O retornopagbet apkEnéas, ícone da extrema-direita e 'herói'pagbet apkBolsonaro:pagbet apk
O apreço é tanto que,pagbet apkmaio, o deputado e seu filho, Eduardo Bolsonaro, propuseram uma lei para que Enéas seja incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria - listapagbet apkpersonagens que, segundo página do Senado, "protagonizaram momentos marcantes da história do Brasil" e tiveram seus nomes aprovadospagbet apkvotação no Congresso e que conta atualmente com 41 nomes, entre eles Tiradentes, Zumbi dos Palmares, Dom Pedro 1º, Santos Dumont, Chico Mendes, Getúlio Vargas e Heitor Villa-Lobos.
"Seu valoroso nacionalismo epagbet apkoposição ao comunismo o qualificam como herói da pátria", justificam pai e filho no Projetopagbet apkLei 7.699.
Em outra frente, o Partido Ecológico Nacional (PEN) - pelo qual Bolsonaro deve disputar a Presidência - anunciou que cogita mudar o nome para Pronapagbet apkhomenagem ao político acriano.
'Homem do futuro'
Bolsonaro costuma dizer que Enéas foi um "homem do futuro" e destacar as posições do médico sobre o nióbio, metal que também ocupa um papel central na plataforma econômica do deputado. O Brasil abriga 98% das reservas conhecidaspagbet apknióbio, elemento químico empregado na fabricaçãopagbet apkturbinaspagbet apkavião, tomógrafos e lâmpadas potentes, entre vários outros itenspagbet apkalta tecnologia.
Enéas lamentava que o Brasil exportasse nióbio bruto "a preçopagbet apkbanana",pagbet apkvezpagbet apkusá-lo para desenvolver a indústria nacional. Ele dizia que o metal tinha tanto potencial que poderia até lastrear a moeda brasileira.
Bolsonaro compartilha do entusiasmo do acriano e defende que o Brasil tenha um "vale do nióbio" - referência ao Vale do Silício, sedepagbet apkvárias das maiores empresaspagbet apkalta tecnologia dos EUA.
O deputado diz que o metal poderia ter peso maior que o agronegócio na economia brasileira - opinião vista como exagerada por especialistas, que, no entanto, reconhecem que o país poderia agregar mais valor ao produto antespagbet apkvendê-lo.
Outro ponto que une Enéas e Bolsonaro é a crítica à demarcaçãopagbet apkáreas indígenas. Em 2005, quando eram colegas na Câmara dos Deputados, os dois viajaram juntos a Roraima, onde 46% das terras são ocupadas por índios.
Na volta, Enéas afirmou no plenário que os indígenas não precisavampagbet apkterras, maspagbet apkmelhores condições materiais. "A terra dada aos índios é suficiente para eles andarem por ali durante 600 anos e sequer chegarem a conhecer toda a região. Tudo isso está altamente programado por um monstruoso poder alienígena [estrangeiro], que tem interesse nas riquíssimas jazidas que estão no subsolo brasileiro."
Da mesma forma, Bolsonaro costuma dizer que "onde tem uma terra indígena, tem uma riqueza embaixo dela". Em visita recente a Mato Grosso, afirmou que não haverá "um centímetro quadrado demarcado como terra indígena" se virar presidente.
"Grande parte dos índios são brasileiros como nós: ele quer ter energia elétrica, televisão, namorar uma loirinha, ter internet."
Enéas Mil Grau
As frequentes mençõespagbet apkBolsonaro a Enéas têm ajudado a popularizar o acriano entre fãs do deputado e grupospagbet apkjovenspagbet apkdireita.
No canal Enéas Mil Grau no YouTube, um vídeo expõe as "mitadas mais fodas" do cardiologista. Indagado num programapagbet apkTV se acreditavapagbet apkDeus, ele diz que sim, pois não conseguia "entender um universo tão bem feito no nível macrocósmico e microcósmico sem que haja uma mente prodigiosa por trás". Uma montagem então exibe o rostopagbet apkEnéas com óculos escuros ao som do rap Turn Down For What.
