'Quase apanhei até das mulheres ao defender cotassite 365betempresas', diz dona do Magazine Luiza:site 365bet
Após liderar o Magazine Luiza por 25 anos, períodosite 365betque a empresa familiar se tornou uma potência do setor, ela passou o bastãosite 365bet2016 ao filho Frederico Trajano, novo diretor-superintendente (CEO) da companhia.
Luiza permanece à frente do conselhosite 365betadministração do grupo e hoje lidera o movimento Mulheres do Brasil, que busca ampliar a presença femininasite 365betespaçossite 365betpoder.
Mesmo após se expandir por todo o Brasil, a empresa nascidasite 365bet1957site 365betFranca (SP) mantém ares interioranos. Placassite 365betruas da cidade foram espalhadas pelo escritóriosite 365betSão Paulo, à beira do rio Tietê, e na parede uma citação do viajante francês Augustesite 365betSaint Hilaire (1779-1853) menciona o "aprazível descampado,site 365betmeio a extensas pastagens salpicadassite 365bettufossite 365betárvores" onde Franca foi fundada, no nordeste paulista.
Confira os principais trechos da entrevista.
site 365bet BBC Brasil - Como avalia o cenário no Brasil hoje?
site 365bet Luiza Helena Trajano - Desde que assumi a superintendência do Magazine Luiza,site 365bet1990, vivi várias crises. Antigamente, um país espirrava lá atrás e a gente ia para a UTI. O que aconteceu agora foi uma crise econômica e política muito duradoura.
Foi muito difícil. Mas somos um país que tem um consumo muito bom - as pessoas gostamsite 365better casa bonita, geladeira inox. Só 10% da população tem TVsite 365bettela grande, só 5% tem ar condicionado. Nosso potencial é muito grande.
E aconteceu uma coisa legal: os brasileiros procuraram pagar a dívidasite 365betvezsite 365betpegar mais. A inadimplência ficou sob controle. Antigamente a inadimplência crescia muito nas crises. Cresceu a maturidade do povo.
site 365bet BBC Brasil - A crise está superada?
site 365bet Luiza Trajano - Acho que agora o mercado brasileiro não está mais misturando tanto economia e política. Você vê notícias bombásticassite 365betpresidente, mas o dólar não sobe tanto, a bolsa não cai tanto. Começou a separar. Países maduros fazem isso.
Sinto que o crescimento do PIB, a estabilidade da moeda, o trabalho feito no Ministério da Fazenda, nos deram fôlego. Você sente a luz no fim do túnel.
site 365bet BBC Brasil - Esse cenário está consolidado mesmo com a perspectivasite 365betuma mudança no governo após as eleições?
site 365bet Luiza Trajano - Está mais consolidado. De repente pode ter uma bomba que atrapalhe. Mas a eleição não está mexendo tanto com o povo, parece que o povo não está muito preocupado com isso.
site 365bet BBC Brasil - Alguns jornais noticiaram que a senhora era uma das signatárias do movimento Brasil 200, capitaneado pelo empresário Flávio Rocha, da Riachuelo (o movimento prega bandeiras liberais na economia e conservadoras nos costumes). Mas seu nome não consta no site do movimento. A senhora apoia o movimento?
site 365bet Luiza Trajano - Gosto muito do Flávio, participei do IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo) com ele por muito tempo. Sei que ele tem uma políticasite 365betliberdade,site 365betmercado, e acho essa política muito boa. Mas, como sou do movimento Mulheres do Brasil, tenhosite 365betser muito apartidária.
site 365bet BBC Brasil - A senhora tem alguma preferência entre os candidatos que anunciaram intençãosite 365betconcorrer à Presidência?
site 365bet Luiza Trajano - Primeiro precisa definir quem são os candidatos.
site 365bet BBC Brasil - A senhora teria uma simpatia especial por uma candidatura do Flávio Rocha?
site 365bet Luiza Trajano - Eu tenho uma amizade especial com o Flávio.
site 365bet BBC Brasil - Como o governo Temer será lembrado?
site 365bet Luiza Trajano - Foi positivo ele ter aprovado algumas medidas antipopulares, necessárias para o próprio povo, como a Reforma Trabalhista. Havia muita burocracia, muita amarração. Ele vai ser lembrado por ter feito isso. Por outro lado, não foi um governo eleito pelo povo, né? Por isso a rejeição dele.
site 365bet BBC Brasil - Acha que a presidente Dilma Rousseff sofreu um impeachment ou um golpe?
