Cirurgias, retirada do útero e dor 'insuportável': a sagabd 1xbet20 anosbd 1xbetuma mulher para identificar endometriose:bd 1xbet

Crédito, Geraldo Magela/Agência Senado

Legenda da foto, Paula participou,bd 1xbet2018,bd 1xbetuma audiência no Senado sobre endometriose

“Eu tinha muito a entregar na vida e até conseguir um tratamento não tive oportunidade”, diz.

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Paula demorou mais anos do que o previsto para se formar na faculdade e teve que adiar o início e a entrega do seu projetobd 1xbetmestrado maisbd 1xbetuma vez por contabd 1xbetcontratempos associados à doença. Ela ainda teve que desistirbd 1xbetum estágio e foi demitidabd 1xbetoutro por contabd 1xbetfaltas e do tratamento.

Além disso, ela afirma que as dores a impediambd 1xbetrealizar atividades do dia a dia, manter uma vida social regular e até praticar atividades físicas normalmente.

“A endometriose — e a forma como a sociedade trata a doença — colocaram minha vidabd 1xbetpausa e prejudicaram minha carreira.”

A endometriose afeta cercabd 1xbet10%bd 1xbettodas as mulheres e meninasbd 1xbetidade reprodutiva do planeta, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Ainda assim, a doença demora,bd 1xbetmédia, sete anos para ser diagnosticada, desde o surgimento dos primeiros sinais e sintomas.

Alysson Zanatta, ginecologista especializadobd 1xbetendometriose que acompanha Paula atualmente, explica que a condição é definida pela presençabd 1xbetlesões fora do útero que contenham célulasbd 1xbetendométrio.

“O endométrio é a camada interna do útero que descama durante a menstruação”, explica.

“E quando falamosbd 1xbetlesão nos referimos desde a um nódulo pequeno localizado até lesões extensas, que causam uma distorção anatômica severa da pelve ebd 1xbetórgãos extrapélvicos.”

‘Saíbd 1xbetlá aos prantos’

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A odisseiabd 1xbetPaula começou ainda na adolescência, quando sentia fortes dores menstruais e fazia visitas constantes ao hospital por infecções urinárias e respiratórias.

“A partir da minha segunda menstruação comecei a sentir cólica forte e, pouco antes dos meus 12 anos, elas já eram incapacitantes”, conta.

A brasiliense relata que os sangramentos intensos sempre eram acompanhadosbd 1xbetenjoo e vômito, fortes doresbd 1xbetcabeça e na lombar e sofrimento para urinar e defecar.

Quando ingressou na faculdadebd 1xbetRelações Internacionaisbd 1xbet2008 e começou a estagiar, esse quadro passou a ser um problema ainda maior, já quebd 1xbetalguns dias sair da cama era impossível, conta Paula.

Ela já havia consultado um ginecologista, que apenas receitou um anticoncepcional para que ela parassebd 1xbetmenstruar. Mas a pílula não foi suficiente e os sangramentos e as dores persistiram.

“Tive que pedir para sair do estágio porque eu faltava demais e, mesmo justificando minhas ausências, outros funcionários não entendiam e me perseguiam por isso”, diz.

“Muitos colegas na faculdade também diziam que eu ‘fingia doença’ ou usava as cólicas para fazer os professores sentirem penabd 1xbetmim.”

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Apesarbd 1xbetsentir fortes dores desde os 12 anos, o diagnósticobd 1xbetendometriosebd 1xbetPaula só veio aos 25

Em novembrobd 1xbet2012, Paula desenvolveu uma infecção nos rins decorrente da endometriose, que naquele momento ainda não havia sido diagnosticada pelos médicos, apesar das constantes visitas ao hospital ebd 1xbetrepetidos examesbd 1xbetimagem e análises clínicas.

“Os médicos me disseram que eu não tinha nada e que as dores e infecções eram normais para uma mulher”, diz. “Por isso fiquei empolgada para procurar outro estágio.”

Em 2013, ela foi contratada para estagiar na própria faculdade, mas depoisbd 1xbetalguns meses foi demitida diante do excessobd 1xbetfaltas.

“Não comentei sobre minhas dores na entrevista porque fiquei envergonhada, mas não imaginava que minha saúde ia piorar tanto”, relata.

“As dores que antes eu sentia quando menstruava ou um pouco antesbd 1xbetmenstruar passaram a ser o tempo todo.”

