Como é a 'Amazônia do fundo do mar', o habitat submarino mais diverso do planeta:o número da quina de hoje

O objetivo era tentar desvendar os segredoso número da quina de hojeuma região do oceano conhecida como "triânguloo número da quina de hojecorais". Eles esperavam usar esses segredos para proteger os recifes.

"Compreender como os corais responderam às mudanças ambientais anteriores pode ajudar-nos a ver como poderão responder às mudanças futuras", diz Johnson.

Na verdade, os fósseis não só proporcionaram uma perspectiva completamente nova sobre a vida marinha, mas também chamaram a atenção para santuárioso número da quina de hojecorais importantes, anteriormente negligenciados. Locais que poderiam se tornar refúgios cruciais para as espécies, à medida que o oceano evolui.

'Amazônia do fundo do mar'

Às vezes chamadoo número da quina de hoje"a Amazônia dos mares", o triânguloo número da quina de hojecorais é tão ricoo número da quina de hojeespécies e repletoo número da quina de hojevida quanto uma exuberante floresta tropical.

Abrange Malásia, Filipinas, Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor Leste e Ilhas Salomão.

Cercao número da quina de hoje75%o número da quina de hojetodas as espécieso número da quina de hojecorais conhecidas vivem lá — há maiso número da quina de hoje700 espécies diferentes — assim como 3 mil tiposo número da quina de hojepeixeso número da quina de hojerecife e seis das sete espécieso número da quina de hojetartarugas marinhas do mundo.

"O triânguloo número da quina de hojecorais do Sudeste Asiático é o lugar mais diverso da Terra",o número da quina de hojetermoso número da quina de hojehabitats naturais marinhos, diz Johnson. "

Existem mais espécies marinhas lá do queo número da quina de hojequalquer outro lugar. Meus colegas e eu nos perguntamos: por quê? Qual a razão dessa diversidade?"

Os corais individuais, conhecidos como pólipos, são animais marinhos pequenos e sem espinhos, medindo apenas alguns milímetros e são da mesma família das águas-vivas e anêmonas do mar.

Eles constroem exoesqueletos resistentes e, junto com dezenaso número da quina de hojemilhareso número da quina de hojeoutros pólipos, formam as estruturas deslumbrantes que conhecemos como recifeso número da quina de hojecoral. O esqueleto permanece após a morte do pólipo.

Os fósseis alinhados na vitrine estãoo número da quina de hojecondições surpreendentemente preservadas. No triânguloo número da quina de hojecorais eo número da quina de hojeoutros recifes, essas estruturas complexas promovem vida abundante, diz Santodomingo.

Os corais "são como pequenos edifícios", diz ela. "Um único edifício não faria nada, mas quando crescem juntos, como as grandes cidades, podem abrigar muitos outros animais. Os peixes filhotes podem se esconder lá, para que grandes predadores não possam alcançá-los."

Quando os corais morrem, deixam os seus esqueletos para trás, como casas vazias, explica. "E então outros animais podem colonizar o recife — esponjas, caracóis e amêijoas — que utilizam estes 'edifícios' vazios e os transformam nao número da quina de hojeprópria casa."

Johnson acrescenta: "A metáfora que sempre usamos [para os recifeso número da quina de hojecorais] é ao número da quina de hoje'cidades do mar'."

As condições que permitem a diversidade

No início da décadao número da quina de hoje2010, a equipeo número da quina de hojepesquisadores e seus colegas indonésios recolheram cercao número da quina de hoje8 toneladaso número da quina de hojerocha ricao número da quina de hojefósseiso número da quina de hojeBornéu, na Indonésia, contendo 70 mil espécimes. Havia maiso número da quina de hoje200 espécieso número da quina de hojecorais, com até 30 milhõeso número da quina de hojeanoso número da quina de hojeidade.

Quando as compararam com as espécies que vivem atualmente no triânguloo número da quina de hojecorais, fizeram uma descoberta surpreendente: muitas delas ainda estão lá.

Santodomingo retira cuidadosamente do armário um enorme coral fossilizado, um coral Porites, e segura-o: "Este aqui tem cercao número da quina de hoje10 milhõeso número da quina de hojeanos."

Hoje, os corais Porites, que constroem enormes recifes, continuam se desenvolvendo no triânguloo número da quina de hojecorais, diz ela.

A pesquisadora dá outro exemplo: o coral chifre-de-veado chamado Acropora Monticulosa, que está entre os fósseis coletados na Indonésia.

