Ataques a escolas: ameaças e boatos diminuem, mas pais continuam com medo:bet favorita app
Não é uma escolha fácil para os pais. Nesta semana, a filhabet favorita app11 anos da brasiliense Maria Lídia chegoubet favorita appcasa dizendo que não queria ir à escola na quinta, porque ouviubet favorita appcolegas que poderia haver ataques à escola no dia.
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Maria Lídia diz que ficou com dor uma no coração ao ouvir sobre o medo da menina. Ela conta à BBC que explicou à filha que “havia muitos boatos, que o receiobet favorita appque aconteça algo tem a ver com o simbolismo da data, mas que a escola é um local seguro e a chancebet favorita appacontecer algo é baixa”. Mas ela mesma ainda não decidiu se vai levar ou não a menina para a escola nesta quinta.
“Por um lado eu não quero ser exagerada, ceder ao medo, alarmar demais minha filha. Por outro, a gente tem medo sim - por mais que racionalmente eu saiba que a probabilidadebet favorita appalgo acontecer é mínima”, diz à BBC News Brasil.
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Ela conta que está discutindo a questão com o pai da filha,bet favorita appquem é separada, e conversando com outras mães.
“As coleguinhas dela vão e a escola mandou um comunicado avisando que amanhã haverá um eventobet favorita appque cada aluno pode levar um símbolobet favorita appamizade, solidariedade e cuidado com o outro para a escola”, conta ela.
“Estamos alinhando. Eu ainda não bati o martelo.”
O Ministério da Justiça monitora ameaças e mensagens que falam sobre supostas ameaçasbet favorita appataques no dia 20/4 desde o início do mês, quando o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), falou quebet favorita apppasta estava trabalhando para evitar qualquer ocorrência na data. No dia 10, diversas açõesbet favorita appcombate à violência foram anunciadas.
Nesta quarta-feira (19), o ministério anunciou que, desde o início do monitoramento:
- Foram presas ou detidas 225 pessoas;
- 694 adolescentes foram intimados a prestar depoimento;
- A polícia realizou 155 operaçõesbet favorita appbusca e apreensão;
- 1.224 casos estãobet favorita appinvestigação;
- A pasta obteve 756 remoções ou suspensõesbet favorita appperfisbet favorita apprede sociais.
Segundo o ministro, a demanda pelo canalbet favorita appdenúncias do Ministério da Justiça voltado para ameaçasbet favorita appataquesbet favorita appescolas caiu bastante nos últimos dias. Logo após o ataquebet favorita appBlumenau (SC), no início do mês, havia uma médiabet favorita app400 denúncias por dia. O número chegou a 1700 por dia. Nos últimos dois dias, a média foibet favorita app170 denúncias diárias.
Pesquisadores que acompanham o tema nas redes sociais também afirmam que o pânico estava maior nas semanas que se seguiram aos ataques nas cidadesbet favorita appSão Paulo e Blumenau.
A diminuição da circulaçãobet favorita appboatos, apontam, é um sinal positivo, porque o compartilhamentobet favorita appameaçasbet favorita appataques que não são reais pode ter o efeito indesejadobet favorita appincentivar uma agressão verdadeira.
“É importante salientar que o consenso entre especialistas é que a divulgaçãobet favorita appimagens ou informaçõesbet favorita appum atentado serve para fomentar novos casos, no que é conhecido como ‘efeito contágio’”, diz a Secretariabet favorita appSegurança do Estadobet favorita appSão Paulo (SSP-SP).
“Da mesma forma, percebe-se que a divulgaçãobet favorita appameaças (muitas das quais não passambet favorita appboatos) tem seguido o mesmo comportamento. Quanto mais se noticia, mais casos surgem.”
Para os pais, no entanto, a decisãobet favorita appmandar ou não os filhos para a escola continua sendo difícil. São considerados fatores como a segurança das crianças, o próprio medo, o sentimento das crianças, o clima da escola, a forma como a instituição tem lidado com o tema, entre outros, segundo explica Danielle Admoni, psiquiatra da Universidade Federalbet favorita appSão Paulo (Unifesp) especializadabet favorita appinfância e adolescência.
