Como PCC recruta 'exército' para fazer ataques nas ruas:
Segundo agentes penitenciários e especialistasPCC, essas pessoas são recrutadasdiversas formas. As principais são quando internos são "batizados" pela facção ao chegar nos presídios ou fazem dívidas com o crime.
"Quando o preso chega na cadeia, ele facilmente consegue drogas e celular. Se ele não tem dinheiro para pagar, hoje ele não vai ser morto pelo PCC, mas geralmente é transformado'soldado'. Essa pessoa temdívida perdoadatrocaficar à disposição para ser recrutada para, por exemplo, matar um agente penitenciário ou policial militar quando estiveremliberdade. Se recusarem, são mortos pela facção", disse um funcionário com vasta experiência no sistema penitenciário.
As dívidas e o medo constante fazem com que, segundo agentes penitenciários, esses "recrutas" mantenham um laço com a facção mesmo quando deixam as cadeias.
Mas algumas das "missões" passadas pelo PCC, como incendiar ônibus e promover ataques a delegacias ou batalhões, podem ser feitas também pelos próprios membros do PCCliberdade, mesmo que não tenham dívidas.
Mas é possível que o PCC faça ataquessérie?
Autoralivros sobre o PCC e pesquisadora do NúcleoEstudos e Violência da USP, Camila Nunes Dias confirma que existe esse processorecrutamento, mas não acredita que a facção volte a fazer grandes ataques como2006. Segundo ela, o comando considera que aqueles atos não trouxeram tantos benefícios para eles.
"Os ataques tiveram uma reação da polícia que acabou sendo muito prejudicial, tanto para o próprio PCC quanto para as pessoas. Desta forma, as reações às transferências recentes não ocorrerão imediatamente porque agora todo mundo (do governo) está voltado para isso. Seria absolutamente inadequada e contraproducente uma reação neste momento, já que todas as forçassegurança estão preparadas", afirmou.
Dias afirmou que uma das possibilidades é que a facção adote a estratégia usada2012, quando maiscem policiais foram mortos11 meses,ataques executados a conta gotas ao longo do ano.
"O PCC tem demonstrado uma enorme capacidadeadaptação eresponder ao governomaneiras diferentes. A facção acha importante expressarmudança estratégica também para proteger a população que mora nos bairros mais pobres, onde está boa partesua base", afirmou a pesquisadora.
Por outro lado, pessoas que convivem diariamente com presos da facção nas penitenciárias do EstadoSão Paulo dizem que esse silêncio nas ruas incomoda parte da base do PCC. Eles afirmam que a massa carcerária sente uma necessidadefazer grandes demonstraçõespoder e violênciaoposição a decisões do Estado.
Mesmo sem previsão para ataques, nos últimos dois dias diversas correntesWhatsApp divulgaram notícias falsas sobre ataques promovidos pela facção. Uma das mensagens dizia que ocorria uma rebelião num presídio no Belém, na zona lesteSão Paulo. Outra apontava que um delegado da cidadeMongaguá, no litoral paulista, dizia que tinha monitorado presos planejando ataques na cidade.
O governoSão Paulo afirmou que ambas as mensagens são falsas.
Mas agentes e diretorespresídios - que pediram para não ser identificados -, dizem que o respeito ao PCC e outras facções dentro das cadeias se dá principalmente por causa da violência. Quando isso não ocorre, eles perdem seguidores.
Eles citam como exemplo o crescimento das outras 12 facções que atuam no EstadoSão Paulo além do PCC, como a Família do Norte, a Amigos dos Amigos (ADA) e o Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade (CRBC). A maior parte dessas pessoas veiooutros Estados e estão absorvendo integrantespresídios paulistas.
A pesquisadora Camila Nunes confirma que as bases pressionam por uma ondaviolência, mas que esse tipocomportamento é contido pelas lideranças principalmente por interesses econômicos. Especialistas dizem que o policiamento ostensivo causado pelos ataques2006 prejudicou o comérciodrogasSão Paulo durante meses.
"Em 2006, o PCC já tinha uma base no sistema prisional, mas ainda não tinha demonstradopresença e capilaridade. Hoje, eu vejo que isso é desnecessário para abase porque ela já está consolidada. Até por isso o PCC passou a adotar a estratégia do silêncio, sem chamar a atenção do Estado. Ela é economicamente muito mais adequada para aexpansão e o lucro", afirmou.
A pesquisadora diz que a facção trata as ações do governo como um jogoxadrez. Seus líderes avaliam o que podem ganhar e perder por contacada uma das ações tomadas nos presídios e nas ruas.
Eles levamconta a postura das autoridades, e avaliam se pode haver alguma negociação.
"Mas eles têm algo a oferecer? Tem cartas para colocar na mesa? Se tiver, agora é o melhor momento para usá-las? É fato que eles têm uma rede extensa com muitos jovens dispostos a matartodas as regiões do país. A questão é que a estratégia é diferente do Rio, onde eles costumam ir sempre para o tudo ou nada", afirmou Dias.
Como ocorreu a transferêncialíderes do PCC?
Na madrugadaquarta-feira, as polícias civil e militar,conjunto com agentes federais, fizeram uma megaoperação para transferir Marcola e outras 21 pessoas para presídios federais. Eles foram enviados para unidadesBrasília, Rondônia e Rio Grande do Norte.
A megaoperação realizada nos presídiosPresidente Venceslau e Presidente Bernardes, no interior paulista, bloqueou rodovias, fechou aeroportos e envolveu centenasagentessegurança. Foram encaminhados para a região policiais da Rota - a tropaelite da PM paulista -, helicópteros, caminhões da TropaChoque e diversos agentesinteligência da Polícia Civil.
A operação ainda conta com soldados da Força Aérea Brasileira (FAB), Exército Brasileiro, CoordenaçãoAviação Operacional e ComandoOperações Táticas da Polícia Federal, além da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Também participam agentes da Agência BrasileiraInteligência (Abin).
O GovernoSão Paulo informou que fez as transferênciascumprimento a decisão da Justiça após pedido do Ministério Público (SP). A Promotoria fez a solicitação no dia 28novembro2018, por meio do GrupoAtuação EspecialCombate ao Crime Organizado (Gaeco). A decisão foi aceita pela Justiça na última semana.
Em nota, o governo disse que "o isolamentolideranças é estratégia necessária para o enfrentamento e o desmantelamentoorganizações criminosas."
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