O que é a Selic e como ela afeta o seu bolso?:b bet
- Author, Luís Barrucho e Daniel Gallas
- Role, Da BBC News Brasilb betLondres
O Comitêb betPolítica Monetária (Copom) do Banco Central (BC) define nesta quarta-feira (02/08) a taxa básicab betjuros da economia brasileira, a Selic, atualmente a 13,75%.
A expectativa é que a autoridade monetária inicie o ciclob betredução dos juros; a queda esperada pelo mercado deve girar entre 0,25 a 0,50 ponto percentual.
André Perfeito, ex-economista-chefe da Necton Investimentos, assinala que o que estáb betjogo "não é o curto prazo, mas os vértices mais longos".
Para isso, será preciso atentar "não para o corteb betsi, mas na comunicação desse corte (pelo BC)", acrescenta.
"Se o BC iniciar o ciclo com 25 pode indicar que o ajuste será mais longo que o mercado espera uma vez que a velocidade é menor. Se começar com 50 pode indicar que será "um tiro mais curto"".
Perfeito prevê uma quedab bet0,5 ponto percentual, mas ressalva que "duas coisas conspiram para distúrbios na parte longa da curva e com isso um corte menor seja mais provável. Os pontos são: uma defasagem relevante da gasolina (R$ 5,59) e os juros longos já caíramb betmaneira substancial".
Mas como os juros nos afetam? O que eles significam na prática para o bolso das pessoas?
O que é a taxa básicab betjuros?
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A taxa Selic (sigla para Sistema Especialb betLiquidação eb betCustódia) serve como referência para todas as taxasb betjuros do mercado brasileiro e é definida pelo Copom, grupo composto pelo presidente e diretores do Banco Central. Eles se reúnem para definir a trajetória da Selic.
A Selic é o principal instrumentob betpolítica monetária usado pelo Banco Central para controlar a inflação.
Quando a taxa sobe, os juros cobradosb betfinanciamentos, empréstimos e no cartão ficam mais altos e isso desencoraja o consumo — o que, porb betvez, estimula uma queda na inflação. Por outro lado, se a inflação está baixa e o BC reduz os juros, isso barateia os empréstimos e incentiva o consumo.
Para definir o que fazer com a Selic, o BC avalia as condições da inflação, da atividade econômica, das contas públicas e o cenário externo — sempre com o objetivob betmanter a inflação dentro da meta.
O instrumento é usado por todos os governos e autoridades monetárias. O Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, define os juros básicos da economia americana. O Banco Central Europeu faz o mesmo com os juros nos países que compõem a zona do euro.
Nos últimos anos, o mundo tem experimentado um aumento da inflação, ainda que esse ritmob betalta tenha desacelerado recentemente — como reflexob betdesequilíbrios na cadeiab betprodução combinados com um aumento do consumo devido à pandemiab betcovid-19.
A inflação bateu recordeb betmaisb betquatro décadasb betpaíses europeus, EUA e Reino Unido. Tudo tem ficado mais caro. Por isso, esses países também estão vendo os juros subirem.
No Reino Unido, por exemplo, os juros estão a 5% ao ano, contra 0,1%b betdezembrob bet2021.
No Brasil, o mais recente ciclob betalta começoub bet17b betmarçob bet2021. Desde então, a Selic subiu 12 vezes consecutivamente,b bet2% para 13,75%, patamar atingidob betagosto do ano passado. Desde então, permanece inalterada. É o nível mais alto desde 2016, quando a taxa começou o anob bet14%.
O objetivo do Copom é fazer a inflação brasileira ficar dentro da meta, que também é definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
O que é a metab betinflação?
O regimeb betmetasb betinflação, o câmbio flutuante e a meta fiscal compõem o chamado "tripé macroeconômico", anunciadob bet1999 como a nova estrutura da política econômica brasileira.
Isso depoisb beto Brasil ter superado, com o Plano Real (1994), um período traumáticob bethiperinflação, durante o qual os preços chegavam a aumentar 80%b betum único mês.
No modelo atual, o CMN determinab betjunho a meta para a inflaçãob bettrês anos à frente.
A ideia é que uma inflação previsível, estável e baixa possa ajudar a economia a crescer mais, reduzindo as incertezas.