Os corais Acropora ainda vivem no triânguloo número da quina de hojecorais. Esses corais chifre-de-veado "estão lá há cercao número da quina de hoje18 milhõeso número da quina de hojeanos", diz ela. Outras espécieso número da quina de hojeAcropora encontradas no triângulo são ainda mais antigas.

Essa extraordinária resiliência pode ajudar a explicar porque é que existem hoje tantas espécies no triânguloo número da quina de hojecorais, diz Johnson.

"A razão pela qual este é o lugar mais diverso da Terra é que uma vez que [um coral] chega aqui, ele não se extingue", afirma.

Isso é muito diferente do desempenho dos coraiso número da quina de hojeoutros lugares, mesmoo número da quina de hojeáreas como o Caribe, que poderíamos considerar habitatso número da quina de hojecorais com cores vibrantes, diz Johnson.

"Em outras partes do mundo onde existem recifeso número da quina de hojecoral, como no Caribe, já ocorreram extinções no passado", explica, que foram causadas por mudanças drásticas no meio ambiente e no clima.

"Então, há dois milhõeso número da quina de hojeanos, metade das espécieso número da quina de hojecorais do Caribe foram extintas. Por isso que a diversidade é muito menor lá."

Em alguns lugares, os corais desapareceram completamente: "O Mediterrâneo costumava ter muitos corais", continua ele. "Mas o Mediterrâneo secou e os corais foram extintos."

No Sudeste Asiático, dizem os pesquisadores, o registo fóssil sugere que não houve tal eventoo número da quina de hojeextinção. Mas, aparentemente, os corais também tinham outra vantagem, que poderia até nos ajudar a proteger os habitats marinhos atuais: eles viviamo número da quina de hojeáguas turvas.

O poder da lama

Quando pensamoso número da quina de hojeum habitat ideal para corais, a imagem que vem à mente geralmente é ao número da quina de hoje"águas claras e palmeira na praia", diz Johnson, uma foto perfeitao número da quina de hojeférias com aqueles famosos recifeso número da quina de hojecores vibrantes.

Mas, como ele e Santodomingo apontam, isso é,o número da quina de hojeparte, apenas um reflexoo número da quina de hojeonde tradicionalmente procuramos corais:o número da quina de hojeáguas límpidas, onde são fáceiso número da quina de hojever.

Os fósseis da Indonésia, porém, contam uma história diferente. A pesquisa sugere que eles viviamo número da quina de hojeáguas nebulosas e turvas, entre sedimentos turbulentos e água da chuva.

"Acreditamos que estes ambientes escuros ajudaram os corais a sobreviver", diz Santodomingo.

Talvez porque o ambiente relativamente escuro e desafiador tenha favorecido a formaçãoo número da quina de hojeum grupoo número da quina de hojeespécies especialmente duras e resistentes. Todas elas com características diferentes, que lhes permitiram resistir durante milhõeso número da quina de hojeanos.

Com as mudanças climáticas devastando os recifeso número da quina de hojecoralo número da quina de hojetodo o mundo, esta visão dos fósseis levou a outra questão: se a água turva tivesse ajudado os corais no passado, poderia continuar fazendo isso hoje, numa erao número da quina de hojeaumento das temperaturas do oceano e recifes dizimados?

Especificamente, poderia a turbidez proteger os recifeso número da quina de hojefenômenos dramáticos como o branqueamentoo número da quina de hojecorais, que deixa recifes inteiros brancos como fantasmas como resultado do estresse térmico?

Quando os relacionamentos se tornam tóxicos

A descoloração ocorre quando um relacionamento crucial é rompido. Os corais são o laro número da quina de hojealgas minúsculas e coloridas, uma relação mutuamente benéfica que existia muito antes da extinção dos dinossauros e que dá aos recifes ao número da quina de hojefamosa aparênciao número da quina de hojearco-íris.

"Os corais são basicamente agricultores, mas as suas colheitas vivem dentro dos seus corpos", explica Johnson. "O coral se alimenta das plantas que vivem dentro dele e as fertiliza com seus dejetos animais. É um círculo entre a planta e o animal."

Quando a água do mar aquece a um nível que estressa os corais, por exemplo, durante uma ondao número da quina de hojecalor marinho, o coral expele a planta colorida e fica branco.

"Torna-se uma relação tóxica", diz Santodomingo. Ela explica que o coral decide que é melhor enfrentar a crise sozinho. Os cientistas ainda não conseguiram descobrir por que esta relação normalmente benéfica se desfazo número da quina de hojesituações estressantes.

Um dos motivos pode ser que as algas começam a se comportar mais como parasitas do que como aliadas, consumindo mais energia e nutrientes para seu próprio crescimento.

