Criança, fazendeiros e até surfista: quem são os (possíveis) futuros santos brasileiros:bet7 paga
E mais:bet7 paga1991, o país tinha apenas seis processosbet7 pagabeatificação e canonização tramitando na Congregação para as Causas dos Santos, órgão do Vaticano responsável pelo tema. Hoje, são 90 - um aumentobet7 paga1.400%.
Ainda neste ano, o Brasil terá 30 novos santos. Em 15bet7 pagaoutubro, o papa Francisco canonizará aqueles que foram os primeiros mártires brasileiros: os padres Andrébet7 pagaSoveral e Ambrósio Ferro e 27 leigos, vítimasbet7 pagadois massacres por intolerância religiosa durante a ocupação holandesa no Nordeste do Brasil,bet7 paga1645.
Caminho da santidade
Os santos são venerados pelos católicos como pessoas que, por estarem juntobet7 pagaDeus, teriam o poderbet7 pagainterceder pelos fiéis. Uma vez canonizada, a pessoa é considerada modelo para a Igreja no mundo. Enquanto o culto dos beatos é local, o dos santos pode ser praticadobet7 pagaqualquer lugar.
Dos 90 processosbet7 pagaandamento no Vaticano, quatro são da Arquidiocese do Riobet7 pagaJaneiro: a menina Odette Vidalbet7 pagaOliveira (1930-1939), a Odetinha, o jovem Guido Schäffer (1974-2009), o casal Zélia (1857-1919) e Jerônimo Magalhães (1851-1909) e a carmelita Madre Maria Josébet7 pagaJesus (1882-1959). Todos já podem ser chamadosbet7 pagaservosbet7 pagaDeus, título dado quando as causas são iniciadas, e que constitui a primeira das quatro fases da canonização.
Ao longo do processo, é preciso reunir documentos e escritos do candidato a santo, registrar depoimentosbet7 pagafiéis que tenham recebido graças e demonstrar milagres, a fase mais complexa.
No casobet7 pagamártires, contudo, não há necessidadebet7 pagacomprovaçãobet7 pagamilagres. Os padres e leigos do século 17, por exemplo, mortos por calvinistas holandeses, tiveram o aval por terem sido assassinados por "ódio à fé". A palavra final, contudo, é sempre do papa.
Entre os candidatos brasileiros, ao menos 15 já são beatos ou bem-aventurados - ou seja, tiveram ao menos um milagre (ato inexplicável pelas leis naturais) reconhecido pela Igreja. É o casobet7 pagairmã Dulce Pontes (1914-1992), beatificadabet7 paga2011.
"O caminho que leva à santidade é rigoroso e demorado. Entre outros critérios, avaliamos as virtudes heroicas do candidato ebet7 pagafamabet7 pagasantidade. Para ser promovido a santo, é necessário um segundo milagre", diz Dom Roberto Lopes, delegado episcopal para as Causas dos Santos da Arquidiocese do Rio.
"Todo cristão é chamado à santidade. Não apenas padres, bispos e religiosos, mas leigos também", completa.
Santos leigos
Os candidatos a santo do Rio se encaixam nesse perfil. Guido Schäffer, por exemplo, era um jovem como qualquer outro da Zona Sul do Rio, filhobet7 pagaum médico e uma donabet7 pagacasa: pegava onda, falava gíria, gostavabet7 pagarock.
Schäffer, contudo, chamava a atenção pela compaixão com o próximo. Ajudava moradoresbet7 pagarua e chegava a doar as roupas do próprio corpo. "Uma noite Guido chegoubet7 pagacasa sem a jaquetabet7 pagacouro que havia comprado para ele. Quando perguntei se havia sido assaltado, respondeu que não - tinha doado a jaqueta a um mendigo", lembra a mãe, Maria Nazareth Schäffer.
Em 2000, aos 26 anos, já formadobet7 pagaMedicina e fazendo residência na Santa Casabet7 pagaMisericórdia do Rio, Schäffer anunciou aos pais que queria ser padre, após voltarbet7 pagavisita ao santuáriobet7 pagaFátima,bet7 pagaPortugal. Foi seminarista e realizou trabalhos médicos como voluntário. Em 2009, aos 34 anos, morreu afogado ao praticar surfe com amigos no Recreio dos Bandeirantes, no Rio.
"Quando criança, Guido queria ser salva-vidas. Na adolescência, sonhava ser médico. Já adulto, padre. Guido sempre quis salvar vidas", afirma o padre Jorge Luís da Silva, o padre Jorjão, vigário da Igreja Nossa Senhora da Paz,bet7 pagaIpanema, e autor do livro Guido - Mensageiro do Espírito Santo (editora Casa da Palavra).
Em 2015, diantebet7 pagadiversos relatosbet7 pagagraçasbet7 pagafiéis atribuídas a ele, a Arquidiocese do Rio abriu o processobet7 pagacanonização. Caso venha a se tornar santo, poderá se transformar no padroeiro dos surfistas. A Igreja Nossa Senhora da Paz recebeu os restos mortais do médico-seminarista naquele ano e se tornou pontobet7 pagaromariabet7 pagafiéis.
