As bombas que matam centenassite aposta cassinocrianças na Índia: 'Pensamos que era uma bola':site aposta cassino

Crédito, Ronny Sen para a BBC

Legenda da foto, Puchu tinha nove anos quando rebateu o que pensava ser uma bola, causando uma explosão mortal

Aos nove anos, Puchu Sardar, um dos meninos, pegou um tacosite aposta cassinocríquete e passou sorrateiramente pelo pai que estava dormindo. Logo, o barulho do taco batendo na bola ecoou pelo beco.

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A bola rebatida para fora dos limites do campo improvisado fez com que os meninos a procurassemsite aposta cassinoum pequeno jardim próximo. Lá, dentrosite aposta cassinoum saco plástico preto, encontraram seis objetos redondos.

Pareciam bolassite aposta cassinocríquete que alguém havia deixado para trás, e os meninos voltaram a jogar com o espólio.

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Uma das "bolas" que estavam no saco foi arremessada para Puchu, que a acertou com seu taco.

Uma explosão ensurdecedora atravessou o beco. Era uma bomba.

Quando a fumaça se dissipou, e os vizinhos correram para fora, encontraram Puchu e seus cinco amigos esparramados na rua, com a pele escurecida, as roupas queimadas e os corpos dilacerados.

Os gritos tomaram conta do caos.

Raju Das,site aposta cassinosete anos, um órfão criado pela tia, e Gopal Biswas,site aposta cassinosete anos, morreramsite aposta cassinodecorrência dos ferimentos. Os outros quatro meninos ficaram feridos.

Puchu sobreviveu por pouco, tendo sofrido queimaduras graves e ferimentos por estilhaços no peito, rosto e abdômen.

Ele passou maissite aposta cassinoum mês no hospital. Quando voltou para casa, teve que usar uma pinçasite aposta cassinocozinha para remover os estilhaços que ainda estavam alojadossite aposta cassinoseu corpo, porquesite aposta cassinofamília não tinha mais dinheiro para pagar por seu tratamento médico.

Puchu e seus amigos fazem partesite aposta cassinouma longa e trágica listasite aposta cassinocrianças mortas ou mutiladas por bombas rudimentares, que têm sido usadassite aposta cassinoBengala Ocidental há décadassite aposta cassinouma batalha sangrenta pelo domínio da política violenta do Estado.

Não há dados disponíveis publicamente sobre o númerosite aposta cassinocrianças mortas por bombas rudimentaressite aposta cassinoBengala Ocidental.

Por isso, a BBC analisou todas as ediçõessite aposta cassinodois importantes jornais do Estado — Anandabazar Patrika e Bartaman Patrika —site aposta cassino1996 a 2024, procurando notíciassite aposta cassinocrianças feridas ou mortas por estes dispositivos.

Encontramos pelo menos 565 vítimas infantis — 94 mortas e 471 feridas — até 10site aposta cassinonovembro. Isso significa que,site aposta cassinomédia, uma criança foi vítima da violência das bombas rudimentares a cada 18 dias.

Mas a BBC descobriu incidentessite aposta cassinoque crianças foram feridas por artefatos rudimentares que não foram noticiados pelos dois jornais,site aposta cassinomodo que o número realsite aposta cassinovítimas provavelmente é maior.

Maissite aposta cassino60% destes incidentes envolveram crianças brincando ao ar livre —- jardins, ruas, fazendas e até mesmo pertosite aposta cassinoescolas —, onde bombas, normalmente usadas durante as eleições para aterrorizar os adversários, estavam escondidas.

A maioria das vítimas com quem a BBC conversou era pobre, filhossite aposta cassinotrabalhadores domésticos, biscateiros ou trabalhadores agrícolas.

A história revolucionária das bombassite aposta cassinoBengala Ocidental

Bengala Ocidental, o quarto maior Estado da Índia, com uma populaçãosite aposta cassinomaissite aposta cassino100 milhõessite aposta cassinohabitantes, sofre há muito tempo com a violência política.