Muitas páginaspagbet apkfãspagbet apkBolsonaro mostram entrevistas e discursospagbet apkEnéas, ressaltando seu parentesco ideológico com o ídolo. Em alguns vídeos, o médico é tratado como um visionário ao criticar o megainvestidor húngaro-americano George Soros na campanha presidencialpagbet apk2002.
Enéas condenava a participaçãopagbet apkSoros na privatização da mineradora Vale (o bilionário comprou 1,25% das ações da empresa) e o criticava por financiar organizações pró-legalizaçãopagbet apkdrogas. Em 2010, o investidor escreveu um artigo no Wall Street Journalpagbet apkque defendeu substituir políticaspagbet apkrepressão às drogas por campanhaspagbet apkeducação.
Hoje, Soros é um dos maiores alvospagbet apkgrupos conservadores brasileiros e estrangeiros, vilanizado por financiar causas associadas à esquerda mundo afora, como igualdadepagbet apkgênero, direitos LGBT e combate ao racismo.
Em outro vídeo, um seguidorpagbet apkBolsonaro compara o tratamento recebido pelo deputado ao dado ao acriano. "Estão fazendo com Bolsonaro o mesmo que fizeram com Enéas - desprezado, humilhado e chamado atépagbet apklouco por muitos."
Afilhada políticapagbet apkEnéas, a médica sergipana Havanir Nimtz, eleita vereadora e deputada estadualpagbet apkSão Paulo, celebra o ressurgimento do mentor. "Seus ensinamentos estão mostrando à população brasileira, via YouTube, Facebook e outros meiospagbet apkcomunicação, que ele estava certo, e que a solução para o Brasil é administrá-lo com força, capacidade e princípios familiares e religiosos", ela dizpagbet apknota à BBC Brasil.
Hoje sem cargo político e filiada ao Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), Havanir não quis comentar a ascensãopagbet apkBolsonaro.
Críticas à ditadura
Apesar das convergências entre Enéas e Bolsonaro, há diferenças importantespagbet apkseus pensamentos e trajetórias.
Autor da tesepagbet apkdoutorado Meu nome é Enéas!, bordão usado pelo cardiologistapagbet apksuas propagandas eleitorais, o historiador e pesquisador da PUC do Rio Grande do Sul Odilon Caldeira Neto diz que os dois políticos se aproximam pelo discurso nacionalista e pela "tentativapagbet apkcriar uma forma autoritária e conservadorapagbet apkestruturar a nação brasileira."
Ele aponta, porém, que Enéas discordavapagbet apkBolsonaropagbet apkrelação à ditadura militar. Em entrevista ao programa Roda Viva,pagbet apk1994, o médico criticou o regime por asfixiar a imprensa e por "esquecer uma coisa fundamental: a formação do cidadão, o investimento no homem". No manifestopagbet apkfundação do Prona,pagbet apk1989, o partido diz que a ditadura "não foi um períodopagbet apkfelicidade para o povo brasileiro".
Já Bolsonaro "tenta se colocar como um herdeiro do regime militar", segundo o historiador. O deputado costuma dizer que os militares livraram o país do comunismo e deram mais segurança e liberdade aos brasileiros.
Cofundador do Prona e candidato a vice na chapa liderada por Enéaspagbet apk1989, o médico Lenine Madeirapagbet apkSouza rejeita a associação com Bolsonaro.
"O doutor Enéas era uma pessoa altamente preparada, cheiapagbet apkvalores. Não se compara com um indivíduo que se coloca dentropagbet apkum contextopagbet apkdireita, tentando pegar os mais desavisados como se fosse uma solução - solução que naturalmente deixaria o país numa situação muito pior", diz Souza.
Procurado pela BBC Brasil por email e telefone, Bolsonaro não respondeu aos pedidospagbet apkentrevista sobre a influênciapagbet apkEnéas empagbet apkcarreira.
