Rio 2016 escancara crise do modelo dos Jogos Olímpicos ‘como nunca antes’, diz pesquisador dos EUA:bonus 365 bet

Militaresbonus 365 betfrente à placa Cidade Olímpica

Crédito, AFP

Legenda da foto, Para especialista, cada vez menos cidades se interessambonus 365 betsediar Jogos

Em seu livro recém-lançado, Power Games: A Political History of the Olympics ("Jogosbonus 365 betPoder: Uma História Política das Olimpíadas") ainda sem título oficialbonus 365 betportuguês, Boykoff descreve o que vê como uma crise estrutural no modelo dos Jogos, da escolha da cidade-sede ao descompasso orçamentário e às promessasbonus 365 betlegado não cumpridas.

Para o especialista, o COI (Comitê Olímpico Internacional), é parte do problema, por encorajar projeçõesbonus 365 betcusto irreais no momento da candidatura das cidades-sede e por guardar seu próprio orçamento a sete chaves. Ele acredita que o Rio avançou muito pouco após dez anos sediando megaeventos.

Em entrevista à BBC Brasil, Boykoff, que jogou no time olímpicobonus 365 betfutebol dos Estados Unidos nos anos 1990, diz que há cada vez menos cidades interessadasbonus 365 betsediar as Olimpíadas e que a tendência é que o COI encontre cada vez mais dificuldadesbonus 365 betachar candidatos.

Veja os principais trechos da entrevista:

Vista do Rio

Crédito, PA

Legenda da foto, Estudioso diz que 'verniz das relações públicas' caiu no Rio

bonus 365 bet BBC Brasil - A Rio 2016 enfrentou problemas como promessas não cumpridas na área ambiental, remoçõesbonus 365 betcomunidades para dar lugar a obras, alémbonus 365 betprojetos que ficaram mais caros e atrasosbonus 365 betáreas importantes, como a expansão do metrô linha 4. São problemas que vêm se tornando rotina paras as cidades-sede ou tratam-sebonus 365 betquestões específicas do Rio?

bonus 365 bet Jules Boykoff - A Olimpíada do Rio segue um padrãobonus 365 betproblemas que estamos vendobonus 365 betdiversas cidades-sede nos últimos anos, e estes incluem os privilégios para os mais ricos, remoçõesbonus 365 betmuitas pessoas do seu localbonus 365 betmoradia e militarização do espaço público. Eu diria que no Rio você vê essas tendências aumentadas, e com clareza muito maior. No Rio o verniz das relações públicas dos Jogos se desfezbonus 365 betforma inédita na história das Olimpíadas, como nunca antes.

A Vila dos Atletas é um bom exemplo disto. Em Olimpíadas anteriores, os organizadores escolheram esta área para se obter um valor social positivo após os Jogos, com a transformaçãobonus 365 betmoradias sociais. No Rio, jamais houve a mínima ilusãobonus 365 betque isto aconteceria.

Desde o início o plano foi converter os apartamentosbonus 365 betcondomíniosbonus 365 betluxo. O contextobonus 365 bettorno das Olimpíadas mudoubonus 365 betforma muito drástica. Elas estão agora numa crise que vai além dos Jogos do Rio 2016. A Olimpíada como megaevento está lentamente entrandobonus 365 betcrise, e você vê elementos desta crise se apresentando com força maior no Rio.

Vila dos Atletas

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Legenda da foto, Vila dos Atletas será transformadabonus 365 betcondomíniobonus 365 betluxo

bonus 365 bet BBC Brasil - Quais são os principais aspectos desta crise estrutural que o senhor identifica para a forma como as Olimpíadas vêm sendo projetadas e geridas?

bonus 365 bet Boykoff - Um grande indicativo é que cada vez menos cidades estão interessadasbonus 365 betsediar as Olimpíadas. Olhe para o processobonus 365 betseleção para os Jogosbonus 365 betInvernobonus 365 bet2022. Você vê que no final sobraram apenas dois locais: Almaty, no Cazaquistão, e Pequim, na China. Nenhuma das duas conhecidas como bastiões da democracia. E Pequim ganhou.

