Os dilemas dos pardos, maior grupo étnico-racial do Brasil segundo Censo 2022:bet365 c0m
Maior grupo étnico-racial do Brasil, respondendo por 45,3% da população, os brasileiros que se declaram pardos se veem no meiobet365 c0muma batalha política.
De um lado, o movimento negro prega uma aliança entre pretos e pardos para eleger candidatos à esquerda comprometidos com o combate ao racismo.
Do outro, grupos conservadores que ganharam força sob a presidênciabet365 c0mJair Bolsonaro exaltam a identidade parda e acusam a esquerdabet365 c0mestimular divisões raciais no Brasil.
Como brasileirosbet365 c0mfamílias multirraciais se posicionam nesse embate?
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Ano
Número bet365 c0m Proprietários do Bitcoin
2024
125 milhões
2024
187 milhões
2024
246 milhões
2024
296 milhões
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Segundo o último Censo do IBGE (Instituto Brasileirobet365 c0mGeografia e Estatística), bet365 c0m2022, os pardos somam 92,1 milhõesbet365 c0mbrasileiros.
Eles respondem por 45,3% da população brasileira, à frentebet365 c0mbrancos (43,5%), pretos (10,2%), indígenas (0,8%) e amarelos (0,4%).
"O movimento negro instituiu que negro é igual à somatóriabet365 c0mpreto mais pardo. A minha geração fez essa engenharia política, e nós dissemos: tudo que estiver dito aí que é pardo e preto, para nós é negro", disse a filósofa Sueli Carneiro,bet365 c0mjunhobet365 c0m2022, ao podcast Mano a Mano, do rapper Mano Brown.
Carneiro é uma das mais destacadas ativistas do movimento negro brasileiro.
A definição citada pela ativista embasa o discursobet365 c0mque os negros são maioria no Brasil, já que pretos e pardos, somados, respondem por 55,5% da população.
O discurso se apoia na noçãobet365 c0mque pardos também têm antepassados africanos e também sofrem racismo.
Essa visão ganhou um reconhecimento oficialbet365 c0m2010, durante o governo Luiz Inácio Lula da Silva, quando o Congresso aprovou uma lei que criou o Estatuto da Igualdade Racial.
O estatuto definiu a população negra como "o conjuntobet365 c0mpessoas que se autodeclaram pretas e pardas".
Mas nem todos os pardos concordaram com a definição.
"Eu sou mestiço, eu não sou negro. Eu sou pardo, eu não sou negro", disse o médico e ativista Leão Alves,bet365 c0mjunho, numa conferência organizada pelo Movimento Pardo Mestiço Brasileiro,bet365 c0mManaus.
Fundado pelo próprio Alves, o movimento surgiu no início dos anos 2000 e passou quase 20 anos fora das principais arenas onde raça e política são discutidas no Brasil.
Até que a chegadabet365 c0mJair Bolsonaro ao poder mudou a história do grupo.
No iníciobet365 c0m2022, pela primeira vez embet365 c0mhistória, o movimento participoubet365 c0muma reunião do Conselho Nacionalbet365 c0mPromoção da Igualdade Racial, instância formada por entidades civis e órgãos do governo que estava na estrutura do então Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
O conselho tem a atribuiçãobet365 c0mpropor políticas voltadas à igualdade racial. O Movimento Pardo Mestiço se candidatou a uma vaga no conselho e teve a candidatura aprovada pela então ministra Damares Alves.
Após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o grupo deixoubet365 c0mintegrar o conselho.
Estado mais pardo do Brasil
Nascidobet365 c0mManausbet365 c0m1966, filhobet365 c0mum pai porteiro ebet365 c0muma mãe zeladora, Alves diz pertencer a uma família fisicamente parecida com a ampla maioria das famílias amazonenses.
Naquele Estado, o percentualbet365 c0mpardos na população é o maior do país. E o Amazonas tem o segundo menor percentualbet365 c0mpretos do Brasil, só atrásbet365 c0mSanta Catarina.
