'Reduzir jornadacasa de aposta do brasiltrabalho é medida pró-famílias', diz historiador português Rui Tavares:casa de aposta do brasil

Cobra para isso um discurso que aponte soluções imediatas para, por exemplo, combater as mudanças climáticas para tornar o ar mais respirável e reduzir a jornadacasa de aposta do brasiltrabalho para melhorar a produtividade e dar mais tempo para o lazer e o convívio das pessoas.

No Parlamento Europeu, foi autorcasa de aposta do brasilum relatóriocasa de aposta do brasil2013 que apontou a escalada autoritária do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, um dos primeiros expoentes da nova safra da direita radical no Ocidente, e que está no poder desde 2010.

O ex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro passou dois dias abrigado na embaixada do paíscasa de aposta do brasilBrasíliacasa de aposta do brasilmarçocasa de aposta do brasil2024, depoiscasa de aposta do brasilter seu passaporte apreendido por decisão judicial. Orban é próximocasa de aposta do brasiloutros presidentescasa de aposta do brasiltendência autocrática, como Vladimir Putin, da Rússia, e Donald Trump, dos Estados Unidos.

Após passar cinco anos como deputado europeu, Tavares se elegeu duas vezes deputado da Assembleia da Repúblicacasa de aposta do brasilPortugal, o equivalente a deputado federal no Brasil, e vereadorcasa de aposta do brasilLisboa, capital do país, onde nasceucasa de aposta do brasil1972. É um dos fundadores do Partido Livre.

Mascasa de aposta do brasilatuação não fica restrita à política formal e à academia. Escreveu uma peçacasa de aposta do brasilteatro (O arquiteto – sobre Minoru Yamasaki, cujo projeto mais conhecido era das Torres Gêmeas do World Trade Center,casa de aposta do brasilNova York), alémcasa de aposta do brasilartigos para jornais portugueses e brasileiros.

Foi autorcasa de aposta do brasilum programa televisivocasa de aposta do brasildivulgação histórica para a RTP e do podcast Agora, agora e mais agora, produzido pelo jornal português Público, que inspirou o livrocasa de aposta do brasilmesmo nome, lançadocasa de aposta do brasil2024 pela Tinta-da-Chinacasa de aposta do brasilPortugal e no Brasil.

Em entrevista concedida à BBC News Brasil por videoconferência, ele aponta os riscos dos poderes ilimitados dos super ricos e critica quem considera mais viável criar o clima da Terracasa de aposta do brasilMarte a salvar o planeta.

Torce por resultados da COP-30, que será realizadacasa de aposta do brasilBelém, defende políticas públicas com menos burocracia e soluções práticas. E sugere uma esquerda que defenda a liberdade e consiga dialogar com os evangélicos, sem abrir mão dos valores dos chamados grupos identitários.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista, editada por concisão e clareza.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Como você mantém e defende um otimismo no mundocasa de aposta do brasilhoje?

casa de aposta do brasil Rui Tavares - O sentimento é absolutamente central para a política, e sentimentos diferentes servem programas políticos diferentes. Não devemos tentar competir com a direita e muito menos com a extrema-direita na alavancagem da frustração, do medo, do egoísmo e do ódio.

Por muito que se reconheça que esses são sentimentos poderosos e que são um combustível político que tem uma grande quilometragem e pode levar um projeto político muito longe.

Muitos desses sentimentos que a direita usa trazem consigo a ideiacasa de aposta do brasilque no passado a gente estava melhor e, portanto, é uma ideia inerentemente conservadora. E, quando a esquerda tenta utilizar o mesmo tipocasa de aposta do brasilsentimento nacasa de aposta do brasilcompetição com a direita, ela não se apercebe que está a gerar uma reação que é mais vantajosa para reacionários do que para progressistas.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Mas é um sentimento real na política?

casa de aposta do brasil Tavares - Acabeicasa de aposta do brasilescrever uma crônica sobre Mário Soares, grande político português que faria 100 anos no dia 7casa de aposta do brasildezembro. Eu o conheci um pouco. Estava numa reunião com mais três ou quatro pessoas e o Mário Soares entrou.

Era da última eleição que ele disputou e que sabia que teria um mau fim. Depoiscasa de aposta do brasilter sido reeleito presidente com 70% dos votos, disputou o cargo pela terceira vez. E, depoiscasa de aposta do brasilter havido mandatoscasa de aposta do brasiloutros presidentes, teve só 14% e ficoucasa de aposta do brasilterceiro lugar.

E ele dizia para a gente "Sei que vocês estão preocupados que eu fique deprimido, mas não sei o que isso é. Nunca estive deprimido nenhum dia da minha vida".

É algo que ainda hoje desafia completamente a minha crença, porque ele nasceucasa de aposta do brasil1924. A República Portuguesa, a primeira República, acabou quando ele ainda não tinha dois anos. Ele viveu até os 50 anoscasa de aposta do brasilditadura. E ele tinha 16 anos e o nazifascismo estava conquistando o mundo.

E, curiosamente, o ataque a Pearl Harbor se deu exatamente no diacasa de aposta do brasilque ele fez 17 anos, que era no dia 7casa de aposta do brasildezembrocasa de aposta do brasil1941. E, claro, nem toda a gente pode pensar ter uma constituição psicológica como o Mário Soares,casa de aposta do brasilser imune à depressão. Isso não existe na maior partecasa de aposta do brasilnós.

