Vacinaçãoroleta de verdadequeda no Brasil preocupa autoridades por riscoroleta de verdadesurtos e epidemiasroleta de verdadedoenças fatais:roleta de verdade
Para o governo, é cedo para dizer se há tendênciaroleta de verdadequeda real ou se são oscilações por mudançasroleta de verdadecurso no sistemaroleta de verdadenotificação - porém, os números já preocupam. "Ainda é muito precoce para dizer se há oscilação real, mas estamos preocupados, sim. O sinal amarelo acendeu," afirma Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacionalroleta de verdadeImunização.
Os riscos
O que o governo mais teme é que a reduçãoroleta de verdadepessoas vacinadas crie bolsõesroleta de verdadeindivíduos suscetíveis a doenças antigas e controladas no país. Em um grupo como esse, a presençaroleta de verdadeapenas uma pessoa infectada poderia causar um surtoroleta de verdadegrandes proporções.
Foi o que houve nos Estados do Ceará e Pernambuco entre 2013 e 2015. Após quase dez anos com coberturaroleta de verdadevacinação acimaroleta de verdade95% contra sarampo, caxumba e rubéola,roleta de verdade2013 houve forte queda na coberturaroleta de verdadepessoas vacinadas nos dois Estados, seguida por um surtoroleta de verdadesarampo que teve início no Pernambuco e se alastrou para 38 municípios do Ceará.
Ao todo, foram 1.277 casos nos dois Estados. Antes do surto, o Brasil não registrava um caso autóctoneroleta de verdadesarampo desde 2000. Casos isolados desde então eram importadosroleta de verdadeoutros países.
Em 1997, antes desse surto, a chegadaroleta de verdadeSão Pauloroleta de verdadeum único bebê infectado com sarampo, vindo do Japão, causou uma epidemiaroleta de verdadeproporções subcontinentais. O vírus infectou 53.664 pessoas no Brasil e se alastrou para países da América do Sul, deixando dezenasroleta de verdademortos. Dois anos antes, uma extensa campanharoleta de verdadevacinação contra o sarampo havia ficado abaixo da metaroleta de verdade95%roleta de verdadetodo o país - no Sudeste, atingiu apenas 76,91%.
"Quando há queda nas taxasroleta de verdadeimunização você vai criando um gruporoleta de verdadepessoas suscetíveis. Esse grupo vai crescendo ao longo do tempo, até chegar ao pontoroleta de verdadeque a importaçãoroleta de verdadeum único caso gera uma epidemia", explica Expedito Luna, médico e professorroleta de verdadeepidemiologia do Institutoroleta de verdadeMedicina Tropical da Universidaderoleta de verdadeSão Paulo (USP).
"Nós sabemos que é muito difícil atingir a totalidaderoleta de verdade100% das crianças vacinadas. Mas ao chegar próximo a esse nível, a chanceroleta de verdadeepidemia é muito pequena, mesmo na presençaroleta de verdadeum agente infeccioso", diz.
Movimento antivacina
De acordo com Carla Domingues, há diversos fatores que podem estar por trás dos númerosroleta de verdadequeda e um deles pode ser a recusa, que tem aumentado nos últimos anos,roleta de verdadepaisroleta de verdadevacinar seus filhos. "Os dadosroleta de verdade2016 mostram menor cobertura vacinal para a poliomielite. Pode ser por fatores sazonais, mas a resistência das pessoas é algo que está nos chamando a atenção," diz.
Com mais vacinas disponíveis, algumas famílias optam por quais aplicarroleta de verdadeseus filhos. Outras preferem evitar a vacinação das crianças, por julgá-las saudáveis. Há ainda os que preferem evitar que os filhos sejam vacinados por razões religiosas, ou os que temem reações adversas - na Grã-Bretanha, por exemplo, houve um intenso debate no final dos anos 90 quando um médico sugeriu,roleta de verdadeum estudo, uma ligação entre a vacina tríplice viral e casosroleta de verdadeautismo.
Essa decisão individual -roleta de verdadevacinar os filhos ou não - acaba impactando o númeroroleta de verdadepessoas protegidas contra doenças transmissíveis, mas preveníveis, e criando grupos suscetíveis.
Grupos antivacina são tão antigos quanto os programasroleta de verdadeimunização, iniciados no século 19, quando reações adversas eram mais frequentes. No Brasil, especialistas acreditam que os grupos são menos expressivos que na Europa e nos Estados Unidos, mas notam que há relatos cada vez mais frequentesroleta de verdadepais que optam por não vacinar seus filhos, principalmente entre os mais ricos. Essa decisão explica porque esse grupo tem as menores taxasroleta de verdadecobertura vacinal, juntamente com os mais pobres, mas por razões distintas.
