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As mulheres que 'pausam' tratamento do câncercbet gg connexionmama para engravidar:cbet gg connexion
Mas o tratamento não parou por aí: ela ainda passou por sessõescbet gg connexionquimioterapia e radioterapia antescbet gg connexioniniciar a hormônioterapia, um comprimido tomado diariamente para regular a açãocbet gg connexionhormônios que estimulam o crescimento das células tumorais e o reaparecimento da doença.
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Fim do Matérias recomendadas
Geralmente, essa etapa terapêutica (a hormonioterapia) se estende por cinco a dez anos.
Só que antes mesmocbet gg connexioncomeçar a quimioterapia, Vilhena precisava tomar uma decisãocbet gg connexionvida muito importante. "Eu queria ser mãe."
Aconselhada pelos médicos, a administradora adicionou uma nova etapa antescbet gg connexioncontinuar a cuidar do câncer. Ela fez um congelamentocbet gg connexionóvulos — as células reprodutivas podem ser afetadas pelas substâncias químicas ou pela radiação aplicadas para destruir as células tumorais remanescentes.
Com os gametas assegurados, Vilhena fez as sessõescbet gg connexionquímio e radioterapia. Depois, como planejado, começou a tomar o comprimido diáriocbet gg connexiontamoxifeno, o remédio que bloqueia a açãocbet gg connexionalguns hormônios.
"Quando completei três anoscbet gg connexiontamoxifeno, os médicos disseram que eu poderia ter um filho", conta ela.
Após dois meses sem a hormonioterapia, Vilhena foi orientada a buscar a gestação por meios naturais, sem recorrer ainda aos óvulos congelados. E, depoiscbet gg connexioncinco mesescbet gg connexiontentativas, veio a notícia: ela estava grávida.
"Minha gestação foi ótima e correu bem, apesarcbet gg connexiontudo ter acontecidocbet gg connexion2020, durante a pandemiacbet gg connexioncovid-19", diz Vilhena.
A bebê Leonor nasceu saudável no iníciocbet gg connexion2021 — e, após três mesescbet gg connexionamamentação, a nova mamãe retomou a hormonioterapia contra o câncercbet gg connexionmama.
"Lembro que, logo após o diagnóstico, a primeira coisa que o oncologista me disse foi: 'Natasha, com certeza você vai morrer algum dia, porque essa é a única certeza que a gente tem na vida. Mas eu posso te garantir que você não vai morrer por causa deste tumor'", recorda Vilhena, hoje aos 35 anos.
"Essa frase parece simples, mas para mim foi muito importante ouvi-la."
Histórias como acbet gg connexionVilhena revelam uma face recente e ainda pouco conhecida do câncercbet gg connexionmama.
Segundo médicos ouvidos pela BBC News Brasil, o avanço no tratamento permite colocar a paciente — e não o tumor — no centro dos cuidados,cbet gg connexionmodo que outros aspectos da vida (como o desejocbet gg connexionformar uma família) passam a ser decisivos até nas escolhas terapêuticas.
Prática e teoria
O oncologista Ricardo Caponero, diretor científico da Federação Brasileiracbet gg connexionInstituições Filantrópicascbet gg connexionApoio à Saúde da Mama (Femama), destaca dois movimentos antagônicos que afetam o cenário relacionado a esse tipocbet gg connexiontumor.
"Primeiro, percebemos que as mulheres estão apresentando câncercbet gg connexionmama cada vez mais cedo", observa o médico.
Antes, a esmagadora maioria dos casos era diagnosticado após os 50 anoscbet gg connexionidade. Agora, por motivos que ainda não foram 100% elucidados, a doença aparece com frequência crescente entre as mais jovens. Para ter ideia, 20% dos tumorescbet gg connexionmama são detectados atualmentecbet gg connexionbrasileiras com menoscbet gg connexion40 anos.
"Em segundo lugar, o projetocbet gg connexionmaternidade é deixado para cada vez mais tarde. A mulher faz faculdade, pós-graduação e quer progredir na carreira antescbet gg connexionter um filho", acrescenta Caponero.
O oncologista se lembra que, no passado, era comum gerar descendentes na casa dos 18 aos 25 anos. Um levantamento realizado no Estadocbet gg connexionSão Paulo revelou que,cbet gg connexion2019, 39% das novas mamães possuíam entre 30 e 39 anos.
Esses dois fenômenos causam um choque: cada vez mais mulheres são diagnosticadas com o tumor nas mamas justamente no momento da vidacbet gg connexionque planejavam uma gestação.
E, por causa da doençacbet gg connexionsi e dos possíveis efeitos colaterais do tratamento, o sonhocbet gg connexionser mãe entravacbet gg connexionxeque.
"Há 25 anos, quando comecei na Oncologia, conversar com a paciente sobre gravidez era praticamente um pecado", admite o médico Daniel Gimenes, da Oncoclínicas.
