K9 e K2: 'Dei dois tragos e pensei que fosse morrer', diz jovem internado pela 2ª vezslots7777clínicaslots7777reabilitação:slots7777
Na época, ele já tinha experimentado maconha e bebia com certa frequência. Decidiu aceitar a oferta. Ele não sabia, mas estava experimentando K2.
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Fim do Matérias recomendadas
"Achei que fosse maconha, mas, quando eu dei dois tragos, pensei que fosse morrer", diz Jonathan, que conversou com a reportagemslots7777uma das salas da clínica onde está internado, no Estadoslots7777São Paulo.
"Senti um tremor nos músculos, faltaslots7777ar e tive uma confusão mental muito grande. Achei que não sairia mais do lugar."
Ele diz que,slots7777meio a essa "sensação ruim, eu senti um poucoslots7777prazer".
Jonathan diz que, depois disso, continuou a fumar maconha e experimentou cocaína, mas não gostou. Logo, veio a vontadeslots7777fumar K2slots7777novo.
Hoje, ele reconhece que a vontade logo virou um vício.
Jonathan diz que cada porçãoslots7777K2, vendidaslots7777cápsulas, custa R$ 5. No auge do vício, ele usava cercaslots7777dez por dia.
Sem dinheiro para sustentar um consumo tão frequente, chegou a furtar dinheiro dos pais.
A primeira internação foi há pouco maisslots7777um ano. Depoisslots7777uma recaída, precisou voltar para a clínica mais uma vez no mês passado.
O que são as drogas K?
As drogas K surgiram a partirslots7777um experimento para tentar produzir,slots7777maneira sintética, as substâncias terapêuticas da maconha, explicam especialistas à BBC News Brasil.
O que os cientistas produziram nesse estudo foi, na verdade, uma variação ao menos cem vezes mais potente do que a própria cannabis.
As variedades mais comuns são conhecidas como K2 e K9, mas há outras no mercado.
São drogas extremamente potentes que provocam efeitos colaterais, como agressividade, paranoia, arritmia cardíaca e até a morte.
Carlos Castiglioni, delegado da Divisãoslots7777Investigações Sobre Entorpecentes do departamentoslots7777narcóticos da Polícia Civilslots7777São Paulo, explica que a diferença entre as drogas K está, basicamente, na formaslots7777consumo.
"Essa droga é um líquido que, quando borrifadoslots7777folhasslots7777plantas e chásslots7777geral, convencionou-se chamarslots7777K2", diz.
"Mas, quando ela é colocadaslots7777papel ou cartolina para ser digerida ou consumidaslots7777maneira sublingual, convencionamos chamar K9."
Em pouco tempo, essas drogas se tornaram uma importante questãoslots7777saúde pública no Brasil por contaslots7777seu alto potencialslots7777dependência. Segundo Castiglioni, que investiga as substâncias K há cercaslots7777um ano e meio, elas são encontradas principalmente nas regiões periféricas da Grande São Paulo.
"Os policiais do Rio Grande do Sul disseram que nunca viram por lá. Na Bahia eslots7777outros Estados também não há nenhum relatoslots7777apreensão", diz.
Jonathan conta que comprava drogas K com facilidade, próximo a uma linha férrea na cidade onde ele mora, e que usou tanto K2 quanto K9.
Para ele, a segunda versão é a mais forte delas.
"A K9 afeta o sistema nervoso mais rápido. O uso exagerado da K9 faz você ter uma confusão mental muito rápida", afirma.
Na internet, viralizaram vídeosslots7777homens tendo convulsões e paralisias após o uso da droga. São casosslots7777usoslots7777K9, diz Jonathan.
"Aqueles piripaques que a gente acaba vendo na rua são mais comuns quando você usa K9."
Ele diz o efeito é quem usa muitas vezes nem se lembra do que pensou ou sentiu no auge do efeito causado pela droga.
"Quando você está tendo esse piripaque, o seu consciente está totalmente desligado", conta.
"As pessoas vão falar que você estava tendo uma convulsão, mas você não vai se lembrar. Essa droga te tira da realidade."
Ele diz que o efeito não costuma durar maisslots7777dez minutos, o que, ao seu ver, estimula o uso contínuo.
Furtos para manter o vício
Jonathan conta que sempre estudouslots7777escola pública e teve uma infância "bem tranquila" financeiramente. Aos 18 anos, começou a usar drogas.
"Queria encontrar na droga uma coragem, uma vontadeslots7777enfrentar os desafios e, logicamente, não encontrei", diz.
"Ela era só uma ilusão e acabei me afundando cada vez mais."
Ele afirma que, depoisslots7777cada uso, vinha uma sensaçãoslots7777depressão e impotência que eram inversamente proporcionais ao bem-estar causado pela droga.
Jonathan lembra que a K2 passou a causar um grande bem-estar a cada trago. Vinha um picoslots7777felicidade, depois caíaslots7777sono profundo.
"Quando acordava, sentia uma vontade muito grandeslots7777usarslots7777novo. Você acorda querendo. E vai correr atrás para saciar esse desejo", conta.
Sem ganhar dinheiro suficiente para bancar o vício, Jonathan admite que chegou a fazer pequenos furtos dentroslots7777casa.
"Nunca cheguei a roubar, mas, depois que comecei a usar K2, meus pais passaram a esconder suas carteiras", afirma.
"Porque, se deixasse moscando na mesa, eu pegava. Já cheguei até a pensarslots7777vender (coisas da casa), mas não vendi."
