Cientistas mostram que efeitos da zika seguem graves na idade adulta:olá galera
Os 17 pesquisadores que compuseram o grupo, todos brasileiros, na maior parte são oriundos da mesma universidade - emboraolá galeradiferentes institutos. Também colaboraram uma médica patologista do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e um grupo especializadoolá galeraepilepsia da Universidade Federalolá galeraSão Paulo (Unifesp).
Cobaias
Para tentar antever os resultados da zika na fase adulta, os pesquisadores utilizaram camundongos.
"Desenvolvemos um modeloolá galerainfecção com o vírus da zika no início da vidaolá galeracamundongos, o que seria equivalente a uma infecção durante a o segundo e terceiro trimestresolá galeragestaçãoolá galerahumanos, e acompanhamos seu desenvolvimento até a idade adulta", diz Clarke.
"Durante toda a vida, esses animais apresentaram problemas motores e alterações musculares. Na vida adulta, esses animais eram mais suscetíveis a apresentarem convulsões, apresentaram prejuízoolá galeramemória eolá galerasociabilidade, alémolá galeraapresentar áreasolá galeracalcificação e morte no cérebro", explica a pesquisadora.
Ela conta que os testes também indicam que o vírus continua se replicando no cérebro ativamente, ainda na idade adulta, mesmo muito depois da fase aguda da infecção.
Além da microcefalia
"Isso nos indica que os efeitos do vírus da zika no cérebro podem ir muito além da microcefalia, e que mesmo aqueles bebês que não apresentaram microcefalia ou alterações detectáveis ao nascimento, podem vir a apresentar problemas durante o crescimento e até na idade adulta", observa Clarke.
Segundo os pesquisadores, os efeitosolá galeraroedores não necessariamente seriam idênticosolá galeraseres humanos. Contudo, conforme aponta a pesquisadora, "o modelo foi capazolá galerareproduzir alguns efeitos que já foram detectadosolá galerabebês e fetos expostos ao zika vírus".
Ou seja: problemas motores, convulsões e áreasolá galeracalcificação e morte no cérebro durante a infância. "Isso nos mostra que é um modelo queolá galeradiversos aspectos se parece com a doençaolá galerahumanos, e portanto pode servir para mimetizar o que veremosolá galerahumanos. Outros estudosolá galeraespécies mais semelhantes aos humanos, como macacos, darão mais força aos nossos achados", afirma.
Remédio
A pesquisa chegou a um fármaco que pode ajudar a diminuir ou retardar os efeitos nocivos da zika na vida adulta. Trata-seolá galeraum anti-inflamatório que bloqueia uma molécula específica relacionada com a inflamação, chamadaolá galeraTNF-alpha.
"(Este medicamento) é comercializado no Brasil para tratar artrite reumatoide, por exemplo, e outras condições que envolvem resposta inflamatória crônica. Seu uso é mais hospitalar, mas está disponível para comercialização também", explica a farmacêutica.
"A resposta inflamatória é parte da resposta à infecção pelo vírus. No caso da zika, há inflamação proeminente no cérebro. Não sabemos no nosso modelo se a infecção é sistêmica e se também aconteceolá galeraoutros órgãos", acrescenta ela.
Quando os animais foram tratados com esse fármaco, houve uma reduçãoolá galera50%olá galeracrises epilépticas na adolescência. "Este tratamento também foi capazolá galeranormalizar a sensibilidade a convulsões induzidas na idade adulta, que estava aumentada nos animais infectados pelo vírus da zika", prossegue a professora.
"Porém, os animais infectados e tratados com esse medicamento continuaram apresentando prejuízoolá galeramemória e prejuízo motor. Ou seja, tivemos uma prevenção parcial e não total dos efeitos nocivos desencadeados pelo vírus", complementa ela.
