Como PCC fez Paraguai virar um dos países com maior presença1win apostacrime organizado no mundo:1win aposta

Para os especialistas consultados, a ascensão do país no ranking é reflexo1win apostauma realidade que já se estende há anos – e está mais relacionada a uma questão1win apostavisibilidade do que1win apostamudança na realidade.

A operação contra o narcotráfico e a lavagem1win apostadinheiro chamada "A Ultranza PY", a maior da história do país, realizada1win aposta2019, deixou claro que as coisas mudaram nos últimos anos na nação sul-americana.

Esta operação levou à destituição1win apostaministros e à prisão1win aposta24 pessoas por supostos vínculos com organizações1win apostanarcotraficantes.

Para Carolina Sampó, doutora e pesquisadora do Conselho Nacional1win apostaPesquisas Científicas e Técnicas (Conicet), os criminosos no Paraguai se aproveitaram durante anos da “falta1win apostareputação do país como exportador1win apostadrogas para reenviar cocaína sem serem detectados e dirigi-la a portos1win apostasaída não tradicionais e rotas contraintuitivas como aquelas que se iniciam no porto1win apostaBuenos Aires,1win apostaSan Antonio, ou1win apostaMontevidéu”.

Foi o homicídio do promotor paraguaio Marcelo Pecci,1win apostamaio1win aposta2022, que deu dimensão internacional ao que acontecia no Paraguai.

Pecci investigava casos1win apostacorrupção e lavagem1win apostadinheiro1win apostaalto perfil quando foi assassinado em1win apostalua1win apostamel na Colômbia.

As autoridades encontraram muitos indícios sobre a autoria intelectual do assassinato, que apontaram para o Primeiro Comando da Capital (PCC), grupo criminoso do Brasil com ramificações criminosas1win apostamuitos países vizinhos.

“Todos os mercados e atores criminosos que se encontram nas Américas estão presentes1win apostavários países. Esses mercados criminosos interconectados e transnacionais aproveitam situações1win apostaliderança e governança deficitárias”, afirmam os autores do Índice Global1win apostaCrime Organizado.

“Os pontos1win aposta2023 mostram que a região das Américas continua dominando o comércio mundial1win apostacocaína como principal mercado1win apostaorigem da droga”, acrescentam.

O Brasil está na posição 22 no ranking1win aposta193 países e é o sétimo com maior criminalidade organizada das Américas, segundo a lista.

O que aconteceu no Paraguai?

Para começar, especialistas apontam que o país está situado no coração da América Latina, fazendo fronteira com mercados enormes como Brasil, Argentina e Bolívia. Só isso já torna o Paraguai geograficamente atraente.

Além disso, pelo menos outros 8 fatores ajudam a explicar como o país sul-americano se transformou1win apostaum centro criminoso internacional:

1. Pressão nos portos da Argentina e do Brasil

A maior vigilância nos portos da Argentina e do Brasil fez com que o Paraguai se tornasse um centro internacional1win apostadistribuição1win apostacocaína andina graças à1win apostaproximidade geográfica com dois dos principais produtores desta droga, Peru e Bolívia.

“Isso é algo novo. A cocaína que vem do Peru, da Colômbia ou do Equador chega ao Paraguai1win apostapequenos aviões e é transportada até os portos1win apostaBuenos Aires e Montevidéu, que ficam no Atlântico, ou passa pelos portos do próprio país. A partir daqui, a cocaína começa a ser enviada para países da Europa, da África ou mesmo do Oriente Médio”, afirma Juan A. Martens, pesquisador da Universidade Nacional1win apostaPilar e do Inecip (Instituto1win apostaEstudos Comparados1win apostaCiências Penais e Sociais) do Paraguai.

“Os movimentos aéreos são movimentos curtos, o que os torna muito fáceis. Em muitos casos nem é necessário que os pequenos aviões pousem, eles só jogam a cocaína do ar1win apostaum campo e voltam”, diz Sampó.

