Como vivem os negros no clube do 1% mais rico do país:bet mais 365 app
Neste grupo, que segundo projeções do IBGE reúnebet mais 365 app1,4 milhãobet mais 365 apppessoas adultas, há cada vez mais negros. Em 10 anos, a presença deles aumentoubet mais 365 app12,5%,bet mais 365 app2004, para 17,4%bet mais 365 app2014.
"Mas ainda é pouco. A riqueza no Brasil é majoritariamente branca", diz Marcelo Medeiros, economista e sociólogo do Ipea e uma das maiores autoridades do país sobre o tema renda e desigualdade, referindo-se ao fatobet mais 365 appque esses 17,4% ainda estão muito longebet mais 365 apprefletir os 53,6% da população brasileira negra, segundo o último censo.
Preconceito econômico e social
Sociólogo e professor da Universidadebet mais 365 appBrasília (UnB), Emerson Rocha desenvolveu um estudo com basebet mais 365 appdados do IBGE sobre o negro no mundo dos ricos. O que ele descobriu questiona a tesebet mais 365 appque o preconceito no Brasil é mais econômico do que racial.
Segundo Rocha, a percepção do racismo aumenta ao longo da distribuiçãobet mais 365 apprenda. "Quanto mais alto na escala social o negro subir, maior o peso do racismo, contrariando a ideiabet mais 365 appque, no Brasil, o negro que enriquece é socialmente aceito como 'branco'", afirma.
Sua explicação ébet mais 365 appque o negrobet mais 365 appposições subalternas tende a ser confrontado com menor frequência pelo racismo pelo fatobet mais 365 appestar no que poderia ser chamadobet mais 365 app"posição natural" - ao sair desse espaço, gera estranhamento, surpresa ou rejeição e está mais suscetível a manifestaçõesbet mais 365 apppreconceito.
"O que a gente observa é que, à medida que os negros ascendem, novas formasbet mais 365 appdiscriminação vão ganhando espaço. Mesmo com diplomas e carreiras bem-sucedidas, mais do que nunca, ele será um negro. E, para muitos, um corpo estranho e fora do lugar. As estruturas sociais ainda não estão preparadas para isso", avalia Rocha.
A educação é apontada como fundamental para que se diminua a desigualdade na parcela dos mais ricos. "É preciso que mais negros ingressem nas universidadesbet mais 365 appcursosbet mais 365 appelite como Medicina, Engenharia e Direito", exemplifica a socióloga Tatiana Silva.
Em um estudo sobre raça e educação que conduziu no Ipea, a pesquisadora mostra que a desigualdade no ensino superior continua muito alta, apesarbet mais 365 appum avanço nas últimas décadas. Em 2001, 13,3% das pessoas brancas e 3,5% das pessoas negras tinham 12 anos ou maisbet mais 365 appestudo. Jábet mais 365 app2012, última pesquisa feita sobre o tema, os números subiram para 22,2% e 9,5%, respectivamente.
"Mesmo evoluindo, os dados indicam que a desproporção continua. Com menos negros nas universidades, há menos delesbet mais 365 appposiçõesbet mais 365 appprestígio no mercadobet mais 365 apptrabalho e na sociedade", conclui a pesquisadora.
Autossegregação
Contudo, os estudiosos avaliam que, sozinha, a educação não amplia a presençabet mais 365 appnegros entre os mais ricos - o racismo continua sendo um forte empecilho.
"Por ser socialmente aceito como normabet mais 365 applugaresbet mais 365 apppoder, um profissional branco consegue 'vender' um títulobet mais 365 appmédico, advogado ou arquiteto no mercadobet mais 365 apptrabalho a preços mais altos que seu colega negro. E é geralmente por aí que a gente identifica a discriminação racial e a exclusão do negro nas esferasbet mais 365 apppoder", diz Rocha.
Ou seja: se um negro se formabet mais 365 appMedicina, terá, provavelmente, menos perspectivas nos ramos mais bem pagos da profissão.
Para Rocha, apesarbet mais 365 appavanços como a ampliação do acesso às universidades e no serviço público por ações afirmativas como cotas, ainda é preciso desnaturalizar a visãobet mais 365 appque o lugar do negro é na pobreza.
