'Se não tiver acordo, paciência', diz Lula sobre Mercosul-União Europeia:
"A única coisa que tem que ficar claro é que não digam mais que é por conta do Brasil. Assumam a responsabilidadeque os países ricos não querem fazer um acordo na perspectivafazer qualquer concessão", disse Lula.
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"Vamos ver o que vai acontecer na sexta-feira [na Cúpula do Mercosul no RioJaneiro]. Mas se não houver acordo, pelo menos vai ficar patenteadoquem é a culpanão ter acordo. O que a gente não vai fazer é um acordo para tomar prejuízo."
Lula disse que o assessor especial da Presidência, Celso Amorim, vai realizar reuniões com movimentos sociais e sindicatos brasileiros antes da cúpula do Mercosul e que há sinaisinsatisfação até mesmo entre os brasileiros. Mas criticou os países europeus pela faltaavanço nas negociações.
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"[Os países ricos querem] é sempre ganhar mais. E nós não somos mais colonizados. Nós somos independentes e queremos ser tratados apenas com respeitopaíses que têm coisas para vender e essas coisas têm preço. O que nós queremos é um certo equilíbrio."
"Eles têm que saber que nós também temos indústria que nós queremos crescer e que nós não vamos facilitar as compras governamentais [reivindicação europeia para poder participarlicitações hoje restritas a indústrias nacionais no Brasil], porque nós queremos que a nossa indústria cresça", disse Lula.
Lula disse que Macron e a França são "historicamente protecionistas".
"A posição do Macron já era conhecida por mim. Ontem eu fiz uma reunião com o Macron para tentar mexer com o coração dele. Eu falei 'Macron quando você voltar para a França, abra o seu coração, cara. Pensa um pouco na América do Sul. Pensa no Mercosul. Nós somos países pobres. Nós temos países pequenos. Bom, me parece que ele não pensou. Ele não deu nem tempo para o coração dele, porque já foi comunicar vocês [jornalistas]."
"A França sempre foi o país que criou obstáculo no acordo Mercosul-União Europeia porque a França tem milharespequenos produtores e eles querem produzir os seus produtos. Agora o que ele não sabe é que nós também temos 4,6 milhões pequenas propriedades até 100 hectares que produzem quase 90% do alimento que nós comemos e que são alimentosqualidade e que nós também queremos vender."
"Eles têm que saber que nós também temos indústria que nós queremos crescer e que nós não vamos facilitar a compra governamentais porque nós queremos que o nosso país cresça."
Palavras duras
Existe uma pressaaprovar o acordo antes do dia 10dezembro, quando Javier Milei assume a presidência da Argentina. Ele se manifestou contra o tratado ao longo da campanha eleitoral.
Em Dubai neste fimsemana, Lula realizou diversas reuniões bilaterais sobre o acordo e o Itamaraty indicou a jornalistas que o tratado estava avançando.
Mas no sábado, Macron fez duras críticas ao que foi negociado até agora.
"Eu tive uma discussão formidável com o presidente Lula. Porque ele é visionário, corajoso e há muita sinergia entre as nossas estratégias. Eu mesmo ireimarço [ao Brasil] e acredito que no combate ao desmatamento, numa verdadeira política amazônica, nas questõesdefesa, nos interesses econômicos, nas questões culturais, temos uma agenda bilateral extremamente densa e um alinhamentopontosvista muito grande", disse Macron.
"E é justamente por isso, por isso mesmo, que sou contra o acordo Mercosul-UE, porque acho que é um acordo completamente contraditório com o que ele está fazendo no Brasil e com o que nós estamos fazendo."
"Acrescentamos frases [ao acordo] no início para agradar a França, mas ele não é bom para ninguém, porque não posso pedir aos nossos agricultores, aos nossos industriais na França,toda a Europa, que façam esforços, que apliquem novas linguagens para descarbonizar, para abandonar certos produtos, enquanto são removidas todas as tarifas para importar produtos que não aplicam essas regras."
O tratado Mercosul-União Europeia vem sendo negociado por maisduas décadas e envolve 31 países, 720 milhõespessoas e aproximadamente 20% da economia mundial.
Segundo estimativas do governo brasileiro feitas2019, o acordo representaria um incremento no PIB do país equivalente a R$ 336 bilhões15 anos, com potencialchegar a R$ 480 bilhões, se forem levadosconta aspectos como a reduçãobarreiras não tarifárias. O governo brasileiro estimava também que as exportações brasileiras para a União Europeia aumentemcercaR$ 384 bilhões até 2035.