O que é a 'Operação Toc, Toc' das forçasapostas mundial 2024segurança venezuelanas para prenderapostas mundial 2024massa manifestantes e opositores?:apostas mundial 2024

"É uma operação não formal que representa uma escalada na repressão na Venezuela", define Gonzalo Himiob, da ONG Foro Penal, que defende os direitos das pessoas detidas arbitrariamente.

A Venezuela vive um novo conflito político após as eleições presidenciais. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), composto por uma maioria próxima do partido no poder, proclamou Maduro vencedor com 51,2% dos votos, à frente do seu principal adversário, Edmundo González.

Mas o CNE ainda não apresentou as atas que respaldam estes resultados. O órgão justifica o atraso citando um suposto ataqueapostas mundial 2024hackers ao sistema da instituição.

Já a oposição, liderada por González e María Corina Machado, anunciou que suas testemunhas conseguiram coletar 81,7% das atas eleitorais. Os dados, publicadosapostas mundial 2024um site, mostram que González venceu as eleições presidenciais com 67% dos votos.

A vitória da oposição significaria a derrota do chavismo, que está no poder há 25 anos, sendo representado por Maduro desde 2013.

Vários países, liderados pelos Estados Unidos, consideram González o vencedor do pleitoapostas mundial 2024acordo com as evidências, enquanto outros, incluindo Brasil, México e Colômbia, exigem transparência e que o CNE publique as atas.

Maduro levou agora a questão eleitoral para o Supremo Tribunalapostas mundial 2024Justiça (TSJ, na siglaapostas mundial 2024espanhol), que é próximo à ala governista. A oposição não reconhece o tribunal como um órgão independente para deliberar sobre qualquer disputa sobre os resultados das eleições.

Como consequência da disputa,apostas mundial 202429apostas mundial 2024julho, um dia após as eleições, houve protestosapostas mundial 2024bairros populares contra os resultados oficiais que deram a vitória a Maduro.

E, ao mesmo tempo, começaram as detençõesapostas mundial 2024massa que familiares dos presos e organizações locais e internacionais descrevem como arbitrárias.

Instalou-se assim um climaapostas mundial 2024medo raramente visto antes na Venezuela. Isso tem levado as pessoas a não postar nas redes sociais, a apagar seus bate-papos, a não andar com o celular, a não sairapostas mundial 2024casa e a se refugiar na casaapostas mundial 2024outras pessoas.

Além disso, como aconteceapostas mundial 2024grande parte desta reportagem, muitos só falam com a imprensa sob condiçãoapostas mundial 2024anonimato.

Da televisão à instituição

Em 2017, o deputado Diosdado Cabello, um dos principais porta-vozes do partidoapostas mundial 2024Maduro, falou pela primeira vezapostas mundial 2024seu programa semanalapostas mundial 2024televisão sobre a "Operação Toc, Toc" para se referir às detençõesapostas mundial 2024"terroristas".

Foi no âmbito dos protestos daquele ano, que começaram após duas decisões polêmicas nas quais o Supremo Tribunalapostas mundial 2024Justiça assumiu temporariamente todos os poderes correspondentes à Assembleia Nacional, que era controlada na época pela oposição.

Na ocasião, a operação não foi reconhecida formalmente. Agora é mais institucionalizada — foi citada, inclusive, pelo próprio Maduro.

Mas seapostas mundial 20242017,apostas mundial 2024abril a julho, 5.051 pessoas foram presas, agora,apostas mundial 2024apenas uma semana, o Foro Penal contabiliza 1.010 prisões.

"Este é um ciclo repressivo sem precedentes, nunca visto antes. Houve picosapostas mundial 2024repressão nos protestosapostas mundial 20242014, 2017 e 2019. Mas nunca havia acontecido nada parecido, a repressão nunca tinha sido vista com tanta intensidade como vemos agora", diz Gonzalo Himiob à BBC News Mundo, serviçoapostas mundial 2024notíciasapostas mundial 2024espanhol da BBC.

Maduro se vangloriou da prisãoapostas mundial 2024maisapostas mundial 20242 mil pessoasapostas mundial 2024protestos que ele atribui a uma tentativaapostas mundial 2024"golpeapostas mundial 2024Estado" pela "direita fascista", e anunciou a criaçãoapostas mundial 2024duas prisõesapostas mundial 2024segurança máxima.

Uma das principais forçasapostas mundial 2024segurança encarregadas das prisões é o Corpoapostas mundial 2024Investigações Científicas Penais e Criminalísticas (CICPC).

"A Operação Toc, Toc acabaapostas mundial 2024começar. Denuncie se você foi alvoapostas mundial 2024uma campanhaapostas mundial 2024ódio física ou virtual por meio das redes sociais", escreveu no sábado (3/8) Douglas Rico, diretor do CICPC, emapostas mundial 2024conta no Instagram.

"Estamos vendo um recrudescimento na formaapostas mundial 2024reprimir e atacar a população", observa Valentina Ballesta, vice-diretoraapostas mundial 2024pesquisa para as Américas da Anistia Internacional.

O padrão das detenções também mudou.

