A esquina do desemprego: os pedreiros que esperam por trabalho todos os dias no centromotion betSP:motion bet

Pedreiros desempregados se reúnemmotion betesquina do centromotion betSP

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil

Legenda da foto, Segundo o IBGE, apenas no 2º trimestre deste ano a construção civil cortou 683 mil vagas

"Os empregos saíram daqui e fugiram para longe", diz o pintor Aristides dos Santos,motion bet42 anos, parado desde 2016 e saudoso do tempomotion betque conseguia obra facilmente. "Eles não foram para longe, não, foram é para lugar nenhum", corrige.

Os peões da esquina, com maismotion bet40 anos, têm pouca qualificação formal: a maioria que conversou com a BBC Brasil não terminou o ensino fundamental. Grande parte saiu há décadasmotion betcidadesmotion betMinas Gerais, do Norte e do Nordeste. Buscavam uma vida boamotion betSão Paulo, mas às vezes ela pode virar uma decepção.

O pedreiro fã dos Racionais até conseguiu se dar bem por anos, mas tem uma visão críticamotion betsua trajetória. Saiu do nortemotion betMinas, onde deixou dois filhos, viveumotion betbicos, por uns tempos caiu no excessomotion betbebida e, agora, despencou na crise econômica. Hoje, vai diariamente à esquina do centro, esperando que apareça alguma sorte.

Ele prefere não revelar seu nome nesta reportagem, por medomotion betser reconhecido pelos parentes. "Meu irmão, eu moro num albergue, almoço no Bom Prato (restaurante popular que cobra R$ 1 por refeição). O trem está ruim para qualquer lado que eu pego", diz, emocionado. "Você quer que minha filha me veja assim, fodido e mal pago?"

Trabalhadores na esquena das ruas Dom Josémotion betBarros e Barãomotion betItapetininga

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil

Legenda da foto, Os trabalhadores desempregados esperam na esquina por alguma oportunidade

Ninguém sabe como esse pontomotion betencontro surgiu. Os mais velhos dizem que ele existe desde a décadamotion bet1970, mas que já foimotion betoutros locais do centromotion betSão Paulo, como o Brás e a Luz. Um dia, ninguém lembra quando, ele se mudou para o cruzamento da Barão com a Dom Josémotion betBarros, um calçadão.

Essa região é cheiamotion betagênciasmotion betempregos temporários, subempregos, pequenos bicos. Toda manhã, na frentemotion betalguns prédios, formam-se filas com pessoasmotion betenvelope na mão.

Na área dos pedreiros, porém, pouca gente leva o currículo. A experiência está nas mãos calejadas, nas botinas sujasmotion bettinta e nas conversas que revelam a construçãomotion betum grande prédio.

Esperando Toninho

O ajudante Evaldo Gonçales,motion bet50 anos, conta que as últimas grandes construções das quais participou foram uma fábrica da Fiatmotion betBetim (Minas Gerais) e um edifício da Monsantomotion betCampo Verde (Mato Grosso),motion bet2015. Nessa, ele era "fichado" - como os peões chamam as vagas com carteira assinada. Hoje, sobrevivemotion betbicos esporádicos.

Ainda há agênciasmotion betemprego que contratam a mãomotion betobra na esquina - elas são chamadasmotion bet"tempero", por oferecerem vagas temporárias. Uma delas émotion betum empresário conhecido como "Alemão", um homemmotion betcercamotion bet1,90motion betaltura e com cabelos um pouco grisalhos.

O problema é que Alemão não aparece com frequência:motion betquatro manhãs, ele passou duas vezes pelo cruzamento, gerando grande expectativa entre os peões, que se viravam para vê-lo. O "salvador" apenas acenava com a cabeça para conhecidos, trocava duas ou três palavras com alguém e ia embora.

Não é assim com Antonio Rodriguez Gonzalez, o Toninho, um espanholmotion bet66 anos, donomotion betoutra agência. Ele passa parte da manhã entre os pedreiros, conversando, sondando-os.