Mas eu acho que é a lição, numa carreira política imensa, que tem muitas coisas: que trouxe Portugal para a Europa, que ajudou a firmar a democracia e evitou uma guerra civilcasa de aposta do brasilPortugal.

Claro que tem muitas coisas muito importantes, mas a lição maior que tiro da carreira dele é que sem otimismo não há mobilização, sem mobilização não há vitórias, sem vitórias não há alegria. E a alegria tem um lugar na política. Acho que os maiores políticos, os mais geniais no campo progressista, entendem isso.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - O quadro atual lhe parece inspirador para estes sentimentos?

casa de aposta do brasil Tavares - A primeira coisa que a gente tem que explicar às pessoas é que as mudanças que a gente está a ver agora, não só na questão ambiental, mas na inteligência artificial, são mudanças novas, ou seja, alteram o próprio padrão da mudança.

O cérebro humano se adapta bem à mudança gradual, constante e até à mudança cíclica. Mas, depois, há o outro tipocasa de aposta do brasilmudanças e nós fazemos pouco esforço, até nas ciências sociais, para entender a etiologia da mudança e as suas tipologias.

Qual é o problema? Temoscasa de aposta do brasilconjunção, no momento atual, várias mudançascasa de aposta do brasiltipo disruptivo, irreversível, exponencial e temoscasa de aposta do brasilsimultâneo.

A inteligência artificial é disruptiva, as alterações climáticas correm o riscocasa de aposta do brasilser irreversíveis e as pandemias são exponenciais. E depois temos desafios que sãocasa de aposta do brasilum caráter mais histórico, como a regressão democrática, que podem talvez ser cíclicas, mas que são ciclos longos, seculares.

Então, quando elas ocorrem numa geração, elas não estão na memória viva dessa geração, não são coisas a que estejamos habituados.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - E como agir diante delas?

casa de aposta do brasil Tavares - Temos que explicar às pessoas essas mudanças e temos que explicarcasa de aposta do brasilforma muito simples a solução para cada uma dessas mudanças.

Elas estão lá e a maior parte das pessoas sente que estão. Faltam protagonistas políticos que façam o que um Franklin Delano Roosevelt fez perante a crise bancáriacasa de aposta do brasil1933, naquele famoso discurso do só temos a temer o próprio medo. Ele falavacasa de aposta do brasiluma crise muito complexa e ninguém se lembra já hoje do que é que eu disse antes da frase famosa. E é lá que ele explicou a crise bancária.

Inclusive assumiu perante o povo que não conseguiria explicarcasa de aposta do brasiltodos os detalhes porque era extraordinariamente complexa. Não era fácilcasa de aposta do brasilentender nem para os financeiros, muito menos para o cidadão comum. E ele disse o que iria fazer: fechar os bancos durante alguns dias, limpar os que ainda tinham esperançacasa de aposta do brasilser salvos e fechar os outros. E depois ele explicou às pessoas que, quando os bancos reabrissem, ele iria precisar delas.

Porque só poderiam saber se o plano deu certo quando estivessem entrando nos bancos mais depósitos do que estão saindo saques. Explicou que era uma coisa que ele não poderia fazer sozinho e que precisaria contar com eles. E, para dar certo, ele precisaria que a população acreditasse naquilo que ele estava fazendo. É assumir a dificuldade, explicar as soluções, falar com as pessoas, como inteligentes e adultas que elas são, e trazer o cidadão para a parte da solução.

Isto pode dar resultado, porque as pessoas gostamcasa de aposta do brasilser tratadas com respeito, como pessoas adultas que podem ajudar na solução.

E, nas outras coisas que a gente está a viver hoje, as pessoas precisam, sim, ouvir o otimismo que eu falava na primeira pergunta, mas não pode ser um otimismo besta, desvinculado da realidade.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - O que causa ascensão da extrema-direita?

casa de aposta do brasil Tavares - A direita neoliberal e libertária, mas também as direitas autoritárias,casa de aposta do brasiloutra forma, propõem e prometem um mundo sem fricção. Ao passo que,casa de aposta do brasilboa medida, as nossas políticas sociais ainda têm uma grande dosecasa de aposta do brasilfricção.

É muito simples. No mercado,casa de aposta do brasilque a gente compra e vende ecasa de aposta do brasilque a gente atua como consumidor, há um grande fatorcasa de aposta do brasilfricção, uma grande barreira, que é: você tem dinheiro ou não tem dinheiro.

Mas se você tem dinheiro, a partir daí a coisa funciona quase sem fricção, porque a competição entre empresas está organizada para ser o mais fácil possível conseguir aquilo que você quer. E a empresa que tem menos fricção ganha sobre aquela que tem mais.

E é por isso que muitas coisas são muito simples. E isso, nomeadamente para muitos jovens, é uma proposição muito interessante. É assim porque o que muitos desses jovens dizem é: cobrem menos impostos, tire menos dinheiro do meu salário, saiam da minha frente, na verdade, porque eu com o meu dinheiro eu chego lá na loja e compro. E eu nem precisocasa de aposta do brasilir na loja: compro na internet e trazem na porta da minha casa. E se aquilo for fácilcasa de aposta do brasilmontar, ganho uma vida sem fricção.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Não há como competir com esse discurso?

casa de aposta do brasil Tavares - Aqueles que defendem políticas sociais, como eu, muitas vezes propõem algo assim, pelo menos aqui na Europa. No Brasil, não sei se é bem assim.

