Os voluntários que se arriscam salvando vidas na ‘rodovia da morte’:telefone bet7k

Crédito, Gustavo Baxter/Nitro Imagens

Legenda da foto, Thales, Claudio, Jefferson e Edmar (em sentido horário, a partir da foto ao alto à esq): dedicação voluntária para atendimento a acidentestelefone bet7ktrecho críticotelefone bet7krodovia

É uma situação frequente para os Anjos do Asfalto, grupo que desde 2004 se dedica ao trabalho voluntáriotelefone bet7kprimeiros-socorrostelefone bet7kum trechotelefone bet7k100 km da BR-381, estrada conhecida como "rodovia da morte" pelo alto índicetelefone bet7kacidentes.

São 17 homens e seis mulherestelefone bet7kdiferentes profissões: enfermeira, médica, taxista, empresário, repórter, bombeiro. Todos se revezamtelefone bet7kequipestelefone bet7ksete pessoas,telefone bet7kplantões aos domingos e feriados no trechotelefone bet7kpista única e cheiotelefone bet7kcurvas entre Barãotelefone bet7kCocais e Belo Horizonte.

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Legenda da foto, Jefferson Batistatelefone bet7ksimulaçãotelefone bet7katendimento a acidente; memóriatelefone bet7k'macacão laranja' na estrada se transformoutelefone bet7katuação real

Em comum, todos têm o cursotelefone bet7kprimeiros-socorros e a disposiçãotelefone bet7kajudar desconhecidostelefone bet7kgraça. E um papel fundamental: podem encurtartelefone bet7katé quatro vezes o intervalo até o primeiro atendimento, preparando o terreno até a chegada do Samu ou do Corpotelefone bet7kBombeiros, que não possuem bases próximas.

Transformando-setelefone bet7k"anjo"

"Eu identificava o grupo pelo carro e pela roupa, sempre que tinha acidente ou batida", conta Jefferson Batista, o "anjo" da câmara no capacete. O técnicotelefone bet7ksegurança do trabalho se recorda que costumava observar, quando criança, os voluntários uniformizados na estrada.

Até o dia, já adulto,telefone bet7kque se viu obrigado a socorrer um acidente na mesma rodovia, enquanto viajava com os pais. "Não tinha ninguém por perto e tive que usar técnicas que aprendi na autoescola etelefone bet7kmeu curso técnico. Depois fiquei com aquela sensaçãotelefone bet7kque poderia ter feito melhor", conta.

O rapaz correu atrástelefone bet7kmais conhecimento e concluiu 40 horas do cursotelefone bet7ksocorrista do Corpotelefone bet7kBombeiros. "Assim que terminei o curso, entreguei meu currículo para o grupo. Queria fazer parte daquele time que durante toda minha infância vi salvar vidas na estrada."

O serviço voluntário surgiutelefone bet7k2004, diante da necessidadetelefone bet7katendimento rápidotelefone bet7ktrechos específicos da rodovia, sobretudo aos domingos, quando acidentes são comuns. Uma turmatelefone bet7kamigos socorristas abriu diálogo com Polícia Rodoviária Federal, Corpotelefone bet7kBombeiros e Samu e articulou a parceria.

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Legenda da foto, Grupo fica localizadotelefone bet7kponto estratégicotelefone bet7krodovia e diz conseguir resposta até quatro vezes mais rápida do que PRF, Samu ou Bombeiros

A logística funciona assim: os socorristas contam com rádios transmissores e ficam à esperatelefone bet7kchamados da PRF, Bombeiros ou Samu. Recebidos os informestelefone bet7kacidentes, deslocam-setelefone bet7kdois carros - uma Saveiro 2004 e um Palio 2005 - até o local do chamado, onde fazem o atendimento pré-hospitalar até a chegada das equipestelefone bet7ksaúde.

Quem banca os veículos são os próprios voluntários - com doações mensaistelefone bet7kR$ 25 por cabeça para combustível - e pequenos patrocínios e parcerias.

O dono do restaurante onde funciona a "base" do grupo, por exemplo, dá R$ 10 por diatelefone bet7kcréditotelefone bet7kalimentação, e um hotel das imediações costuma fornecer refeições. Um provedor localtelefone bet7kinternet e uma cooperativatelefone bet7kcaminhoneiros contribuem com R$ 1,8 mil mensais, que ajudam a pagar a prestação da Saveiro usada.