"Por causa dos medos relacionados ao câncer, falarcbet gg connexionmétodoscbet gg connexionfertilização,cbet gg connexioncongelamentocbet gg connexionóvulos, era algo praticamente proibido. E acontecia muitocbet gg connexionas mulheres dizerem: 'Engravidei. O que faço agora?'", relata o oncologista.
Embora muitas gestações acontecessem na prática durante o tratamento do câncercbet gg connexionmama, esse tema ainda era cercadocbet gg connexiontabus e mistérios até muito recentemente.
Havia um medo entre os especialistascbet gg connexionque o turbilhão hormonal desencadeado pela formação do embrião no útero poderia engatilhar um novo crescimento do câncer na mama.
A coisa mudou completamentecbet gg connexionfiguracbet gg connexionmaio deste ano, com a divulgação do estudo Positive, publicado no periódico The New England Journal of Medicine.
Liderado por cientistas do Instituto do Câncer Dana-Farber, da Universidade Harvard, nos EUA, a pesquisa pretendia entender se a interrupção da hormonioterapia contra o câncercbet gg connexionmama para tentar uma gravidez écbet gg connexionfato segura.
No total, 497 mulheres com câncercbet gg connexionmama que desejavam ter um filho foram acompanhadas. Dessas, 368 (ou 74%) engravidaram e 317 (63,8%) tiveram um bebê. Segundo os autores, os números são bem parecidos à média da população.
Para completar, a interrupção do tratamento e a gravidezcbet gg connexionsi não representaram uma ameaça à saúde dessas mulheres. Entre aquelas que tentaram uma gestação, 8,9% tiveram algum evento relacionado ao câncer (como a reincidência do tumor nas mamas), ante 9,2% no grupo controle (formado por voluntárias que tinham a doença, mas não buscavam gerar um filho).
"Vivemos um momento extraordinário na Oncologia, particularmente no câncercbet gg connexionmama", comemora o médico Pedro Exman, do Centro Especializadocbet gg connexionOncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz,cbet gg connexionSão Paulo.
"O estudo Positive respondeu uma pergunta extremamente importante, que gerava angústiacbet gg connexionpacientes e médicos", destaca ele.
A partir do trabalho, portanto, especialistas se sentem mais confortáveis e confiantes para inserir a maternidade — quando há esse desejo da paciente — no planejamento terapêutico do câncercbet gg connexionmama.
Mas, é claro, a possibilidadecbet gg connexionparalisar o tratamento dependecbet gg connexionuma sériecbet gg connexionetapas e critérios, como você confere a seguir.
Condições necessárias
Para que a maternidade durante o intervalo no tratamento do câncercbet gg connexionmama seja possível, é precisocbet gg connexionprimeiro lugar que a mulher estejacbet gg connexionidade fértil (ou seja, ainda não tenha alcançado a menopausa) e reúna as condiçõescbet gg connexionsaúde básicas para ter a gravidez.
Segundo ponto: existem diferentes tiposcbet gg connexioncâncercbet gg connexionmama. Eles são classificados segundo a gravidade e tambémcbet gg connexionacordo com as características "comportamentais" e genéticas das células tumorais.
No estudo Positive, 93,4% das pacientes se encontravam no estágio 1 ou 2,cbet gg connexionque a doença estácbet gg connexionfase inicial e ainda não se espalhou para outros órgãos ou tecidos (num processo conhecido como metástase).
Todas as voluntárias também apresentavam tumores com receptores para os hormônios. Essas substâncias, produzidas pelo sistema endócrino do próprio corpo, estimulam a multiplicação das células cancerosas.
Na contramão, o uso do tamoxifeno e outros remédios dessa classe bloqueia a ação desses hormônios e, assim, ajuda a prevenir o reaparecimento do câncer.
A boa notícia é que os câncerescbet gg connexionmama com receptor hormonal positivo representam uma grande fatia dos casos — o que significa que a situação analisada no estudo Positive se assemelha à realidadecbet gg connexionmuitas pacientes.
"Tumores hormonais positivos englobam ao redorcbet gg connexion70% dos casoscbet gg connexioncâncercbet gg connexionmama", calcula a oncologista Solange Sanches, do A.C.Camargo Cancer Center,cbet gg connexionSão Paulo.
Mas como a interrupção do tratamento funcionaria na prática?
A exemplo da históriacbet gg connexionNatasha Vilhena, contada no início desta reportagem, o primeiro passo após o diagnóstico do câncercbet gg connexionmama costuma ser a cirurgia, que faz a retirada dos nódulos principais.
Mas há sempre o riscocbet gg connexionsobrar algumas células tumorais microscópicas, impossíveiscbet gg connexionver a olho nu. Essas unidades podem se multiplicar e dar origem a novos caroços.