Dois grupos disputam o postopagbet apkherdeiros do Prona. Ex-assessorapagbet apkEnéas, a advogada Patrícia Lima tenta criar o Partidopagbet apkReestruturação da Ordem Nacional. Aliado da advogada, João Vitor Sparan disse à BBC Brasil que o grupo discute com a equipepagbet apkBolsonaro uma fusão ou aliança para 2018.
Outra entidade é liderada pelo teólogo Euclides Netto, ex-membro do Prona e que tenta fundar o Novo Partido da Reedificação da Ordem Nacional. Netto se diz o verdadeiro sucessorpagbet apkEnéas e condena o diálogo entre Bolsonaro e Patrícia Lima.
Autoridade e ordem
Assim como Bolsonaro, Enéas também começoupagbet apkcarreira nas Forças Armadas - onde, segundo Odilon, "se inicia o processo da construção do apego à autoridade e à ordem" que o marca.
Nascidopagbet apk1938pagbet apkRio Branco, capital do Acre, ele se mudou aos 20 anos com a mãe viúva para o Riopagbet apkJaneiropagbet apkbuscapagbet apkuma vaga na Escolapagbet apkSargentos do Exército. Odilon diz que o acriano ficou dois anos na instituição, até se formarpagbet apkprimeiro lugar da turma como 3° Sargento Auxiliarpagbet apkAnestesia.
Em seguida, Enéas entrou na Faculdadepagbet apkMedicina da Universidade Federal Fluminense e, dois anos depois, iniciou a graduaçãopagbet apkFísica e Matemática.
O acriano atuou como cardiologista por maispagbet apk30 anos e lançoupagbet apk1977 o livro O Eletrocardiogama, que se tornou referência entre profissionais da área.
Alémpagbet apkatenderpagbet apkhospitais no Rio, Enéas deu aulas a estudantespagbet apkmedicina e foi professorpagbet apkmatemática, física, química, biologia e portuguêspagbet apkcursos pré-vestibular. Entre 1986 e 1988, presidiu a Sociedadepagbet apkCardiologia do Riopagbet apkJaneiro, experiência que o ajudou a atrair colegas para a criação do Prona.
A trajetória acadêmicapagbet apkEnéas epagbet apklonga carreira como professor contrastam com a formaçãopagbet apkBolsonaro, que cursou a Escolapagbet apkEducação Física do Exército e fez carreira como paraquedista militar, passando à reserva como capitão.
Segundo Odilon, Enéas "acreditava que só poderia ser uma liderança porque tinha uma formação intelectual e sempre fazia questãopagbet apkmostrar seu vasto currículo e conhecimento - uma distância muito grande do que promove Bolsonaro, que faz um discursopagbet apkdefesa da não-intelectualidade".
A principal críticapagbet apkEnéas a Lula erapagbet apkbaixa escolaridade. "Não consigo entender que se lance um candidado ao cargo mais alto da República e haja aplausopagbet apkum grupo a uma pessoa que nunca estudou e se exprime com muita dificuldade", afirmou.
Integralismo e fascismo
O historiador diz que, após lançar o Prona, Enéas conquistou o apoiopagbet apkcentrospagbet apkestudos integralistas, movimento nacionalista inspirado no fascismo italiano e que teve como destaque o político e escritor paulista Plínio Salgado (1895-1975).
Enéas rejeitava o rótulopagbet apkfascista e dizia que seu único vínculo com o integralismo era a postura nacionalista.
"Sou radicalmente contra a penapagbet apkmorte, radicalmente contra qualquer formapagbet apkdiscrimação", afirmou. Em outros momentos, porém, disse que homossexuais eram "um desvio" e pertenciam a um "grupo que, se se generalizasse, representaria a extinção da espécie".
Segundo Odilon, o médico não via qualquer benefício políticopagbet apkser associado ao integralismo, mas percebeu que poderia ser vantajoso interagir com o movimento e permitiu que algunspagbet apkseus adeptos entrassem no Prona.