Jonathan diz que também passou a pedir dinheiro emprestado para pessoas próximas, mas não conseguia pagá-lasslots7777volta.
Longe da sociedade
Jonathan diz que não percebeu que já estava viciado e precisavaslots7777ajuda. Foram seus pais que decidiram que ele deveria ser internado compulsoriamente.
"Estavaslots7777casa, deitado, quando chegaram duas pessoas vestidasslots7777branco. Meu pai falou que era para fazer alguns exames que a empresa estava pedindo", lembra.
"Na época, acreditei porque eu não estava conseguindo trabalhar. Quando entrei na ambulância, minha ficha caiu."
Ele passou cinco meses internado e saiu da clínicaslots7777maio. Pouco tempo depois, teve uma recaída.
"Fiquei limpo duas semanas. Mas já estava na minha cabeça que eu queria usar só mais uma vez", diz.
"Mas é a mesma coisa do cigarro. Não dá para usar só mais uma vez."
Depoisslots7777alguns meses, foi obrigado a voltar para a clínica. “Na segunda internação, tentei fugir duas vezes", diz.
"A primeira foi quando eu estava sendo levadoslots7777casa, mas o cara (enfermeiro) me segurou", diz.
"Quando chegou aqui na clínica, tentei fugirslots7777novo. Mas a ambulância foi atrásslots7777mim e fui trazidoslots7777volta para cá.”
Hoje, ele diz que a internação à força foi a melhor estratégia paraslots7777recuperação.
"Não conseguia me suportar. Como o cara que não se suporta vai amar alguém?", diz.
"Se eu não estivesse aqui, provavelmente estaria na rua usando. Eu quero me sentir bem comigo mesmo e sair sozinho. Colocar minha melhor roupa, passar meu melhor perfume, sair sozinho e curtir minha própria companhia."
Desintoxicação e ressocializaçãoslots7777três fases
Myriam Albers, psicóloga e coordenadora terapêutica na Clínica Maia, que tem seis unidadesslots7777São Paulo para tratar pessoas com dependência química, explica que o tratamento para o vícioslots7777drogas sintéticas é dividoslots7777três fases.
A primeira é a adaptação e desintoxicação do usuário. Nesse período, um psicólogo o avalia e inicia um tratamento com medicações.
Também é estimulada a práticaslots7777atividades físicas e a participaçãoslots7777aulasslots7777arte eslots7777sessõesslots7777terapia que duram por todo o períodoslots7777internação.
No início do tratamento, explica Albers, pode ser necessária uma quantidadeslots7777medicação maior para ajudar o paciente com alterações mentais eslots7777comportamento, alémslots7777ajudar com a qualidade do sono.
As doses vão sendo ajustadas ao longo da internação, e a tendência é que sejam diminuídas gradativamente.
Após os sintomas mais importantes da abstinência, como tremores e ansiedade, serem controlados, a segunda fase é dedicada a conscientizar o pacienteslots7777seu problema e prevenir recaídas.
"Não é simplesmente internar para tirá-lo da vida social familiar. É colocá-loslots7777um ambiente protegido e devolvê-lo para a sociedade", diz a psicóloga.
"Se a gente não consegue fazer com que ele ressignifique esse período da vida dele usando a substância, quando ele volta ao habitual, no primeiro desequilíbrio emocional, ele vai retornar à zonaslots7777conforto, que é o uso da substância."
A clínica visitada pela reportagem tem mesaslots7777bilhar, ping-pong, pebolim e biblioteca para que os pacientes tenham momentosslots7777lazer.
Há ainda uma área externa com piscina e espaçoslots7777convívio com churrasqueira. Tudo para que o paciente consiga lidar com os momentosslots7777ócio durante a desintoxicação.
Mas não são todos os dependentes químicos que têm condiçõesslots7777fazer esse tratamento. A mensalidadeslots7777uma clínica como essa custa entre R$ 12 mil a R$ 15 mil por mês.
A maior parte dos pacientes internados na clínica visitada pela reportagem é, no entanto, atendida por convênio médico.
Desta forma, pagam parcialmente o valor da mensalidade, ou o tratamento é coberto integralmente pelo plano.
As visitasslots7777familiares são permitidas após a segunda semanaslots7777internação.
"A substância que a pessoa usa age diretamente no seu centroslots7777recompensa cerebral", explica a psicóloga.
"Não tem como eliminá-la daslots7777vida, mas você vai tomar consciência do prejuízo dela para retomar a vida normalmente."
Pouco antesslots7777receber alta, o paciente inicia um processo gradativoslots7777ressocialização. Nesse momento, ele é autorizado a sair e passar quatro horas com a família.
"Quando o paciente volta, avaliamos os prós e os contras. A gente trabalha todas as situações que envolveram esse momento", diz.
"Aos poucos, eles ficam um tempo maior até chegar o momentoslots7777que ele passa um dia fora e, depois, volta para casa."
Jonathan ainda tem quase dois mesesslots7777tratamento pela frente. Ele diz o que mais quer é terslots7777liberdade eslots7777vida socialslots7777volta.
"Quero aproveitar minha companhia e minha família", diz com um olhar perdido para o ladoslots7777fora da sala onde fala com a reportagem.
"Eu tenho um projetoslots7777virar cabeleireiro. Tem uma garagem na minha casa e meu pai falou que posso usá-la para abrir meu salão. Só quero me tornar uma pessoa feliz sem drogas".
*O nome verdadeiro e a idadeslots7777Jonathan foram omitidos para preservar a identidade dele