A escritora que foi pioneira do feminismonova casa apostasplena Idade Média:nova casa apostas
Nove anos depois do matrimônio, contudo,nova casa apostasvida sofreu uma reviravolta: era 1389 e duas mortes a abalaram profundamente. Primeiro, a do pai. Em seguida, a do marido.
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Viúva precoce e sem mais o alicerce paterno, ela decidiu se dedicar as letras — não como lazer, mas como formanova casa apostasse sustentar. Seus poemas logo ganharam a atenção na corte francesa.
Naquele contexto medieval, a viuvez podia significar uma grande liberdade feminina, uma certa emancipação. Pois ficar desde sempre solteira era algo malvisto, enquanto ao perder o marido a mulher poderia decidir não se casar novamente. Foi a opçãonova casa apostasChristine.
Uma voz literária para as mulheres
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Talentosa, ela se tornou autora, editora e publicadoranova casa apostasobras literárias.
Orientava os copistas e artistas que ilustravam seus livros, e teve um cuidado marqueteiro também: ela presenteava pessoas influentes e potenciais mecenas, não raras vezes fazendo dedicatórias a eles, com coletâneasnova casa apostasseus textos.
Aos poucos, isso feznova casa apostasChristine uma escritora reconhecida e proporcionou que ela ganhasse dinheiro comnova casa apostasobra.
Sua voz literária gradualmente passou a endossar os anseios femininosnova casa apostassua época, sobretudo das mulheres da alta sociedade que ela frequentava. Em 1394, publicou o Livre des Cent Ballades (em tradução livre, Livro das Cem Baladas), uma melancólica obra feita sob encomenda para um gruponova casa apostasesposasnova casa apostasnobres.
“Ela era uma mulher muito preocupada com questões que as pessoas talvez não estivessem tão interessadas no momentonova casa apostasque ela estava vivendo, escrevendo e pensando”, comenta à BBC News Brasil a historiadora Maíra Rosin, pesquisadora na Universidade Federalnova casa apostasSão Paulo (Unifesp).
“Não gostonova casa apostasusar a expressão ‘uma pessoa à frente do seu tempo’, porque ela foi o que ela foinova casa apostasseu tempo. Naquele tempo, o pensamento dela era divergente da maioria, porém era interessante e pautado também pelo temponova casa apostasque ela estava vivendo.”
Naquela época, era muito famoso nas rodasnova casa apostasleitura europeias o poema Romannova casa apostasLa Rose (ou Romance da Rosa), um texto alegórico sobre o amor, cuja primeira parte foi escrita por Guilhemenova casa apostasLorris (1200-1238) nos anos 1230 e a segunda por Jeannova casa apostasMeun (1240-1305) quatro décadas mais tarde.
Profundamente misógina, sobretudo na segunda parte, a obra apresentava mulheres como seres sedutores e desprovidosnova casa apostasrazão.
Christine se incomodava com essa visão. E decidiu responder, comnova casa apostasliteratura, a esse clássico popular. Foi a sequêncianova casa apostastrabalhosnova casa apostascunho feministas enfileirados por ela que alavancounova casa apostasprópria notoriedade.
Livrenova casa apostasLa Cité des Dames — que acabanova casa apostasser lançado no Brasil pela Editora 34 sob o nome A Cidade das Mulheres — é um dos que mais repercutiram. Ela se baseou na obra A Cidadenova casa apostasDeus,nova casa apostasSanto Agostinhonova casa apostasHipona (354-430) e criou um lugar utópico formado por mulheres virtuosasnova casa apostastodos os tempos.
Mitos femininos ressignificados
“Pode um livro escrito há maisnova casa apostasquinhentos anos trazer uma contribuição significativa sobre a questão da desigualdadenova casa apostasdireitos e desvalorização imposta às mulheres? Minha resposta é afirmativa, visto que um preconceito não se produz e se instalanova casa apostascomportamentos globais se não for repetido por séculosnova casa apostascondutas excludentesnova casa apostastodos os lugares do mundo”, escreve na orelha da versão brasileira a filósofa e teóloga feminina Ivone Gerbara.
“Não se elimina esse comportamento naturalizado por meionova casa apostasum ou outro decretonova casa apostasautoridades políticas ou religiosas, que, aliás, não têm nenhum interessenova casa apostasfazê-lo.”
Muitos definem o livro como uma enciclopédianova casa apostasmitos femininos, já que a autora redefine, reinterpreta e ressignifica as imagens do feminino presentes na cultura.
Um exemplo é no trechonova casa apostasque ela fala sobre o mito da criação do mundo. Recuperando a narrativa do livro do Gênesis, da Bíblia, há ali uma comparação sobre os materiais usados por Deus para fazer o homem e a mulher. Enquanto para Adão a matéria-prima foi barro, Eva teria sido criadanova casa apostasum pedaço do homem — “uma das suas costelas, para indicar que ela permaneceria ao seu lado como anova casa apostascompanheira, não estar aos seus pés como uma escrava”.
