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O artista brasileiro que viveu 50 anospix bet cadastroinstituições psiquiátricas e foi temapix bet cadastroexposição nos EUA:pix bet cadastro
Ele transformou as celaspix bet cadastroque estava confinadopix bet cadastrooficinapix bet cadastrotrabalho e começou a recriar cenas do cotidiano e a contar apix bet cadastroversão da história do universo. Utilizava qualquer material que encontrasse, como lençóis, uniformes, pedaçospix bet cadastromadeirapix bet cadastrocaixaspix bet cadastrofeira, cabospix bet cadastrovassouras, chinelos, tênis Conga, talheres, canecas e todo o tipopix bet cadastrosucata e objetos que ganhava e trocava com outros pacientes.
Quando morreu,pix bet cadastro1989, aos 80 anos, havia deixado um acervopix bet cadastromaispix bet cadastromil objetos, entre estandartes, indumentárias, bordados, vitrines, fichários, móveis, esculturas, miniaturas e outras peças diversas sem categorização. Nenhuma tinha data ou a assinatura do autor.
Pobre, negro e considerado "louco", Bispo passou a vida inteira à margem da sociedade, e não se considerava um artista e nem via seu trabalho como arte. "Essa é minha missão, representar a existência na Terra. É o sentido da minha vida", dizia.
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Mas, a partir da décadapix bet cadastro1980, nos anos finaispix bet cadastrosua vida, o mundo artístico começou a descobrir suas obras. Após a morte, ele continuou a ganhar reconhecimento da mídia e da crítica especializada, com exposições no Brasil e no exterior e uma apresentação na Bienalpix bet cadastroVeneza,pix bet cadastro1995, ondepix bet cadastroarte foi aclamada como vanguardista.
"Bispo do Rosário é um dos maiores artistas brasileiros", diz à BBC News Brasil o curador do Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Ricardo Resende. O museu funciona nas instalações da Colônia Juliano Moreira.
"Quandopix bet cadastroobra emergiu, não se encaixavapix bet cadastronada do que havia registrado na história da arte, mas parecia se inserirpix bet cadastrotudo o que a modernidade e a contemporaneidade haviam criado. Na verdade, pode-se dizer, precede tudo", diz Resende.
"O que poderíamos chamarpix bet cadastro‘estética da precariedade’, ou ‘estética da pobreza’, tão comum na arte contemporânea, expressando a simplicidade da vida na instituição, nas cidades e campos, e da criança que nunca foi esquecida. É isso que Bispo involuntariamente nos apresenta comopix bet cadastroestética."
Agora,pix bet cadastrovida e obra são temapix bet cadastrouma exposição na galeria da Americas Society,pix bet cadastroNova York, no que é a primeira retrospectiva dedicada a ele nos Estados Unidos. O título da mostra, que vai até 20pix bet cadastromaio, é Bispo do Rosario: All Existing Materials on Earth (Todos os Materiais existentes na Terra), uma referência à missão que marcou a trajetória do artista.
Do caos à ordem
Bispo do Rosário nasceupix bet cadastro1909 na cidadepix bet cadastroJaparatuba,pix bet cadastroSergipe. Teve passagem pela Marinha,pix bet cadastroonde foi desligadopix bet cadastro1933 por indisciplina, e uma breve carreira como pugilista profissional, encerrada após um acidentepix bet cadastroque teve o pé esmagado. Também trabalhou como lavadorpix bet cadastrobondes na companhia Light e empregado doméstico, até ser internado.
"Todas essas experiênciaspix bet cadastrovida, marcadas por diferentes grauspix bet cadastromarginalização por contapix bet cadastroraça, classe e doença mental, se refletem empix bet cadastroobra", diz à BBC News Brasil uma das curadoras da mostra, Tie Jojima, responsável pela exposição ao ladopix bet cadastroRicardo Resende, Aimé Iglesias Lukin e Javier Téllez.