Outra explicação é que, sob temperaturas mais elevadas, a planta produz substâncias nocivas ao coral.

Os recifes podem se recuperar do branqueamento — essencialmente, o evento estressante passa e a planta volta a se instalar. Mas, se o estresse for muito grave, ou durar bastante tempo, os corais morrerão.

A água turva poderia diminuir esse impacto e tornar os corais mais resistentes ao branqueamento, sugeriram pesquisas. Em 2020, cientistas da Universidade Sabah, na Malásia, estudaram como os recifes nas águas turvas e claras do triângulo responderam a uma ondao número da quina de hojecalor.

Eles se concentraramo número da quina de hojedois habitats na Malásia: o recife turvoo número da quina de hojeSakar e oo número da quina de hojeáguas claraso número da quina de hojeBlue Lagoon. Nos recifes turvos, menoso número da quina de hoje10% das colônias sofreram branqueamento, enquanto nos recifeso número da quina de hojeáguas claras, uma médiao número da quina de hoje37% das colôniaso número da quina de hojecorais branquearam.

Os resultados reforçam "a hipóteseo número da quina de hojeque os recifes turvos acolhem comunidadeso número da quina de hojecorais resistentes às mudanças climáticas", diz o autor do estudo.

Uma possível explicação para este efeito protetor é que o branqueamento pode ser causado não só pelo aquecimento da água do mar, mas também pela luz solar intensa, diz Johnson. "Quando a água está turva, há menos luz", acrescenta, e isso poderia proteger os corais.

Um estudo sobre uma ondao número da quina de hojecalor marinha ocorridao número da quina de hoje2016, que causou o branqueamento generalizado na Grande Barreirao número da quina de hojeCorais, também descobriu que aqueles que estavamo número da quina de hojeáguas turvas, perto da costa, eram mais resistentes ao branqueamento do que oso número da quina de hojeáguas claras.

Os autores argumentaram que isso demonstra "a importância desses habitatso número da quina de hojerecifeso número da quina de hojecoral mais resistentes, mas muitas vezes ignorados, como potenciais refúgios durante as perturbações relacionadas com o clima".

A ameaça do plástico

Separadamente, uma análise feitao número da quina de hoje2020 sobre dadoso número da quina de hojebranqueamento, temperatura e turbidezo número da quina de hojemaiso número da quina de hoje3,6 mil recifeso número da quina de hojecoralo número da quina de hojetodo o mundo descobriu que a turbidez reduziu o branqueamentoo número da quina de hojecorais durante o estresse térmico.

"Sugerimos que estes ambientes costeiros turvos podem fornecer algum refúgio contra as alterações climáticas, mas esses recifes necessitamo número da quina de hojeum elevado estadoo número da quina de hojeconservação para permanecerem próximoso número da quina de hojedensas populações humanas", alertaram os autores.

Dado que as águas turvas tendem a estar perto da costa, onde a chuva arrasta a terra para o mar, elas são mais afetadas pela poluição humana. Por exemplo, com resíduoso número da quina de hojeplásticos descartáveis, incluindo garrafas.

As descobertas estimularam esforços para proteger os recifes turvos no triânguloo número da quina de hojecorais, dizem Santodomingo e Johnson. Por exemplo, com um planoo número da quina de hojecurso para expandir uma área marinha protegida na Malásia.

À medida que os recifeso número da quina de hojeáguas claras continuam sofrendo, os que ficamo número da quina de hojeregiões turvas poderão constituir um refúgio para as espécieso número da quina de hojecorais, explicam os pesquisadores.

À medida que Johnson fecha suavemente o armárioo número da quina de hojefósseis, cheioo número da quina de hojemaravilhas, ele dirige-se para outros gabinetes, repletoso número da quina de hojecorais recolhidos por gerações anterioreso número da quina de hojepesquisadores e exploradores, que datam do século 19.

Algumas dessas coleções estão sendo analisadas com métodos científicos modernos, para aprender mais sobre os recifes e ao número da quina de hojehistória. São feitas, por exemplo, tomografias computadorizadas para examinar o interior dos fósseis sem a necessidadeo número da quina de hojecortá-los.

Um dia, os pesquisadores do futuro poderão fazer o mesmo com a recente coleçãoo número da quina de hojefósseis, usando métodos que mal podemos imaginar, diz o paleontólogo.

"É por isso que as coleções dos museus são importantes", acrescenta.

"Não podemos imaginar o que será possível [no futuro]. Assim como quando recolheram esses corais na décadao número da quina de hoje1850. Eles não conseguiam imaginar o que poderíamos fazer com eles hoje."