Imagina, tu tens um projeto social para o teu bairro, vai fazer um projeto interessante, vai montar uma associação, ter o trabalho, burocracia, documentos, etc.

Essa associação, ela vai concorrer a um projeto, mais trabalho, burocracia, documentação, etc. E com sorte vocês ganham esse projeto. Mas durante todo esse projeto, até porque a direita conseguiu criar toda uma desconfiançacasa de aposta do brasilrelação às políticas sociais ecasa de aposta do brasilrelação aos mais pobres, vai precisar documentar, etc, etc, etc.

E, portanto, mais trabalho. No fim disso tudo você vai ter um subsídio que vai permitir fazer um trabalho que vai finalmente melhorar o teu bairro, mas que se não for documentado, burocratizado, fiscalizado, vai vir alguém que vai dizer que esse dinheiro foi jogado fora, que é tudo uma mamata da esquerda, como se dizia aí, que é corrupção, e por aí afora.

Você já viu até o tempo que demora a explicar isso, quando o agente no mercado simplesmente diz não, eu só quero menos impostos, mais dinheiro, eu vou lá e eu compro na loja, que é o que eu quero.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Por que você considera o Brasil diferente?

casa de aposta do brasil Tavares - Na Europa, vivemos um caso extremo disso. Todas as políticas sociais são hipercomplicadas e todas as soluçõescasa de aposta do brasilmercado se apresentam como sendo sem fricção.

Vocês, apesarcasa de aposta do brasiltudo aí no Brasil, conquistaram algumas políticas sociais, como o Bolsa Família, que têm menos fricção e, por causa disso, hojecasa de aposta do brasildia, nem a direita propõe acabar com elas.

Mas é preciso entender que uma das grandes razões do sucesso delas é a simplicidade. A gente tem que pensar na formacasa de aposta do brasilpropor políticas que sejam generosas, que sejam sociais e tem que pensar que as pessoas querem simplicidade e a gente tem que falar essa linguagem da simplicidade. E não digo só no discurso.

Claro que o discurso político precisacasa de aposta do brasiluma simplicidade inteligente para combater a simplicidade estúpida. Mas as próprias políticas sociais têm que ter uma forma simplescasa de aposta do brasilacesso. Porque, enquanto as pessoas são ainda jovens, enquanto não tiverem tantos problemascasa de aposta do brasilsaúde, enquanto elas não encararam acasa de aposta do brasilprimeira depressão, não passaram por dificuldades, vai ser relativamente simples dizer: olha, eu só quero o meu dinheiro, não quero nada disso.

Cobra menos impostos e eu vou lá e compro. A gente temcasa de aposta do brasilentender a razão do sucesso do discurso egoísta e individualista para poder explicar como é que a gente pode fazercasa de aposta do brasilconjunto coisas que são melhores para todos, mas que tem que respeitar o desejocasa de aposta do brasilindependência que cada pessoa tem.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Como lidar com otimismo com a inteligência artificial?

casa de aposta do brasil Tavares - A inteligência artificial pode ser uma grande ajuda para a gente se isso se converter, por exemplo,casa de aposta do brasilmenos diascasa de aposta do brasiltrabalho.

Se conseguirmos integrá-la aos nossos mecanismoscasa de aposta do brasiltrabalho, será bom para toda a gente. Isso pode ser feito a pequena escala. Em Portugal, temos o projeto-piloto da semanacasa de aposta do brasilquatro dias, que vocês chamam escala 4x3.

O processo começa por um momentocasa de aposta do brasildemocracia no localcasa de aposta do brasilum trabalhocasa de aposta do brasilque o chefe, o gerente, o patrão, o administrador e o trabalhador olham para a semana e com um objetivo bem concretocasa de aposta do brasilmente, dizem: "Ah, se a gente não fizer esta reunião neste dia, se a gente mudar este ou aquele processo, a gente consegue uma coisa que é boa para o trabalhador e que é boa gestão para a empresa, porque trabalhadores mais frescos causam menos erros, menos acidentes no trabalho e produzem melhor".

Aí está um exemplo. A gente tem uma coisa complexa que, trazendo as pessoas para a solução, pode ser resolvida.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Mas a solução não vemcasa de aposta do brasilum momentocasa de aposta do brasilcrise do trabalho?

casa de aposta do brasil Tavares - Creio que há uma obrigaçãocasa de aposta do brasiltornar o trabalho como o conhecemos até agora, subordinado, com carteiracasa de aposta do brasiltrabalho e um horário como algo melhor e mais desejável para as pessoas.

E eu falo muitocasa de aposta do brasilalguns projetoscasa de aposta do brasildesejo político, é claro. Um objetocasa de aposta do brasildesejo político fundamental é a diminuição do horáriocasa de aposta do brasiltrabalho. Foi isso que os anarquistas começaram a fazer lá no século 18, com o novo movimento operário.

Era uma coisa um pouco paradoxal, porque eram anarquistas lutando por uma lei, aqueles mártirescasa de aposta do brasilChicago, que deram origem ao 1ºcasa de aposta do brasilmaio, eram anarquistas que queriam uma lei para diminuir o horáriocasa de aposta do brasiltrabalho.

Porque isso dava liberdade. E, se a pessoacasa de aposta do brasilvezcasa de aposta do brasiltrabalhar 14 ou 16 horas, trabalhasse no máximo 8 horas, isso significava que tinha 8 horas para descansar e outras 8 para fazer aquilo que bem entendesse.