Paula conta que nesse período passou por vários médicos, mas se sentiu invalidada por muitos deles. Até que encontrou uma especialistabd 1xbetdiagnósticos que relacionou os sintomas ao históricobd 1xbetendometriose na família.

“Minhas duas irmãs já tinham sido diagnosticadas com endometriose. Uma delas descobriu por contabd 1xbetdores, mas outra só soube porque não conseguia engravidar”, conta.

Foi só neste momento que Paula fez a primeira ressonância pélvica, indicada para detecção da endometriose.

Após o procedimento recebeu o diagnósticobd 1xbetadenomiose. Enquanto que na endometriose há a presença das células do endométrio fora do útero, espalhadas pelo abdome (ovário, intestino, bexiga etc), a adenomiose é caracterizada pela infiltração destas células no miométrio (músculo uterino).

Mas o tratamento com anticoncepcionais para adenomiose ainda não foi suficiente para acabar com as dores. Em novembro daquele ano, Paula foi internada com infecção renal grave.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Apesar das dificuldades, Paula conseguiu se formar na faculdade

“Chegueibd 1xbetchoque no hospital e com sepse no rim esquerdo. Fiquei 12 dias internada”, conta.

“Foi aí que meu chefe me avisou que eu teria que sair do estágio para me dedicar ao cuidado com a minha saúde. Não tive escolha e fiquei muito magoada.”

Segundo Paula, apesar da maior partebd 1xbetsuas tarefas poder ser realizada à distância, o RH da faculdade via suas ausências constantes como um problema. “Eu não acumulava trabalho, mesmo passando mal”, diz.

No ano seguinte, após consultas com um especialista, a brasiliense fez novos exames, que dessa vez indicaram também uma endometriose.

O médico decidiu encaminhá-la para cirurgia, mas durante o procedimento afirmou não ter encontrado células do endométrio fora do útero.

“Ele me tratou supermal, disse que minha dor era psicológica porque ele me abriu e viu que não tinha nada ali, nenhum foco. Eu saíbd 1xbetlá aos prantos e pensando que eu realmente era louca.”

As dores e infecções continuaram. “Devido à minha saúde levei 8 anos para me formar na graduação.”

‘Não acreditambd 1xbetmim’

Em 2016, aos 27 anos, Paula decidiu retirar o útero.

“A profissional que me acompanhava naquele momento falou que era algo muito radical, mas também disse que como provavelmente eu só tinha adenomiose, só a retirada do útero resolveria.”

Após a cirurgia, mais uma vez a médica disse que não encontrou nenhum sinalbd 1xbetendometriose

As dores cessaram por alguns meses, mas logo voltaram, junto com as visitas constantes à emergência.

“Fiquei desesperançosa, desmotivada e juntando a outras questões da minha vida que não estavam indo bem,bd 1xbetjaneirobd 1xbet2017, aos 27 anos, tentei suicídio”, conta.

“Eu vou viver com dor para sempre, não acreditambd 1xbetmim”, ela disse que pensava na época.

Após ficar internadabd 1xbetuma clínica psiquiátrica por 47 dias, Paula encontrou o médico ginecologista que trata do seu caso até hoje, Alysson Zanatta.

O especialista a diagnosticou definitivamente com endometriose. Mesmo o caso sendo cirúrgico, Zanatta decidiu iniciar o tratamento com fisioterapia pélvica e acupuntura, já que ela havia passado por dois procedimentos recentes.

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Paula depois da realização da cirurgia

Por conta dos anos com endometriose e do estresse excessivo sobre os músculos, Paula havia desenvolvido síndrome miofacial, uma condição crônica que causa dorbd 1xbetpontos específicos do corpo.

O médico optou pela cirurgiabd 1xbetendometriose apenasbd 1xbet2019. “Comecei uma saga para o plano liberar. Em um momentobd 1xbetestresse,bd 1xbetnovembrobd 1xbet2018, aos 29 anos, surtei e tentei suicídio, mais uma vez”, relata Paula.

A brasiliense foi então internadabd 1xbetuma clínica psiquiátrica por mais dois meses e diagnosticada com Transtorno Disfórico Menstrual, uma forma mais grave da síndrome pré-menstrual — que anteriormente era chamadabd 1xbetTPM.

A listabd 1xbetsintomas causados pelo transtorno é extensa e inclui manifestações físicas, como inchaço, dor nas mamas, aumento do volume abdominal, dorbd 1xbetcabeça e cansaço.