“Como estava dizendo, a mulher foi gerada pelo Soberano Criador no Paraíso terrestre e com que substância? Não eranova casa apostasmatéria vil, senão a mais nobre jamais criada, posto que Deus a fez do corpo do homem”, destaca a passagem.
Gebara afirma que Christine “percebeu como poucas as injustiças das quais as mulheres eram vítimas”. “E a tal ponto as percebeu que essa questão se tornou para ela uma questão teológica”, pontua. “Assim a formulou: ‘Como Deus que é bom poderia ter criado algo que não fosse bom? Como poderia Deus errar emnova casa apostascriação?’. Devia haver um equívoco para que as mulheres fossem consideradas inferiores e más. De onde viria ele?”
A gênese da obra teria vindo como uma “revelação divina”. Christine estava sozinhanova casa apostasseu quarto e viu três damas que lhe anunciavam a construção da Cidade das Mulheres.
Christine então perguntou como faria isso, já que se via como alguémnova casa apostaspoucas virtudes e habilidades para tanto.
“As três Damas se apresentam a ela: a primeira é a dama Razão, a segunda é a dama Retidão, e a terceira, a dama Justiça. E como Marianova casa apostasNazaré [a mãenova casa apostasJesus], ela responde às damas dizendo-lhes o quanto ela não merecia a honranova casa apostasfazer nascer para o mundo a Cidade das Mulheres”, escreve a teóloga feminista.
“A cidade teria características específicas, pois acolheria especialmente as que foram rejeitadas por serem mulheres e se construiria a partirnova casa apostasvirtudes que na realidade não existem nas cidades dos homens. Os diálogos entre ela e as três divinas mulheres são cheiosnova casa apostashistórias enova casa apostashumor.”
Em conversa com a BBC News Brasil, Gebara ressalta que “a argumentação dela denota uma erudição rara e,nova casa apostasespecial, no conhecimento do cristianismo”. “E uma capacidadenova casa apostasreinterpretar o passado para tentar mover o presentenova casa apostasvistanova casa apostasmaior justiça e respeito às mulheres”, acrescenta.
“A utopia da Cidade das Mulheres é até certo ponto uma utopia religiosa como a da 'sociedade sem males' ou 'das alegrias celestes' e até da 'sociedade sem classes’”, diz Gebara. “Cada novo tempo reinterpreta suas utopias alimentando-se tambémnova casa apostasutopias do passado enova casa apostasoutras culturas. O estilo leve, alegre e profundonova casa apostasChristine convida ao pensamento e abre possibilidades para pensar o presente.”
No total, Christine produziu maisnova casa apostas40 obras. Em meio às incertezas provocadas pela Guerra dos Cem Anos, ela decidiu se retirar da vida na cortenova casa apostas1418. Abrigou-senova casa apostasum conventonova casa apostasPoissy, onde passou os últimosnova casa apostassua vida.
Temática atual
“Em um primeiro momento, podemos pensar que os argumentos que Pizan utilizanova casa apostassuas obras estão muito distantes da nossa atualidade. Mas é o contrário”, afirma à BBC News Brasil a historiadora Yolanda Alonso Rodríguez, pesquisadora mestrandanova casa apostasEstudos Medievais na Universidade do Porto.
“Se tomamos como exemplo anova casa apostasobra mais famosa, Livrenova casa apostasLa Cité des Dames, a autora serve-se do recurso literário da alegoria para refletir sobre três temas principais: a razão, a retidão e a justiça que, encarnadosnova casa apostasdamas, fiam a história e formam parte do diálogo junto com Christine.”
Rodríguez lamenta que, “infelizmente, os temas tratados na obra a respeito das dificuldades das mulheres num mundo misógino, tais como a anulação total da voz pública delas ou até a violação” seguem presentes, “a mexer com nós, as mulheres do dianova casa apostashoje”.
A historiadora acredita que a “facilidade com que os temas são tratados” por Christine dão potência para que “a mensagem vire atemporal”, chegando “de forma simples a um público geral”.
Rosin concorda e diz que “as obras dela ainda soam muito atuais porque a gente não perdeu o que ela está criticando”. “Ainda vivemosnova casa apostasuma sociedade bastante machista, bastante patriarcal e muito misógina”, denuncia.
“Embora as ideiasnova casa apostasChristine possam parecer inaplicáveis ao mundo contemporâneo, elas seguem sendo uma inspiraçãonova casa apostasinsubmissão e desafio ao patriarcalismo, revelandonova casa apostasfragilidade”, enaltece Gebara. “Ela nos convoca a ‘queimar as velhas hipocrisias’ que nos tornaram obedientes e submissas às ordens masculinas, assim como a quebrar estereótipos que continuamos a manter.”
“As esdrúxulas acusações que Christine ouvia sobre as mulheres ainda podem ser ouvidas nos tempos atuais saídas da bocanova casa apostaspolíticos, juízes, clérigos, locutores, comentaristas etc. E poderiam ser repetidas, com variações, as denúncias dessa mulher, extraordinárianova casa apostasseu tempo, que nos fazem ver a persistência das ideias hierárquicas e excludentes”, completa a teóloga. “As reflexõesnova casa apostasChristinenova casa apostasPizan provocam nosso pensamento e nossas açõesnova casa apostasfavornova casa apostasrelações menos preconceituosas com as mulheres e com todos os seres declarados inferiores ou indignos.”