Não era mudar o sistema todocasa de aposta do brasilhoje para amanhã e a pessoa ser livre, mas pelo menos todos os dias a pessoa poder ser mais livre por oito horas.

E se hoje a gente conseguir mudar para uma escala 4x3, isso significa muito mais liberdade para as pessoas. E o que é incrível, e talvez a esquerda não se aperceba disso, é que está toda a gente a falar disso.

Acabeicasa de aposta do brasilchegar do Brasil num momentocasa de aposta do brasilque eu ia apanhar o avião e as senhoras estavam no balcão do check-in a falar da semanacasa de aposta do brasilquatro dias.

E eu pude dizer que nós já fizemos um testecasa de aposta do brasilPortugal e que mil trabalhadores fizeram um testecasa de aposta do brasil40 empresascasa de aposta do brasilsemanacasa de aposta do brasilquatro dias, cujo relatório está disponível e os resultados são incríveis, melhores do que a gente esperava. Menos ansiedade, menos distúrbios no sono, menos síndromecasa de aposta do brasilpânico, menos erros no trabalho e menos acidentes no trabalho.

Praticamente metade dos trabalhadores dizia ter dificuldadecasa de aposta do brasilconciliação com a vida familiar e isso caiu para menoscasa de aposta do brasilum décimo. Ficou só 9%. E o que quer dizer que há até bom argumento pró-família.

Bom argumento para a gente, talvez até para um eleitorado mais conservador, para a gente olhar a semanacasa de aposta do brasilquatro dias, pois ela serve também para quem quer ficar mais com a família. Para cuidar dos filhos ou para cuidar da pessoa mais idosa que estácasa de aposta do brasilcasa e que precisacasa de aposta do brasilcuidados.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Qual a extensão deste tema para o debate político?

casa de aposta do brasil Tavares - A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) e o vereador carioca Rick Azevedo (PSOL) acertaramcasa de aposta do brasilum objetocasa de aposta do brasildesejo político.

A direita criticacasa de aposta do brasilboa medida porque ela entende que a esquerda aqui acertou num objetocasa de aposta do brasildesejo político que é ganhador.

Agora, da mesma forma, a esquerda tem obrigaçãocasa de aposta do brasilentender porque é que essa coisa do empresáriocasa de aposta do brasilnome individual ou do trabalhadorcasa de aposta do brasilplataforma e do coach tem sucesso entre a populaçãocasa de aposta do brasilhoje.

Em primeiro lugar, é o sonhocasa de aposta do brasiluma independência modesta, não é acasa de aposta do brasiluma prosperidade que dá a independênciacasa de aposta do brasiluma pessoa,casa de aposta do brasiluma família.

É um sonho antigo e deve ser respeitado. Inclusive era forte na esquerda do século 19, o pequeno comerciante, o pequeno artesão, o artista tinha um papel muito importante.

A esquerda industrializada e sindicalizadacasa de aposta do brasilmassas é muito típica do marxismo, mas noutras correntes da esquerda e do socialismocasa de aposta do brasilparticular, no anarquismo e no republicanismo, havia um papel muito importante pelo pequeno lojista ou pequeno advogado, etc.

Foram camadas muito importantes e muito progressistascasa de aposta do brasilgente que não estava interessada no trabalho mais formal, mas interessadacasa de aposta do brasilconquistar o suficiente para dar independência para si e para as suas famílias.

E hojecasa de aposta do brasildia temos a direita propondo esse tipocasa de aposta do brasilfigura e função social e alguma esquerda, eu não diria toda, ainda muito agarrada a uma função social do trabalho, que era típica da grande empresa, mas também do patronato, muito forte e estabelecido.

E então temos obrigaçãocasa de aposta do brasilentender qual é a metamorfose que tem aí, que não é nova. Ela já tem tempo e procurar soluções para que a gente entenda o que as pessoas querem e depois possa apresentar propostas para ela.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - E com relação às mudanças climáticas?

casa de aposta do brasil Tavares - Nós não tivermos cuidadocasa de aposta do brasilexplicar às pessoas que as alterações climáticas são um problema que tem uma solução, aquilo que nós, indiretamente, ao jogar nas pessoas, provocamos uma reação que diz das duas uma: ou que no passado era melhor ou que devemos ser egoístas enquanto estiver bom para a gente tentar se concentrarcasa de aposta do brasilse salvar, a nós e aos mais próximoscasa de aposta do brasilnós, num cenário quase apocalíptico.

Isso não é o que interessa para a esquerda, porque os sentimentos da esquerda, dos progressistas, aqueles que a gente precisa estimular, são os da solidariedade, da generosidade e da capacidadecasa de aposta do brasilfazer coisascasa de aposta do brasilconjunto.

Portanto, a cordialidade, a camaradagem e a ideiacasa de aposta do brasilque o futuro vai ser melhor não é que pode ser melhor, mas écasa de aposta do brasilque vai ser melhor se nós nos empenharmos nissocasa de aposta do brasilconjunto.

Ora, tudo isso precisacasa de aposta do brasilotimismo. Sem otimismo, não posso convencer o meu vizinho do lado a vir comigo a qualquer lugar. Isso é da vida comum e é também da própria vida política. E, portanto, se eu não mobilizo pessoas, eu não posso esperar ter vitórias. Se eu não tiver vitória, eu não posso trazer o otimismo para a política e explicar para as pessoas, através da ação primeiro, como é que é a esperança das coisas melhorarem vem depois.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Como dizer isso?

casa de aposta do brasil Tavares - As pessoas querem deixar um mundo melhor aos seus filhos e aos seus netos.