Odetinha
Outro local que foi muito visitado por católicos do Rio foi o túmulo, no cemitério São João Batista, que abrigava o corpo da menina Odette Vidalbet7 pagaOliveira, filhabet7 pagacomerciantes portugueses que morreubet7 pagameningite aos nove anos.
De família rica, dona do maior frigorífico do Rio à época, a menina estudou no tradicional Colégio Sion. Rezava o terço diariamente e ia à missa desde muito pequena.
Católicos dizem que foi um exemplobet7 pagasimplicidade e humildade. Sentava-se com empregados à mesa e os ensinava a ler e escrever, organizava feijoada aos sábados para pobres da vizinhança e ajudava a servi-los, visitava orfanatos e pedia à mãe que comprasse roupas e brinquedos novos para as crianças.
Segundo a Arquidiocese do Rio, ela manteve a fé até o fim da vida, quando teria dito, ao receber a última comunhão, "Meu Jesus, meu amor, minha vida, meu tudo".
"Ao mesmo tempobet7 pagaque era uma criança normal, que gostavabet7 pagapular carnaval e fazer bagunça no recreio, Odetinha já demonstrava um profundo amor à eucaristia e ao próximo", afirma o padre João Cláudio do Nascimento, que integra a comissão histórica das causas dos santos.
O processobet7 pagabeatificação e canonizaçãobet7 pagaOdetinha foi abertobet7 paga2013, com a exumação dos restos mortais, hoje depositados na Basílica da Imaculada Conceição, no bairrobet7 pagaBotafogo. Antes da transferência, abet7 pagasepultura era a segunda mais visitada do cemitério São João Batista, atrás apenas do túmulo da cantora e atriz Carmen Miranda (1909-1955).
Possível casalbet7 pagasantos
Candidatos a se tornarem o primeiro casalbet7 pagasantos do Brasil, Zélia e Jerônimo Magalhães formavam uma família rica, donabet7 pagafazendabet7 pagacafé na época da escravidão.
Ambos são tidos como exemplosbet7 pagabondade. Jerônimo teria mandado desativar a senzala assim que comprou a fazendabet7 pagacafébet7 pagaCarmo (RJ), erguendo moradia para 500 empregados. Doze anos antes da abolição da escravatura, concedeu alforria aos escravos, que recebiam salários e atendimento médico, segundo relatos da Igreja.
Com a morte do marido,bet7 paga1909, Zélia vendeu parte do que tinha, deu aos pobres e ingressou no Convento das Servas do Santíssimo Sacramento. As ideias humanitárias do casal eram incomuns para a época e motivaram devoção antiga no Estado. Os nove filhosbet7 pagaZélia e Jerônimo que atingiram a vida adulta se tornaram sacerdotes ou noviças.
A candidatura à canonização se tornou oficialbet7 paga2013, após reuniãobet7 pagadocumentação por uma descendente do casal. Hoje os restos mortais estãobet7 pagaum memorial na igrejabet7 pagaNossa Senhora da Conceição, no bairro carioca da Gávea.
"A vida exemplarbet7 pagaZélia e Jerônimo é um testemunho irrefutávelbet7 pagaque é possível, sim, ser santo nos diasbet7 pagahoje. Não apenas na vida consagrada, como padre, freira ou religioso, mas também na vida cotidiana", diz João Bellocchio, pároco da igrejabet7 pagaNossa Senhora da Conceição.
Resposta católica
Há quem veja neste aumento expressivo nos processosbet7 pagacanonização uma resposta da Igreja Católica ao avançobet7 pagadenominações evangélicas no Brasil.
De 2000 a 2010, por exemplo, o totalbet7 pagapessoas que se declaram evangélicas no país passoubet7 paga15% para 22% da população, enquanto a fatiabet7 pagacatólicos encolheubet7 paga73% para 64%.
"A tesebet7 pagaque a canonização está intimamente ligada à diminuição da população católica e ao aumento do neopentecostalismo procede. A proporçãobet7 pagacatólicos aumentabet7 pagapessoas com maisbet7 paga40 anos, enquanto, no caso dos evangélicos, a proporção aumenta entre crianças e jovens", afirma Ricardo Bitum, coordenador da pós-graduaçãobet7 pagaCiências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie,bet7 pagaSão Paulo.
Para Bitum, contudo, não há comprovaçãobet7 pagaeventual relação direta entre o recuo do catolicismo e o avanço das igrejas evangélicas no país, pois "as relações são multicausais".
Já a professorabet7 pagaTeologia Maria Clara Bingemer, da PUC-RJ, não associa a proliferaçãobet7 pagasantos católicos ao crescimento da fé evangélica no Brasil. Ela lembra que a Igreja sempre canonizou santos - o primeiro deles, aliás, foi Ulrico, bispobet7 pagaAugsburgo, na atual Baviera alemã,bet7 paga993.
"A Igreja quer estimular seus fiéis a verem que homens e mulheres como eles e elas podem crescerbet7 pagatal maneira no amor a Deus e no serviço ao próximo que devem ser exemplos a serem seguidos", considera.