'Não toleramos mais': por que velhas piadas estão inflamando debate sobre racismo entre descendentesgrupo telegram f12 bet minesasiáticos no Brasil:grupo telegram f12 bet mines
"Quando você diz 'acelela', está tirando sarro não dos chinesesgrupo telegram f12 bet mineslá, mas dos imigrantes daqui, para quem a questão da língua e da adaptação é uma dificuldade real, e para descendentes que lutam há anos para serem aceitos", afirma Leonardo.
Após a publicação da reportagem, o prefeito João Doria enviou uma nota dizendo que "admira e respeita os chineses e não teve a intençãogrupo telegram f12 bet minesofendê-los com a legenda publicadagrupo telegram f12 bet minessuas redes sociais."
"De uns tempos para cá as pessoas estão menos propensas a aguentarem certas ofensas, piadas e estereótipos. Não toleramos mais", diz Rodrygo Tanaka, que é descendentegrupo telegram f12 bet minesjaponeses.
Rodrygo e Leonardo fazem partegrupo telegram f12 bet minesuma geraçãogrupo telegram f12 bet minesfilhos e netosgrupo telegram f12 bet minesimigrantesgrupo telegram f12 bet minespaíses do leste asiático que estão criando grupos para discutir identidade e discriminação.
Leonardo criou com esse objetivo o canal do YouTube Yo Ban Boo, com a atriz Beatriz Diaféria e o empresário Kiko Morente.
A estudantegrupo telegram f12 bet minesciências sociais Gabriela Shimabuko criou a página Perigo Amarelo há quase dois anos. Ela diz que a aceitação no ocidente sempre foi um processogrupo telegram f12 bet minesnegociação.
"Muitas vezes, o custo socialgrupo telegram f12 bet minesreagir à discriminação acaba sendo muito alto. Enquanto você acata que é só uma piada e finge que tá tudo bem, você faz parte da branquitude. Mas dentrogrupo telegram f12 bet minesum espaço que é bem definido —se sair dele, você incomoda", afirma ela, que é descendentegrupo telegram f12 bet minesimigrantesgrupo telegram f12 bet minesOkinawa (província do Japão que possui uma cultura própria).
Luta coletiva
Para Rodrygo, que criou o Asiáticos pela Diversidadegrupo telegram f12 bet mines2015, a discussão sobre identidade asiática aumentougrupo telegram f12 bet minesparalelo com o fortalecimentogrupo telegram f12 bet minesoutras lutasgrupo telegram f12 bet minesminorias.
Sua página fala sobre como é ser descendentegrupo telegram f12 bet minesasiáticos dentro da comunidade LGBT.
Já a plataforma Lótus, criada um ano depois, faz uma intersecção entre militância asiática e feminismo.
O feminismogrupo telegram f12 bet minesmulheres asiáticas lida com problemas específicos, como a fetichização: a imposiçãogrupo telegram f12 bet minesestereótipos que hiperssexualizam a mulhergrupo telegram f12 bet minestorno da ideiagrupo telegram f12 bet minesque ela é exótica e submissa. Assim, o racismo se soma ao machismo na agressão à mulheres não-brancas.
"Os impactos dessas violências vão desde a perdagrupo telegram f12 bet minesidentidade, perdagrupo telegram f12 bet minesautoestima, faltagrupo telegram f12 bet minesnoção sobre seu próprio valor, e demais traumas provindosgrupo telegram f12 bet minesabusos físicos, mentais e emocionais", afirma Caroline Rica Lee, da Lótus.
"A fetichização é resultadogrupo telegram f12 bet minesum processo histórico. Estupros e dominação das mulheres sempre foram armasgrupo telegram f12 bet minesguerra e dominação. Durante as guerras do Vietnã e da Coreia, os americanos ocuparam esses países e amplificaram a proliferaram dessa ideia", diz Gabriela, do Perigo Amarelo.
Segundo o educador e mestrandogrupo telegram f12 bet mineshistória Fábio Ando Filho, um dos criadores do blog Outra Coluna, que existe há quase dois anos, nesse processogrupo telegram f12 bet minesdominação, enquanto a mulher era fetichizada, o homem asiático sofria um processogrupo telegram f12 bet minesemasculação.
Ele é retratado como fraco e assexuado e portanto deve ser dominado pela virilidade do homem branco. "Isso gera desde a perda da autoestima até atitudes excessivamente agressivas e machistas para compensar — e aí quem sofre são as mulheres", diz Fábio.
grupo telegram f12 bet mines Representatividade
Sabrina Kim, do canal Kores do Brasil, diz que o que a motivou a criar vídeos sobre o assunto foi ver que os filhos pequenos —grupo telegram f12 bet minessete e cinco anos — estavam passando pelos mesmos problemas que ela tinha quando criança. "Discriminação contra coreano é sempre tratada como piada. Mas para quem passa por isso é um sofrimento real. Eu tinha vergonhagrupo telegram f12 bet minesser diferente, vergonha da língua. Ouvi coisas horríveis quando criança", afirma.
A escritora e ilustradora Janaina Tokitaka, que também é mãe, diz que a maneira como os asiáticos são representados na ficção é hoje um dos principais causadoresgrupo telegram f12 bet minesideias estereotipadas.