As pessoas querem um mundo mais saudável, com menos doenças respiratórias, e com um clima mais previsível.

Se houver os incentivos, políticas sociais e respostas certas para as indústrias que vão ser deslocadas, e se houver protagonistas com credibilidade para explicar isso às pessoas, as pessoas querem. Até porque tem vantagens.

Claro que resolver o problema das alterações climáticas, dos gasescasa de aposta do brasilefeito estufa, demora. Se a gente fizer uma transição do carro com o combustível fóssil para o carro elétrico, melhorará os gases com efeitocasa de aposta do brasilestufa, que temos na atmosfera do planeta todo.

Podem não ser, talvez, o incentivo direto mais fácil que a gente tem para as pessoas, mas os gases poluentes são mais locais e ficam nas cidades, nas nossas ruas, nos nossos bairros e também são produzidos pelos mesmos carros. Na verdade, esses com as primeiras chuvas, eles passam e isso significa menos doenças respiratórias.

Acho que pode ser interessante para uma mãe, que tem um filho com uma doença respiratória, pensar que a cidade vai ficar mais limpa se a gente substituir essa frota e que depois das primeiras chuvas, não é daqui a 30 anos, é daqui a poucos anos, a gente pode ter um ar mais respirável.

O que também é importante para o idoso. A gente viu na pandemia como é que a doença respiratória pode ser uma sentençacasa de aposta do brasilmorte. Podemos explicar às pessoas que a atenção àquilo que a gente está a fazer não é uma coisa contra o automobilista do automóvel privado, que precisa do carro para trabalhar.

É uma coisa que, se for feitacasa de aposta do brasilforma bem-sucedida, significa que o filho dessa pessoa, e que o pai ou a mãe dessa pessoa, vão viver uma vida melhor proximamente,casa de aposta do brasilbreve. Então,casa de aposta do brasiltudo,casa de aposta do brasiltodos os desafios que a gente está a viver, a gente temcasa de aposta do brasilencontrar aquilo que é do interesse daquela pessoa específica num curto prazo e explicar porque é que aí está uma vantagem para a pessoa. E aí a gente tem um otimismo, que é um otimismo dos resultados, das conquistas concretas. Não é um otimismo completamente aluado.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - E como lidar com os discursos contrários?

casa de aposta do brasil Tavares - Uma coisa que me espanta às vezes é a respostacasa de aposta do brasilum Elon Muskcasa de aposta do brasilque nós vamos colonizar Marte. E vamos climatizar Martecasa de aposta do brasiluma maneira que vai tornar Marte bom para a vida humana.

E o que é extraordinário é que tu tens muita gente que é ao mesmo tempo cética das alterações climáticas, mas que acha perfeitamente realista a gente chegar a Marte e fazercasa de aposta do brasilMarte um planeta verde. Gente que não quer colaborar na resolução do problema aqui na Terra.

Eu não sei se tem comparação, mas é infinitamente mais fácil resolver o problema na Terra, por muito difícil que ele seja, do que tornar Marte um planeta como a Terra é hoje. Nós já temos um bom planeta. Acho que,casa de aposta do brasilparte, a escapatória para esse tipocasa de aposta do brasilsoluções completamente, para não dizer irrealistas, eu diria só extraordinariamente impossíveiscasa de aposta do brasilconseguircasa de aposta do brasiltermoscasa de aposta do brasilcoordenação coletiva.

Ela ocorrecasa de aposta do brasilparte, se nós, do lado da esquerda, só estivermos a dar às pessoas um lado do problema, dizendo o tempo todo que é terrível e não vai haver planeta para todos. Então aí claro que algumas pessoas vão procurar essa escapatória. Se não há planeta para todos, vamos nos mandar daqui, como vocês diriam no Brasil.

O absurdo fica parecendo mais viável do que a solução, ainda que difícil, mas uma soluçãocasa de aposta do brasilcoordenação coletiva, que os humanos sabem como fazer, não é feita na mesa.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - E como você vê o que tem sido feito neste sentido?

casa de aposta do brasil Tavares - A COPcasa de aposta do brasil2025casa de aposta do brasilBelém é tão importante, por mais frustrante que seja, porque está toda a gente sentadacasa de aposta do brasiltorno da mesa falando acerca da possibilidadecasa de aposta do brasiluma solução.

E se a gente conseguir essa solução, vai ser um grande feitocasa de aposta do brasilcoordenação coletiva da humanidade nacasa de aposta do brasilhistória. Mexemos com o clima do planeta e conseguiremos nos entender para "desmexer".

A gente já conseguiu isso uma vez com o buracocasa de aposta do brasilozônio e com os aerossóis, que eram utilizados até os anos 80. Foi um grande feitocasa de aposta do brasilcoordenação coletiva, mas é menos do que o que a gente precisa para as alterações climáticas.

É muito mais simples do que aquilo que a gente precisariacasa de aposta do brasilfazer para saltar do planeta e tornar Marte um planeta tão bom como a Terra.

Não quer dizer que a gente não explore outros planetas, mas quer dizer a gente conseguir que o nosso planeta continue bom, apesarcasa de aposta do brasiltudo, uma coisa mais realista.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Como você, que é anarquista, vê o discurso anarcocapitalista?

casa de aposta do brasil Tavares - Quando comecei a ler sobre política, fiquei fascinado com autores anarquistas. Era algo que eu não esperava, porque na minha família havia gente que estava ligada a uma esquerda mais clássica, marxista, e que achava que os anarquistas tinham sido uns tontos e que não sabiam nadacasa de aposta do brasilnada. Era tudo o contrário.

