Tragédiaaposta ganha roletaBrumadinho: a funcionária da Vale que alertou sobre o desastre pelo rádio e fugiuaposta ganha roletaréaposta ganha roletacaminhão com 90 toneladas:aposta ganha roleta
"A onda veio muito rápido. Mas também parecia que estavaaposta ganha roletacâmera lenta. É algo muito estranho, não consigo explicar", fala Ana Paula, mãeaposta ganha roletauma meninaaposta ganha roleta8 anos e um meninoaposta ganha roleta3 anos.
O local onde a funcionária da Vale estava era o trecho finalaposta ganha roletauma estradaaposta ganha roletaterra que descia desde a áreaaposta ganha roletaextraçãoaposta ganha roletaminério, no alto, até o terminalaposta ganha roletacarregamento do trem, na parte mais baixa do complexo mineiro, muito perto da barragem.
Nessa estrada, Ana Paula dirigia o gigantesco e potente Foraaposta ganha roletaEstrada 777, veículo usado para transportar minério, com quase cinco metrosaposta ganha roletaaltura e 11aposta ganha roletacomprimento – o pneu, por exemplo, é mais alto que a motorista. Naaposta ganha roletacaçamba, havia 91 toneladasaposta ganha roletaminério, que seriam despejados nos vagões do trem.
Era um trabalho que ela amava, com o qual havia sonhado por muitos anos e que iniciara alguns meses antes,aposta ganha roletajunhoaposta ganha roleta2018.
No primeiro momento, Ana Paula não entendeu o que estava acontecendo. "Achei que era uma detonação na mina", diz ela. Só instantes depois, compreendeu que a barragem havia estourado. "A gente achava que essa barragem estava seca. Olhandoaposta ganha roletacima, parecia um campoaposta ganha roletafutebol, firme, duro, não tinha esse lamaçal. Ninguém imaginava que estava assim por dentro", conta.
Além disso, "eu nunca tive receio dessa barragem, porque a Vale sempre passava muito treinamentoaposta ganha roletasegurança. Inclusive, uns três meses antes, tinham feito uma simulação (de evacuaçãoaposta ganha roletaemergência)", acrescentou Ana Paula.
Mas, "quando caiu a ficha, peguei o rádio transmissor (do veículo) e comecei a gritar desesperada: 'corre, foge, a barragem estourou'. Quem estava naquela faixa (de rádio) me escutou gritando. Depois, fiquei sabendo que teve gente que escapou porque ouviu uma mulher chorar e gritar no rádio. Era eu", diz ela.
Ana Paula ainda tentou chamar a central pelo rádio, mas escutou apenas um silêncio - o local havia sido rapidamente soterrado.
Em apenas 30 segundos, a avalanche chegou a cercaaposta ganha roleta100 metros do megacaminhãoaposta ganha roletaAna Paula. Inundouaposta ganha roletalama o começo da estrada onde estava o veículo, destruiu parte das instalações da Vale localizadas ali, e despencouaposta ganha roletacimaaposta ganha roletaum grupoaposta ganha roletapessoas que tentava escapar.
"Minha vontade era me jogar naquela lama para ajudar a salvar as pessoas, mas não tinha jeito. A onda era muito mais forte que qualquer umaposta ganha roletanós", fala ela.
A partir daquele ponto, se a onda tivesse seguindoaposta ganha roletalinha reta, poderia ter encoberto toda a estrada onde estava o megacaminhãoaposta ganha roletaAna Paula. Mas o maraposta ganha roletalama fez uma curva exatamente na encosta onde ficava a via, e se deslocou rumo ao terminalaposta ganha roletacarregamento. De lá, seguiu para a área administrativa e o refeitório - onde, acredita-se, estava a maior parte das vítimas.
Assim, a trabalhadora assistiu atônita à maior parte da avalanche desviar daaposta ganha roletadireção e correr pelo seu lado direito, destruindo tudo que havia pela frente.