O ideal, diz, é que os pais trabalhem para encontrar o ponto certobet favorita appque medo é útil - ou seja, quando ele nos faz ficar alerta para perigos e nos prepara para problemas - sem cair no medo paralisante, que atrapalha a vida.
“Claro que os pais têm medo. O medo funciona quando nos leva a fazer alguma coisa produtiva, um alerta para ter cautela, ficar mais esperto, checar o que tem acontecido na vida dos nossos filhos”, diz Admoni. “Mas ele vira um problema quando se torna paralisante, começa a limitar demais a vida. Quando a pessoa não consegue dormir, comer, sairbet favorita appcasa.”
“Precisamos lembrar as crianças e nos lembrar que,bet favorita appgeral, a escola é um lugar seguro, onde as pessoas estão para cuidar e proteger. A gente viu durante a pandemia os problemas que surgem quando as crianças ficam muito tempo ser ir à escola”, lembra ela.
“Estamos vendo que as autoridades estão tomando atitudes. Os casos assustam justamente porque a gente espera que a escola seja um local seguro. Mas são situações pontuais, corremos riscos também fora da escola.”
“É como um acidentebet favorita appavião. Não acontece muito, mas quando acontece a questão fica tãobet favorita appevidência que gera essa sensação enormebet favorita appinsegurança. Ainda mais quando envolve os filhos”, diz ela.
Conversar sobre o tema com as crianças é essencial, aponta a psiquiatra.
“A pior coisa é os pais fingirem que não tem nada acontecendo”, afirma a psiquiatra. “A criança precisa sentir que pode procurar o pai, a mãe ou o responsável quando está com medo ou tem dúvidas. Porque mesmo que ela não veja notíciasbet favorita appcasa, algum colega pode falar do assunto, aí a coisa chega sem filtro.”
“A criança percebe que tem algo errado, e se você diz que não é nada, está desvalorizando a percepção que ela tem da realidade. Então é preciso explicar, dentro das possibilidades.”
Como as escolas estão lidando com o problema
A postura da escola dos três filhosbet favorita appMaria Victória,bet favorita appBrasília, foi justamente abet favorita apptrazer o tema para conversa - o que fez a mãe se sentir muito mais segura.
A instituição percebeu que havia uma burburinho entre as crianças, com algumas assustadas e chorando, e chamou os alunos do sexto e sétimo ano para conversar e ouvir seus medos e preocupações.
“Algumas crianças falaram do medo, outras falaram sobre o que fariam - uma disse que iria na turma da irmã mais nova buscá-la. Então foi muito legal essa troca, essa postura da escolabet favorita appacolher qualquer tipobet favorita appresposta”, diz Maria Victória, que decidiu que vai levar os três filhos para a escola nesta quinta.
“Nós temos sorte que é uma escola pequena, com crianças menores. Não tem ensino médio, não tem um clima escolabet favorita appbullying,bet favorita appproblemas assim”, conta ela à BBC.
“Minha filha tem uma amiga cuja mãe é do Corpobet favorita appBombeiros, e ela também vai para a escola, então isso ajuda também a gente a confiar nas instituições e ficar convictabet favorita appque devemos mandar.”
“Mas eu entendo totalmente os pais que não vão mandar. Porque é um medo mesmo, é algo que atinge um lugar para os pais... É um amor, um afeto muito grande que temos (pelos filhos).”
Carla*, que participa do mesmo grupobet favorita appmães que Maria Victória no WhatsApp, ainda não decidiu se o filho vai ficarbet favorita appcasa ou se vai à escola amanhã.
Ele estudabet favorita appuma escola diferente da filhabet favorita appMaria Victória e Carla ficou com receio após receber o posicionamento da instituição.