Na verdade, os anarquistas no século 19, como um Proudhon, com suas teses federalistas, inventou o tipocasa de aposta do brasilajuda mútua que vemos no sindicalismo e nas confederações sindicais.

Eles tinham uma noção muito claracasa de aposta do brasilque na esquerda deveria estar uma defesa da liberdade, e aquilo que não estava tão claro para eles era o que os social-democratas provaram com o Estado Social, no século 20, que o Estado também poderia ser uma ferramentacasa de aposta do brasilemancipação das pessoas. Imagino como esses anarquistas, hojecasa de aposta do brasildia, veriam o que diz um Javier Milei [presidente da Argentina].

Esta é uma conspurcação da palavra liberdade, desses supostos libertários da direita, a quem eu bem chamocasa de aposta do brasillibertarianos, ou então, como dizia Bookchin, que foi um anarquista importante do século 20, são proprietarianos.

Para eles, aquilo que orienta acasa de aposta do brasilideologia política não é tanto a liberdade, mas a questão da propriedade. Isso não tem nada, evidentemente, a ver com os autores anarquistas do século 19 e do século 20. E a mim me dá voltas no estômago quando eu os vejo reivindicarem essa palavra, libertário.

Ou, já agora, os autores do século 21 também, porque a gente tem um Chomsky que hoje vive no Brasil e que é talvez o anarquista mais famoso, mais conhecido.

Muita gente nem sabe o que é anarquista e se reivindica anarquista. Está documentado que, evidentemente, é um elementocasa de aposta do brasilligação com esse anarquismo mais antigo, atécasa de aposta do brasilgrande medidacasa de aposta do brasilraízes judaicas nos Estados Unidos.

De uma Emma Goldman, por exemplo, ecasa de aposta do brasiloutros autores do início do século 20 que tinham essa noçãocasa de aposta do brasilque se a esquerda não for pela liberdade, se a esquerda não reivindicar a liberdade, vem uma direita que toma a liberdade da esquerda e que utiliza essa palavra.

E mobiliza as pessoas para um novo autoritarismo e até para uma desumanização das relações através da aplicaçãocasa de aposta do brasiluma lógica econômica a tudo.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Mas o Estado pode ser agentecasa de aposta do brasilmudanças?

casa de aposta do brasil Tavares - Se a gente olhar para a história do Estado, ele somente funcionou a favor da maior parte das pessoas e das classes com menos poder e com menos dinheirocasa de aposta do brasilsituações relativamente restritas,casa de aposta do brasilgrande pressão social,casa de aposta do brasilmobilização dos trabalhadorescasa de aposta do brasilparticular ecasa de aposta do brasilcapacidadecasa de aposta do brasilorganização.

Aí a gente vê que na social-democracia escandinava, por exemplo, eles fizeram coisas extraordináriascasa de aposta do brasilsaúde pública,casa de aposta do brasilprestações sociaiscasa de aposta do brasileducação pública que libertam as pessoas. Mas as coisas deixadas, digamos, ao seu curso, talvez natural, o Estado é facilmente capturável pelos interesses dos mais ricos e dos mais poderosos como grande instrumentocasa de aposta do brasilcontrole ecasa de aposta do brasilvigilância social.

Era isso o estado do século 19. A gente lembra nos Estados Unidos, numa fasecasa de aposta do brasilque os grandes magnatas cooptavam o Estado e utilizavam suas agênciascasa de aposta do brasildetetives privadas para destruir o sindicalismo.

A partir dos anos 30, tivemos com o Roosevelt e o New Deal, um exemplocasa de aposta do brasilcomo a conciliação entre os interesses dos trabalhadores e dos patrões ajudaria a criar uma mãocasa de aposta do brasilobra qualificada que o permitiria alcançar um equilíbrio entre capitalismo e socialismo.

De certa forma, já não era um capitalismo desenfreado, era um sistema misto com setor público, setor privado e setor cooperativo. Acho que a gente pode recuperar isso e que não deve entrar nesses delírios anarcocapitalistas,casa de aposta do brasilabolir um Estado que depois, basicamente, não deixaria nada entre os magnatas e o povo, que seria consumido e consumidor ao mesmo tempo nesse sistema.

Para conseguirmos dar essa resposta, precisamos explicar para a grande massacasa de aposta do brasilhoje, através da cooperação internacional, que a gente não precisa e não deve querer ter gente tão rica como Elon Musk.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - No que eles são diferentes dos magnatascasa de aposta do brasiloutras épocas?

casa de aposta do brasil Tavares - Agora fala-se super ricos, mas a gente devia chamarcasa de aposta do brasilsuper hiper mega ricos, porque eles já não têm comparação com o rico normal.

Um rico dos anos 50 seria alguém como Calouste Gulbenkian, o armênio que tinha 5% do petróleo do Iraque, que era o homem mais rico dos anos 50, que chegou aqui a Portugal e fez um museu, uma orquestra, uma fundação, um ballet, bibliotecas, e ainda sobrou dinheiro para ele e a família dele ficarem muito confortavelmente.