Pesquisas apontam que essa visão afeta a sociedade como um todo. Por um lado gera discriminação e, por outro, cria o fenômeno da autossegregação.
Um estudobet mais 365 app2006 do economista e demógrafo Eduardo Rios Neto, da Universidade Federalbet mais 365 appMinas Gerais (UFMG), mostra como, apesar da ascensão econômica, muitos negros, diferentementebet mais 365 appbrancos, acabam se restringindo a seus espaços originaisbet mais 365 appmoradia.
A pesquisa revela, por meiobet mais 365 appmapasbet mais 365 appsete grandes capitais brasileiras, que, apesarbet mais 365 appterem condiçõesbet mais 365 appmorarbet mais 365 appum distritobet mais 365 appclasse média alta, negros tendem a optar viverbet mais 365 appáreas onde o padrãobet mais 365 apprenda é inferior - se um branco enriquece, tende a se mudar para uma áreabet mais 365 appmaior status.
Essa separação é mais alta nas classesbet mais 365 apprenda mais elevada. "Pode-se inferir que a segregação racial entre brancos, pretos e pardos não pode ser atribuída apenas ao status socioeconômico. Fatores como autossegregação e racismo também têm que ser levadosbet mais 365 appconsideração", conclui o estudo, citado pelo Programabet mais 365 appDesenvolvimento Humano da ONU.
Excepcionalidade
Mônica, Júlio e Sabrina são exceções também neste aspecto. Vivembet mais 365 appáreas nobresbet mais 365 appsuas cidades, frequentam espaços consideradosbet mais 365 appelite e contarão para a BBC Brasil, nesta sériebet mais 365 appreportagens, como lidam com a situação excepcional na qual vivem.
Os três descreverão episódiosbet mais 365 appracismo que enfrentaram ao longo da vida, mas também suas soluções para lidar com o problema.
No casobet mais 365 appSabrina, que já nasceubet mais 365 appfamíliabet mais 365 appalta renda, a educação que recebeu dos pais foi fundamental.
"Meus pais me diziam: você é linda, seu cabelo,bet mais 365 appcor, nossa história. Nunca tenha vergonhabet mais 365 appsua raça e nem abaixe a cabeça para nada. Se você quiser ser médica, será. Se quiser ser atriz, também pode ser. Bailarina, miss, o que quiser. Eles diziam que eu era inteligente o bastante para isso", lembra.
Para ela, esse conselho lhe deu a certezabet mais 365 appque as dificuldades enfrentadas pelo negro na sociedade devem, sim, ser devidamente narradas, mas também as inúmeras histórias positivas que existem por aí.
"Incomodam muito esses discursosbet mais 365 appque só vivências opressivas são legítimas. Soam quase como uma reafirmação do racismobet mais 365 appque, nós negros, só podemos merecer algo mediante à imposiçãobet mais 365 appuma vivênciabet mais 365 appdor, humilhação, provações e opressões."
Rocha, da UnB, acrescenta ser necessária uma reflexão sobre o significadobet mais 365 apphistórias individuaisbet mais 365 appsuperação diante das barreiras impostas pela discriminação. Ele explica que, muitas vezes, essas histórias positivas são usadas para se negar a existênciabet mais 365 appobstáculos provocados, entre outras coisas, pelo preconceito. "Algo como: se ela conseguiu, todos podem conseguir, então não reclame", diz.
"Mas há outro olhar a ser lançado sobre essas histórias. Um olhar mais generoso e necessário. O olhar da inspiração e do aprendizado. Essas histórias mostram a todos que mulheres e homens negros têm plena capacidade para ocupar os mais diversos espaçosbet mais 365 appsociedade e que, portanto, o preconceito não tem cabimento", analisa.
"Esse é o sentido por trás da intençãobet mais 365 apptermos cada vez mais pessoas negrasbet mais 365 appposiçõesbet mais 365 appdestaque: construir um país onde sejam comuns os exemplos vivos que contrariam o preconceito. Visibilizar essas histórias é muito importante para mostrar a possibilidadebet mais 365 appsuperação, tanto do pontobet mais 365 appvista individual quanto coletivo."