Se você olhar para trás, verá que todas as vezes que os cidadãos tiveram a oportunidadebonus 365 betdarbonus 365 betopinião, num processo democrático, eles disseram não a sediar os Jogos. Isso aconteceubonus 365 betCracóvia, na Polônia,bonus 365 betEstocolmo, na Suécia, ebonus 365 betdois cantões da Suíça.

Em Oslo, deputados noruegueses também rejeitaram sediar a Olimpíada. O que se percebe é que, cada vez mais, se o processobonus 365 betdecisão é aberto à população ou a Casas parlamentares, numa consulta democrática, a resposta é não a sediar a Olimpíada.

bonus 365 bet BBC Brasil - A Olimpíada é vista por especialistas como o evento que mais extrapola o orçamentobonus 365 betcomparação com qualquer outro grande evento. Sempre foi assim, ou é uma tendência recente?

bonus 365 bet Boykoff - Ao menos desde 1960 todas as Olimpíadas ultrapassaram o orçamento. Em parte, isso se deve ao fatobonus 365 betque as Olimpíadas se tornaram tão grandes. É o que alguns especialistas que estudam os Jogos chamambonus 365 bet"gigantismo". E por causa disso os Jogos continuam crescendo mais e mais, acrescentando novos esportes, e conforme se tornam um alvobonus 365 betpotencial para grupos terroristas, o orçamentobonus 365 betsegurança também aumenta.

As cidades são estruturalmente encorajadas a reduzirem o valorbonus 365 bettudo nos seus dossiêsbonus 365 betcandidatura. Oferecer estimativas menores do que os Jogos vão custar é crucial porque as cidades precisambonus 365 betapoio da opinião pública durante o processobonus 365 betcandidatura.

Velodromo do Rio

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Legenda da foto, Especialistas criticam gigantismo dos Jogos

bonus 365 bet BBC Brasil - Atualmente é praticamente impossível uma cidade-sede conseguir manter o orçamento previsto no processobonus 365 betcandidatura. Como o COI poderia ajudar a evitar este descompasso orçamentário?

bonus 365 bet Bookoff - Eu acho que o COI realmente é parte do problema porque tem demonstrado uma grande facilidade espontâneabonus 365 betser enganado. Eles acreditambonus 365 betqualquer coisa que qualquer candidato diga. Trata-sebonus 365 betum pensamento mágico por parte do COI, já que eles não fazem perguntas duras para as cidades candidatas.

O COI precisa ser muito mais transparente sobre o processobonus 365 betvotação das cidades-sede. Há a montagembonus 365 betcomitês e são produzidos relatórios técnicos sobre cada cidade, mas no final das contas as pessoas que votam podem ignorar toda essa documentação técnica e decidir porque têm uma relação com o presidente do país ou porque gostam do prefeito da cidade-sede.

bonus 365 bet BBC Brasil - Houve avanços no combate à corrupção no processobonus 365 betseleção das cidades-sede? O COI diz que não pode divulgar informações sobre orçamento e gastos devido a contratos com parceiros comerciais e patrocinadores. Por que há tanta faltabonus 365 bettransparência sobre as finanças do COI?

Barco a velabonus 365 betSydney

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Legenda da foto, Candidaturabonus 365 betSydney e outras cidade teve muita corrupção, diz especialista

bonus 365 bet Boykoff - É muito difícil saber por ser um processo tão cinzento e cheiobonus 365 betsegredos. Houve muita corrupçãobonus 365 bettorno das candidaturasbonus 365 betSydney, na Austrália, ebonus 365 betNagano, no Japão. Eles destruíram todos os documentosbonus 365 betNagano, então nem sabemos o que aconteceu. A corrupção saiu do controle na candidaturabonus 365 betSalt Lake City, nos EUA, para os Jogosbonus 365 betInvernobonus 365 bet2002, eles foram pegos, e o escândalo levou a algumas reformas no COI.

