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Por que cientistas defendem livros didáticosmr jack apostas apppapel :mr jack apostas app
Ao mesmo tempo, há pesquisadores que lamentam que questões igualmente importantes - como a qualidade dos livros - têm sido ofuscadas pela mera oposição entre papel e digital.
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Tudo isso a BBC News Brasil conta a seguir.
A leituramr jack apostas apppapel
Alguns dados importantes nessa discussão vêm do Pisa, o principal exame internacional a comparar o aprendizadomr jack apostas appvários países.
No ano passado, a entidade organizadora do exame, a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), identificou que estudantesmr jack apostas app15 anos que tinham o hábitomr jack apostas applerem livrosmr jack apostas apppapel fizerammr jack apostas appmédia 49 pontos a mais na provamr jack apostas appleitura do Pisa 2018,mr jack apostas appcomparação com os jovens que raramente ou nunca liam livros.
Esses 49 pontos equivalem a mais ou menos 10% da pontuação média total dos países na provamr jack apostas appleitura do Pisa.
Além disso, estudantes com o hábitomr jack apostas applermr jack apostas apppapel também costumavam demonstrar mais prazer com a leitura do que aqueles que liam textos digitais.
"Os resultados do Pisa confirmam que o acesso a capital cultural, como livros, é um forte preditor do desempenho dos estudantes", aponta a OCDE.
A leitura digital tem vantagens importantes, como poder rapidamente buscar fontesmr jack apostas appinformação e checar dados. Mas uma preocupação dos cientistas émr jack apostas appque, nas telas, nossa leitura seja mais superficial do que no papel - ou seja,mr jack apostas appque "passamos os olhos",mr jack apostas appvezmr jack apostas applermr jack apostas appverdade.
"As pesquisas dos últimos dez anos mostram que, se você medir a compreensão - o quantas pessoas se lembram do que leem -, ela é quase sempre melhor no texto impresso, especialmente para textos longos", diz à BBC News Brasil a pesquisadora Naomi S. Baron, professora eméritamr jack apostas appLinguística da American Universitymr jack apostas appWashington (EUA).
O texto impresso convida a uma leitura mais lenta e concentrada do que o textomr jack apostas apptela, que geralmente é ditado pelo ritmo das redes sociais e do multitasking, agrega Baron.
"Muito do que fazemos no mundo digital é veloz: olhar para um post no Facebook, uma foto no Instagram, os resultadosmr jack apostas appjogosmr jack apostas appfutebol, e daí seguir adiante. Com o texto impresso, presumindo que você não vai estar checando o seu telefone, você tende a focar mais."
Leitura crítica e 'impaciência cognitiva'
A experiência sensorial do texto impresso -mr jack apostas appmanusear e voltar ou avançar páginas manualmente - também parece favorecer a concentração, segundo Baron.
Nas suas pesquisas com jovensmr jack apostas appidade escolar, diz ela, "eles nos dizem que, se estão lendo uma históriamr jack apostas appficção, conseguem ser muito mais absorvidos pela leitura (em papel) e se identificar com personagens".
Ponto semelhante já foi levantado pela neurocientista americana Maryanne Wolf, cujas pesquisas sugerem que a leitura superficial poderia prejudicar a capacidade humanamr jack apostas appentender argumentos complexos,mr jack apostas appfazer análises críticas e atémr jack apostas appcriar empatia por pontosmr jack apostas appvista diferentes.
Em entrevista à BBC News Brasilmr jack apostas app2019, ela argumentou que nossa habilidademr jack apostas appler e interpretar não é inata: dependemr jack apostas appcircuitos cerebrais que levaram milharesmr jack apostas appanos para serem desenvolvidos até o ponto atual,mr jack apostas appque conseguimos processar argumentos, sutilezas, ironias e emoções expressos na formamr jack apostas apptexto.
"É isso o que me preocupa nos mais jovens: eles estão desenvolvendo uma impaciência cognitiva que não favorece (a leitura crítica)", disse na época Wolf, que é pesquisadora da Universidade da Califórniamr jack apostas appLos Angeles e autoramr jack apostas appO Cérebro no Mundo Digital - Os desafios da leitura na nossa era.
"Deixamosmr jack apostas appestar profundamente engajados no que estamos lendo, o que torna menos provável que sejamos transportados para um entendimento real dos sentimentos e pensamentosmr jack apostas appoutra pessoa."