"Hoje, eu não posso mais olhar para uma montanha. Senão, eu vejo a onda vindo outra vez", desabafa. No total, Ana Paula calcula que perdeu "muito mais que vinte" colegas na tragédia. Sua tia Rosário, que também trabalhava na Vale, está desaparecida.
A fugaaposta ganha roletaré com 91 toneladas na caçamba
Enquanto a barragem se rompia, um outro megacaminhãoaposta ganha roletaminério começava a subir a estrada onde estava Ana Paula, no sentido oposto. Vazio, tinha acabadoaposta ganha roletadescarregar minério nos vagões do trem.
O motorista, que dirigiaaposta ganha roletacostas para a barragem, estava alheio à iminência da tragédia. Como o veículo é muito barulhento, o trabalhador usava protetores auriculares, que podem ter impedido que ouvisse o rompimento do reservatório e o somaposta ganha roletaárvores e construções sendo engolidas pela lama.
Foi Ana Paula quem o alertou. "Eu buzinei e dei luz, desesperada, para avisar meu colega. Ele não ouviu minha buzina, mas acabou percebendo o sinalaposta ganha roletaluz e acelerou para subir a estrada".
Mas havia outro problema: a estrada não comportava a passagem simultâneaaposta ganha roletadois caminhõesaposta ganha roletaminério. Então, para que o colega pudesse acelerar, Ana Paula teve que tomar uma decisão corajosa e arriscada: encostou seu Foraaposta ganha roletaEstrada à direita da via e ficou parada, adiando a própria fuga. Enquanto isso, a lama ia varrendo a mina.
"Se não fosse isso, a onda tinha quebradoaposta ganha roletacima dele. Foi por muito pouco", conta a funcionária da mina Córrego do Feijão.
Depoisaposta ganha roletapassar por Ana Paula, esse segundo megacaminhão subiu por uma estrada lateral e se afastou da destruição da lama. Esse momento, ocorrido às 12h29, foi registrado por uma câmeraaposta ganha roletasegurança da Vale - a mesma que gravou o rompimento da barragem, um minuto antes.
A imagem do veículoaposta ganha roletafuga foi exibida pelas emissorasaposta ganha roletaTV na última sexta-feira. Quando viu a cena, Ana Paula relembrouaposta ganha roletatudo que viveu e quase desmaiou. "Fiquei com tontura, meu corpo ficou bambinho", relata. Já o colega que dirigia o veículo mostrado na mídia, ainda muito abalado, não quis dar entrevista - por isso, a BBC News Brasil optou por preservar seu nome.
Após o colega conseguir fugir, era a vezaposta ganha roletaAna Paula fazer algo para sair dali. A missão era difícil, já que a frente do seu megacaminhão estava virada para a direção oposta à rotaaposta ganha roletafuga. Manobrar o veículo era impossível - a estrada era estreita, o veículo enorme, e não haveria tempo para isso.
"Então, eu pensei: vou dar ré", lembra ela.
"Só que era uma subida e o caminhão estava cheioaposta ganha roletaminério. Eu achava que não ia subiraposta ganha roletaré, mas era minha única opção. Então, fui dando ré e pedindo a Deus para me salvar. Eu dava ré e a lama ia chegando mais perto. Foi Deus que colocou a mão atrás do caminhão e puxou".
Foram cercaaposta ganha roleta150 metrosaposta ganha roletaré - sempreaposta ganha roletafrente para a barragem, observando toda a destruição causada pela lama. Até que Ana Paula chegou ao entroncamento da estrada pela qual seu colega havia subido minutos antes. Então, embicou o megacaminhãoaposta ganha roletafrente e dirigiu para longe dali.
Essa cena também foi captada pela câmeraaposta ganha roletasegurança da Vale. Às 12h31, três minutos após o rompimento da barragem, quando parecia não haver mais vida alguma naquele local, o Fora da Estrada 777aposta ganha roletaAna Paula emergiu da poeira que havia sido levantada pela passagem da lama. Carregadoaposta ganha roletaminério, o veículo se movia lentamente, último sobrevivente daquele campoaposta ganha roletaguerra.
