Lea T, a transexual que vai fazer história na abertura da Olimpíada:esporte betano
"Eu, como qualquer outra transexual, levanto uma bandeira. Falo da transexualidade porque faz parte da minha história, mas sou apenas mais uma integrante desta comunidade, sou mais uma. Sei que sou privilegiada por ter a mídia que me ouve, mas cada transexual emesporte betanoluta cotidiana tem igual importância para os LGBTs", diz.
Toninho Cerezo e transformação na moda
Filha do ex-jogador da seleção brasileira Toninho Cerezo, que foi jogador da seleção brasileira entre 1977 e 1985, onde jogou ao ladoesporte betanoZico e Sócrates, Leandra Medeiros Cerezo nasceuesporte betanoBelo Horizonteesporte betano1981, mas cresceu na Itália.
Aos 29 anos, estreou no mundo da modaesporte betanouma campanha da grifeesporte betanoalta costura francesa Givenchy, quando passou a adotar o nome Lea T, e pouco depois passou a estrelar campanhasesporte betanomarcasesporte betanodestaque, como a Benetton, aparecendoesporte betanoeditoriaisesporte betanorevistas como Vanity Fair e Vogue. Já foi capa da revista americana Newsweek, com o título "a moda transformada", eesporte betano2011 apareceu na capa da revista britânica Love beijando a top model britânica Kate Moss.
A modelo foi uma das poucas personalidades brasileiras a serem entrevistadas pela apresentadora Oprah Winfrey, dos Estados Unidos, eesporte betano2015 foi eleita pela revista americana Forbes como uma das 12 mulheres que mudaram a moda italiana.
Diante do papelesporte betanopioneirismo como top model transexual e da notoriedade internacional que alcançou desde 2010, aos 35 anos a mineira diz que se sente felizesporte betanoajudar a mostrar a diversidade brasileira ao mundo.
"Neste momentoesporte betanoque o Rioesporte betanoJaneiro e o Brasil serão apresentados ao mundo, é imprescindível que a diversidade esteja presente. O Brasil é muito vasto, e toda essa diversidade precisa,esporte betanoalguma forma, ser representadaesporte betanoum evento como esse. Foi justamente isso que me motivou a aceitar o convite para participar da cerimôniaesporte betanoabertura", explica.
Atualmente a brasileira viveesporte betanoGênova, na Itália, mas também tem bases nos Estados Unidos e no Brasil, e desde 2014 é "o rosto" da marca internacionalesporte betanocosméticos Redken, do Grupo L'Oréal. A mineira foi a primeira modelo transexual a assinar um contrato deste porte com uma empresaesporte betanoprodutosesporte betanobelezaesporte betanotodo mundo.
Preconceito e aproximação
Na comunidade LGBT, entre gays, lésbicas e bissexuais, os transexuais são vistos por especialistas como os que mais sofrem preconceito na sociedade (inclusive dentro da própria comunidade LGBT).
Dados da ONG Transgender Europe (TGEU) compilados entre janeiroesporte betano2008 e marçoesporte betano2014 indicam que o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, com 604 mortes registradas no período.
De acordo com o Grupo Gay da Bahia, que há anos compila os índicesesporte betanoassassinatosesporte betanoLGBTs, somenteesporte betano2015 foram 318 mortos, sendo 52% gays, 37% travestis, 16% lésbicas e 10% bissexuais. Em 2014 foram 326 assassinatos. O levantamento é feitoesporte betano187 cidades brasileiras.
"A faltaesporte betanoconhecimento provoca o medo, e o medo leva ao ódio. O primeiro passo é compreender e se aproximar dessa realidade, se aproximar do outro. As pessoas precisam começar a perder o medoesporte betanoaproximação desses grupos e entender que eles podem ter uma vida próxima às suas, seja no banco da escola,esporte betanocargosesporte betanoliderança, ouesporte betanoqualquer profissão", diz Lea T.
Questionada sobre a prostituição entre os transexuais e os riscosesporte betanomaior exposição à violência e abusos, a modelo diz não ser contra a atividade. "Não sou contra a prostituição. Cada um pode fazer o que bem entende com seu corpo. A questão é que essa é a única formaesporte betanosobrevivência que se apresenta,esporte betanomuitos casos, para as transexuais não apenas no Brasil, masesporte betanotodo o mundo", explica.
Transexuais nas Olimpíadas
Desde 2003, a Comissão Médica do Comitê Olímpico Internacional (COI) passou a se pronunciar a favoresporte betanoque atletas que tivessem passado por cirurgiasesporte betanomudançaesporte betanosexo pudessem competir sob o novo gênero nos Jogos.
Apesaresporte betanonão estabelecer uma regra obrigatória, o COI emitiu recomendações a todas as federações esportivas internacionais para que deixassemesporte betanoimpedir transexuais operadosesporte betanocompetir sob seus novos gêneros.
Em nota enviada à BBC Brasil, o COI esclareceu queesporte betano2015 foi reunida uma nova comissão médica e científica para revisar tais orientações. Como resultado, o Comitê Olímpico Internacional passou a recomendar que atletas transexuais possam participar dos Jogos sob seu novo gênero mesmo que não tenham passado pela cirurgiaesporte betanomudançaesporte betanosexo.
Os Jogosesporte betano2016 são a primeira edição das Olimpíadasesporte betanoque a nova recomendação estáesporte betanovigor.
"É necessário garantir que, ao máximo possível, os atletas transexuais não sejam excluídos da oportunidadeesporte betanoparticiparesporte betanocompetições esportivas. Requerer mudanças anatômicas cirúrgicas como uma pré-condição para a participação não é necessário para preservar a competição justa e pode ser inconsistente com as noções e legislaçõesesporte betanodireitos humanosesporte betanodesenvolvimento", diz o documento enviado à BBC Brasil assinado pela comissão médica do COIesporte betanonovembroesporte betano2015.
Embora não tenha valoresporte betanoregra obrigatória, o documento serve como recomendação e referência para todas as federações esportivas internacionais.
Há um detalhe, no entanto, nas recomendações quanto às duas mudançasesporte betanosexo. Apesaresporte betanodescartar a necessidadeesporte betanocirurgia anatômicaesporte betanoqualquer hipótese, o COI chama a atenção para os níveisesporte betanotestosterona no sangue das atletas transexuais femininas, ou seja, aquelas que mudaram do sexo masculino para o feminino.
Duas condições precisam ser observadas para que a atleta possa competir nas categorias femininas. A primeira, que ela se identifique como do gênero feminino, cienteesporte betanoque a preferência indicada ao COI não poderá ser alterada por no mínimo quatro anos, e a segunda, que seu nívelesporte betanotestosterona no sangue seja inferior a 10 nmol/l por no mínimo 12 meses antes da competição, a fimesporte betanoevitar quaisquer vantagens sobre as outras atletas.
Aqueles que mudam do sexo feminino para o masculino podem competir nas categorias masculinas sem restrição alguma.
Para Lea T, a nova recomendação do COI é uma boa notícia. "É sem dúvida nenhuma um avanço, mas infelizmente parece que não há atletas transgêneros que tenham se classificado para os Jogos deste ano. Apesar disso, já é uma esperança para a comunidade e uma formaesporte betanoinclusão", avalia.
A BBC Brasil entrouesporte betanocontato com a sede do COIesporte betanoLausanne, na Suíça, para confirmar se haverá atletas transexuais na Olimpíada, masesporte betanonota o comitê respondeu queesporte betanorespeito à privacidade dos atletas não divulga este tipoesporte betanoinformação.