Para 2022, a meta para o IPCA (Índiceb betPreços ao Consumidor Amplo, usado oficialmente pelo governo) éb bet3,5%. Para o ano que vem, a meta éb bet3,25%.
O mercado, no entanto, não acredita que o governo vá conseguir cumprir essas metas. O mais recente Boletim Focus (sondagem semanal do BC com agentesb betmercado) mostra que o mercado acredita que o Brasil encerrará 2023 e 2024 com inflações anuaisb bet4,84% e 3,89% respectivamente — ambos índices acima da meta oficial.
Se não houvesse aumento nos juros, as pessoas estariam expostas à inflação alta, o que provocaria uma queda nos padrõesb betvidab bettodos. Os preçosb betbens e serviços subiriam, e os salários das pessoas não acompanhariam essa alta.
Efeitos na prática
Juros elevados têm dois efeitos claros no cotidiano das pessoas:
- Fica mais caro pegar dinheiro emprestado
- Torna-se mais atraente poupar e investir dinheirob betrenda fixa
Sobre empréstimos, juros altos afetam principalmente pessoas que tomam financiamentos para comprar casa ou carro — e também consumidores que têm dívidas com cartãob betcrédito.
Para se ter uma ideia, atualmente, os juros do crédito rotativo (quando o consumidor não faz o pagamento total da fatura até o vencimento), a linhab betcrédito mais cara do mercado, estão a 437,3%b betjunho ao ano, segundo o BC —b betmaio, eles haviam atingido o maior patamarb betseis anos (455,1%).
Isso significa dizer que uma pessoa que tenha deixadob betpagar R$ 1.000 há um ano, hoje teria uma dívidab betR$ 5.373.
O mesmo acontece com empresas: juros altos não incentivam tomadab betempréstimos para realizar investimentos.
Se há menos investimentos, geram-se menos emprego e, consequentemente, renda.
E governos também sofrem: juros elevados prejudicam as finanças públicas, já que os países também tomam empréstimos ao emitir títulosb betdívida (uma das formas como governos se financiam — a outra é arrecadaçãob betimpostos).
Juros mais altos acabam sendo vantajosos para quem tem dinheiro para emprestar e investir. Mas é preciso tomar cuidado. Os investimentos e poupanças precisam ter taxab betretorno superior à inflação para que haja um ganho real.
Foi o caso dos investimentosb betrenda fixa no ano passado, inclusive da popular cadernetab betpoupança.
Em 2022, a poupança rendeu 7,90%, porcentual maior do que a inflação acumulada (5,79%), o que significa dizer que houve rentabilidade real (ou seja, acima da inflação) para quem investiu dinheiro nessa modalidadeb betinvestimentob betrenda fixa no período.
Há, entretanto, outros investimentos que oferecem retornos maiores, como os títulos do governo federal.
Por outro lado, para quem não tem dinheiro guardado, a vida fica bem mais difícil, e o fosso entre ricos e pobres tende a aumentar.
Por isso, quando os juros estão elevados, a desigualdade inevitavelmente sobe.
Desigualdade
Em entrevista recente à BBC News Brasil, Fábio Terra, professorb betEconomia da UFABC (Universidade Federal do ABC), disse que qualquer que seja a decisão do Copom, ela "sempre afeta a vida das pessoas".
"Os juros afetarão as pessoas por dois caminhos: primeiro, direto, tornando mais caro o crédito ao consumo e segundo, indireto, pois como a economia esfria com juros elevados, as pessoas têm menor ofertab betemprego, tem chanceb betdemissão, a criaçãob betrenda desacelera e autônomos vendem menos, empresas investem menos e o estoqueb betriqueza da sociedade não cresce como poderia crescer se os juros fossem menores", resume.
"Por fim, há ainda uma piora na distribuiçãob betrenda, pois as pessoas mais ricas conseguem poupar e ganham os juros Selic, aumentando a riqueza que possuem enquanto que os mais pobres não conseguem poupar e nem investir para ganhar com a Selic. A distribuição pessoal da renda piora, assim", acrescenta.
Sendo assim, juros mais elevados são prejudiciais para os mais humildes, "pois encarecem o crédito e arrefecem a economia, ao mesmo tempob betque piora a distribuiçãob betrenda", conclui Terra.
- Este texto foi publicadob bethttp://vesser.net/articles/cx85w0qq3djo