"Se eu tivesse entradoaposta ganha roletachoque, paralisado, como aconteceu com muita gente, não teria saído dali. Eu acho que foi Deus que deixou minha cabeça boa para fazer o que eu fiz", acredita a motorista dos super caminhões.
Já foraaposta ganha roletarisco, a única coisaaposta ganha roletaque Ana Paula pensava era abraçar os filhos. Desde a tragédia, o mais novo pede abraços a todo momento. "Meu psicológico está abalado, mas tenho que ter força pelos meus filhos".
A chegada da lama ao refeitório
Enquanto Ana Paula dava ré no seu megacaminhão, a avalancheaposta ganha roletalama atingia a área administrativa da Vale e o refeitório, a cercaaposta ganha roleta1,4 quilômetro da base da barragem. O trajeto levouaposta ganha roletatornoaposta ganha roletadois minutos, apenas.
Walcir Carvalho,aposta ganha roleta30 anos, trabalha para uma empresa que presta serviços elétricos para a Vale. No momento do rompimento da barragem, ele e seus oito colegas haviam acabadoaposta ganha roletaalmoçar no refeitório da mina Córrego do Feijão.
A seguir, a maioria do grupo foi descansaraposta ganha roletauma pracinha ali perto. Já Walcir e outros dois colegas foram tirar um cochilo nos veículos da firma, que estavam estacionadosaposta ganha roletafila indiana a poucos metros dali, sob a sombraaposta ganha roletaárvores.
Mas, naquele dia, Walcir sentiu um incômodo diferente e não conseguiu pegar no sono. Por isso, saiu da caminhonete onde estava e foi se deitar na carroceria do veículo da frente. Minutos depois, ouviu um barulhoaposta ganha roletaexplosão muito alto.
"Achei que era uma explosão da mina. Mas então começou a vir poeira com lama, as árvores começaram a quebrar. Quando olhei, a onda já estava chegando na caminhonete. Aí foi cada um correndo por si", conta Walcir, cujo olhar lembra oaposta ganha roletaAna Paula, distante e assustado.
"Nunca imaginamos que isso ia acontecer. A Vale tem um trabalho 100%aposta ganha roletatermosaposta ganha roletasegurança. E eu já trabalhei perto da barragem, parecia que era (feita de) terra. Nunca ficava água lá. Se enchiaaposta ganha roletaágua, uma bomba logo tirava", completa. A lama, portanto, foi uma surpresa também para Walcir.
O funcionário relata que não ouviu nenhuma sirene - a própria Vale admitiu que o alerta sonoroaposta ganha roletaemergência não soou "devido à velocidade com que ocorreu o evento". "Quem estavaaposta ganha roletaum lugar mais aberto conseguiu ouvir pessoas gritarem (e pode fugir antes). Já a gente, que estava embaixo das árvores, só ouviu a onda chegando mesmo", conta. Segundo ele, ainda houve quem escutou uma mulher gritar e chorar no rádio.
Na fuga, o eletricista teve que pular um poste que caiu ao seu lado. "Minha sorte é que não estava eletrizado, senão eu tinha morrido na hora". Depois, atravessou uma áreaaposta ganha roletamata e chegouaposta ganha roletaum ponto mais alto, a salvo da lama. Ali, também estavam outros sobreviventes.
"Éramos umas 50 pessoas. Ficamos desesperados, procurando se nossos amigos também tinham conseguido fugir", diz Walcir. Mas seus dois colegas que também estavam cochilando nas caminhonetes não apareceram. Ao longo das buscas, um deles teve o corpo identificado. Já o outro continua desaparecido. "Não consigo falar sobre eles não", disse o eletricista, muito emocionado.
Assim como os colegasaposta ganha roletaWalcir, há entre as vítimas do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão um grande númeroaposta ganha roletaterceirizados e prestadoresaposta ganha roletaserviços. Nesta terça-feira, 130 funcionários da Vale tinham sido identificados entre os mortos ou estavam desaparecidos. Já entre terceiros ou pessoas da comunidade, o número era maior,aposta ganha roleta189.