Hojebonus 365 betdia, os membros do COI não podem fazer visitas especiais às cidades-sede antes da votação, que era justamente quando muito da corrupção ocorria. A corrupção parece estar menos disseminada atualmente na relação do COI com os processosbonus 365 betcandidatura. Eu aplaudo o COI por recentemente ter começado a ser um pouco mais transparente com relação aos seus gastos. Eles revelaram alguns dos benefícios do presidente da entidade, Thomas Bach, ebonus 365 betquanto são as diáriasbonus 365 betalguns dos diretores do comitê quando estãobonus 365 betviagem.

Se você é um membro executivo do COI e vem ao Rio para reuniões, alémbonus 365 betficar no Hotel Copacabana Palace, você pode receber uma diáriabonus 365 betUS$ 900 para seus gastos pessoais. Se você é um membro normal, a diária ébonus 365 betUS$ 400. Compare isso ao rendimento médiobonus 365 betum morador da Rocinha,bonus 365 betUS$ 240 por mês.

Só por estar dentro da lei não significa que é ético, e só por estar sendo revelado não significa que não é chocante. O COI precisa ser mais responsável com o legado e os impactos dos Jogos para as cidades-sede. Muitas vezes, o COI diz que não pode divulgar informações sobre orçamento devido a contratos com seus patrocinadores. Trata-se na verdadebonus 365 betum escudo atrás do qual o comitê se esconde para justificar que por isso não pode compartilhar informações financeiras.

bonus 365 bet BBC Brasil - Quando é que os Jogos começaram a perder seu apelo para as cidades?

bonus 365 bet Boykoff - Eu acho que 1976 foi o ano mais decisivo para a história política do COI, primeiro por contabonus 365 betMontreal, quando o prefeito disse que os Jogos custariam US$ 125 milhões, e disse que seria mais fácil um homem ter um bebê do que a Olimpíada entrarbonus 365 betdeficit orçamentário. Ela acabou custando US$ 1,5 bilhão e levou 30 anos para que a dívida deixada pelos Jogos fosse paga pelos contribuintes.

No mesmo ano, no processobonus 365 betcandidatura dos Jogosbonus 365 betInverno, os cidadãosbonus 365 betDenver, nos EUA, se posicionaram, fizeram protestos e conseguiram exigir um plebiscito no qual votaram contra sediar os Jogos, dizendo que isto acabaria com o meio ambiente e traria dívidas, e o COI teve que mudar a sede para Innsbruck, na Áustria.

Pirabonus 365 betMontreal

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Legenda da foto, Dívida dos Jogosbonus 365 betMontreal demoraram 30 anos para serem pagas

bonus 365 bet BBC Brasil - O senhor ressalta vários pontos negativos e problemasbonus 365 betsediar as Olimpíadas, mas quais são os benefícios que uma cidade pode obter ao sediar os Jogos?

bonus 365 bet Boykoff - Olhando para as Olimpíadas recentes eu diria que um dos maiores ganhos para uma cidade que sedia os Jogos pode ser o avanço na redebonus 365 bettransporte público. Veja o casobonus 365 betAtenas,bonus 365 bet2004. A maior parte das pessoas viu os Jogosbonus 365 betAtenas como um desastre total. É fato que eles mal terminaram as obras antes dos Jogos, mas melhoraram o sistemabonus 365 betmetrô, e isso é algo que todos os cidadãosbonus 365 betAtenas podem usufruir todos os dias.

Se a linha 4 for concluída, no caso do Rio este seria um grande ganho para o transporte público. Jábonus 365 betquesitos ambientais ebonus 365 betsustentabilidade o COI precisa melhorar. Se as promessas ambientais tivessem sido cumpridas no Rio este seria um grande ganho para os cariocas.