2. Utilização da hidrovia Paraná-Paraguai

Nesta chegada aos portos atlânticos, desempenha um papel fundamental um dos maiores sistemas navegáveis ​​do mundo, no qual, mais uma vez, o Paraguai está geograficamente localizado no centro.

É a hidrovia Paraná-Paraguai. Com extensão1win aposta3.442 quilômetros, atravessa ou tem ramificações na Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai.

“O Brasil é um mercado1win aposta200 milhões1win apostapessoas. Por água, apenas uma hora nos separa do maior estado brasileiro. De Saltos del Guaira, no norte do Paraguai, é uma hora1win apostabarco até o estado1win apostaSão Paulo, que tem 45 milhões1win apostahabitantes.”

“É muito fácil traficar por essa via”, diz o pesquisador paraguaio.

3. De maconha a cocaína

O Paraguai cultiva cerca1win aposta7 mil hectares1win apostamaconha por ano.

“Sempre foi um espaço territorial complexo no que diz respeito à criminalidade. A primeira questão é a quantidade e a qualidade da produção1win apostamaconha na região1win apostaPedro Juan Caballero e como essa produção1win apostamaconha deu origem a graves conflitos entre diferentes organizações criminosas brasileiras e clãs locais”, diz Sampó.

“Os níveis1win apostaconsumo1win apostamaconha no Brasil são muito elevados e a qualidade da maconha1win apostaPedro Juan é a mais alta da região. Ao unir produtores a clientes, o negócio vale milhões no Brasil”, afirma a pesquisadora argentina.

É pela necessidade1win apostacontrolar a circulação dessa droga que ocorre a expansão do tráfico1win apostadrogas.

O Paraguai passou1win apostaprimeiro produtor1win apostamaconha da América do Sul a um dos principais distribuidores1win apostacocaína, apesar1win apostanão produzi-la.

4. A chegada do PCC

Desde meados da década1win aposta2010, o Primeiro Comando da Capital, a maior organização criminosa do Brasil e talvez da América do Sul, exerceu influência significativa através da fronteira com o Paraguai, onde domina os mercados1win apostatráfico1win apostadrogas e armas.

“A presença do cartel se estende por todo o Paraguai. A expansão do PCC para países vizinhos e suas conexões com redes internacionais sublinham a crescente influência do grupo na América do Sul”, afirmam os autores do Índice Global1win apostaCrime Organizado.

Sampó explica que o PCC escolhe o Paraguai para1win apostaexpansão devido à proximidade com os centros1win apostadistribuição1win apostamaconha e cocaína.

“Sua chegada tem a ver com um primeiro desembarque para controlar a maconha e depois se expande para diversos espaços do Paraguai, rurais e urbanos, onde recriam suas rígidas estruturas1win apostaorganização criminosa”.

A partir daí, a organização expande seus negócios e começa a transportar cocaína do Peru e da Bolívia para o Paraguai e1win apostalá para o porto1win apostaSantos.

O porto1win apostaSantos é o principal porto do Brasil e da América Latina.

Posteriormente, viria a expansão1win apostaoutras rotas, principalmente aquelas que têm a ver com o uso da hidrovia e a saída pelos portos1win apostaBuenos Aires e Montevidéu.

“O cartel nasce nas prisões. É uma organização criminosa enorme e muito complexa. Para ingressar, é preciso ser batizado, é preciso passar por um processo1win apostaadmissão”, afirma a pesquisadora.

“O que começamos a ver entre 2018 e 2019 é que começam a haver batismos dentro das prisões paraguaias1win apostaparaguaios, não1win apostabrasileiros. Dos paraguaios que começam a pertencer ao PCC. E assim a organização amplia1win apostabase dentro do território paraguaio”, afirma.

5. Narcopolítica

Diferentes organizações internacionais afirmam que o Paraguai tem um problema1win apostacorrupção generalizado, que afeta todos os níveis1win apostagoverno e da sociedade, tanto na esfera pública como na privada.

“As pontuações do Paraguai, Venezuela e Nicarágua sugerem que os criminosos têm um nível preocupante1win apostainfluência na sociedade e nas estruturas estatais”, diz o relatório produzido junto do índice.