No âmbito da educação pública, um caso que tem sido observado por especialistas é o da Suécia, que a partirmr jack apostas app2015 investiu na digitalizaçãomr jack apostas appseus materiais didáticos a partir da pré-escola, mas agora avalia ter ido "longe demais".
Em entrevista à imprensa local, a ministramr jack apostas appEducação, Lotta Edholm, se queixou do excessomr jack apostas apptelas emr jack apostas appos livros estarem mais ausentes da vida das crianças desde a digitalização.
"Agora, estamos fazendo o oposto: lançando nosso maior investimentomr jack apostas applivros didáticos. (...) Sabemos pelas pesquisas que há um entendimento mais profundo da leituramr jack apostas applivrosmr jack apostas appcomparação com a leitura na tela", declarou.
Qualidade dos livros
Mas há questões importantes que se perdem quando o debate meramente coloca os dois meiosmr jack apostas appleituramr jack apostas appcampos opostos,mr jack apostas appvezmr jack apostas appidentificar qual o melhor contexto para cada um, diz à BBC News Brasil a professora Natalia Kucirkova, que pesquisa o tema na Universidademr jack apostas appStavanger, na Noruega.
"É uma pena que por tanto tempo se persista nessa dicotomiamr jack apostas app'impresso versus digital', porque, na verdade, as tecnologias já estão integradas nas experiências do dia a dia", argumenta Kucirkova.
Ela defende que o foco seja direcionado à qualidade dos livros (impressos ou digitais) e como cada meio pode proporcionar uma experiênciamr jack apostas appaprendizado emr jack apostas appengajamento diferente.
Como exemplo, Kucirkova diz que tem experimentado com livros digitais sensoriais, que incorporem na leituramr jack apostas apptela a experiência tátil e olfativa que é tão valiosa na leituramr jack apostas apppapel.
Ela também defende livros digitais que não sejam meras cópiasmr jack apostas appPDFmr jack apostas appseus pares impressos, mas sim agreguem personagens que interajam ou sejam controlados pelo jovem leitor.
O desafio, aí, é garantir que essa experiência interativa engaje a criança,mr jack apostas appvezmr jack apostas appdistraí-la da leitura, explica a pesquisadora. Mas, se esse obstáculo for superado, livros do tipo têm potencialmr jack apostas appfavorecer a leituramr jack apostas appcontextos novos.
"Por exemplo,mr jack apostas appavós que possam compartilhar pelo Zoom o mesmo livro digital com netos que estejam distantes. (...) Já existe também uma bibliotecamr jack apostas applivros digitais criada para atender crianças ucranianas refugiadas, que foram separadasmr jack apostas appseus livros físicos", ela explica.
Além disso, Kucirkova diz que crianças que demonstram menos interesse pela leitura - os quais ela chamamr jack apostas app"leitores relutantes" - também podem ter a chancemr jack apostas appencontrar prazer nas histórias digitais.
Mas como esse debate se insere no Brasil, que ainda não equalizou o acesso nem à educação, nem à tecnologia?
Brasil e São Paulo
Em novembromr jack apostas app2020,mr jack apostas appplena pandemiamr jack apostas appcovid-19, o Unicef (braço da ONU para a infância) calculou que 5 milhõesmr jack apostas appcrianças brasileiras estavam sem acesso à educação, que naquele momento havia migrado para o ambiente digital.
Foi um retrocesso ao mesmo índice que o Brasil tinha 20 anos antes, no início dos anos 2000.
"A pandemia nos mostrou que temos uma enorme desigualdademr jack apostas appacesso à internetmr jack apostas appbanda larga e a equipamentos. Então causa estranhamento uma política pública sem que haja condições para que ela possa ser implementada", diz à BBC News Brasil Anna Helena Altenfelder, da organização educacional Cenpec,mr jack apostas appreferência ao projeto proposto pelo governomr jack apostas appSão Paulo para 2024.
O governo paulista quer usar apenas material didático próprio -mr jack apostas appvezmr jack apostas applivros do Programa Nacionalmr jack apostas appLivros Didáticos (PNLD), do Ministério da Educação - e migrar todo esse material para o ambiente digital, para alunos a partir do 6° ano.
