbeto ritmo ser um dos mais tocados no país, ainda sofre repressão e preconceito. Especialistas afirmam que a proposta legisativa lembra perseguições sofridas por ritmos e manifestações surgidas dentro da comunidade negra, como o samba, a capoeira e o rap.
"Esse retrato do funk como coisaaposta presidente sportingbetvagabundo e criminoso não é arbitrário", explica Danilo Cymrot, doutoraposta presidente sportingbetcriminologia pela USP. "Existem outras manifestações que foram perseguidas por serem ligadas a negros, pobres e moradores do subúrbio. Sambistas eram associados à vadiagem, eram chamadosaposta presidente sportingbetvagabundos. Muitos foram presos."
A respeito da polêmica, a cantora Anitta, que começouaposta presidente sportingbetcarreira nos bailes funk, afirmou à BBC Brasil: "Acho que primeiro as pessoas precisam buscar entender o país onde vivem para depois criticar o funk". Para ela, proibir o funk é como punir o mensageiro pelo teor da mensagem.
"Se você quer mudar o funk ou o que está sendo falado ou a forma que ele entra na sociedade, você então deve mudar a raiz, as questões educacionais, as questões que fazem a criação do funk."
Reinaldo Santosaposta presidente sportingbetAlmeida, professoraposta presidente sportingbetDireito Penal da Universidade Federal do Rioaposta presidente sportingbetJaneiro, tem opinião parecida. "A criminalização do funk é a forma pós-modernaaposta presidente sportingbetrepressão penal da cultura popular marginal nos morros cariocas", diz.
Segundo Almeida, cuja teseaposta presidente sportingbetdoutorado foi sobre a criminalização do samba, a perseguição ao ritmo símbolo do país era essencialmente racista. "Era tão racista quanto o sistemaaposta presidente sportingbetJustiça criminal brasileiro, cujo critério determinante é a posiçãoaposta presidente sportingbetclasse do autor, ao lado da coraposta presidente sportingbetpele e outros indicadores sociais negativos, tais como pobreza, desemprego e faltaaposta presidente sportingbetmoradia", diz.
No século passado, o sambista João da Baiana (1887-1974), por exemplo, precisouaposta presidente sportingbetajudaaposta presidente sportingbetum congressista para não ser mais preso nas ruas. O senador José Gomes Pinheiro da Fonseca (1851-1915), fãaposta presidente sportingbetsamba e um dos políticos mais importantes da época, escreveu uma dedicatória no pandeiroaposta presidente sportingbetJoão. Quando era parado pela polícia, o músico mostrava o instrumento com a assinatura. Funcionava como um salvo-conduto.
A criminalização durou até a Presidênciaaposta presidente sportingbetGetúlio Vargas, que passou a valorizar elementos da cultura brasileira para reforçar o nacionalismo, umaaposta presidente sportingbetsuas bandeiras. Porém, alguns sambistas ainda sofreram com a censura. Músicas que ironizavam o trabalhismo, um dos pilares do Estado Novo, sofreram intervenção.
A letraaposta presidente sportingbetBondeaposta presidente sportingbetSão Januário,aposta presidente sportingbetAtaúlfo Alves e Wilson Batista, por exemplo, teve um trecho alterado por ordem do governo. A letra ironizava: "O bonde São Januário/ leva mais um otário/ sou eu que vou trabalhar". A palavra "otário" foi trocada por "operário".
Capoeira e rap
Assim como o samba, a capoeira é hoje um dos símbolos da cultura brasileira. Nos séculos 19 e 20, no entanto, ela também era crime. Antes da Lei Áurea,aposta presidente sportingbet1888, o medo dos governantes eraaposta presidente sportingbetque a dança, misturada à luta, pudesse levar a uma revoltaaposta presidente sportingbetescravos.
"Dessa forma, as autoridades, buscando conter a evolução da prática da capoeira, pelo medoaposta presidente sportingbetuma rebelião escravista e visando punir os praticantes, entenderam,aposta presidente sportingbetforma implícita, que a prática da capoeira podia ser tratada como vadiagem", escreveram as pesquisadoras Janineaposta presidente sportingbetCarvalho Ferreira Braga e Biancaaposta presidente sportingbetSouza Saldanhaaposta presidente sportingbetestudo sobre a criminalização da modalidade.
Mesmo depois da Lei Áurea, a luta continuou proibida. O Código Penalaposta presidente sportingbet1890 avisava da possível punição: "Fazer nas ruas e praças públicas exercícioaposta presidente sportingbetagilidade e destreza corporal conhecida pela denominaçãoaposta presidente sportingbetcapoeiragem: penaaposta presidente sportingbetprisão celular por dois a seis meses".
A capoeira só deixouaposta presidente sportingbetser crime também durante o governo Vargas, que enxergou na modalidade uma formaaposta presidente sportingbetvalorizar a cultura brasileira.