Após a internação inicial, Bispo chegou a passar alguns períodos forapix bet cadastroinstituições psiquiátricas, por ter fugido ou recebido alta. Em 1954, fugiu da Colônia Juliano Moreira, e nos anos seguintes exerceu diversas atividades, como segurança, porteiro e funcionáriopix bet cadastrouma clínica pediátrica, onde continuou a se dedicar apix bet cadastroobra, trabalhando no porão do prédio.
Em 1964, voltou definitivamente à Colônia e foi instalado no Núcleo Ulisses Vianna, que era composto por 11 pavilhões cercados por um muro alto, nos quais eram alojados pacientes considerados violentos ou agitados. Os pavilhões eram divididospix bet cadastroenfermarias, cada uma com cercapix bet cadastro40 camas, onde não havia privacidade, e também tinham uma ala sem camas, chamadapix bet cadastro"bolo".
Segundo o Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, "nessas alas, os pacientes ficavam amontoados no chão e, ao seu redor, 10 celas-fortes – pequenos cubículos com portaspix bet cadastroferro – mantinham os mais agitados contidos ou isolados por punição". Eles "recebiam alimentação pela fresta da porta e utilizavam um buraco no chão como sanitário".
Bispo acabou transformando um conjuntopix bet cadastrocelas no Pavilhão 10pix bet cadastroateliê. "Forte e sisudo, o ex-boxeador tornou-se um 'xerife', posição que lhe assegurou privilégios e permitiu a recusapix bet cadastroeletrochoques e medicações", descreve o museu. "Nunca se interessoupix bet cadastroparticipar dos ateliêspix bet cadastroarteterapia, mas estava sempre produzindo objetos num processo criativo incessante e solitário."
Tie Jojima ressalta a capacidadepix bet cadastroBispopix bet cadastro"resistir e sobreviver às forças que o reprimiam" epix bet cadastroencontrar formaspix bet cadastro"subverter o sistema hospitalar que deveria controlá-lo". "Ele transformou o espaçopix bet cadastroque viviapix bet cadastroum lugar onde criava seu trabalho e, eventualmente, tinha as chaves e controlava quem entrava e saía. Também trocava favores com funcionários para conseguir materiais", destaca.
Bispo trabalhava dia e noite, e só concedia acesso ao local a quem respondesse qual era a corpix bet cadastrosua aura. "A criação obsessivapix bet cadastrotrabalhos têxteis e o acúmulopix bet cadastroobjetos o levaram do caos à ordem e o ajudaram a sobreviver às duras condiçõespix bet cadastrosua vida", diz à BBC News Brasil o co-curador Javier Téllez.
Há traços da Colônia por toda apix bet cadastroobra, como nas linhas azuis extraídas dos uniformes e utilizadas nos bordados, nas representaçõespix bet cadastroprédios e nas listaspix bet cadastronomespix bet cadastropacientes, psiquiatras e funcionários.
"Era um lugar extremamente difícil para os pacientes, mas forneceu a Bispo tempo e materiais para desenvolverpix bet cadastroobra, o que ele não teria conseguidopix bet cadastrooutro lugar, considerandopix bet cadastrocondição social", observa Téllez.
Descoberta e reconhecimento
Em 1980, Bispo e seus trabalhos aparecerampix bet cadastrouma reportagempix bet cadastroTV que mostrava a Colônia Juliano Moreira e denunciava a precariedadepix bet cadastroque viviam pacientes psiquiátricos no Brasil. Dois anos depois, ele foi tema do curta-metragem "Prisioneiro da Passagem", do fotógrafo e psicanalista Hugo Denizart.
Tambémpix bet cadastro1982, estandartes produzidos por Bispo foram incluídos na mostra coletiva "À margem da vida", no Museupix bet cadastroArte Moderna do Rio, na primeira vez quepix bet cadastroobra foi exibida fora da Colônia. Nos anos seguintes, Bispo foi temapix bet cadastrooutras reportagens, mas somente após apix bet cadastromorte,pix bet cadastro1989, ele ganhou a primeira exposição individual, intitulada "Registrospix bet cadastrominha passagem pela Terra".