"Gostaria muitotelefone bet7kter um quarto disponível nos diastelefone bet7kque eles precisam dormir nos plantões", conta o empresário Leonardo Alves, dono do restaurante, citando feriados movimentados como Carnaval e Semana Santa, quando os voluntários dormem por ali mesmo, dentro dos carros.

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Legenda da foto, Jogos como bingo ajudam os socorristas a passar o tempo entre chamados

Hoje os Anjos do Asfalto promovem uma campanha na internet para arrecadar R$ 50 mil para comprar uma ambulância e erguer um alojamento para os plantonistas, o sonho maior do grupo.

Perigo na estrada

A BR-381, pode-se dizer, não é uma estrada para amadores. Canaltelefone bet7kescoamentotelefone bet7kprodutos das regiões Sul e Sudeste até o Nordeste, a estrada registra alto volumetelefone bet7ktráfego durante todo o ano.

O "território" dos Anjos é uma rodoviatelefone bet7kpista simples e sem barreira física entre as direções opostas. Apenas nos 110 km entre a capital mineira e a cidadetelefone bet7kJoão Monlevade (MG), são cercatelefone bet7k200 curvas. Não há acostamentotelefone bet7kgrande parte do percurso, o asfalto é precáriotelefone bet7klongos trechos e a sinalização é insuficiente.

Aliados à imprudênciatelefone bet7kmotoristas, esses fatores formam a receita conhecidatelefone bet7kacidentes e mortes. Apenas no primeiro semestretelefone bet7k2017, por exemplo, a PRF registrou 2.097 acidentes nos 562 km da rodovia, e um óbito a cada três dias - não há dados específicos do trecho BH-Barãotelefone bet7kCocais, atendido pelo grupo.

A escolha dos voluntários envolve análisetelefone bet7kcurrículo, teste prático e entrevista. "Sempre tem gente querendo entrar, mas somos bem criteriosos na escolha", diz o enfermeiro Tiago Muzzi,telefone bet7k38 anos, há nove no grupo.

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Legenda da foto, Edmar Freitas abre mão da companhia da família - que inclui uma filhatelefone bet7kdois anos - para atuar no grupo

Jefferson Batista, o "cameraman" dos Anjos, por exemplo, passou seis mesestelefone bet7kperíodo probatório antestelefone bet7kpoder vestir o macacão laranja que chamavatelefone bet7katenção na infância.

Nos domingostelefone bet7ktrabalho, ele acorda às 7h para se juntar uma hora depois ao restante da equipe, moradorestelefone bet7kcidades próximas a BH, como Caeté, Santa Luzia e Ribeirão das Neves.

O pontotelefone bet7kencontro é um estacionamentotelefone bet7ktransportadora, já na BR-381, onde o grupo estaciona os carros após os plantões. Depoistelefone bet7kverificar se está tudo certo com veículos e equipamentos, todos seguem até o km 423, onde se acomodam nas mesas do restaurante.

Nos carros, há o material usado na primeira resposta aos acidentes. Cones, oxigênio, roupa para usotelefone bet7kincêndio e itenstelefone bet7kprimeiros-socorros - soro, agulhas e luvas - dividem espaço com ferramentas pesadas, como pá, alicate corta-frio, machado e desencarcerador, este para retirar vítimastelefone bet7kferragens. Todo o material foi doado.

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Legenda da foto, Em simulação, grupo testa equipamentos adquiridos por meiotelefone bet7kdoações e contribuições dos próprios membros; socorristas promovem campanha online para arrecadar recursos

Quem observa o trabalho dos voluntários logo percebe a relaçãotelefone bet7krespeito e parceria com a vizinhança da rodovia. Motoristastelefone bet7kcarros e caminhões buzinamtelefone bet7ksinaltelefone bet7kaprovação e incentivo, e moradores das imediações também os procuram quando há necessidadetelefone bet7kprimeiros-socorros.

"Consideramos que são voluntários profissionais, pela atuação sempre responsável que ameniza um grande gargalo da saúde pública, que é o atendimento ágil e eficiente", diz Wilton Silveira, chefe da unidade da PRFtelefone bet7kSabará (MG), no começo da BR-381.