Embora a escola tenha feito treinamento com policiais e aumentado a segurança, diz ela, o principal problema não tem sido combatido, diz ela.
“Infelizmente não estamos vendo muitas escolas adotarem medidasbet favorita appcombate ao bullying, com treinamentobet favorita appprofessores sobre identificação, abordagem e intervençãobet favorita appcasosbet favorita appdiscriminação, violência ou isolamento social. Essas sim seriam as medidas importantes para combater esse problemabet favorita appviolência nas escolas no médio e longo prazo”, diz Carla à BBC.
Ela cita algo que também é apontado por pesquisadores - que a maioria dos ataques é feito por alunos e ex-alunos que têm ódio do ambiente escolar.
“A escola do meu filho se considera inclusiva por ter uma metodologiabet favorita appensino inovadora, mas não contemplabet favorita appmaneira permanente o tema da inclusãobet favorita appdeficientes, não treina professores e só trabalha combate ao racismo na semana da consciência negra. De combate à homofobia não vi nada até hoje. Então, estou bem preocupada com o rumo que essas violências extremistas vão tomar no Brasil”, diz Carla.
Danila Di Pietro, pesquisadora da Universidade Estadualbet favorita appCampinas (Unicamp) e partebet favorita appum grupo liderado pela professora Telma Vinha, que mapeou ataques a escolas nas últimas décadas, afirma que transformar os prédios das escolasbet favorita appalgo parecido com prisões não é a resposta.
“É um problema complexo e duradouro”, diz ela. “Que esses dias sejam usados para fomentar debates sobre esses ocorridos, problematizarbet favorita appfato, dar espaço para as pessoas expressarem seus sentimentos e serem acolhidasbet favorita appsuas angústias, alémbet favorita apppactuarem propostas para uma convivência cada vez mais ética e inclusiva.”
Cada escola particular tem lidado com a questão do dia 20bet favorita appum jeito - algumas chamaram para a conversa, outras criaram eventos e atos com temas positivos, chamaram os pais para participar do dia, aumentaram a segurança e até mesmo cancelaram as aulas.
Mesmo na rede pública, a postura varia muito. Em São Paulo, por exemplo, muitas escolas estaduais não terão aulas porque reuniões chamadas conselhosbet favorita appclasse já estava programadas para essa semana desde o início do ano.
Para as escolas municipais, a prefeitura anunciou uma sériebet favorita appmedidasbet favorita appproteção e segurança, e unidades têm escolhido diferentes ações. Uma escola municipal no bairrobet favorita appHigienópolis, por exemplo, convidou os pais para participarembet favorita appum eventobet favorita appcelebração da solidariedade e amizade.
“Não existe uma resposta única sobre o dia 20, cada escola precisa avaliar o perfil dos pais e alunos e decidir como proceder”, diz Danielle Admoni.
No entanto, diz ela, algo que todas as instituições precisam fazer, sem exceção, é o combate ao bullying e à discriminação.
“Os casosbet favorita appataque são semprebet favorita appalunos e ex-alunos que recorrem à violência para se vingar. Claro que tem outros fatores, como disfunção familiar, questõesbet favorita appsaúde mental não tratadas. Mas essa raiva do ambiente e das pessoas da escola é algo comum entre os agressores”, afirma.
“Claro que isso não torna a instituição culpada, mas trabalhar esse tema do bullying, da agressão é algo que todas as escolas precisam fazer.”
Medidas do governo federal e das redes sociais
Entre as medidas adotadas pelo Ministério da Justiça para coibir a propagação do discursobet favorita appódio que possa incitar ataques estão a exigênciabet favorita appfiscalização mais profunda das redes sociais — onde foram encontradas várias publicaçõesbet favorita appincentivo a massacresbet favorita appescolas e até mesmo idolatria aos responsáveis por esse tipobet favorita appcrime.
A pasta também anunciou diversas investigações por meio das polícias civisbet favorita appdiferentes Estados e da Polícia Federal.