Suas obras continuaram a chamar a atenção dos críticos e do público e circularampix bet cadastromostraspix bet cadastrodiversas capitais brasileiras. Em 1991, foi realizadapix bet cadastroprimeira exposição internacional,pix bet cadastroEstocolmo, na Suécia, com curadoriapix bet cadastroFrederico Morais, que organizou várias das mostras dedicadas ao artista.
A artepix bet cadastroBispo continuou ganhando notoriedade, representando o Brasil na Bienalpix bet cadastroVenezapix bet cadastro1995, e sendo expostapix bet cadastrodiversas cidades e países nos anos seguintes. Sua vida e obra inspiraram filmes, livros, teses, peçaspix bet cadastroteatro, espetáculospix bet cadastrodança e até enredopix bet cadastroescolaspix bet cadastrosamba, e seu acervo foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
A mostra na Americas Society, primeira exposição solo nos Estados Unidos e realizadapix bet cadastrocolaboração com o Museu Bispo do Rosário, reúne suas obras mais icônicas, com destaque para o "Manto da Apresentação", consideradopix bet cadastroobra-prima, que ele planejava vestir no Dia do Juízo Final.
"A parte externa (do manto) traz uma seleçãopix bet cadastropalavras, formas e objetos pertencentes ao seu universo visual. Na parte interna, bordou nomespix bet cadastromulheres que conheceu e escolheu para acompanhá-lo no Dia do Juízo Final", diz Jojima.
Muitos dos trabalhospix bet cadastroexposição são reconstruçãopix bet cadastroobjetos do cotidiano, com materiais simples que ele conseguia obter na Colônia. Os bordados têm destaque, assim como os temas que remetem àpix bet cadastrobiografia, como os navios.
Jojima cita, entre os outros pontos altos da mostra, os Estandartes, feitospix bet cadastrolençóis que Bispo costurava, com nomespix bet cadastropessoas que conheceu, eventos mundiais, embaixadaspix bet cadastrodiferentes países, naviospix bet cadastroguerra e suas experiênciaspix bet cadastrovida no Riopix bet cadastroJaneiro, entre outros temas. "Funcionam como uma enciclopédia visual e incluem referências autobiográficas", diz a cocuradora.
A vida e a obrapix bet cadastroBispo geram debates sobre os limites entre loucura e genialidade e sobre questõespix bet cadastrocategorização. "Desde a décadapix bet cadastro1980, quando se tornou conhecido no Brasil e depois internacionalmente, curadores e historiadores debatem sepix bet cadastroobra pode ser considerada 'arte'", dizem os responsáveis pela exposição.
"Quando chamou a atençãopix bet cadastroinstituiçõespix bet cadastroarte e curadores, muitos acharam que não condizia com nada do que já havia sido visto na história da arte, embora ressoasse com estratégias e experimentospix bet cadastroartistas do pós-guerra e contemporâneos, que desafiaram fronteiras disciplinares e abraçaram objetos do cotidiano com o objetivopix bet cadastrofundir arte e vida", diz o catálogo da mostrapix bet cadastroNova York.
Javier Téllez ressalta que, apesar das semelhanças com outros artistas modernos e contemporâneos pelo usopix bet cadastroobjetos, há "diferenças radicaispix bet cadastrotermospix bet cadastrointencionalidade" entre a obrapix bet cadastroBispo e práticas artísticaspix bet cadastrovanguarda e neovanguarda.
"A obsessãopix bet cadastroBispo do Rosario por colecionar e classificar as coisas é uma necessidade interna que corresponde a uma visão mística, e não a uma estratégia estética conceitual", salienta o co-curador.
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