'Ela era uma inspiração para o favelado': a reaçãoroulette como jogarmoradores do Complexo da Maré à morteroulette como jogarMarielle:roulette como jogar

Lourenço Cézar e imagemroulette como jogarMarielle
Legenda da foto, Lourenço Cézar, professor, amigoroulette como jogarMarielle: 'A gente nunca imaginou que fora da favela, como vereadora, ela seria um alvo' | Foto: Júlia Dias Carneiro/BBC Brasil

Marielle foi para a universidade, entrou na política e "conseguiu sair" da favela, mas não deixou a favela para trás emroulette como jogaratuação política, elegendo-se a primeira vereadora da comunidade e virando, para outros moradores, um exemploroulette como jogaronde se poderia chegar.

"A morte dela é também a morteroulette como jogarum símbolo que a gente projetava", lamenta Cezar,roulette como jogarconversa com a BBC Brasil. "A gente nunca imaginou que fora da favela, como vereadora, ela seria um alvo. O fatoroulette como jogara terem escolhido foi uma pancada."

"A ideia que passa é: 'Vocês não podem sair da favela. Vocês ousaram demais. Vocês se excederam. Volta para o lugarroulette como jogarvocês.' É frustrante demais."

Pessoas reunidasroulette como jogarmissa para Marielle e o motorista Anderson Gomes
Legenda da foto, Missa para Marielle e o motorista Anderson Gomes, assassinados a tiros na quarta-feira passada | Foto: Júlia Dias Carneiro/BBC Brasil

Cezar estudou com Marielle no pré-vestibular comunitário da Maré e depois foi seu contemporâneo ao longo da graduação na PUC-Rio, ele cursando Geografia, ela Ciências Sociais. Para ele, a amiga foi uma pioneira, e o fatoroulette como jogarter sido eleita vereadora incentivava a comunidade a ocupar outros espaços.

"Depois que ela conseguiu, a gente dizia: 'gente, temos que chegar ali onde a Marielle está. Dá para chegar. Ela chegou'", descreve ele.

Grafiteiro pinta mural com o rosto sorridenteroulette como jogarMarielle
Legenda da foto, Durante protesto, grafiteiro retrata Marielle como Mulher Maravilha, no Rioroulette como jogarJaneiro | Foto: Júlia Dias Carneiro/BBC Brasil

'Mulher Maravilha'

Na marcha organizada por ONGs e movimentos sociais da Maré, as palavras "Marielle gigante",roulette como jogarletras garrafais, sobressaíamroulette como jogarlonge, numa faixa que se estendia pelas duas faixas da Avenida Brasil e parecia flutuar sobre o protesto, carregada por manifestantes andando sobre pernasroulette como jogarpau.

Enquanto o protesto passava, na calçada um grafiteiro concluía um mural com o rosto sorridenteroulette como jogarMarielle, retratadoroulette como jogarum muro voltado para a Avenida Brasil com a tiara e as roupas da Mulher Maravilha.

Ao longo do percurso, que fechou uma faixa da avenida por quase duas horas, a locutora no carroroulette como jogarsom reiterava as palavras escritasroulette como jogaroutra faixa, penduradaroulette como jogaruma das passarelas da via: "as nossas vidas importam." A repetição frequente indicava que frase não era tão redundante quanto deveria ser.

Manifestação após assassinatoroulette como jogarMarielle
Legenda da foto, Marcha pedia elucidação dos assassinatos e fazia críticas ao Estado neste fimroulette como jogarsemana no Rioroulette como jogarJaneiro | Foto: Júlia Dias Carneiro/BBC Brasil

"Tudo que a gente quer é ter um espaço na sociedade. É ter acesso a educaçãoroulette como jogarqualidade, a saúde. Quando finalmente encontramos alguém que nos representa, é muito triste ver essa pessoa calada", dizia a moradora Luciana Bezerra, educadora da rede municipal. "Ela era um ícone para nós. Era a nossa voz, lutando pelo povo daqui, que é tão sofrido."

Luciana trabalha com educação infantil na Maré, na rederoulette como jogarensino municipal. "Sei como é difícil estar na salaroulette como jogaraula eroulette como jogarrepente ter que gritar para aquelas crianças tão pequenas se abaixarem, porque está tendo conflito. Isso é o que a gente vive, e é tudo que a gente não quer."

"Ver uma mulher negra, pobre, favelada ter chegado onde chegou para nós foi uma inspiração. Representa muito", diz Luciana.

Seu filho, William do Nascimento,roulette como jogar15 anos, diz que a morteroulette como jogarMarielle tem sido um temaroulette como jogardebates na escola e nas conversas com amigos.

"Ela era um olharroulette como jogaresperança que tínhamos refletido emroulette como jogarimagem. Ela olhava para a favela e buscava melhorias na árearoulette como jogareducação, que é tão prejudicada aqui. Era uma inspiração para o favelado. A provaroulette como jogarque dá para chegarmos à universidade, dá para fazermos mestrado."