Isso porque a escravidão africana não foi tão presente no Amazonas quantobet365 c0moutras partes do Brasil. No Amazonas, o principal grupo escravizado foram os indígenas.
Segundo Leão, pardos "com aspectobet365 c0mcaboclo" são o grupo que sofre mais preconceito racial no Amazonas por ser associado às classes mais pobres.
Na definição do dicionário Aulete, caboclo é o "mestiçobet365 c0mbranco com índio", ou o "mulatobet365 c0mpele acobreada e cabelos lisos".
Já os pretos, segundo Alves, são associados por muitos amazonenses às Forças Armadas, uma vez que muitos pretos nascidosbet365 c0moutros Estados servem como militares no Amazonas.
Direitos originários
Uma das críticasbet365 c0mAlves à inclusão dos pardos na categoria negros tem a ver com a políticabet365 c0mterras brasileira.
Alves defende que, por serem descendentesbet365 c0mindígenas, os pardos do Amazonas deveriam ter "direitos originários" sobre as terras que ocupam — direitos que, no entanto, a Constituição só confere aos povos indígenas.
A expressão "direitos originários" se refere a direitos que são anteriores à criação do Estado brasileiro e ao fatobet365 c0mque os indígenas foram os primeiros habitantes do território nacional.
Porém, Alves afirma que, por não reconhecer a origem indígena dos pardos e por tratá-los como negros após o Estatuto da Igualdade Racial, o Estado brasileiro se eximiubet365 c0mdestinar terras ao grupo.
O médico diz ainda que considerar pardos como negros estimula um conflito entre negros e brancos na sociedade brasileira, ao passo que a identidade parda ou mestiça "homogeneiza e unifica" a nação, segundo ele.
Alves considera como parda qualquer pessoa que tenha alguma mistura racial — até mesmo as que tenham pele bem clara ou bem escura. Pelo critério dele, a ampla maioria da população brasileira é parda.
O Movimento Pardo Mestiço apoiou a candidaturabet365 c0mJair Bolsonaro à releeição.
A trajetóriabet365 c0mAlves vai na contramãobet365 c0mum movimento que ganhou força nas últimas décadas: o dos brasileiros que passaram a se ver como negros, ainda que tenham antepassadosbet365 c0mraças distintas.
É o casobet365 c0mIara Viana, uma educadora e musicistabet365 c0m37 anos.
Nascidabet365 c0mSão Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, Viana diz ser filhabet365 c0mum homem branco ebet365 c0muma mulher "pretabet365 c0mpele clara" e ter frequentado escolas particulares onde negros eram raros.
Ela diz que, na adolescência, passou a sofrer assédio por conta da "hipersexualização da mulher pretabet365 c0mpele clara" e também episódiosbet365 c0mracismo na escola. "As pessoas falavam: 'Cala a boca,bet365 c0mpreta', 'bonecabet365 c0mpiche', 'senta lá,bet365 c0mmacaca'".
Viana conta que, para se defender, se tornou uma "adolescente cruel" e passou a fazer bullying com outros colegas.
Certa vez, quando a coordenadora chamou Viana para lhe dar uma bronca, a jovem diz ter questionado a direção da escola por nunca ter combatido o racismo que ela sofria.
"Ela (a coordenadora) simplesmente olhou para mim e falou: 'Mas você nem é negra'. "E esse entrelugarbet365 c0m'mas você nem é negra', 'mas você não é branca' é uma coisa que faz parte da minha vida desde então", afirma.
Apesar dos questionamentos, Viana decidiu se identificar como negra.
"O meu processo foi: 'eu estou sofrendo racismo. Aqui as pessoas estão falando que eu não sou preta. Mas eu estou vivendo isso aqui, eu estou enxergando o que está acontecendo aqui, e eu vou me assumir como preta, assim as pessoas não vão fazer isso comigo, eu vou assumir a minha afrodescendência'."
