'Não aceitamos crianças': avanço da onda 'childfree' é conveniência ou preconceito?:sportingbet dicas de apostas

Ilustração mostra mãe sendo barrada com criançasportingbet dicas de apostasrestaurante

Crédito, Ilustração: Raphael Salimena

"Não sou obrigada a aguentar crianças mal-educadas que não sabem se comportar", "muitos pais não impõem limites" e "os estabelecimentos têm o direitosportingbet dicas de apostasescolher quem vão servir" foram alguns dos argumentos citados por leitores da BBC Brasil ao serem questionados, no Facebook, se achavam correto o limite imposto à presençasportingbet dicas de apostascriançassportingbet dicas de apostasdeterminados locais.

Mas outros pontos também foram levantados: "Será que todos aqui nasceram adultos e não lembram como é ser criança?"; "E se os restaurantes passarem a proibir também pessoas velhas, gordas e feias, será aceitável?"

Mas afinal, esse tiposportingbet dicas de apostasveto a crianças está dentro da lei? E quais as consequências sociais desse tiposportingbet dicas de apostasmedida?

Livre iniciativa x discriminação

Há diferentes interpretações jurídicas sobre o tema.

A advogada Fabiola Meira, doutorasportingbet dicas de apostasdireito das relaçõessportingbet dicas de apostasconsumo e professora-assistente da PUC-SP, defende que o veto é aceitável se for previamente (e claramente) informado ao consumidor para não lhe causar constrangimento.

"Há quem diga que pode haver preconceito, mas acho que locais privados podem adotar um modelosportingbet dicas de apostasnegócios para um público diferente (que restrinja crianças), com base na livre iniciativa", diz à BBC Brasil. "Não é algo contra uma raça ou nacionalidade, que seria uma discriminação."

Já Isabella Henriques, representante do instituto Alana, organizaçãosportingbet dicas de apostasdefesa dos direitos infantis, diz que, feita a ressalva a locais que sejam impróprios por trazerem perigos às crianças, "o veto é discriminatório sim, por estar excluindo um segmento da sociedade. Abre precedentes para se excluírem também, por exemplo, pessoas com deficiência".

"O fatosportingbet dicas de apostasum estabelecimento ser privado não o eximesportingbet dicas de apostastersportingbet dicas de apostascumprir a Constituição, quesportingbet dicas de apostasseu artigo 5º diz que todos são iguais perante a lei, e que no artigo 227 diz que crianças e adolescentes têm prioridade absoluta", argumenta Henriques.

Sitessportingbet dicas de apostasresort e companhia aérea vetados para crianças

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Resort e companhia aérea adotaram veto a crianças

O tema também chegou a Brasília. Em maio, a Comissãosportingbet dicas de apostasDesenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados rejeitou um projetosportingbet dicas de apostaslei do deputado licenciado Mário Heringer (PDT-MG) que proíbe estabelecimentos comerciaissportingbet dicas de apostasvetar o acesso a crianças e adolescentes.

No projeto - que ainda será analisado pela Comissãosportingbet dicas de apostasConstituição e Justiça da Câmara -, o deputado argumenta que esse tiposportingbet dicas de apostasveto é "abusivo" e expõe clientes a "constrangimento".

Para o relator Covatti Filho (PP-RS), porém, "não se tratasportingbet dicas de apostasum tratamento discriminatório das crianças ou mesmo das famílias, mas da exploração legítimasportingbet dicas de apostasum nichosportingbet dicas de apostasmercado".

'Olhar fraterno'

Muitos empreendimentos privados argumentam que seus espaços não foram projetados para os pequenos.

"Temos muitos morros aqui e sacadas que são perigosas para crianças", diz à reportagem a gerênciasportingbet dicas de apostasum resort exclusivo para adultossportingbet dicas de apostasSanta Catarina. "E nossa proposta ésportingbet dicas de apostasproporcionar algo mais romântico e reservado, para casaissportingbet dicas de apostasluasportingbet dicas de apostasmel ou para o Dia dos Namorados. Sempre informamos antes, então isso nunca atrapalhou."