A chegada da cocaína do Paraguai aos portos da Bélgica, Holanda e Alemanha atraiu a atenção da Europol, da DEA (Administração1win apostaFiscalização1win apostaDrogas, dos EUA) e1win apostaoutras agências internacionais, o que tornou visível o vínculo institucional que existe entre o crime organizado e o poder público.

Martens lembra os casos do ex-deputado Juan Carlos Ozorio, acusado1win apostalavagem1win apostadinheiro, tráfico1win apostadrogas e associação criminosa, ou do senador Erico Galeano, que atualmente é processado por lavagem1win apostadinheiro e associação criminosa.

“Há uma impunidade sistemática”, diz ele.

Sampó concorda com isso: “As condições1win apostafragilidade do Estado, a fragilidade institucional, os altos níveis1win apostacorrupção, os altos níveis1win apostaimpunidade, viabilizam que o PCC desembarque como organização criminosa, se estabeleça e combine com os clãs locais a distribuição do negócio.”

6. Sem controles e fronteiras porosas

Estima-se que entre Argentina e Paraguai existam mais ou menos 200 travessias ilícitas.

Em algumas partes, a distância entre os dois países é tão curta que, com uma lancha rápida, a fronteira pode ser atravessada1win apostadois minutos.

Mas outro dos fatores que torna a fronteira paraguaia porosa é a falta1win apostarecursos para controlar o espaço aéreo do país.

“Até o momento, o Paraguai não possui radar para monitorar o céu. É claramente uma decisão política e um convite aos grupos criminosos transnacionais. Tornou este território um ímã1win apostaatração para grupos do México, da Europa Oriental ou da máfia italiana”, diz Martens.

7. Tráfico1win apostaarmas

O Paraguai possui uma legislação muito favorável à compra e venda1win apostaarmas e os requisitos para adquiri-las não são muito complicados.

“Setenta e três grupos criminosos atuam no Brasil e as armas que esses grupos geralmente utilizam passam pelo Paraguai. Especificamente, são destinados às favelas do Rio. Estamos falando deles chegando ao Rio1win apostaJaneiro, ao Espírito Santo, a Minas Gerais e ao Nordeste brasileiro”, diz Martens.

E não só armas1win apostapequeno e médio calibre, mas também munições são distribuídas do Paraguai.

“As armas abastecem organizações criminosas brasileiras como o PCC ou o Comando Vermelho”, diz Sampó.

8. Tabaco e produtos falsificados financiam atividades criminosas

As rotas da droga são utilizadas para o tráfico1win apostaarmas, mas também para o contrabando1win apostacigarros e produtos falsificados.

“O Paraguai é um centro importante para o comércio ilícito1win apostatabaco, tanto a nível nacional como regional. A área da tríplice fronteira entre Paraguai, Brasil e Argentina é um corredor movimentado para o tráfico1win apostatabaco, que financia outras atividades criminosas. O Paraguai ocupava a posição mais elevada da América neste mercado ilícito”, diz o relatório.

“Os cigarros paraguaios inundam grande parte dos países vizinhos, impactando diretamente nas receitas dos Estados. E uma das características básicas das organizações criminosas é estarem envolvidas1win apostatudo ao mesmo tempo. Muitas vezes até são utilizadas as mesmas rotas”, diz Sampó.

E1win apostamãos dadas com o contrabando também vem o comércio1win apostaprodutos falsificados, que é outro mercado criminoso nas Américas.

A pontuação média da América do Sul1win aposta6,25 coloca a região1win apostasegundo lugar globalmente no ranking1win apostacrime organizado.

O Peru e o Paraguai têm as pontuações individuais mais altas da região e ambos os países são avaliados como importantes focos1win apostaprodutos falsificados.

Ciudad del Este, no Paraguai, é um importante centro1win apostaprodutos falsificados, incluindo roupas, calçados, relógios, eletrodomésticos e perfumes.

“Grupos criminosos no Paraguai se destacam por facilitar esse comércio ilícito”, acrescenta o documento.