"Pessoasroleta de verdadeestratos econômicos mais elevados, alimentadas por informações não científicas, acabam selecionando quais vacinas querem tomar e alguns até abdicamroleta de verdadetomar todas. Por outro lado, você tem dificuldade nos grupos mais pobres, uma dificuldaderoleta de verdadeacesso aos serviçosroleta de verdadesaúde", afirma José Cassioroleta de verdadeMoraes, professor do Departamentoroleta de verdadeMedicina Social da Faculdaderoleta de verdadeCiências Médicas da Santa Casaroleta de verdadeSão Paulo, que publicouroleta de verdade2007 um estudo comparando as taxasroleta de verdadecobertura entre as duas populações.
Para impulsionar a imunização e atingir as metas da OMS, o governo tem trabalhado nas escolas,roleta de verdadeparceria com o Ministério da Saúde, para atingir crianças e jovens e lembrar as famílias sobre a importânciaroleta de verdadeevitar o retornoroleta de verdadedoenças antigas.
"A minha filha não viu amigos com poliomielite. Mas, na minha época, a primeira fileira na salaroleta de verdadeaula era deixada para alunos com pólio", relembra a coordenadora do PNI. "A minha geração tinha pânicoroleta de verdadeser contaminada, já hoje as pessoas não veem a doença e ficam mais relaxadas. Mas as crianças hoje são saudáveis porque seus avós e pais foram vacinados no passado", afirma.
"O mecanismo que faz com que vacina seja importante é a prevenção - ela não é curativa, ela é preventiva. Ela é dada no paciente saudável, para que possa criar anticorpos que o permitam responder à doença se houver contato com a bactéria ou vírus. A resposta não deve ser apenas quando há doença circulando, masroleta de verdademaneira preventiva", ressalta.
Desabastecimento e recursos escassos
Além do fator comportamental, problemas com o abastecimentoroleta de verdadevacinas essenciais e municípios com menos dinheiro para gerir os programasroleta de verdadeimunização também são apontados como fatores importantes.
Desde 2015, o país registra o desabastecimentoroleta de verdadediversas vacinas. Do inícioroleta de verdade2016 até junho desse ano, houve acesso limitado à vacina pentavalente acelular, que protege contra difteria, tétano, coqueluche, meningite provocada pela bactéria Haemophilus influenzae tipo b e poliomielite. Também houve dificuldades com a BCG, que protege contra a tuberculose e é a primeira vacina dada ao recém-nascido.
Em julho, o Ministério da Saúde afirmou que a oferta da pentavalente havia sido regularizada, mas classificou como "crítico" o abastecimento das vacinas tríplice viral, tríplice bacteriana acelular infantil (DTPa) e rotavírus, todas parte do calendárioroleta de verdadevacinação nacional. Para a DTPa, a previsão é que o abastecimento seja regularizado neste segundo semestre, enquanto as demais seguem sem expectativaroleta de verdadenormalização.
Para Luna, a faltaroleta de verdadevacinas nos postosroleta de verdadesaúde, mesmo por alguns dias, pode afetar a cobertura. "A mãe pode não voltar," diz. Já a escassezroleta de verdaderecursos nos municípios, responsáveis pelos programasroleta de verdadevacinação, diminuiu horários disponíveis para vacinação e reduziu o número salasroleta de verdadeque o serviço é feito, o que impacta na cobertura.
"Sabemos que há municípios que tinham várias salasroleta de verdadevacina e concentraramroleta de verdadeapenas uma. Será que isso piorou o acesso da população? Será que há profissionais o suficiente para vacinar, para evitar filas? Precisamos ver se não estamos burocratizando o processoroleta de verdadevacinação, o que dificulta o acesso," afirma Moraes.
Ele defende um estudo profundo do Ministério da Saúde para compreender a queda nos índicesroleta de verdadeimunização e evitar que o país retroceda nesse quesito e enfrente consequências graves. A Europa é um exemplo dessas eventuais consequências. Apesar do alto nível socioeconômico, um surtoroleta de verdadesarampo já infectou 14 mil pessoas neste ano, e a doença é considerada endêmicaroleta de verdade14 países da região, incluindo Alemanha, França e Romênia. Só nesse último, foram 31 mortes desde 2016. As taxasroleta de verdadequedaroleta de verdadevacinação são um dos principais fatores para o surto.
"Há um fluxoroleta de verdadepessoas que visitam a Europa que podem retornar e trazer o saramporoleta de verdadevolta ao Brasil. Se encontrar um bolsãoroleta de verdadepessoas suscetíveis aqui, pode haver uma epidemia, essa é uma doença altamente contagiosa", alerta Moraes. "Não podemos perder nossas conquistas e essas são muito fáceisroleta de verdadeperder. Progredir e manter o progresso é que é difícil."