Para ela, "a questão do pardo foi uma coisa inventada no Brasil pelos europeus para separar a gente, para tirar o poder revolucionário da população negra brasileira".
Viana votabet365 c0mpartidosbet365 c0mesquerda e defende a eleiçãobet365 c0mpolíticos negros focadosbet365 c0mcombater o racismo.
Quem é negro no Brasil?
Ao se declarar negra, no entanto, Viana passou a encarar questionamentos do outro lado, por partebet365 c0mnegros que não a viam como igual.
Ela conta que, num encontro do movimento negro, uma mulher pretabet365 c0mpele retinta a criticou por morarbet365 c0mPerdizes, um bairro rico e majoritariamente brancobet365 c0mSão Paulo.
"Ela me falou: 'sabe qual é a nossa diferença?' 'A nossa diferença', ela falava dela, é que ela só fica na cozinha da casa dessa gentebet365 c0mPerdizes, e eu posso sentar no sofá da sala."
Viana diz compreender que, por ter a pele clara, jamais sofrerá tanto racismo quanto pretos retintos.
"Por isso eu não fico ofendida quando alguém questiona a minha negritude. Só que não quer dizer que, estando sentada lá naquele sofá, eu também não sofra racismo", afirma.
Movimento antirracista
O podcast Brasil Partido abordou as trajetóriasbet365 c0mLeão Alves e Iara Viana com o arquiteto baiano Zulu Araújo, um dos principais nomes do movimento negro brasileiro.
Araújo dirigiu entre 1990 e 1994 o Grupo Cultural Olodum, uma das mais importantes organizações culturais afrobrasileiras, e presidiu entre 2007 e 2010 a Fundação Cultural Palmares, um órgão federal responsável por difundir a cultura brasileira negra.
Indagado sobre os episódiosbet365 c0mque Iara Viana diz ter sido questionada sobrebet365 c0mnegritude por outros ativistas do movimento negro, ele afirmou:
"Um dos equívocos graves que o movimento negro tem é que uma parcela dabet365 c0mmilitância acredita no racialismo, ou seja,bet365 c0mque a cor da pele passa a ser um elemento fundamental para definição da militância, para definição daqueles que têm, ou devem ter, mais protagonismo na luta".
Araújo afirma que "o que nós precisamos no Brasil ébet365 c0mum movimento antirracista".
Para ele, o movimento negro deve continuar existindo, pois é composto por "aqueles que sofrem diretamente na pele, na alma, no coração, a discriminação".
"Mas, do pontobet365 c0mvista político, nós não podemos abrir mão daqueles que possam contribuir para que a discriminação e o racismo acabem no Brasil."
Segundo ele, o movimento antirracista deve "incorporar brancosbet365 c0mtodas as matizes, negrosbet365 c0mtodas as matizes, desde que sejam antirracistas".
Alves também comentou as visões do Movimento Pardo Mestiço. Segundo ele, ao valorizar a identidade parda e a noçãobet365 c0mque quase todos os brasileiros são mestiços, o grupo ignora que o racismo no Brasil se baseia principalmente no fenótipo (aparência) das pessoas.
"Você é mais discriminado quanto mais você se parece com um africano, seja na cor da pele, seja nos seus traços fenótipos, tipo narizes mais achatados, lábios grossos, cabelos mais carapinha", diz.
Por essa lógica, Alves afirma que, mesmo que a maioria da população brasileira seja multirracial, pessoas com características físicas associadas à negritude são mais discriminadas que as outras. Daí a impertinênciabet365 c0mconsiderar todos os mestiços como partebet365 c0mum só grupo, diz ele.
Alves faz outras ressalvas ao grupo fundado por Leão Alves.
"A minha crítica a esse movimento dos pardos é porque eles, na verdade, estão muito mais voltados para o combate àqueles que combatem o racismo e a discriminação do que para promover a igualdade", afirma.