Parece que todos esperam pela presença do homem baixinho,motion betbigode, e que sempre usa uma boina preta. Toninho, que trabalha no ramo desde 1975, quando fundoumotion betempresa, também é saudoso dos bons temposmotion betque eram abundantes os empregos na construção civil. "Diminuiu bastante, com certeza. Antigamente o sujeito chegava aqui e não saía sem uma obra", conta.

Ele diz que chegou a ter 300 peões empregados pelo Brasil no começo da década. Hoje,motion betmeses bons, consegue colocar 80.

Em 2016, o piso salarialmotion betum empregado da construção civil era R$ 1.362, segundo o sindicato da categoriamotion betSão Paulo.

O empresário Antonio Rodriguez Gonzalez, donomotion betagênciamotion betempregos temporários

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil

Legenda da foto, Antonio Rodriguez Gonzalez recruta pedreiros para trabalharemmotion betobras Brasil afora

Barrigudinha

Até hoje, funciona assim: a agência recebe um pedidomotion bet"X" funcionários. Toninho, por exemplo, vai até a esquina e escolhe alguns. Na semana passada, ele estava selecionando trabalhadores para a construçãomotion betum supermercadomotion betAracaju. Os escolhidos devem viajar na segunda-feira.

Enquanto a BBC Brasil entrevistava os homens, rodinhas se formavam no entorno do repórter. Alguém sempre perguntava: "É boca?", como os trabalhadores apelidaram as vagasmotion betemprego.

Toninho explica como recruta: "Converso, vejo como o sujeito está. Se eu te disser que, aqui, só dá para chamar uns 30% desses homens você acredita?", questiona. "Sim, tem um problema sériomotion betalcoolismo: o homem até começa a trabalhar, mas no primeiro salário desaparece para beber", diz.

De fato, a bebida alcoólica é presença constante no pontomotion betencontro. Mas poucos são os que exageram - bebem pinga 51 ou uma cachaça mais barata, conhecida como "barrigudinha" por ter o frasco redondo e pequeno.

"O peão está desempregado, moramotion betalbergue, não tem família, não tem perspectiva. Dá para entender porque muitos bebem tanto. Aqui tem mestremotion betobras que caiumotion betdesgraça na bebida", diz Toninho. O ajudante Evaldo concorda. "Quando a turma não consegue nada, divide uma garrafamotion bet51 para espairecer", diz.

O ajudantemotion betpedreiro Evaldo Gonçales

Crédito, Leandro Machado/BBC Brasil

Legenda da foto, Ajudantemotion betpedreiro Evaldo Gonçales participoumotion betgrandes obras, mas hoje sobrevivemotion betbicos

'Pedreirão'

Apesarmotion bettudo, há entre os pedreiros um climamotion betagradável amizade. Eles não vão ali apenas pela possibilidademotion betemprego, mas também porque existe um sentimentomotion betpertencimento a um grupo. E a nostalgia: passam a manhãmotion betrodinhas contando históriasmotion betviagens pelo Brasil atrás das obras.

Um deles brincou com a operação que atingiu as maiores construtoras do país: "Essa Lava Lato acabou foi com tudo, não tem mais emprego nenhum. O único que tem dinheiro aqui é esse repórter aí".

Em outro grupo, Joselito Bispo dos Santos,motion bet52 anos, é um dos poucos que não dependemmotion betum emprego para viver, pois recebe um benefício do governo. "Venho aqui mais é para passar o tempo com as amizades", diz.

Ele é orgulhoso da função que exerceu por décadas, desde que saiumotion betMadremotion betDeus (BA), para buscar a sortemotion betSão Paulo. "Você sabe quantomotion betareia precisa para fazer um sacomotion betcimento?", questiona ao repórter. "Meu irmão, ergui foi casa, prédio, ponte. Sou um pedreirão. Sou igual ao joão-de-barro, carrego tijolo no bico."