Ora, esse homem pagava pelo menos 50%casa de aposta do brasiltermoscasa de aposta do brasiltaxacasa de aposta do brasilimpostos. Se fosse nos Estados Unidoscasa de aposta do brasilEisenhower, que era um presidente republicano, ele pagaria até 91%casa de aposta do brasiltaxacasa de aposta do brasilimposto sobre as suas camadascasa de aposta do brasilrendimento mais altas. Hojecasa de aposta do brasildia a gente tem um super mega rico, como o Elon Musk, e outros como ele que, às vezes, pagam 0,5%.

O Elon Musk, no anocasa de aposta do brasilque pagou mais, pagou 4,5%, e num ano como o do começo do ano passado, ele começa o ano com cercacasa de aposta do brasilUS$ 280 bilhões e gasta US$ 130 milhões na campanha do Trump, que é a maior contribuição das maiores. E a gente pensa US$ 130 milhões é um prêmio do Euromilhões aqui na Europa, nas semanascasa de aposta do brasilque tem jackpots. Mas, na escala da fortuna dele, fica o preçocasa de aposta do brasilum café. Então para ele, US$ 130 milhões – que a maior partecasa de aposta do brasilnós não consegue nem sonharcasa de aposta do brasilter, que daria para ficarmos bem o resto da vida e deixar bem os irmãos, os filhos, etc – para ele é um café.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Qual o risco político que essas pessoas trazem?

casa de aposta do brasil Tavares - Musk paga a campanha do Trump, ele ganhacasa de aposta do brasilaposta e nos dias a seguir à vitória do Trump, ele ganha US$ 28 bilhões e com isso ele passa aos US$ 300 bilhõescasa de aposta do brasilfortuna. Sem falar que a criptomoedacasa de aposta do brasilque ele investe, que se chama Dogecoin - assim como o departamento que foi criado para ele na administração do Trump se chama DOGE, que é o Department of Government Efficiency - subiu 20%.

Quer dizer, isso já não é um conflitocasa de aposta do brasilinteresses. A gente precisacasa de aposta do brasilnovas palavras para isso. Isto é um furúnculo que ameaça transbordar e tomar o mundo todo. Um dia destes, estes super ricos poderão não só ter redes sociais, como já têm, mas poderão comprar exércitos, arsenais e podem ter os satélites que orbitam à volta da Terra e constituir redescasa de aposta do brasilsatélites.

E será que nós deveremos querer isso? Porque para nós, apesarcasa de aposta do brasiltudo, um Estado que tenha um exército, a gente consegue,casa de aposta do brasilcerta forma, controlá-lo. Um homem sozinho, com mais dinheiro do que a maior parte dos países do mundo, é incontrolável, faz o que quer.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - É preciso um imposto global sobre eles?

casa de aposta do brasil Tavares - Eu valorizo muito essa ação que o Brasil tem tomado, com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad,casa de aposta do brasilpôrcasa de aposta do brasilcima da mesa a pautacasa de aposta do brasilcobrar impostos sobre grandes fortunas. Com ele, a gente tem uma solução para as alterações climáticas, para tudo o que a gente precisa fazer, a transição para todo o investimento público que a gente precisa fazer.

Mas não só a gente teria uma solução, como a gente teria um problema a menos, porque os super ricos, da maneira como eles estão, é incomparável com os maiores ricoscasa de aposta do brasilhá duas ou três gerações atrás, são um perigo para o mundo. Imagina ter esse tipocasa de aposta do brasilrecursos nas mãos e enlouquecer? Aliás, é quase impossível imaginar ter esse tipocasa de aposta do brasilrecursos nas mãos e não enlouquecer. Até para a saúde mental da pessoa, a gente definir aí uma taxacasa de aposta do brasilimpostos progressiva, que seja muito alta para os super ricos. A gente não precisa ter gente que caminha para ter US$ 1 trilhão.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Qual o futuro dessas pautascasa de aposta do brasilum país como o Brasil, que tende a se tornar majoritariamente evangélico?

casa de aposta do brasil Tavares - Vou remeter aqui para o último filme da Petra Costa, que eu recomendo vivamente e chama Apocalipse nos Trópicos. Creio que estarácasa de aposta do brasildistribuição no Brasil brevemente. Tive uma pequena participação no roteiro do filme e acho que o filme dá muitas pistas sobre esse tema dos evangélicos, ecasa de aposta do brasilparticular dos neopentecostais, na política. Sou um ateu fascinado pelas religiões. Acho que há um problema que tem a ver com o que é prático na política. Como os dois primeiros mandatos do Lula tiveram políticas sociais que levam mais gente a adquirir casa, a entrar na universidade, poder viajar mais, comprar o seu automóvel.

Porém os louros dessas políticas, numa lógica moral e teológica diferente, não ficam com as políticas públicas e estatais ou outras, ficam apenas com o indivíduo e Deus. Eu tenho isso tudo, mas não foi o Estado que me ajudou, foi Deus.

É preciso conseguir recriar o diálogo que permita ter aqui um consenso mais próximo do que foi a realidade das políticas públicas. O mérito individual tem um papel. A pessoa tem uma crença divina, isso faz parte dacasa de aposta do brasilprópria personalidade e dacasa de aposta do brasilfilosofiacasa de aposta do brasilvida. Mas se não houver Estado nem políticas públicas, vamos viver numa situação mais complicada,casa de aposta do brasilque é muito mais difícil Deus ajudar, diria eu, que sou ateu.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - E como estabelecer este diálogo?

casa de aposta do brasil Tavares - Há um elemento que me fascina no neopentecostalismo, que está na origem do próprio Pentecostes, que é um milagre que aconteceu 50 dias depois da Páscoa, quando já Cristo tinha ascendido ao céu.