site 365bet Luiza Trajano - Prefiro não entrar nisso.
site 365bet BBC Brasil - A senhora mantém a amizade, conversa com a ex-presidente Dilma?
site 365bet Luiza Trajano - Não converso com ela, porque não a vejo. Ela me chamou para ser ministra, porque sou uma voluntária da causa da pequena e média empresa (o convite foi recusado). Sempre a achei uma pessoa bem honesta, bem direita, e sempre falei pra ela algumas coisas, porque ela me ouvia. Sou amiga da Dilma como sou do (Geraldo) Alckmin. Por ela ser mulher, talvez tivesse mais acesso.
site 365bet BBC Brasil - Como a senhora se define politicamente? Está mais à direita ou à esquerda?
site 365bet Luiza Trajano - Não sou nem esquerda nem direita. Transito muito no interior do Brasil. Sei o que não é ter água, sei como a Bolsa Família foi importante, assim como sei como o livre mercado é bom também.
Uma proposta pode ser boa vinda da esquerda ou da direita. A nova lei trabalhista, por exemplo, tenho certezasite 365betque não prejudicou o trabalhador,site 365betjeito nenhum. Há dez anos estudo essa lei trabalhista. Ela é a democracia da vontade.
O funcionário trabalhava domingo e era obrigado a tirar dois diassite 365betfolga na próxima semana. Fui totalmente a favor dessa medida - que nem chamo reforma, porque continua tudo igual, mas deu muito mais diálogo.
site 365bet BBC Brasil - A reforma foi bem recebida entre os trabalhadores do Magazine Luiza?
site 365bet Luiza Trajano - Sim, porque não mudou nada. Antes, se uma loja nossa no interior quisesse abrir no domingo porque era vantajoso para os funcionários, ela não poderia abrir se o sindicato não deixasse, mesmo com 100%site 365betassinaturas dos funcionários.
Valorizo muito os sindicatos, mas acho que tem que ter negociação, um diálogo maduro entre empregado e patrão. Hoje ninguém é bobo, o empregado sabe muito bem seus direitos.
Todos os direitos continuaram - 13º, férias, jornadasite 365bet40 horas semanais. Trabalhou domingo, temsite 365better dois diassite 365betfolga, só que podem negociarsite 365betuma maneira menos engessada.
(Presidente da União Geral dos Trabalhadores - principal central que representa funcionáriossite 365betempresas varejistas - Ricardo Patah contesta a falasite 365betLuiza. Ele diz que funcionários do Magazine Luiza e outras empresas do ramo têm expressado à central preocupação com a nova legislação. Para ele, a Reforma Trabalhista prejudicou trabalhadores e pôssite 365betxeque conquistas negociadas entre sindicatos e companhias nos últimos anos.)
site 365bet BBC Brasil - Sindicatos dizem que os funcionários estão mais vulneráveis, e há críticas à perspectivasite 365betque as empresas passem cada vez mais a tratar funcionários como empreendedores associados - modelo do Uber, por exemplo.
site 365bet Luiza Trajano - Isso não me preocupa. Na empresa, nós tratamos os funcionários como se fossem donos. Todos ganham conforme o lucro da empresa. No ano passado, como tivemos um ano bom, todos ganharam uma premiação pelo resultado. E como foi muito bom, meu filho deu um cartãosite 365betR$ 200 para todo mundo, que não era nem previsto.
Eles participam das decisões, têm um canal aberto comigo para denunciar o que não está legal. Devem cumprir os nossos princípiossite 365bettransparência e honestidade. São muito cobrados, e, se não seguirem essas regras, vão embora por justa causa.
site 365bet BBC Brasil - Como vocês têm lidado na empresa com o assédio e a violência contra a mulher?
site 365bet Luiza Trajano - Já tínhamos trabalhado bastante com deficiência física e igualdade racial na empresa. Tínhamos cotas. Hoje nem precisamos mais. Temos muitos líderes e trainees negros.
Mas nunca tinha tratado da violência contra a mulher, porque achei que isso estivesse muito longesite 365betnós, que é o que todo mundo acha. De repente fui pega por uma funcionáriasite 365bet37 anos que foi morta à noite pelo marido a canivetadas. Ele também se matou, deixou um filhosite 365betnove anos.
Criei com o RH um disque-denúncia, chamamos promotoras, juízas, as ONGs que trabalham com isso. Montamos um comitê para fazer com que pessoas conversassem sobre isso, para criar um boletim para meus colegas presidentessite 365betempresas e sugerir políticas públicas.