Ao longo dos anos, desde a independência da Índiasite aposta cassino1947, o Estado passou por diferentes governos — sendo comandado pelo Partido do Congresso por duas décadas, a Frentesite aposta cassinoEsquerda liderada pelos comunistas por três, e o atual Congresso Trinamool desde 2011.

No fim da décadasite aposta cassino1960, o Estado foi assolado por um conflito armado entre os rebeldes maoístas — também chamadossite aposta cassinonaxalitas — e as forças do governo.

Um elemento comum a todos os governos e conflitos rebeldes desde então tem sido o usosite aposta cassinobombas como ferramentassite aposta cassinointimidação pelos partidos políticos para silenciar os oponentes, especialmente durante as eleições.

"Bombas têm sido [usadas para acertossite aposta cassinocontas]. Isso vem ocorrendosite aposta cassinoBengala há muito tempo, há maissite aposta cassino100 anos", afirmou à BBC Pankaj Dutta, ex-inspetor geral da políciasite aposta cassinoBengala Ocidental.

Crédito, Ronny Sen para a BBC

Legenda da foto, As bombas rudimentaressite aposta cassinohojesite aposta cassinoBengala Ocidental são amarradas com cordassite aposta cassinojuta e recheadas com estilhaços, como pregos, porcas e vidro

A fabricaçãosite aposta cassinobombassite aposta cassinoBengala tem suas raízes na rebelião contra o domínio britânico no início do século 20.

As primeiras tentativas foram rudimentares, e os acidentes eram comuns: um rebelde perdeu uma mão, e outro morreu ao testar uma bomba.

Até que um rebelde voltou da França munido da habilidadesite aposta cassinofabricar bombas.

Seu livro-bomba — um livro jurídico carregadosite aposta cassinoexplosivos escondido dentrosite aposta cassinouma latasite aposta cassinocacau da marca Cadbury — teria matado seu alvo, um magistrado britânico, se ele o tivesse aberto.

A primeira explosão abalou o distritosite aposta cassinoMidnaporesite aposta cassino1907, quando revolucionários descarrilaram um trem que transportava um alto funcionário britânico colocando uma bomba nos trilhos.

Alguns meses depois, uma tentativa fracassadasite aposta cassinomatar um magistradosite aposta cassinoMuzaffarpur com uma bomba lançada contra uma carruagem puxada por cavalos, tirou a vidasite aposta cassinoduas mulheres inglesas.

O ato, descrito por um jornal como uma "tremenda explosão que assustou a cidade", transformou um adolescente rebelde chamado Khudiram Bosesite aposta cassinoum mártir — e no primeiro "combatente pela liberdade" no panteão dos revolucionários indianos.

Bal Gangadhar Tilak, um líder nacionalista, escreveusite aposta cassino1908 que as bombas não eram apenas armas, mas um novo tiposite aposta cassino"conhecimento mágico", uma "bruxaria" que se espalhousite aposta cassinoBengala para o resto da Índia.

Atualmente, as bombas rudimentaressite aposta cassinoBengala são conhecidas localmente como peto. Elas são amarradas com cordassite aposta cassinojuta e recheadas com estilhaçossite aposta cassinopregos, porcas e vidro.

As variações incluem explosivos embaladossite aposta cassinorecipientessite aposta cassinoaço ou garrafassite aposta cassinovidro. Elas são usadas principalmentesite aposta cassinoconfrontos violentos entre partidos políticos rivais.

Os ativistas políticos, sobretudo nas áreas rurais, usam essas bombas para intimidar os oponentes, perturbar as seções eleitorais ou realizar retaliações contra supostos inimigos.

Elas costumam ser usadas durante as eleições para sabotar as cabinessite aposta cassinovotação ou para afirmar o controle sobre as áreas.

Crédito, Ronny Sen para a BBC

Legenda da foto, Poulami Halder estava colhendo flores quando encontrou o que pensou ser uma bola

Crianças como Poulami Halder sofrem o impacto dessa violência.