Fernanda Bezerra e seu filho, William
Legenda da foto, Fernanda Bezerra e seu filho, William: Morteroulette como jogarMarielle tem sido temaroulette como jogardebate nas escolas e entre amigos | Foto: Júlia Dias Carneiro/BBC Brasil

Mais votos na zona sul que na favela

Em 2016, Marielle foi a quinta vereadora mais votada no Rio, com 46 mil votos no que era aroulette como jogarprimeira candidatura. Os bairrosroulette como jogarLaranjeiras e Cosme Velho, tradicionais redutos da esquerda carioca, lhe deram a maior fatiaroulette como jogarvotos, um totalroulette como jogar2.237, ou 8,2% dos votos para vereador.

Já na zona eleitoral composta pela Maré e pelos bairros vizinhosroulette como jogarRamos eroulette como jogarBonsucesso, Marielle teve 1.688 votos.

Cezar participou ativamente da campanha da amiga na comunidade, e diz que, embora o número os votos conquistados na Maré tenha sido menor, o resultado foi considerado expressivo para uma candidataroulette como jogaresquerda na favela.

"O conservadorismo é muito mais forte nas favelas do que fora. Isso tem muito a ver com a influência das igrejas. Imagina, a Marielle, bissexual, a favor do (direitoroulette como jogarfazer) aborto. Isso afasta muitos moradores."

Assim comoroulette como jogaroutras favelas do Rio, o corpo a corporoulette como jogarcampanhas na Maré é dificultado pelo controleroulette como jogargrupos armados, que restringem a entradaroulette como jogarpolíticos, delimitam territórios e chegam a cobrar para permitir campanhas.

No casoroulette como jogarMarielle, Cezar afirma que a campanha circulou livremente, mas era "campanharoulette como jogarpobre". "Não era campanharoulette como jogarpolíticos tradicionais, que distribuem bolas, dão festa, fazem eventos", diz.

"Não podemos ser levianos, mas a população aqui nunca recebe nada dos políticos. E aí muitos que estão à margem se sentem abraçados quando recebem alguma coisaroulette como jogaralguém."

Dona Terezinha (ao centro,roulette como jogarpreto) e outras mulheres que fizeram campanha para Marielleroulette como jogar2016
Legenda da foto, Na cantina do santuário, dona Terezinha (ao centro,roulette como jogarpreto) e as demais funcionárias: campanha para Marielleroulette como jogar2016 | Foto: Júlia Dias Carneiro/BBC Brasil

'Tiraram um pedaço da gente'

Na Comissãoroulette como jogarDireitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Marielle ajudava famílias que haviam sido vítimasroulette como jogarviolência. Mas não era uma atuação que alcançasse um número granderoulette como jogarmoradores, ao contrárioroulette como jogarações sociais promovidas por candidatos com mais recursos.

Assim, Cezar diz queroulette como jogarcampanha dentro da favela "foi muito na base do boca a boca", com simpatizantes buscando votos para a vereadora.

Foi o que fez Tereza Lima Santos, mais conhecida como Dona Terezinha, que cuida da cantina do Santuário São Paulo Apóstolo e Nossa Senhora da Paz, onde a missa para Marielle foi realizada, e buscou convencer o resto da família e conhecidos a votar na vereadora.

"Todo mundo aqui fez campanha para ela", diz, apontando para as outras funcionárias da cantina, atrás do balcão onde se vendia boloroulette como jogarfubá,roulette como jogarchocolate,roulette como jogarmandioca.

"A gente a via como uma guerreira. Ela lutou para sair da pobreza e para estudar com os recursos que tinha. Era uma pessoa honesta, íntegra. Era o que está faltando na nossa política", diz.

"Agora é como se tivessem tirado um pedaço da gente. Tiraram a vidaroulette como jogaralguém que estava lutando pelos mais necessitados."

'Sua morte tem que ser um empurrão'

Na missa para Marielle, na quadra aberta sob um toldo com cadeirasroulette como jogarplástico e alumínio, Joelma Souza era uma das muitas presentes vestindo a camiseta feita para o diaroulette como jogarhomenagens à vereadora, com o rostoroulette como jogaruma mulher negraroulette como jogarperfil com uma faixa colorida no cabelo afro, e a frase que era um lemaroulette como jogarvidaroulette como jogarMarielle, retirada da filosofia africana ubuntu - "Eu sou porque nós somos".

Estudanteroulette como jogarServiço Social na UFRJ, Joelma conheceu Marielle na época do pré-vestibular comunitário e diz queroulette como jogarmorte deixa um vácuo na comunidade e representatividade que tinharoulette como jogarMarielle.

"Ela conseguiu ocupar um espaço privilegiado, e foi morta por isso. Conseguiu dar voz ao morador nesses espaços. Foi lá e deu o nosso recado. Agora, temos que continuar lutando para ocupar esses espaços", afirma.

O amigo Lourenço Cezar diz que Marielle era agitada, um "furacão", não conhecia a palavra "calma".

"O que para muitos era uma pancada, para ela era um empurrão. E é isso que temos que fazer agora. Sua morte tem que ser um empurrão. Não pode ser motivo para a gente parar."