A advogada Aline Prado é autorasportingbet dicas de apostasum comentário com maissportingbet dicas de apostas300 curtidas no post da BBC Brasil sobre o tema. "Pessoas que não têm filhos também precisam ter a liberdadesportingbet dicas de apostasescolher frequentar um ambiente sem crianças", opina, agregando que "é comum vermos crianças desconfortáveissportingbet dicas de apostasalguns ambientes. Não é obrigação dela se comportar como adulto, mas ela não deveria ser exposta a isso por adultos".

Mas defensores dos direitos infantis veem essas restrições como evidênciassportingbet dicas de apostasuma sociedade mais intolerante e egoísta.

"Se não conseguimos conviver com as crianças e entender suas necessidades, que sociedade queremos ter no futuro? Uma que confine as crianças apenas a locais específicos gerará adultos que não sabem se relacionar", opina Isabella Henriques, do Alana.

"A voz infantil incomoda por não ter os filtros sociais. (Mas) é o nosso valor do presente. As crianças têm direito a voz e a se expressar e a brincarsportingbet dicas de apostasforma distinta do adulto."

Páginasportingbet dicas de apostasgrupo childfree no Facebook

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Legenda da foto, Páginasportingbet dicas de apostasgrupo childfree no Facebook; movimento começou reunindo pessoas que se sentiam socialmente excluídas porsportingbet dicas de apostasdecisãosportingbet dicas de apostasnão ter filhos

Para a autora Elisama Santos, consultorasportingbet dicas de apostascomunicação não violenta e educadora parental, faz parte da vidasportingbet dicas de apostassociedade aprender a lidar com o choro infantil - assim como outros inconvenientes das relações pessoais.

"Adultos têm que saber que o mundo não é só deles. O choro da criança incomoda, assim como o adulto bêbado também incomoda e ele não é (previamente proibido) nos lugares", opina.

"A ideiasportingbet dicas de apostasque a criança é indesejada é violenta com ela e comsportingbet dicas de apostasfamília, numa épocasportingbet dicas de apostasque a maternidade das grandes cidades é exercidasportingbet dicas de apostasgrande solidão e muitas mães têm uma redesportingbet dicas de apostasapoio pequena - não têm com quem deixar o filho quando precisam ir ao médico, se alimentar, se divertir. Em que momento esquecemos que as crianças é que vão perpetuar o nosso mundo?"

A farmacêutica paulista Talita (nome fictício) sentiu isso na pele. Quando seu primeiro filho tinha 3 mesessportingbet dicas de apostasvida, ela e o marido arriscaram uma ida a uma pizzariasportingbet dicas de apostasSantos (SP). O bebê chorava com cólica e com o calor, até que os donos do estabelecimento sugeriram que a família fosse comer a pizzasportingbet dicas de apostascasa.

"Mais do que chateada, fiquei traumatizada mesmo", diz Talita. "Foi umasportingbet dicas de apostasnossas primeiras e últimas saídas com o bebê nos primeiros meses, com medo das reações das pessoas (ao choro), porque criança é assim, imprevisível."

Criançasportingbet dicas de apostasrestaurante

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, 'Temos também pais cansados, com filhos que precisam comer. Que tal encarar situações com um outro olhar?', sugere especialista

Por situações como essa, Santos e Henriques defendem um "olhar fraterno" perante paissportingbet dicas de apostascrianças que estejam chorando ou falando altosportingbet dicas de apostaspúblico.

"Muitossportingbet dicas de apostasnós vivemossportingbet dicas de apostascidades não amigáveis para crianças, com poucos parques ou espaços adequados. Aí elas entram no restaurante e saem correndo e 'a culpa é da mãe que não dá limites', quando a questão é muito mais complexa", opina Henriques.

"Temos também pais cansados, com filhos que precisam comer. Que tal encarar situações (de mau comportamento) com um outro olhar, oferecendo-se para brincar com a criança enquanto o pai come? No fim das contas, vale o ditadosportingbet dicas de apostasque é preciso uma aldeia para criar uma criança - é uma responsabilidade coletiva. E isso não significa deslegitimar quem não quer ter filhos, uma escolha que também precisa ser respeitada."