Em uma manhãsite aposta cassinoabrilsite aposta cassino2018, a menina, então com sete anos, estava colhendo flores para as orações matinaissite aposta cassinoGopalpur, um vilarejo no distritosite aposta cassino24 Parganas Norte, repletosite aposta cassinolagos, arrozais e coqueiros. Faltava apenas um mês para as eleições para o conselho do vilarejo.

Poulami viu uma "bola" perto da bombasite aposta cassinoáguasite aposta cassinoum vizinho.

"Peguei e levei para casa", ela recorda.

Quando ela entrou, seu avô, que estava tomando chá, congelou ao ver o objeto na mão dela.

"Ele disse: 'Não é uma bola, é uma bomba! Jogue fora! Antes que eu pudesse reagir, ela explodiu na minha mão."

A explosão abalou a tranquilidade do vilarejo. Poulami foi atingida nos "olhos, no rosto e nas mãos" e desmaiou, enquanto o caos irrompia ao seu redor.

"Me lembrosite aposta cassinopessoas correndo na minha direção, mas eu conseguia ver muito pouco. Fui atingida por todos os lados."

Os moradores a levaram às pressas para o hospital.

Seus ferimentos foram devastadores —site aposta cassinomão esquerda foi amputada, e ela passou quase um mês no hospital.

Uma rotina matinal comum havia se transformadosite aposta cassinoum pesadelo, mudando para sempre a vidasite aposta cassinoPoulami com um único momento avassalador.

Crédito, Ronny Sen para a BBC

Legenda da foto, Sabina Khatun tem dificuldade para realizar tarefas diárias simples por causa dos ferimentos

Poulami não está sozinha.

Sabina Khatun tinha 10 anos quando uma bomba rudimentar explodiu na mão delasite aposta cassinoabrilsite aposta cassino2020,site aposta cassinoJitpur, um vilarejo cercado por campossite aposta cassinoarroz esite aposta cassinojuta no distritosite aposta cassinoMurshidabad.

Ela estava levandosite aposta cassinocabra para pastar quando se deparou com a bomba na grama. Curiosa, pegou o artefato e começou a brincar com ele.

Momentos depois, detonou nas mãos dela.

"No momentosite aposta cassinoque ouvi a explosão, pensei: Quem vai ficar incapacitado desta vez? Será que Sabina foi mutilada?", relembra a mãe dela, Ameena Bibi, com a voz repletasite aposta cassinoangústia.

"Quando saí, vi pessoas carregando Sabina nos braços. A carne era visível na mão dela."

Os médicos foram obrigados a amputar a mãosite aposta cassinoSabina.

Desde que voltou para casa, ela tem lutado para reconstruirsite aposta cassinovida, e seus pais estão desesperados diantesite aposta cassinoum futuro incerto. Seus temores não são injustificados: na Índia, as mulheres com deficiência geralmente enfrentam um estigma social que dificulta suas perspectivassite aposta cassinocasamento e emprego.

"Minha filha não paravasite aposta cassinochorar, dizendo que nunca mais teria a mãosite aposta cassinovolta", conta Ameena.

"Eu a consolava, dizendo: 'Sua mão vai voltar a crescer, seus dedos vão voltar a crescer'."

Agora, Sabina enfrenta a perda da mão e a dificuldadesite aposta cassinorealizar tarefas simples cotidianas. "Tenho dificuldade para beber água, comer, tomar banho, me vestir, ir ao banheiro", enumera.

Mutiladas por bombas, mas com a sortesite aposta cassinoterem sobrevivido, essas crianças tiveram suas vidas mudadas para sempre.

Poulami, agora com 13 anos, recebeu uma mão artificial, mas não conseguiu usá-la — era muito pesada e rapidamente não coube mais. Sabina,site aposta cassino14 anos, tem problemassite aposta cassinovisão.