Um padrãoapostas mundial 2024termosapostas mundial 2024idade e origem

"O tipoapostas mundial 2024detenção, o local, agora é variado. (Foram presas) desde pessoas que estavam protestando até outras que estavam indo trabalhar, na rua,apostas mundial 2024qualquer circunstância e indiscriminadamente", denuncia Himiob.

E tanto Ballesta quanto Himiob ressaltam que,apostas mundial 2024outras ocasiões, a tendência era prender pessoasapostas mundial 2024zonas residenciais (com um poder aquisitivo um pouco mais alto). Agora, segundo eles, são detidas principalmente pessoas mais pobresapostas mundial 2024bairros populares.

"É lá que as mobilizações estão acontecendo. É ali que eles tentam desmobilizá-las ao máximo. É onde estão sendo realizadas as operações toc, toc", explica Ballesta.

Um jornalista local, que falou com a BBC sob condiçãoapostas mundial 2024anonimato, contou sobre o clima que isso geraapostas mundial 2024um bairro popularapostas mundial 2024Caracas.

"As pessoas acham que qualquer um que ande na rua pode ser preso do nada. Muitos foram presos porque foram vistosapostas mundial 2024um vídeo protestando, pessoas que saíram para comprar pão, passou uma moto da polícia, e elas foram levadas."

Há também uma tendênciaapostas mundial 2024prender pessoas mais jovens. A médiaapostas mundial 2024idade dos detidos éapostas mundial 202421 a 23 anos, e dos maisapostas mundial 2024mil presos, 91 são adolescentes,apostas mundial 2024acordo com o Foro Penal.

As denúncias

Há um outro lado da "Operação Toc, Toc", o das denúncias, como o apelo feito por Douglas Rico, diretor do CICPC, para denunciar caso tenha sido "alvoapostas mundial 2024uma campanhaapostas mundial 2024ódio física ou virtual".

O problema é que, como me disse um especialista jurídico que também deseja permanecer anônimo, "a questão legal agora se tornou subversiva".

A legislação sobre ódioapostas mundial 2024vigor atualmente na Venezuela é muito aberta — "e não há limites para o conceitoapostas mundial 2024ódio, nem para o que é fascista e o que não é. Tudo se encaixa nesse conceito", ressalta.

Qualquer pessoa, sob esse guarda-chuva, pode denunciar outra. Um vizinho, a caixa do supermercado, o líder daapostas mundial 2024comunidade. E embora não haja registroapostas mundial 2024quantas denúncias foram feitas dessa forma, nemapostas mundial 2024quantas prisões representaram, isso é capazapostas mundial 2024semear a desconfiança e o medo entre a população.

Além disso, quase tudo no seu celular pode se tornar matéria-prima para uma apreensão ou detenção.

"Atualmente, as autoridades estão enfatizando que possuem — e estão usando — ferramentas para gerar terror e medo na população", explica Ballesta.

Por exemplo, a Direção Geralapostas mundial 2024Contrainteligência Militar (DGCIM) publicou um vídeoapostas mundial 2024suas redes sociais que começa com a frase "Para onde quer que eu vá, Chuky vai me encontrar", do filme Brinquedo Assassino, e continua com uma versão bastante assustadora da música Ring Christmas Bells, cuja letra pode ser traduzida como: "Se você tiver feito algo errado, ele vai saber.... Ele vai te procurar, esconda-se bem. Seu nome está na lista dele", enquanto agentes da DGCIM aparecem prendendo pessoas.

O vídeo não está mais disponível.

Isto tem uma contrapartida: "Se (as autoridades) dizem que têm uma listaapostas mundial 2024pessoas, que vão àapostas mundial 2024casa… É uma confissãoapostas mundial 2024detenções arbitrárias,apostas mundial 2024privação ilegítimaapostas mundial 2024liberdade. São possíveis crimes contra a humanidade", acrescenta Ballesta.

O governo Maduro enfrenta atualmente uma investigação do Tribunal Penal Internacional por possíveis crimes contra a humanidade, incluindo detenções arbitrárias, execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados e tortura. O governo nega as acusações.

Arbitrariedades

O Foro Penal explica que há muitas irregularidades na "Operação Toc,Toc".

Uma delas éapostas mundial 2024relação às próprias detenções, que não obedecem a regraapostas mundial 2024que devem ser efetuadas com uma ordem judicial ouapostas mundial 2024flagrante.

"Também prendem uma pessoa e não dizem onde ela está, estão negando a ela o direitoapostas mundial 2024escolher um advogadoapostas mundial 2024confiança, e ela é obrigada a aceitar um defensor público. As audiênciasapostas mundial 2024apresentação deveriam ser feitasapostas mundial 2024tribunais, e estão sendo realizadasapostas mundial 2024centrosapostas mundial 2024detenção sem permitir o acessoapostas mundial 2024ninguém alémapostas mundial 2024um defensor público. Essa é uma violação muito grave do direitoapostas mundial 2024defesa", diz Gonzalo Himiob.