"São sempre papéis secundários e rasos, que reforçam a ideia da gueixa", reclama ela, que já perdeu a contagrupo telegram f12 bet minesquantas vezes ouviu que "falava muito para uma japonesa".
Janaína fala sobre outras abordagens incômodas. "Eu estava fazendo uma pesquisa na Japan House quando um homem apontou pra mim e disse para o filho: 'Tá vendo, é assim que eles são. Eles estão sempre estudando. Esse é um palitinho, é assim que eles comem'. Aí ele sacou uma câmera e começou a tirar fotos. Me senti um bicho no zoológico."
Para quem trabalha na área cultural, não é só uma questãogrupo telegram f12 bet minesrepresentatividade, masgrupo telegram f12 bet minesoportunidadesgrupo telegram f12 bet minesempregos.
"O papel 'normal', 'neutro' vai sempre para um branco, e quando tem um que é para asiáticos... eles colocam um branco também", diz Beatriz, do Yo Ban Boo, relembrando casos como o da novela Sol Nascente. A Globo colocou o ator Luis Melo no papelgrupo telegram f12 bet minesum japonês e a atriz Giovanna Antonelli como protagonistagrupo telegram f12 bet minesum núcleo nipônico.
Na época, o autor Walter Negrão disse que não encontrou "um ator japonês com estofo e a experiência necessária para fazer um protagonista" nem uma atriz "com statusgrupo telegram f12 bet minesestrela". A Globo disse que a novela "não era sobre o Japão".
A questãogrupo telegram f12 bet minesrepresentatividade é muito discutida pelo coletivo Oriente-Se, que é mais antigo e tem maisgrupo telegram f12 bet mines200 atoresgrupo telegram f12 bet minesascendência asiática.
Beatriz teve que mudargrupo telegram f12 bet minessobrenome para conseguir ser chamada para os testesgrupo telegram f12 bet mineselenco. "Eu usava Koyama e nunca era chamada. Nas poucas vezes que apareciam papéis asiáticos era aquela coisa superestereotipada", diz ela. A situação melhorou quando ela passou a usar o sobrenome do outro lado da família, Diaféria.
Minoria modelo?
"De certa forma [esse aumento da discussão] é o resultado do envolvimentogrupo telegram f12 bet minesdescendentesgrupo telegram f12 bet minesasiáticosgrupo telegram f12 bet minespolíticasgrupo telegram f12 bet minesesquerda. Por muito tempo, muitas pessoas abraçaram o discurso da direita conservadora e acabaram acatando a ideiagrupo telegram f12 bet minesminoria modelo", afirma Rodrygo.
"Minoria modelo", explica Leonardo Hwan, se refere ao estereótipogrupo telegram f12 bet minesque os descendentesgrupo telegram f12 bet minesjaponeses são dóceis, estudiosos, trabalham muito e por isso conseguiram posiçõesgrupo telegram f12 bet minesdestaque na sociedade, grande presença nas universidades etc.
"É uma coisa pseudoelogiosa que coloca as pessoasgrupo telegram f12 bet minescaixinhas e reforça a opressãogrupo telegram f12 bet minesoutras minorias, principalmente dos negros. Porque quando você diz que japoneses estão bem porque são trabalhadores, você está implicando que outros grupos não trabalharam e ignorando todo um contextogrupo telegram f12 bet minesperseguição aos negros", diz Leonardo.
"O estigma social sofrido por indivíduos asiáticos no Brasil não tange âmbitos da violência racial e opressão policial que mata pessoas negras diariamente, ou o genocídio contemporâneogrupo telegram f12 bet minescurso contra povos indígenas brasileiros", diz Caroline Rica Lee, do coletivo Lótus.
Solidariedade
Segundo Fábio e Gabriela, os descendentesgrupo telegram f12 bet minesasiáticos também têm um papel no racismo antinegro, que precisa ser discutido e combatido. "Muitas vezes reproduzimos a antinegritude, permitimos que mercantilizem nossas culturas e permanecemos calados porque isso nos concede privilégios", afirma Gabriela, do Perigo Amarelo.
"Não dá para falargrupo telegram f12 bet minesraça no Brasil sem falargrupo telegram f12 bet minessolidariedade antirracista", diz Fábio. Ele e Gabriela trabalham para que a discussão vá além da questão sobre representatividade e sobre ser aceito como brasileiro.
"Alguns leitores no blog falam: 'ah, então vamos votargrupo telegram f12 bet minesasiáticos para ter mais representação'. Mas não é isso. Não adianta nada votargrupo telegram f12 bet minesasiáticos se eles tiverem uma plataforma neoliberal, uma plataforma que não promova a igualdade", diz Fábio
"A gente não pode se contentargrupo telegram f12 bet minesbrigar para ser visto como brasileiro e não como estrangeiro. Como você pode falargrupo telegram f12 bet minesbrasilidadegrupo telegram f12 bet minesum país construído com a ocupaçãogrupo telegram f12 bet minesterras indígenas? A gente vai se contentargrupo telegram f12 bet minesexigir os mesmos privilégios dos brancos ou vamos pensargrupo telegram f12 bet minesconstruir uma sociedade que seja mais igualitária e justa para todos?", questiona Gabriela.