Gebara ressalta as qualidades singularesnova casa apostasChristinenova casa apostasPizan. “É preciso lembrar que ela era uma mulher educada, leitoranova casa apostaslivros e até professoranova casa apostasalgumas vezes quando chegou a substituir seu pai, professor universitário”, comenta.
“Sem dúvida, ela destoava do comum das mulheresnova casa apostasseu tempo porquenova casa apostasprópria vida foi incomum. Provavelmente devia sofrer muito interiormente pois tinha clareza das injustiças cometidas e sentia-se uma exceção. Não temos muitos documentos sobre os impactos que seu pensamento causou, mas certamente causou porque até hoje é lida e estudada.”
Primeira feminista
Evidentemente que classificar Christine como feminista é olhá-la com a perspectiva atual. Não era um conceito que existianova casa apostasseu tempo. “O títulonova casa apostasprimeira feminista atribuído a Christinenova casa apostasPizan é dado por nós hoje. Poderíamos aplicar esse título a outras mulheres também como 'a primeira' ou uma entre outras pioneiras”, diz Gebara.
“Trata-se maisnova casa apostasuma forçanova casa apostasexpressão do que um dado histórico, visto que esse termo, 'feminista', não era usado na época. A publicação se justifica porque a luta pela liberdade e por direitos sociais das mulheres não começou com as feministas contemporâneas. Sempre houve mulheres que transgrediram as leis que lhes foram impostas e os limitesnova casa apostasuma identidade biológica tornada segunda por diferentes sistemas culturais”, afirma a teóloga.
“Prefiro simplesmente chamá-lanova casa apostasfeminista, expressãonova casa apostasuma consciência e luta por direitos igualitários e respeito aos corpos e mentes femininas. É nesse sentido que ela entra no amplo coro organizado pelas mulheres contemporâneasnova casa apostastodos os lugares do mundo”, argumenta ela.
Rodríguez acredita que chamar Christinenova casa apostasfeminista “é um erro”, embora seja um adjetivo utilizadonova casa apostasforma a trazer a atenção para anova casa apostasimportância. “A consciência feminista, entendida como organizaçãonova casa apostasum coletivo com objetivos comuns na luta pela igualdade e direitos das mulheres, não chega como tal até finais do século 18, épocanova casa apostasque o termo ‘feminismo’ adquire um sentido ideológico, prático e real”, pondera.
Mas ela faz uma ressalva, dizendo ser possível “fazer uma revisão da história desde o pontonova casa apostasvista atual do feminismo e assinalar aquelas características que coincidem com o que formalmente chamaremos feminismo séculos mais tarde”.
Mulheres pensadoras
Gebara lembra que é importante trazer o pensamentonova casa apostasChristine para os dias atuais até para lembrar que mulheres também produziam pensamentonova casa apostasépocas passadas.
“Acho que os homensnova casa apostasgeral enova casa apostasespecial alguns intelectuais acreditam que eles são os únicos a produzir reflexões pertinentes sobre o mundonova casa apostasseu tempo, são os únicos a interpretar textos religiosos, a fazer poesia, a criar mundosnova casa apostasarte,nova casa apostassabedoria e utopias. Eles nunca se consideram anacrônicos... Enorme engano, sem dúvida”, comenta ela.
“Por isso, a publicaçãonova casa apostasChristinenova casa apostasPizannova casa apostasportuguês é uma conquista e a expressãonova casa apostasuma sabedoria mais inclusiva que toca os meios universitários e editoriais. Que a A Cidade das Mulheres possa inspirar comportamentosnova casa apostasmaior respeito e justiça entre os seres humanos, tão plurais e contraditórios, sempre querendo ser reis ou rainhas para manter a hierarquia das servidões, as competições e as guerrasnova casa apostasmuitos tipos e formas”, conclui a teóloga.
A historiadora Rodríguez acredita ser “essencial recuperar as vozes das mulheres que desde o princípionova casa apostasnossa história ficaram na obscuridade pelo mero fatonova casa apostasnão pertencer ao sexo masculino”.
“Por sorte, mulheres fortes, cheiasnova casa apostastalento e com uma inteligência maravilhosa deixaram plasmadas nas suas obras o seu testemunho, as suas ideias e anova casa apostasforma pessoalnova casa apostaslutar contra um mundo dominado pelo masculino”, afirma ela. “Os estudos sobre a mulher através da história são, todavia, uma criança que começa a dar os seus primeiros passos dentro da historiografia, mas começamos a ter consciência do seu valor enova casa apostasque, ao contrário do que se pensava há apenas alguns anos, elas foram parte essencial na trama intelectualnova casa apostasnossa história, não só religiosa mas também laica.”
“Resgatar obrasnova casa apostasmulheres é trazer as mulheres para o centro da história, como participantes dela, ativas, e não só como espectadoras”, afirma Rosin.