Para utilizar o mesmo tratamentoolá galerahumanos, entretanto, ainda precisam ser feitos novos estudos. "O interessante é que esse medicamento é seguro para uso, pois já é aprovado pelas agências reguladorasolá galeramedicamentos para usoolá galeraoutras doenças. Também é seguro fazer a administraçãoolá galerapacientes grávidas", comenta Clarke, dizendo ser necessário mais estudosolá galeraoutras espécies animais eolá galerahumanos, assim comoolá galeraoutros modelosolá galerainfecção.
Surto
O Brasil vive um surtoolá galerazika desde 2015. Trata-se do maior surto da doença já registrado na história, com casos tendo se espalhado para outros países da América do Sul, América Central e Caribe.
Da mesma família da febre amarela e da dengue, o vírus da zika é um flavivírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. A infecção pelo vírus pode ser assintomática. Estima-se que 20% dos infectados sofram da chamada febre zika, com altas temperaturas e erupções cutâneas. Há uma correlação entre crianças nascidas com microcefalia quando mulheres foram infectadas durante a gravidez.
A pesquisa da UFRJ, publicada nesta quarta, é uma das tantas produzidasolá galerameio a um esforçoolá galeracompreender melhor os efeitos do trágico surto. "Assim que o país foi tomado por uma epidemia, criamos a Rede Zika UFRJ, que reuniu nossos pesquisadores mais renomados,olá galeradiferentes áreas, para descobrir as causas do problema e encontrar soluções rápidas na identificação, tratamento e perspectivasolá galeraerradicação", comentou,olá galeranota, a Reitoria da instituição à BBC Brasil.
A universidade avalia que tais pesquisas "sãoolá galeracrucial importância para a saúde pública", principalmente dianteolá galeratantas "mortes, sequelas e, como vimos no caso da zika, provocando o aumento drásticoolá galeracasosolá galeramicrocefalia".
Dificuldades
Julia Clarke acredita que pesquisas como esta seriam mais constantes e realizadas com maior eficiência se os trâmites burocráticos para importaçãoolá galerainsumos e equipamentos fossem facilitados. Ela também reclama das dificuldadesolá galeraobtençãoolá galerafinanciamento.
"No Brasil, não se tem uma consciênciaolá galeraque fazer ciência é importante, isso não é visto como uma coisa essencial. Por isso,olá galeramomentosolá galeracrise o orçamento destinado a financiar pesquisas acaba quase desaparecendo, como é o caso agora", comenta.
Como o orçamento federal destinado para Ciência e Tecnologiaolá galera2018 é quase 20% menor que o do ano passado, a UFRJ também sofre consequências - o déficit da universidade pode chegar a R$ 160 milhões.
"É um cenário muito crítico, agravado ainda pela Emenda Constitucional 95, que limitará os recursos para saúde e educação durante 20 anos. Temos denunciado à sociedade e apresentado o cenário ao Congresso Nacional, conjuntamente às iniciativasolá galeraimportantes associaçõesolá galerapesquisadores ou universitárias, como Academia Brasileiraolá galeraCiência e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, entre outras. As consequências são tenebrosas para o futuro da ciência e do desenvolvimento científico do país e já podem ser sentidas agora, com a fugaolá galeracérebros, interrupçãoolá galerapesquisas e faltaolá galeraequipamentos", avalia a reitoria.
Além disso, há problemasolá galerasegurança. No último dia 18, dois profissionais do mesmo departamentoolá galeraJulia Clarke foram sequestrados a 100 metros do laboratório.
"Apesarolá galeratermos uma divisãoolá galerasegurança própria e vigias contratados para fazer a segurança dentro dos prédios, as vias da Cidade Universitária são públicas eolá galeraacesso aberto à toda a população. Por isso, a segurança das ruas fica sob responsabilidade da Polícia Militar. Um mês antes do caso, já havíamos nos reunido com o subsecretárioolá galeraassuntos estratégicos da Secretariaolá galeraSegurança do Rio, para pedir reforço no policiamento e atenção especial a essa brutal modalidadeolá galeracrime", posicionou-se a reitoria.