Antestelefone bet7ktodo plantão, o grupo passa na sede da PRF mais próxima para sinalizar a presença. "Vamos lá pedir a benção", brinca Jefferson.

Solidariedade

Uma experiência pessoal também está por trás da história do empresário Claudio Bastos,telefone bet7k51 anos, nos Anjos do Asfalto. A vontadetelefone bet7kfazer o curso do Corpotelefone bet7kBombeiros surgiu após um amigo ter sido atendidotelefone bet7kum acidente por uma médica que vinha no carrotelefone bet7ktrás.

"Ali parei para pensar pela primeira vez na importância desse tipotelefone bet7ksocorro", conta.

Claudinho, como é carinhosamente chamado pelo grupo, tem uma firmatelefone bet7ksirenes para veículos especiais. Como socorrista, especializou-se na liberaçãotelefone bet7kvítimas presastelefone bet7kferragens - é também o motorista que ajuda a equipe a chegar aos locais com agilidade.

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Legenda da foto, Claudio Bastos decidiu se tornar socorrista após vivenciar recuperaçãotelefone bet7kamigo após atendimento; emprésario especializou-se na liberaçãotelefone bet7kvítimastelefone bet7kferragens

A formação das equipes dos plantões levatelefone bet7kconta o ponto fortetelefone bet7kcada integrante e uma divisão que deixe os times sempre completos.

"Temos uma médica no grupo, que está sempre disponível, mesmo à distância, para qualquer questionamento. Mantemos ao menos um enfermeiro e também uma pessoa boa com ferragens, conduçãotelefone bet7kviaturas e direcionamentotelefone bet7khelicóptero para pouso", explica o bombeiro civil Edmar Freitas,telefone bet7k36 anos, coordenador do grupo.

Enquanto aguarda um chamado no restaurante, Thales Benício,telefone bet7k23 anos, adianta no computador o trabalho "oficial"telefone bet7ksegunda-feira. Repórter policialtelefone bet7kItabira (MG), cidade onde vive, ele resolveu se tornar socorrista ao apurar acidentes para o portaltelefone bet7kque trabalha.

"Algumas vezes, eu chegava antes mesmo dos Bombeiros ou do Samu. Um dia fui cobrir um acidente e eles estavam atendendo as vítimas. Fiz o curso porque achei quetelefone bet7kalgum momento precisaria colocar esse conhecimentotelefone bet7kprática para salvar alguém", conta.

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Legenda da foto, O repórter policial Thales Benício decidiu atuar como socorrista após cobrir acidentes como jornalista

Na página dos Anjos do Asfalto no Facebook, é possível conhecer histórias do grupo e a campanhatelefone bet7kdoaçãotelefone bet7krecursos para a nova ambulância e construção da sede. Por ali, não raro aparecem depoimentostelefone bet7kquem já foi atendidotelefone bet7kmomentos difíceis.

"Obrigada por lutarem pela vida das pessoas até o último suspiro", comentou uma seguidoratelefone bet7kuma foto da equipe reunida.

Quando o domingo termina sem acidentes, o alívio predomina entre os voluntários. "Sabemos que o trabalho na BR é sem previsão. Às vezes somos surpreendidos no fim do dia por algum chamado", diz Jefferson Batista.

A lembrança volta ao domingo chuvosotelefone bet7kmarçotelefone bet7kque um acidente ocorria após o outro. Nessas horas, afirma, o desafio maior é alinhar força física e psicológica para dividir funções, manter a calma e socorrer todos.

Crédito, Gustavo Baxter

Legenda da foto, Com 13 anostelefone bet7katuação, grupo conquistou respeito e admiraçãotelefone bet7kmotoristas, comerciantes e moradores, mas ainda luta para se manter

"Aqui aprendemos a ter esse pensamento lógico,telefone bet7kequipe. Aprendemos que a morte também deve ser vista como natural. Morrer é tão fácil. Somos tão frágeis," afirma o voluntário.

"Tudo vale a pena, porque saímos daqui com a sensaçãotelefone bet7kdever cumprido", completa o técnicotelefone bet7ksegurança, ao finaltelefone bet7kmais um domingotelefone bet7ktrabalho.

Este, comemoram os integrantes, sem ocorrências.