Também sintomas psíquicos, como humor deprimido, ansiedade, irritabilidade, sensaçãobd 1xbetnervos à flor da pele e até ideação suicida.

Pouco depoisbd 1xbetreceber altabd 1xbetsua internação,bd 1xbetjaneirobd 1xbet2019, Paula tentou suicídio pela terceira vez.

Confirmação só na operação

Somente após fazer mudançasbd 1xbetsuas medicações e intensificar seus tratamentos com psicólogo e psiquiatra, ela foi liberada para a cirurgia.

Durante o procedimento, Alysson Zanatta encontrou focosbd 1xbetendometriose muito próximos dos ureteres, dos nervos, do ligamento uterossacro e no fundo da vagina.

O médico afirma que os focos eram todosbd 1xbetcores claras — rosa e branco — e que estavam todos fibrosados. Isso significa que Paula possivelmente já tinha esses focos desde abd 1xbetprimeira cirurgia,bd 1xbet2014.

Mas, segundo Zanatta, o diagnóstico da endometriose ainda é um desafio para muitos médicos.

“Hoje já sabemos alguns dos sintomas mais característicos da endometriose: cólicas menstruais, dores durante a relação sexual, dores lombares e nos membros inferiores, dificuldadebd 1xbetengravidar”, diz.

“Muitas vezes eles são vistos como naturais do período menstrual e relativizados, mas não é normal sentir dores muito fortes, vomitar, ficar incapacitada.”

Segundo o médico, o diagnóstico requer um treinamento específico que nem sempre está presente na formação dos médicos.

“Mas com um bom examebd 1xbetimagem, seja uma ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal ou uma ressonância magnética feita por um bom profissional, é possível identificar mesmo pequenas lesõesbd 1xbetendometriose.”

Ainda assim, explica,bd 1xbetalguns casos os examesbd 1xbetimagem não são conclusivos. Foi o que aconteceu com Paula.

“Não é uma situação habitual, geralmente nós temos a confirmação no examebd 1xbetimagem, mas há casosbd 1xbetque a história clínica é muito característica e mesmo sem a comprovação no examebd 1xbetimagem acabamos optando por uma cirurgia”, afirma.

“E como já era esperado, só tivemos a confirmação do caso da Paula no intra-operatório”.

Zanatta explica ainda que existem teorias que relacionam a endometriose a condiçõesbd 1xbetdeficiência imunológica.

Isso não significa que a doença possa causar ou favorecer infecções, mas o médico afirma que as condições podem estar indiretamente ligadas, o que explicaria o quadrobd 1xbetPaula.

“Recebo muitos relatosbd 1xbetpacientes que tiveram a vida profundamente impactada pela endometriose, sejabd 1xbettermosbd 1xbetredução da produtividade da mulher ou consequências na vida emocional e afetiva”, conta o médico ginecologista.

“A endometriose é um problemabd 1xbetsaúde pública e as mulheres precisambd 1xbetum tratamento efetivo e mais rápido.”

*Caso seja ou conheça alguém que apresente sinaisbd 1xbetalerta relacionados ao suicídio, ou caso você tenha perdido uma pessoa querida para o suicídio, confira alguns locais para pedir ajuda:

- O Centrobd 1xbetValorização da Vida (CVV), por meio do telefone 188, oferece atendimento gratuito 24h por dia; há também a opçãobd 1xbetconversa por chat, e-mail e busca por postosbd 1xbetatendimento ao redor do Brasil;

- Para jovensbd 1xbet13 a 24 anos, o Unicef oferece também o chat Pode Falar;

- Em casosbd 1xbetemergência, outra recomendaçãobd 1xbetespecialistas é ligar para os Bombeiros (telefone 193) ou para a Polícia Militar (telefone 190);

- Outra opção é ligar para o SAMU, pelo telefone 192;

- Na rede pública local, é possível buscar ajuda também nos Centrosbd 1xbetAtenção Psicossocial (CAPS),bd 1xbetUnidades Básicasbd 1xbetSaúde (UBS) e Unidadesbd 1xbetPronto Atendimento (UPA) 24h;

- Confira também o Mapa da Saúde Mental, que ajuda a encontrar atendimentobd 1xbetsaúde mental gratuitobd 1xbettodo o Brasil.

- Para aqueles que perderam alguém para o suicídio, a Associação Brasileira dos Sobreviventes Enlutados por Suicídio (Abrases) oferece assistência e gruposbd 1xbetapoio.