Mais tarde, eaposta presidente sportingbetmenor proporção, o rap também teve problemas com a Justiça. Em novembroaposta presidente sportingbet1997, os integrantes da banda Planet Hemp foram presosaposta presidente sportingbetBrasília por "apologia às drogas",aposta presidente sportingbetvirtudeaposta presidente sportingbetsuas letras sobre consumoaposta presidente sportingbetmaconha.
No ano 2000, a polícia do Rio "investigou" o clipe Soldado do Morro, do rapper MV Bill, antes mesmoaposta presidente sportingbetele ser lançado. Segundo a polícia, o vídeo fazia "apologia ao crime".
E o funk?
Para o pesquisador Cymrot, o funk começou a ser visto com maus olhosaposta presidente sportingbet1992, depoisaposta presidente sportingbetum suposto arrastão nas praiasaposta presidente sportingbetIpanema, Copacabana e Arpoador, no Rio. Jovensaposta presidente sportingbetdois morros se encontraram e realizaram uma espécieaposta presidente sportingbet"coreografia da violência". "Foi algo parecido com um bate-cabeçaaposta presidente sportingbetshows punk. A intenção não era assaltar ninguém, mas foi a imagem que ficou", diz o pesquisador.
"No Brasil, as pessoas ficam tensas quando um grupoaposta presidente sportingbetjovens negros chega na praia, ou quando se reúneaposta presidente sportingbetqualquer lugar. As pessoas se assustaram com essa imagem", explica Cymrot, sobre o motivoaposta presidente sportingbetaglomerações como os bailes serem malvistas.
Depois, ainda nos anos 1990, houve duas CPI no Rio para investigar o tráficoaposta presidente sportingbetdrogas e a suposta exploração sexualaposta presidente sportingbetcriançasaposta presidente sportingbetbailes funk nos morros cariocas.
As festas também foram proibidas com a chegada das Unidadesaposta presidente sportingbetPolícia Pacificadora (UPP)aposta presidente sportingbetmorros antes dominados por facções criminosas.
Em outro caso, a Justiça proibiu apresentações do funkeiro MC Pedrinho, quando ele tinha 13 anos. O garoto começou a carreira com 11 anos, cantando músicas com palavrões e pornografia. Para a Justiça, o adolescente não tinha idade para ser exposto ao conteúdoaposta presidente sportingbetsuas músicas - a empresa que cuidavaaposta presidente sportingbetsua carreira poderia ser até multada.
Em São Paulo, vereadores e deputados apresentaram projetos que propunham proibir os chamados "pancadões", bailes funk que ocupam ruasaposta presidente sportingbetbairros da periferia. Os eventos reúnem milharesaposta presidente sportingbetjovens e carros com som altíssimo, barulho e bagunça que incomodam moradores. Em alguns casos, há consumo e tráficoaposta presidente sportingbetdrogas - alguns pancadões foram encerrados com bombas lançadas pela polícia.
'Joio do trigo'
Os pancadões foram um dos principais motivos que levaram o webdesigner Marcelo Alonso a apresentar a nova proposta que pretende criminalizar o funk. Três desses eventos ocorrem com frequênciaaposta presidente sportingbetseu bairro - que não revela "por segurança". Ele diz que já foi ameaçado depois que apresentou o tema ao Senado.
Marcelo também é administrador da página "Funk é lixo", que tem maisaposta presidente sportingbet140 mil seguidores no Facebook.
Outro motivo, diz, são os chamados "proibidões", que têm letras pornográficas e fazem apologia ao crime. "O funk foi por um caminho esquisito,aposta presidente sportingbetsexo precoce, pedindo para que as pessoas matem policiais", diz Marcelo. "Funk é um crimeaposta presidente sportingbetsaúde pública. Como você pode olhar para aaposta presidente sportingbetmãe quando, ao lado, está tocando uma música que falaaposta presidente sportingbetcolocar a piroca na cara dela, na bunda dela", diz.
Fabio Luisaposta presidente sportingbetJesus,aposta presidente sportingbet37 anos, conhecido como MC Koringa, foi um dos funkeiros que mais criticaram a proposta. "Você não pode criminalizar um ritmo por causaaposta presidente sportingbetuma única vertente", diz. "O proibidão nada mais é do que uma realidade que se vê nas ruas. Se você não quer que as pessoas cantem sobre crimes, dê condiçõesaposta presidente sportingbetvida melhor para elas", diz.
O cantor carioca tem 21 anosaposta presidente sportingbetcarreira e suas músicas já foram trilhaaposta presidente sportingbetnovelas da Globo. "Se o funk fosse esse monstro, não haveria tanto espaço para ele na televisão", diz.
O funkeiro e o webdesigner Marcelo foram convidados pelo senador Romário para uma audiência pública que vai debater o tema. Outros cantores conhecidos, como o MC Buchecha e Valesca, também foram chamados. "É claro que vou à audiência", diz Marcelo. "Tenhoaposta presidente sportingbetcolocar esses funkeiros no lugar deles."