4 visões sobre a crise e o futuro das UPPs no Rio:f12 bet apk

Policiais na favela

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Com 38 unidadesf12 bet apkdiferentes favelas da cidade, o programaf12 bet apkUPPs tem maisf12 bet apk9 mil policiais e enfrenta dificuldades

A BBC Brasil conversou com dois especialistas e dois moradoresf12 bet apkUPPs sobre o futuro do programa. Confira os depoimentos:

Ana Paula Oliveira, ativista e moradora da UPPf12 bet apkManguinhos

Ana Paula Oliveira

Crédito, Acervo pessoal

Legenda da foto, "Eu digo com propriedade que a UPP é um extermíniof12 bet apkfavelados", diz moradora

Quando criaram a UPP,f12 bet apk2012, eu vi como positivo o fatof12 bet apknão vermos mais armas. A gente sabia que os traficantes ainda estavam ali, mas não víamos mais aquelas armas pesadas.

A questão é que rapidamente isso foi substituído pelo armamento pesado da polícia, e aos poucos ficou claro que a UPP não traria projetos sociais nem a paz, mas sim apenas uma forte militarização controlando tudo que os moradores fazem.

Logo no ano seguinte veio a primeira morte provocada por policiais da UPP,f12 bet apkmarçof12 bet apk2013, ef12 bet apkoutubro a segunda, um garoto espancado até a morte pela polícia. Sete meses depois foi o meu filho, morto com um tiro nas costas.

Não adianta mudar nomenclatura e cor do uniforme. É toda a estrutura e o treinamento da Polícia Militar que precisa mudar. Eles vêm para cá com ódio. Na visão deles, o pobre e favelado é o inimigo que precisa ser exterminado.

Fico revoltada ao ver que nossos filhos morreramf12 bet apknomef12 bet apkum projeto racista, classista, excludente ef12 bet apkmentira. Eles estão buscando a segurançaf12 bet apkquem? Eu digo com propriedade que a UPP é um extermíniof12 bet apkfavelados. É mesmo. A maioria das pessoas são mortas com tiro nas costas ou na cabeça.

Para ser justa, nos últimos anos ganhamos a UPA (Unidadef12 bet apkPronto Atendimento) e a Clínica da Família, mas dentro da comunidade é só a polícia mesmo. Para nós ficou claro que a UPP é uma farsa. A ideiaf12 bet apkpacificação e proximidade é uma grande mentira.

No cenário atual eu acho que as coisas só vão piorar. Não tenho nenhuma expectativa positiva. Se antes eles tinham dinheiro e nada deu certo, imagina agora,f12 bet apkcrise? Eu acho que infelizmente dias sombrios nos esperam.

E mesmo que houvesse muito dinheiro para investir,f12 bet apknada adiantaria se você continua com uma Polícia Militar que vê o moradorf12 bet apkfavela como inimigo. Nós não precisamosf12 bet apkmais e mais policiais, precisamosf12 bet apksaúde, educação, lazer e cultura, e não mais morte e violência.

Ana Paula Oliveira nasceu e cresceu na favelaf12 bet apkManguinhos, na Zona Norte do Rio. Seu filho Johnatha foi morto com um tiro nas costas disparado por um policial da UPPf12 bet apkmaiof12 bet apk2014, e desde então tornou-se ativistaf12 bet apkgruposf12 bet apkmães que perderam filhos devido à violência policial. Sua luta já a levou a Washington, Genebra e outros países da Europa.

Pedro Strozenberg, pesquisador e ex-membro do Conselho Nacionalf12 bet apkSegurança Pública

Pedro Strozenberg

Crédito, Acervo pessoal

Legenda da foto, "Houve acertos e erros, mas tratar a política como algo fracassadof12 bet apkforma geral não trará benefícios à segurança pública", diz especialista

Nesse momentof12 bet apkcrise, eu acho que é muito importante que não haja maniqueísmos ao falar do programa das UPPs. Houve acertos e erros, mas tratar a política como algo fracassadof12 bet apkforma geral não trará benefícios à segurança pública.

Eu vejo que deu certo uma mudançaf12 bet apkmentalidade, dessa lógicaf12 bet apkenfrentamento, ef12 bet apkuma nova maneiraf12 bet apkselecionar e treinar policiais, com capacitação direcionada para o policiamentof12 bet apkproximidade. Por outro lado a velocidadef12 bet apkexpansão fez com que o projeto fosse enfraquecido também no treinamentof12 bet apkefetivo.

Os pontos negativos foram tratar as favelasf12 bet apkforma muito semelhante, quando elas possuem diferenças enormes entre si, e a falta das políticasf12 bet apkEstado, das iniciativas da prefeitura, dos projetos e melhorias que haviam sido incluídas no projeto inicial. Faltou também um sistemaf12 bet apkmonitoramentof12 bet apkproblemas,f12 bet apkabusos.

Obviamente você não pode tolerar 15 pessoas mortas num ano numa comunidadef12 bet apkque há um projetof12 bet apkpolícia comunitária, como o que ocorre no Complexo do Alemão. Algo está errado e precisava ter havido um controle sobre isso, uma intervenção atuando sobre o que está errado.

Nesse cenário caótico do RJ no momento, sem dúvida as UPPs se encontram numa situação crítica e muito delicada. Possivelmente vão reduzir efetivof12 bet apkalgumas unidades e reforçarf12 bet apkoutras. Vai ser necessário uma aliança com os governos municipal e federal.

O mais importante é perceber que das 38 unidades há dezf12 bet apkestado crítico. Não se pode dizer que o projeto fracassou, pois há o riscof12 bet apkretrocedermos a um nívelf12 bet apkque os avanços feitos sejam desqualificados.