Trabalhador na obra do metrô na Barra

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Legenda da foto, Se concluída, linha 4 do metrô pode ser legado para cidade

bonus 365 bet BBC Brasil - O Rio acababonus 365 betsairbonus 365 betum ciclobonus 365 betdez anos como sedebonus 365 betgrandes eventos. Houve os Jogos Panamericanos, Jornada Mundial da Juventude, Rio+20, Jogos Mundiais Militares, Copa das Confederações, Copa do Mundo e agora Olimpíada. Se houvesse tantos avanços com a realização desses megaeventos, a cidade não deveria ser, a esta altura, muito melhor e com problemas muito mais resolvidos,bonus 365 betsetores como transporte público e saneamento básico?

bonus 365 bet Boykoff - Sim, poderíamos esperar que após dez anosbonus 365 betmegaventos o Rio estaria num outro patamarbonus 365 bettransporte público, com melhor saneamento básico, tratamentobonus 365 betesgoto e questõesbonus 365 betsustentabilidade resolvidas. Haveria maior avanço se muitas das promessas feitas para cada um desses eventos tivessem sido cumpridas.

Mas, dez anos depois, aqui estamos nos perguntando como foi possível gastar todos esses bilhõesbonus 365 betdólares e como muito desse dinheiro público acabou servindo para proporcionar vantagens aos segmentos mais ricos da população carioca, as elites econômica e políticas. É doloroso refletir sobre todo esse dinheiro usadobonus 365 betmegaeventos no Rio e o pouco que se conseguiubonus 365 betbeneficio para os cariocas.

Barcos na Baiabonus 365 betGuanabara

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Legenda da foto, Megaeventos não resolveram problemas da cidade

bonus 365 bet BBC Brasil - O senhor diria que os países que optam por pagar pelas arenas e instalações olímpicas,bonus 365 betvezbonus 365 betcriar parcerias com a iniciativa privada, e depois usufruem 100% dos locais e podem dar finalidades coletivas a eles, acertam mais do que o modelo escolhido no Rio, ondebonus 365 bettroca dos recursos para construção das arenas, grandes empreiteiras receberam o direitobonus 365 betexplorar as regiões com empreendimentosbonus 365 betluxo, como na Vila dos Atletas, Campobonus 365 betGolfe e parte do Parque Olímpico?

bonus 365 bet Boykoff - Eu acho que este seria um passo potencialmente muito positivo a ser tomado. Em geral a cidade-sede paga por essas construções, mas há um risco envolvido. O ideal seria o Estado pagar e depois poder usufruir 100% das instalações no planobonus 365 betlegado.

Caso o Rio tivesse usado liçõesbonus 365 betOlimpíadas anteriores nos aspectos onde houve avanços, poderia ter chegado a um plano muito bom. Usando, por exemplo, o sistemabonus 365 bettransporte públicobonus 365 betAtenas, e o estádiobonus 365 betnataçãobonus 365 betLondres. De forma geral, nenhuma Olimpíada recente serviu muito para o bem coletivo, e essa é uma das maiores enganações.

bonus 365 bet BBC Brasil - Seis meses após os Jogos, corre-se o riscobonus 365 betque o Estado e a Prefeitura do Rio revelem que tenham contraído dívidas muito maiores do que o imaginado por conta da Olimpíada?

bonus 365 bet Boykoff - Fazer predições é algo muito difícil, sobretudo num ambiente tão volátil e com tantas mudanças como a política e a economia do Estado e da cidade do Rio, onde há tantas turbulências constantes. Mas eu diria que o futuro ainda estábonus 365 betaberto no Rio, e há muito espaço para mudanças. Há diversas cartas sobre a mesa, e oportunidadebonus 365 betagitar e transformar. Resta saber se esta oportunidade será tomada.