O Ministério Público estadual abriu um inquérito civil para investigar um "potencial prejuízo à continuidade do processo educacional" e "eventual desperdíciomr jack apostas apprecursos públicos", já que os livros do PNLD foram adquiridos pelo governo federal - e produzir material próprio poderia implicar,mr jack apostas apptese,mr jack apostas appgastos adicionais ao Estado.
A Secretariamr jack apostas appEducação paulista afirmou à Folhamr jack apostas appS. Paulo que pretende usar material próprio para manter a "coerência pedagógica" com o currículo escolar estadual.
Depois da repercussão do caso, o governador Tarcísiomr jack apostas appFreitas afirmou que houve falhasmr jack apostas appcomunicação da decisão e agregou: "nós vamos encadernar (os livros didáticos) e entregar impresso, encadernado" para os alunos que assim quiserem.
Mesmo assim, Altenfelder acha que persistem dúvidas sobre a eficácia do projeto na rede estadual paulista.
"Muitas salasmr jack apostas appaula têm 40 alunos e televisõesmr jack apostas app32 polegadas. Como os alunos vão enxergar (a exposição do material digital)? E o grande desafio é pensar na qualidade desse material, porque eles (São Paulo) estão abrindo mãomr jack apostas applivros didáticos do PNLD, que são produzidos a partirmr jack apostas appum edital, cuidadosamente elaboradomr jack apostas appum programa federal que tem maismr jack apostas app30 anos e que tem qualidade."
Competências digitais
No mundo, um relatório da Unesco (braço da ONU para a educação e cultura) traçou um panorama da tecnologia nas escolas do mundo inteiro e aponta que o impacto desse uso no aprendizado ainda é dúbio.
E um dos motivos é justamente a dificuldademr jack apostas appacesso: apesarmr jack apostas app91% dos países terem usados plataformasmr jack apostas appensino digital durante o fechamento das escolas por causa da covid-19, essas plataformas só alcançaram 25% dos alunos globais.
"A atenção excessiva à tecnologia geralmente tem um alto custo. Recursos despendidosmr jack apostas apptecnologia,mr jack apostas appvezmr jack apostas appem salamr jack apostas appaula, professores e livros didáticos para criançasmr jack apostas apppaísesmr jack apostas apprenda baixa a média-baixa, que não têm acesso a esses recursos, provavelmente colocarão o mundomr jack apostas appuma posição ainda mais distantemr jack apostas appalcançar o objetivo mundialmr jack apostas appeducação (inclusiva, igualitária emr jack apostas appqualidade)", aponta o relatório da Unesco.
Mesmo assim, o relatório destaca a importância da tecnologiamr jack apostas appum mundo cada vez mais digital: "As crianças podem aprender (sem a tecnologia). No entanto, a educação delas dificilmente será tão relevante sem a tecnologia".
Para Altenfelder, a chave é encontrar formasmr jack apostas appcombinar as experiências analógicas e digitais, a depender das habilidades que precisem ser ensinadas.
"Sem dúvida nenhuma é papel da escola desenvolver as competências digitaismr jack apostas appque os alunos precisam. (...) O grande problema é ser exclusivamente digital e perdermos as habilidadesmr jack apostas appleitura do impresso, que possibilitam uma reflexão maior", diz ela.
Para Naomi Baron, da American University, um ponto crucial é treinar as crianças a se concentrarem, reduzirem o ritmo emr jack apostas appfato submergirem na leitura. Feito isso, elas serão capazmr jack apostas appmigrar do papel ao digital (e vice-versa) com menos prejuízos.
"Precisamos ensinar tanto crianças quanto adultos a baixar os olhos, acalmar a mente e a focarmr jack apostas appuma quantidademr jack apostas appparágrafos que tenha coerência, (...) a voltar no texto, a reler - o que é partemr jack apostas appconstruir um aprendizado", ela diz.
"Muitas pessoas me perguntam: 'será que não lemos mais palavras digitalmente do que leríamosmr jack apostas apppapel?' Eu respondo que provavelmente nós temos contato com mais palavras, mas será que estamos pausando o suficiente para entendê-las e recordar delas? Acho que estamos fazendo isso menos, porque o meio digital está sempre nos forçando a avançar, a sermos mais rápidos, a rolar a página."
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