É para evitar esse cenário, e fazer uma espéciecbet gg connexion"pente-fino", que os especialistas indicam as sessõescbet gg connexionquímio e/ou radioterapia.
Antes que essa segunda leva terapêutica comece, porém, é importante ter a conversa sobre maternidade e o eventual congelamentocbet gg connexionóvulos (se a paciente tiver essa disponibilidade financeira): afinal, pode ser que as substâncias químicas e a radiação afetem as células reprodutoras .
Ao preservar os gametas femininos, é possível buscar uma fertilização in vitro, caso o procedimento seja necessário no futuro.
Terminada a químio e a rádio, a mulher geralmente recebe a orientaçãocbet gg connexionseguir com a hormonioterapia por anos —cbet gg connexionalguns casos, o tamoxifeno precisa ser tomado por até uma década.
No estudo Positive, as mulheres "pausaram" o tratamento depoiscbet gg connexion18 a 30 mesescbet gg connexioncomprimidos diários.
Elas foram orientadas a aguardar dois meses antescbet gg connexioniniciar as tentativascbet gg connexionengravidar, para dar tempocbet gg connexiono organismo se livrar totalmente do fármaco.
O tempo livrecbet gg connexiontamoxifeno — que inclui as tentativascbet gg connexionengravidar, os nove mesescbet gg connexiongestação e um períodocbet gg connexionamamentação — se estende por cercacbet gg connexiondois anos.
A seguir, a mulher retoma a hormonioterapia, por meio dos comprimidos diários, até completar o esquema terapêutico estabelecido pelos profissionaiscbet gg connexionsaúde.
A paciente no centro do cuidado
De acordo com os médicos ouvidos pela BBC News Brasil, os avanços no conhecimento sobre o câncercbet gg connexionmama permitem que médico e paciente conversem mais e possam levarcbet gg connexionconta outras questões que vão além do tumor — como os sonhos e as aspiraçõescbet gg connexionvida.
"Logo na primeira consulta, precisamos entender o estilocbet gg connexionvida daquela paciente, o trabalho que ela faz e quais são as perspectivas dela. Isso tudo influencia no planejamento do tratamento", admite Sanches.
Nesse bate-papo inicial, os especialistas consultados consideram praticamente "obrigatório" falar sobre fertilidade e o sonhocbet gg connexionser mãe — na visão deles, mesmo que a mulher não pensecbet gg connexionter filhos agora, é importante saber os desejos dela para que a terapia se adeque aos sonhos futuros.
Gimenes destaca que, mais recentemente, alguns trabalhos passaram a sugerir que a gravidez pode promover algumas mudanças hormonais que até protegem as pacientes.
Uma dessas pesquisas, realizada na Universidadecbet gg connexionGênova, na Itália, fez uma revisãocbet gg connexion39 estudos já publicados sobre o tema. Os autores observaram que as mulheres com câncercbet gg connexionmama que tiveram uma gravidez após o tratamento tiveram um tempocbet gg connexionsobrevida maior quando comparadas às pacientes que não gestaram um bebê.
Como conclusão, os autores destacam que "os desejoscbet gg connexionengravidar das pacientes devem ser considerados como um componente crucial dos planoscbet gg connexioncuidadoscbet gg connexionsobrevivência delas".
Importante: esses achados ainda precisam ser confirmados por outras investigações mais robustas, que utilizam outras metodologias.
Por fim, a psicóloga Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, chama a atenção para a desigualdade no tratamento do câncercbet gg connexionmama no Brasil.
"Não há dúvidas que a Oncologia tem utilizado um olhar cada vez mais amplo", admite ela.
"Mas a possibilidadecbet gg connexionindividualizar o tratamento ainda é desigual. Infelizmente, falar sobre temas como fertilidade e bem-estar durante o tratamento ainda está restrito a um número muito pequenocbet gg connexionmulheres", lamenta.
Para a especialista, o tratamento contra o câncer está repletocbet gg connexionboas notícias que são acessíveis a um número limitadocbet gg connexionpacientes.
"O congelamentocbet gg connexionóvulos, por exemplo, é um procedimento caro para a maioria da população", diz Holtz.
Para lidar com um desafio deste tamanho, a psicóloga aposta no trabalho da equipe multidisciplinar, constituídacbet gg connexionprofissionais com diferentes formações, que conseguem acompanhar a pessoa com câncer sob diferentes ângulos e necessidades
"A gente sabe como esses olhares distintos, do oncologista, do psicólogo, do assistente social, do nutricionista, do preparador físico, podem fazer com que o paciente se sinta cuidadocbet gg connexionforma integral", conclui Holtz.
Segundo o Instituto Nacionalcbet gg connexionCâncer (Inca), 73,6 mil casos e 18 mil mortes por câncercbet gg connexionmama são esperados a cada ano no país.
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