Um dos maiores expoentes do integralismo - o médico mineiro Elimar Máximo Damasceno - chegou a se eleger deputado federal pelo partidopagbet apk2002. Damasceno foi endossado por apenas 484 eleitores, mas, juntopagbet apkoutros quatro colegas do Prona, foi puxado para a Câmara pelos 1,5 milhãopagbet apkvotos obtidos por Enéas.
Segundo Odilon, embora Enéas fosse visto como folclórico por muitos eleitores, ele incorporava um discurso político com longa trajetória na política brasileira, com raízes não só no fascismo epagbet apkoutros movimentos autoritários anteriores à Segunda Guerra, mas no Estado Novopagbet apkGetúlio Vargas (1937-1946).
Tanto é assim que, na eleição presidencialpagbet apk1955, o integralista Plínio Salgado obteve 8% dos votos - resultado parecido com a votaçãopagbet apkEnéaspagbet apk1994.
"O regime militar e Enéas representam uma certa continuidade, com algumas modificações,pagbet apkum longo trajeto desse nacionalismopagbet apkdireita", diz o historiador.
Elo com militares
O mesmo pragmatismo que fez Enéas dialogar com integralistas o estimulou a se aproximarpagbet apkmilitares. Na campanhapagbet apk1994, Enéas defendeu triplicar o efetivo das Forças Armadas.
Quatro anos depois,pagbet apkoutro aceno ao setor, propôs que o Brasil desenvolvesse armas nucleares "não para jogar a bombapagbet apkninguém, mas sim para evitar que alguém jogue a bomba aqui".
Mais tarde, após se eleger deputado, tornou-se um dos principais críticos ao desarmamento da população civil, tema caro à atual "bancada da bala".
Odilon diz que, apesar das convergências, o médico divergia dos militares na formapagbet apkencarar o comunismo. "De fato,pagbet apkdiversos momentos Enéas Carneiro elogiava a filosofia marxista, ainda que criticasse sobretudo a burocracia e o controle dos meiospagbet apkprodução e a experiência histórica oriunda da Revolução Soviética."
Certa vez, questionado sobre figuras estrangeiras que admirava, citou Fidel Castro. Depois justificou-se dizendo que o mencionara "pela personalidade forte, pela coragempagbet apkenfrentar o monstro [EUA]", mas que não era socialista e defendia a economiapagbet apkmercado.
Embora se dissesse pró-capitalismo, Enéas foi radicalmente contrário à privatizaçãopagbet apkestatais nos anos 1990. Para ele, as vendas lesaram o patrimônio público e deixaram setores econômicos estratégicos nas mãospagbet apk"testaspagbet apkferro do capital internacional".
As posições se contrapõem ao discurso atualpagbet apkBolsonaro. No iníciopagbet apksua carreira política, o deputado era crítico à privatizaçãopagbet apkestatais, mas passou a dizer que "quanto mais o Estado se afastarpagbet apkqualquer atividade econômica, melhor será para o Brasil".
Fusão e leucemia
Em 2006, a aprovação da cláusulapagbet apkbarreira pelo Congresso ameaçava acabar com o Prona, ao impor restrições a partidos que não recebessem uma votação mínimapagbet apkboa parte do país. A sigla então se uniu ao Partido Liberal (PL), grupo do então vice-presidente, José Alencar, dando origem ao Partido da República (PR).
Naquele ano, Enéas se reelegeu deputado pelo PR, mas o avançopagbet apkuma leucemia debilitavapagbet apksaúde. Antespagbet apkcomeçar a quimioterapia, resolveu raspar a barba, umpagbet apkseus símbolos. O médico morreu no ano seguinte, aos 68 anos.
Na pequena comitivapagbet apkpolíticos presentes no velório - entre os quais Bolsonaro, Havanir e o pastor evangélico Édino Fonseca -, chamou a atenção dos jornalistas a presença do então deputado Aldo Rebelo, militante histórico do Partido Comunista do Brasil (PC do B).
À saída, o comunista disse que Enéas agia conforme suas crenças e era "um homem públicopagbet apkelevada confiabilidade" - sinaispagbet apkum tempo não tão distantepagbet apkque a polarização política no país era mais branda.