Evangélico, Walcir acredita que foi salvo por um milagre. Dos três veículos da empresa, dois ficaram soterrados. Já o terceiro foi torcido pela lama, mas não afundou - "era a caminhonete onde estava minha Bíblia", diz o trabalhador.
"Graças a Deus eu consegui fugir. Muitas pessoas que faleceram ficaram paralisadas, sem reação, hipnotizadas pelo que estavam vendo e não conseguiram escapar", relata.
Cada um que sobreviveu é um 'milagre'
Em circunstâncias extremas, o curso da vida pode ser completamente alterado por ações fortuitas - ou, dependendo do pontoaposta ganha roletavista, por pequenos milagres.
No casoaposta ganha roletaAna Paula, foi o fatoaposta ganha roletaestar descendo a estrada mais devagar que oaposta ganha roletacostume que a colocou fora do primeiro pontoaposta ganha roletaimpacto da onda. "Se eu tivesse descido com uma marcha a mais, teria chegado mais rápido lá embaixo (na área dos vagões). E a onda teria quebradoaposta ganha roletacimaaposta ganha roletamim", diz ela.
Já no casoaposta ganha roletaWalcir, a dificuldadeaposta ganha roletacochilar fez com que se movesse para um lugar por onde foi mais fácil fugir. Além disso, seu supervisor tinha decidido liberar a equipe para almoçar antesaposta ganha roletainiciarem o próximo serviço: uma manutençãoaposta ganha roletapostes localizados justamente ao pé da barragem. "Se a gente não tivesse ido almoçar aquela hora, não estávamos aqui respirando".
"Qualquer um que se salvou é um milagre", acredita Ana Paula.
Até avistar a avalancheaposta ganha roletalama, a motorista dos supercaminhões da Vale estava vivendo um dia normalaposta ganha roletatrabalho. Havia acordado às 4h, comoaposta ganha roletacostume, feito café e enchido a garrafa térmica que levava todos os dias para o serviço. Às 5h50, saiuaposta ganha roletacasa para pegar o ônibus que conduzia os trabalhadoresaposta ganha roletaBrumadinho até a mina.
"Eu fico me lembrando do início daquele dia, quando estava esperando o ônibus junto com meus colegasaposta ganha roletatrabalho. Estávamos indo trabalhar felizes. Era meu sonho trabalhar lá. Mas, daquele grupo do pontoaposta ganha roletaônibus, só eu sobrevivi".
Desde então, está difícil pensaraposta ganha roletaoutro assunto. Na semana que seguiu à tragédia, Ana Paula passou grande parte do tempoaposta ganha roletafrente à TV. "Meu marido, minha família, um monteaposta ganha roletagente briga comigo para eu pararaposta ganha roletaver notícias sobre isso. Mas eu não consigo. Acordo e já ligo o aparelho, para tentar saberaposta ganha roletaalgum colega", fala ela.
Assim como muitos funcionários da Vale que viram a lama e sobreviveram, Ana Paula passou alguns dias sem dormir. "Mas, se eu ficar na cama,aposta ganha roletaque vai adiantar eu ter sobrevivido?", questiona ela, que está sendo atendida por uma psicóloga contratada pela empresa - diversos profissionais da área foram disponibilizados pela mineradora para acompanhar quem foi afetado pelo desastre.
"Ela (a psicóloga) falou para eu pensar que sobrevivi e ajudei outras pessoas a se salvarem", diz Ana Paula.
E daqui para frente, o que vai acontecer? "Não sei. Eu nem penso nisso. Eu vou ter que trabalhar, ficaraposta ganha roletacasa vai ser pior. Acho que não vão mandar a gente embora. A maior parteaposta ganha roletaBrumadinho trabalha lá (na Vale)", responde a funcionária da mineradora.
E quanto à barragem? "Quem dera eles tivessem falado (do risco) para a gente, mas eu não sei se sabiam ou não. Tem que esperar a investigação esclarecer".
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