Sua família diz que ela precisasite aposta cassinooutra cirurgia para remover detritos da bomba dos olhos, mas eles não têm condiçõessite aposta cassinopagar.

Puchu, hoje com 37 anos, foi retirado da escola pelos pais temerosos — e passou anos se recusando a sairsite aposta cassinocasa, muitas vezes se escondendo debaixo da cama ao menor barulho.

Ele nunca mais pegousite aposta cassinoum tacosite aposta cassinocríquete. Com a infância roubada, ele agora está sobrevivendosite aposta cassinobiscates na áreasite aposta cassinoconstrução e carrega as cicatrizessite aposta cassinoseu passado.

Mas nem toda esperança está perdida.

Poulami e Sabina aprenderam a andarsite aposta cassinobicicleta com uma mão só — e continuam frequentando a escola. Ambas sonhamsite aposta cassinose tornar professoras. Puchu espera que seu filho, Rudra,site aposta cassinocinco anos, tenha um futuro melhor — como policial.

Crédito, Ronny Sen para a BBC

Legenda da foto, Sabina, assim como Poulami, aprendeu a andarsite aposta cassinobicicleta com uma mão só — e sonhasite aposta cassinoser professora

Apesar do preço terrível que inflige, não há sinalsite aposta cassinoque a violência das bombas rudimentaressite aposta cassinoBengala Ocidental esteja acabando.

Nenhum dos partidos políticos admite usar bombas para obter ganhos políticos.

Quando a BBC perguntou aos quatro principais partidos políticossite aposta cassinoBengala Ocidental se eles estavam envolvidos, diretamente ou por meiosite aposta cassinointermediários, na fabricação ou no usosite aposta cassinobombas rudimentares, o Congresso Trinamool (TMC), que está no poder, e o Partido Bharatiya Janata (BJP), da oposição, não responderam.

O Partido Comunista da Índia (Marxista) negou veementemente seu envolvimento, dizendo que estava "comprometido com a defesa do Estadosite aposta cassinodireito... e que, quando se tratasite aposta cassinoproteger direitos e vidas, as crianças são a maior preocupação".

O Partido do Congresso Nacional Indiano (INC) também negou veementemente o usosite aposta cassinobombas rudimentares para obter vantagens eleitorais, e disse que "nunca se envolveusite aposta cassinoqualquer violência para obter ganhos políticos ou pessoais".

Embora nenhum partido político admita responsabilidade, nenhum dos especialistas que conversaram com a BBC tem dúvidassite aposta cassinoque esta carnificina está enraizada na culturasite aposta cassinoviolência políticasite aposta cassinoBengala.

"Durante qualquer eleição importante aqui, você vai ver o uso desenfreadosite aposta cassinobombas", afirmou Pankaj Dutta. "Está acontecendo um abuso extremo da infância. É uma faltasite aposta cassinocuidado por parte da sociedade." Dutta faleceusite aposta cassinonovembro.

Poulami acrescenta: "Aqueles que colocaram as bombas ainda estão livres. Ninguém deve deixar bombas espalhadas por aí. Nenhuma criança deve ser prejudicada desta forma novamente."

'Veja o que fizeram com meu filho'

Mas a tragédia continua.

Em maio deste ano, no distritosite aposta cassinoHooghly, três meninos que brincavam pertosite aposta cassinoum lago encontraram, sem saber, um esconderijosite aposta cassinobombas. A explosão matou Raj Biswas,site aposta cassinonove anos, e deixou seu amigo mutilado, sem um braço. O outro menino escapou com fraturas nas pernas.

"Veja o que fizeram com meu filho", disse chorando o paisite aposta cassinoRaj, enquanto acariciava a testa do filho morto.

Enquanto o corposite aposta cassinoRaj era sepultado, era possível ouvir slogans políticos sendo entoadossite aposta cassinoum comício eleitoral próximo: "Salve Bengala!", gritava a multidão, "Salve Bengala!"

Era épocasite aposta cassinoeleições. E, mais uma vez, as crianças estavam pagando o preço.