Na terça-feira (18), o ministro Flávio Dino afirmou que 225 pessoas foram presas ou apreendidas (menoresbet favorita app18 anos) na operação relacionada a planos ou açõesbet favorita appviolência no ambiente escolar.
“Dá uma médiabet favorita appmaisbet favorita app20 por dia”, disse Dino. "Preocupante é que olhamos, do governo Fernando Henrique até o governo pretérito, uma ampliação ano a ano desses números, uma trajetória ascendente. E por isso estamos aqui, para cortar essa ascensão perigosa da violência e do ódio”, declarou Dino.
Ao todo, diz Dino, foram feitas maisbet favorita app7,4 mil denúncias desde que o Ministério da Justiça iniciou a operaçãobet favorita apptodo o Brasil.
Além disso, foram encaminhados maisbet favorita app100 pedidos às redes sociais para preservaçãobet favorita appconteúdos nas plataformas para investigações policiais.
Em nota, o TikTok afirma que "relatosbet favorita appameaças potenciaisbet favorita appviolência nas escolas são abomináveis e tristes, e o conteúdo que estimula o pânico sobre isso não tem absolutamente nenhum lugarbet favorita appnossa plataforma”.
“Estamos trabalhando agressivamente para identificar e remover conteúdo que possa causar pânico ou validar farsas, incluindo a restriçãobet favorita apphashtags relacionadas. Onde encontramos ameaças iminentesbet favorita appviolência, trabalhamos com as autoridades policiais,bet favorita appacordo com nossas políticasbet favorita apprelacionamento com as autoridades locais”, acrescenta o comunicado da plataforma.
O Twitter não respondeu ao pedidobet favorita appinformações encaminhado pela reportagem. Mas segundo o colunista Guilherme Amado, do Metrópoles, a plataforma informou ao Ministério da Justiçabet favorita app11bet favorita appabril que derrubou 546 perfis com conteúdos ameaçadores ligados a ataques a escolas.
O Instagram e o Facebook, ambos da Meta, informaram à reportagem que proíbem conteúdos que incitem ou promovam a violência.
“E isso inclui contas ou conteúdos elogiando atos violentos e seus autores. Além disso, não permitimos a presençabet favorita apppessoas ou organizações que anunciem uma missão violenta ou estejam envolvidasbet favorita appatosbet favorita appviolência nas plataformas da Meta. Isso inclui atividade terrorista, atos organizadosbet favorita appódio, assassinatobet favorita appmassa (incluindo tentativas) ou chacinas, tráfico humano e violência organizada ou atividade criminosa”, diz comunicado da empresa.
“Removemos, ainda, conteúdo que expresse apoio ou exalte grupos, líderes ou pessoas envolvidas nessas atividades. Adicionalmente, colaboramos com autoridades respondendo prontamente às suas demandas”, acrescenta a nota do Instagram e do Facebook.
O WhatsApp, também da Meta, reforçoubet favorita appnota que "coopera ativamente com as autoridades locais" e fornece dados disponíveisbet favorita apprespostas às autoridades locais para ajudarbet favorita appinvestigações policiais, "em conformidade com a legislação aplicável".
“O WhatsApp encoraja que as pessoas reportem condutas inapropriadas diretamente nas conversas, por meio da opção “denunciar” disponível no menu do aplicativo (menu > mais > denunciar) ou simplesmente pressionando uma mensagem por mais tempo e acessando menu > denunciar. As pessoas também podem enviar denúncias para o e-mail support@whatsapp.com, detalhando o ocorrido com o máximobet favorita appinformações possível e até anexando uma capturabet favorita apptela”, diz a empresa.
“O usuário ou grupo denunciado não recebe nenhuma notificação sobre essa ação. É importante ressaltar que conteúdos ilícitos também devem ser denunciados para as autoridades policiais competentes”, acrescenta a nota do WhatsApp.
*A BBC News Brasil decidiu omitir sobrenomes ou alterar nomesbet favorita appentrevistadas para preservar a privacidade das crianças