Os apóstolos estão sem Cristo, eles não sabem como é que vão fazer para espalhar a mensagem. As línguascasa de aposta do brasilfogo descem do céu e põem os apóstolos a falar todas as línguascasa de aposta do brasiltodos os humanos. Na verdade, é um evento muito interessante no Novo Testamento, porque é uma espécie do oposto da Torrecasa de aposta do brasilBabel. Na Torrecasa de aposta do brasilBabel, Deus confundiu os humanoscasa de aposta do brasilvárias nações e com Pentecostes, por intercessãocasa de aposta do brasilCristo, passa a haver uma esperançacasa de aposta do brasilconseguir falar com toda a humanidade.

Assistiram àquele episódio árabes, romanos, gregos e os egípcios, etc. E toda a gente entendeu porque os apóstolos estavam a falar tanto que até pensaram que estavam bêbados. Curiosamente, é um milagre muito cosmopolita e, se quisermos,casa de aposta do brasilesquerda. Do pontocasa de aposta do brasilvista da ideiacasa de aposta do brasilconcórdia,casa de aposta do brasilfraternidade universal,casa de aposta do brasilhumanidade como uma comunidadecasa de aposta do brasilsi. Ali talvez esteja uma pista para um diálogo com os neopentecostais.

Por outro lado, também pode ter uma tradução hiper elitista e a gente vê isso no fenômeno do falarcasa de aposta do brasillínguas. Há uma elite do neopentecostalismo que se presume não apenas cristã e crente, mas profeta, porque crê que não foi batizada só pela água, como é o batismo normal, mas foi batizada pelo fogo, que é o batismo das línguascasa de aposta do brasilfogo do Pentecostes. Isso lhes permite profetizar e os põe a uma distância muito grande do resto da comunidadecasa de aposta do brasilcrentes, o que pode levar a fenômenos autoritários.

Vai ter que haver uma aprendizagemcasa de aposta do brasilonde estão elementos que sãocasa de aposta do brasilprogresso,casa de aposta do brasilgenerosidade ecasa de aposta do brasilsolidariedade na religião. O fenômeno religioso não pode ser desvalorizado como alguns marxistas faziam, como uma superestrutura meramente espiritual. Preocupados com o materialismo histórico, portanto com as coisas meramente econômicas, para eles a religião era apenas uma espéciecasa de aposta do brasilemanação dos modoscasa de aposta do brasilprodução. Isso é uma maneira completamente erradacasa de aposta do brasilolhar para os fenômenos culturais.

Marx disse uma vez que a religião é o ópio do povo, mas acho que ele nunca se preocupoucasa de aposta do brasilentender oucasa de aposta do brasilexplicar a seguir que há uma razão porque o ópio era considerado bom. Teve derivações como o futebol é o ópio do povo e por aí afora, mas sempre que os intelectuaiscasa de aposta do brasilesquerda se aproximaram desses fenômenos a partircasa de aposta do brasiluma posiçãocasa de aposta do brasilarrogância, eles falharam.

É preciso entender o apelo que o futebol tem e até apreciá-lo. Demorou muito tempo, mas hojecasa de aposta do brasildia a gente vê que os intelectuais, até muito por açãocasa de aposta do brasilautores e escritores brasileiros, normalizaram o amor pelo futebol, que não é uma coisa à parte do prazer das ideias, mas que é uma coisa que faz parte da criatividade viva da expressão humana e do talento.

casa de aposta do brasil BBC News Brasil - Como você vê as chamadas pautas identitárias dentro da esquerda atual?

casa de aposta do brasil Tavares - O pessoal tem que entender que o fenômeno cultural é motorcasa de aposta do brasilmudança. Isso vale também para as identidades. Lembrocasa de aposta do brasilquando voltei ao Brasil, depoiscasa de aposta do brasilmuitos anoscasa de aposta do brasilausência, e fui a um encontro na Fundição Progresso, no Rio. Estava lá o Pablo Capilé, que me disse assim pela primeira vez: "Cara, tem uma esquerda tradicional da lutacasa de aposta do brasilclasses e uma esquerda do imaginário e da identidade, e elas se detestam".

Foi a primeira vez que alguém me descreveucasa de aposta do brasilforma tão gráfica esse fenômeno. E ainda há muita gente que acha que essa história das identidades é uma distração.

Precisamos entender desde logo que a lutacasa de aposta do brasilclasses também é uma luta identitária,casa de aposta do brasilcriaçãocasa de aposta do brasiluma consciência, portanto, logo,casa de aposta do brasiluma identidadecasa de aposta do brasilclasse, mas sem entender que identidade é uma coisa que toda a gente tem.

Sem identidade, eu não acordo hoje sabendo que sou mais ou menos a mesma pessoa que eu era ontem. E eu não vou acordar amanhã sabendo que sou a mesma pessoa que sou hoje.

A identidade é uma função da memória. E sem memória nós não somos seres humanos funcionais.

A identidade é a forma como nós contamos a nós mesmos uma história, uma narrativa sobre quem somos. E, portanto, não podecasa de aposta do brasiljeito nenhum ser desvalorizada pela esquerda.

Pela direita religiosa ela não écasa de aposta do brasiltodo desvalorizada: eles têm outra portacasa de aposta do brasilentrada na identidade e não desvalorizam nunca o fenômeno identitário, que é essencial à vida humana.