A violência começa com o assédio. Nossa empresa é carinhosa, a gente abraça, beija. Mas assédio sexual é inegociável. Fiz uma pesquisa interna com os 18 mil funcionários para saber o que era assédio, o que a pessoa não queria nasite 365betunidade. É muito difícil definir, porque o que é assédio para mim talvez não seja para você. Ainda estamos num processo educativo. O homem foi acostumado a dar cantada e agora vai tersite 365betmudar.
site 365bet BBC Brasil - Já houve algum impacto?
site 365bet Luiza Trajano - Na questão da violência, notamos muito. Graças a Deus não tivemos mais nenhum caso. E houve quase 80 denúncias. Evitamos muita morte.
Temos trabalhado com homens depressivos também, preventivamente. Falamos que, se não estiverem bem, temos psicólogo para dar cobertura. Geralmente, eles separam, começam a ficar depressivos esite 365betrepente podem fazer qualquer bobagem com a mulher.
É gozado que muitos que estão denunciando são homens que veem uma mulher machucada. Eles nos procuram e dizem: "nessa loja tem uma pessoa que não está legal". Os homens estão nos ajudando.
site 365bet BBC Brasil - E o programa contra o assédio? Tem dado resultados?
site 365bet Luiza Trajano - Começamos há um mês. Os líderes foram obrigados a conversar com a equipe sobre o que era assédio sexual e moral. Tem gente que não quer que chamemsite 365betatenção na frente dos outros, outros não querem ser tocados. A primeira fase ésite 365betmobilização.
Brincadeira é uma coisa que ficou muito séria. Já falamos para parar qualquer tiposite 365betbrincadeira. É legal que até pessoas maduras, que brincavam com derrotasite 365bettimesite 365betfutebol, estão decidindo não brincar mais.
site 365bet BBC Brasil - Como responde a quem diz que há exagerosite 365betlimitar as brincadeiras e que existe uma "ditadura do politicamente correto"?
site 365bet Luiza Trajano - É isso o que eu não quis. Não quis nem exagero, nem fechar os olhos. Por isso fizemos uma consultasite 365betbaixo para cima para saber o que o grupo não queria.
site 365bet BBC Brasil - Os chefes estão se sentindo acuados?
site 365bet Luiza Trajano - Não. Trabalhei muito para dizer que a primeira coisa que temossite 365betfazer é um perdão, entender que isso (assédio) se fazia porque era costume. Fui para a TV Luiza (canal interno da empresa) dizer que ninguém vai ser mandado embora, a não ser que tenha feito algo muito grave.
Ninguém vai ser mandado embora por trazer isso à tona. A partir do momento que trouxer, tem que se respeitar. Faremos um processo educativo até dizer: é proibido, acabou. Se não parar, vai ser mandado embora.
site 365bet BBC Brasil - Sua defesasite 365betcotas para mulheres e minoriassite 365betempresas enfrenta resistência entre colegas executivos?
site 365bet Luiza Trajano - Acho que já houve mais resistência. Hoje a diversidade e o propósitosite 365betuma empresa são cobrados pelo próprio cliente. Acho que eles entendem mais isso hoje.
Quando comecei a falarsite 365betcotas, quase apanhei, até das próprias mulheres. O movimento Mulheres do Brasil levou ao Congresso um projetosite 365betlei que institui cotas para mulheressite 365betconselhossite 365betadministraçãosite 365betempresas públicas. Foi aprovado no Senado e agora vai passar pela Câmara.
Temos 7%site 365betmulheres nos conselhossite 365betempresas com ações na bolsa. Se eu e as filhassite 365betdonossite 365betempresas não formos contadas, o índice cai para 2%. Vamos levar 110 anos para igualar a presença masculina. As próprias mulheres (executivas) me falavam que o critério para a ascensão deveria ser meritocracia. E eu dizia: "Então espere 110 anos".
É uma luta que não é por mim, é para minhas colegas executivas que, quando chegam num ponto da carreira, não são chamadas para os conselhos, enquanto os homens são.
site 365bet BBC Brasil - Muitos apontamsite 365bettrajetória como um exemplosite 365betmeritocracia.
site 365bet Luiza Trajano - Não sou contra a meritocracia, pelo contrário. Só que existem limitantes que fazem com que mulheres não cheguem ao conselho. Conheço maissite 365betcem mulheres que poderiam ir para conselhos.
Você não ser lembrada não é meritocracia. Agora, estar lá só porque é mulher, também não. A cota faz lembrar. Ninguém fica num lugar se não tiver competência.