Sobre a ausência dos projetos sociais e um monitoramento mais rígido dos desviosf12 bet apkconduta dos policiais eu acho que são duas bandeiras das quais não se pode desistir. É necessário bater nessa tecla até que isso aconteça.

Pedro Strozenberg é pesquisador da áreaf12 bet apksegurança pública do Institutof12 bet apkEstudos da Religião (Iser), e ex-membro do Conselho Nacionalf12 bet apkSegurança Pública. Também atuou no Conselho Estadualf12 bet apkDireitos Humanos ef12 bet apkSegurança Pública do Estado do RJ e foi subsecretáriof12 bet apkDireitos Humanos do Estado do RJ.

Thainã Medeiros, comunicador, ativista e morador da UPP do Complexo do Alemão

Thainã Medeiros

Crédito, Acervo pessoal

Legenda da foto, "Eu acho que a situação atual no Complexo do Alemão é o resultadof12 bet apkuma sérief12 bet apkequívocos", diz morador

Eu acho que a situação atual no Complexo do Alemão é o resultadof12 bet apkuma sérief12 bet apkequívocos, começando com a ocupação com o Exército,f12 bet apk2010.

Para ser justo, no início havia uma expectativa muito positiva. Muitos moradores estavam animados e os militares entregavam bilhetes que falavamf12 bet apkum novo tempo,f12 bet apkmudanças. E foram três anos sem tiroteio. Ouvíamos tiros, mas não tinha tiroteio, confronto.

Por outro lado tinha a opressão da Polícia Militar, que transformou hábitos e a cultura da favela, com revistas, intimidações e proibições, como os bailes funk, que passaram a ser vetados.

Por um lado eu podia sairf12 bet apkcasa e ir trabalhar sem medof12 bet apktiroteio, mas outro se estivesse na rua depois das 22h poderia levar um tapa na cara e ser chamadof12 bet apkvagabundo por policiais da UPP.

Mas tudo mudouf12 bet apkmaiof12 bet apk2013, quando a corrida da paz, da qual participava o ex-secretáriof12 bet apksegurança José Mariano Beltrame, foi interrompida por cinco minutosf12 bet apktiros. Foi um sinal, um recado bem claro,f12 bet apkque as coisas iam começar a mudar.

A UPP tem que sair, eles têm que ir embora do Alemão. Há iniciativas láf12 bet apksaúde, educação, cultura,f12 bet apkautogestão, criados por moradores, e eles atrapalham.

Se não tem dinheiro para as políticas sociais e nem para uma polícia bem treinada, a presença deles lá só está alimentando a guerra. São forças inimigas no mesmo território e inocentes morrendo no meio.

Thainã Medeiros nasceu e cresceu no Complexo do Alemão. Desde o finalf12 bet apk2013 integra o Coletivo Papo Reto Comunicação Independente, que tornou-se uma referênciaf12 bet apkcomunicação e monitoramento da violência policial e já levou seus integrantes à sede das Nações Unidas,f12 bet apkNova York, para debates e encontros sobre o tema.

Luiz Eduardo Soares, pesquisador, antropólogo e ex-secretário nacionalf12 bet apkSegurança Pública

Luiz Eduardo Soares

Crédito, Agência Brasil

Legenda da foto, "É claro que há situações e situações, masf12 bet apkforma geral é uma iniciativa fracassada", afirma sociólogo

A essa altura muitos já reconhecem, inclusive autoridades, que o projetof12 bet apkpacificação como concebido inicialmente fracassou. É claro que há situações e situações, masf12 bet apkforma geral é uma iniciativa fracassada. E isso ocorreu basicamente por duas razões: não houve reforma das polícias e não houve a entradaf12 bet apkpolíticas sociais junto com os policiaisf12 bet apkUPPs.

Não tem como você levar adiante um projetof12 bet apkpoliciamento comunitário com uma polícia violenta e corrupta. Era previsível que houvesse uma sérief12 bet apkabusos ef12 bet apkcorrupção levando a uma desmoralização que finalmente trariaf12 bet apkvolta o tráfico. A formação que era dada a esses policiaisf12 bet apkUPPs era muito breve, muito incipiente. A tradição e os hábitos da Polícia Militar nunca mudaram.

A ausênciaf12 bet apkpolíticas sociais enfraqueceu demais o projeto, assim como a expansão e a escolha dos locais que recebiam UPP não com base num diagnóstico da situação, mas sim as mais próximas da Zona Sul do Rio ef12 bet apklocais com movimentaçãof12 bet apkturistas visando a Copa do Mundo e as Olimpíadas, tentando mostrar à classe média e aos turistas que o problema estava resolvido.

Não vejo saídaf12 bet apkmeio à crise atual no Riof12 bet apkJaneiro. Eu acho que as UPPs vão falir uma a uma, indo ao fundo do poço e se corroendo. Os policiaisf12 bet apkUPPs trabalhamf12 bet apkcondições análogas à escravidão, segundo o Ministério Público do RJ, e realocar efetivo vai descobrir uma parte para cobrir outra, sem sucesso.

Diante disso é óbvio que o tráfico está se reorganizando, disputando quem vai ficar com que morro, com que território, nessa retomadaf12 bet apkpoder.

Luiz Eduardo Soares é mestref12 bet apkantropologia, doutorf12 bet apkciência política e pós-doutorf12 bet apkfilosofia política. Assumiu a Secretaria Nacionalf12 bet apkSegurança Públicaf12 bet apk2003 eera coordenadorf12 bet apksegurança, justiça e cidadania do Estado do RJ. É professor da UERJ e já foi pesquisador das universidadesf12 bet apkColumbia e Harvard.