Além disso,apostas mundial 2024geral, há uma "espécieapostas mundial 2024pré-qualificação legal do crime, e todos os detentos são chamadosapostas mundial 2024terroristas sem sequer terem realizado investigações, o que é uma grande irregularidade e uma banalização muito grave do termo terrorismo".

Maduro se refere frequentemente aos manifestantes como "terroristas", "delinquentes" e membrosapostas mundial 2024"gangues da nova geração".

"Todos os guarimberos (manifestantes) vão para Tocorón e Tocuyito, presídiosapostas mundial 2024segurança máxima", disse Maduroapostas mundial 2024referência a essas prisões que, durante anos, estiveram sob o controleapostas mundial 2024gangues criminosas, como o Tremapostas mundial 2024Aragua.

A BBC News Mundo tentou entrarapostas mundial 2024contato com o Ministério Público para obterapostas mundial 2024versão sobre o tema, mas não obteve resposta.

'Apaga isso'

Na Europa, Juan (nome fictício) me conta queapostas mundial 2024mãe, que moraapostas mundial 2024El Cementerio, um bairro popularapostas mundial 2024Caracas, viu como a polícia anda pedindo e verificando os telefones das pessoas.

"Ela ficou com medoapostas mundial 2024revistarem o celular dela, e agora sai na rua sem ele, e apaga a conversa toda vez que falamos sobre a situação do país", diz ele.

Esse é um tema recorrenteapostas mundial 2024qualquer bate-papo online com venezuelanos no país.

"Não diga isso". "Não publique essas coisas, você está colocando todos nósapostas mundial 2024perigo". "Apague isso imediatamente para nossa segurança". "Apaga, apaga, apaga". Mensagens como estas são enviadas por contaapostas mundial 2024coisas que, a priori eapostas mundial 2024fora, poderiam parecer absolutamente inofensivas, como piadas ou opiniões políticas.

Tamanho é o medo que o anonimato se instalou não sóapostas mundial 2024vários depoimentos deste artigo, como também na horaapostas mundial 2024assinar as reportagens publicadas pela imprensa do país, que agora aparecem, na grande maioria dos casos, com o nome genérico da equipe.

Ou mesmo acontece na área cultural. A Revista Casapaís (Uruguai) publicouapostas mundial 2024suas redes sociais que "devido à repressão da ditaduraapostas mundial 2024Maduro", publicaram as obrasapostas mundial 2024autores venezuelanos sob um pseudônimo: "Revelar seus nomes é uma sentençaapostas mundial 2024prisão e morte".

O outro perfil da 'Operação Toc, Toc'

Além das detençõesapostas mundial 2024massa denunciadasapostas mundial 2024bairros populares, há outro perfilapostas mundial 2024prisões, aapostas mundial 2024ativistas políticos, militantes da oposição eapostas mundial 2024pessoas que participaram do processoapostas mundial 2024coleta das atasapostas mundial 2024contagemapostas mundial 2024votos no dia das eleições.

Há poucos dias, prenderam o ex-deputado da oposição Freddy Superlano e doisapostas mundial 2024seus colaboradores. Num vídeo compartilhado pelo partido da oposição Vente Venezuela,apostas mundial 2024María Corina Machado, é possível ver pessoas sem identificação e encapuzadas levando eles embora, quando estavam prestes a entrarapostas mundial 2024uma casa.

A esposaapostas mundial 2024Superlano, Aurora Silva, denunciou na terça-feira (6/8) que ainda não conseguiu ver o marido.

Um caso particular é o da agora ex-procuradora Maglen Marín Rodríguez, detida e presa "pelo crimeapostas mundial 2024atraso ou omissão intencionalapostas mundial 2024funções" por não "processar quatro indivíduos" que participaramapostas mundial 2024manifestações, segundo escreveu Tarek William Saab, procurador-geral do Estado, naapostas mundial 2024conta no X (antigo Twitter).

Outro perfilapostas mundial 2024detidos é oapostas mundial 2024ativistas e defensores dos direitos humanos. Por exemplo, Edni López, também professora, está detida desde domingo. Ela estava no aeroportoapostas mundial 2024Maiquetía, próximo a Caracas, quando foi informada que seu passaporte havia sido cancelado e que ela estava detida.

O cancelamentoapostas mundial 2024passaportes parece ser uma outra face da "Operação Toc, Toc".

"É uma prática documentada há anos, mas agora vemos issoapostas mundial 2024forma sistemática", explica Valentina Ballesta.

Sob condiçãoapostas mundial 2024estrito anonimato, Patrícia (nome fictício), uma ativista, falou com a BBC.

"É um peso emocional enorme. Você ativa protocolosapostas mundial 2024segurança que não esperava que fosse aplicar, eu apago bate-papos, não saioapostas mundial 2024onde estou, se saio é com milharesapostas mundial 2024precauções, sem telefone... E agora percebi que meu passaporte foi cancelado."

A BBC News Mundo soubeapostas mundial 2024pelo menos 15 pessoas que tiveram seus passaportes cancelados, incluindo ativistas, acadêmicos e jornalistas. O número exato ainda é desconhecido, e nenhuma autoridade se manifestou sobre o assunto.

"Há muito medo. Você normaliza, mas não é normal", diz Patricia.