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Eleição na Argentina: como ministro da Economia foi mais votadopaís com quase 140%inflação:
"O voto peronista é um voto sólido. Embora esteja abaixo do seu piso histórico – nunca se saiu tão mal como nestas eleições –,qualquer forma é um piso que resiste", diz o sociólogo e cientista político Marcos Novaro, diretor do CentroPesquisas Políticas (Cipol), à BBC Mundo, serviçoespanhol da BBC.
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Por outro lado, a apariçãoMilei — que havia surpreendido ao sairprimeiro lugar nas primárias — "dividiu o voto da oposição", diz Novaro, o que prejudicou Patricia Bullrich, do Juntos por el Cambio, que ficoufora do segundo turno, ao aparecerterceiro lugar, com menos24% dos votos.
A estratégia eleitoralMassa buscou destacar o impacto que a proposta do economista anarcocapitalista Mileireduzir o Estado ao mínimo teria para muitos argentinos — o que parece ter tido um impacto profundo entre uma população que hoje depende fortemente da presença do Estado (saúde, educação e emprego público, alémsubsídios aos transportes e à energia).
Seu grande desafio dianteum segundo turno, no entanto, será atrair eleitoresBullrich, considerados ideologicamente mais próximosMilei.
'Panqueca'
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Massa não é um peronista tradicional: suas origens políticas são conservadoras liberais e ele propõe soluções pró-mercado.
Sua principal característica, no entanto, tem sido o pragmatismo, que o levou a forjar alianças com antigos rivais, como Cristina FernándezKirchner e o atual presidente, Alberto Fernández, com quem chegou ao poder2019 com a coligação FrenteTodos.
Embora os seus críticos questionemcredibilidade — apelidam-no"panqueca", devido aos temposque deu viradas politicamente (uma referência à massauma panqueca, que deve ser virada durante o preparo) —, a verdade é que estas alianças o levaram ao lugar onde está hoje.
"Foi uma aposta que deu certo", diz Facundo Nejamkis, diretor da consultoria Opina Argentina. "Massa é o único (peronista) que tem vocaçãoliderança suficiente para desafiar Cristina Kirchner e o peronismo precisauma nova liderança, alguém que lhe mostre uma direção, é aí que reside avirtude."
Uma vida dedicada à política
O candidato da União por la Patria começoucarreira política ainda adolescente, na década1990, quando o presidente era Carlos Menem, outro peronista não tradicional, que aplicava políticas neoliberais.
Seu partido liberal conservador, a UniónCentro Democrático (Ucedé), fundiu-se com o Menemismo e Massa aderiu oficialmente ao Partido Justicialista (nome oficial do Peronismo).
Apesar da juventude, ele começou a ganhar poder político. Aos 27 anos,1999, obteve seu primeiro cargo eletivo como deputado provincialBuenos Aires.
Com apenas 30 anos, ele foi nomeado, após a crise econômica2001, diretor da Administração Nacional da Segurança Social (Anses), que gere as principais despesas públicas do Estado. Esse foi o seu trampolim político: a posição que lhe permitiu fazer nome tanto entre o públicogeral como nos escalões superiores do poder.
Ocupou esse cargo durante cinco anos, durante toda a presidênciaNéstor Kirchner. Embora no meio,2005, tenha concorrido e conquistado um lugar como deputado nacional nas listas do kirchnerismo,candidatura acabou sendo o que se chama"testimonial" no jargão político argentino: ele nunca tomou posse e o seu lugar foi para outra pessoa.
Massa só deixou a Anses2007 para assumir a prefeitura do municípioTigre, onde mora, na próspera zona norte da Grande Buenos Aires.
No entanto, ele só estava nessa função há oito meses quando foi chamado a assumir a função política mais relevante até então, quando Cristina Kirchner — que tinha sucedido o marido2007 — o nomeou chefegabinete, após a demissãoAlberto Fernández (que deixou o cargo que ocupou durante o governoNéstor Kirchner com fortes críticas anova chefe).
"É uma fonteorgulho e satisfação para mim e aumenta minha responsabilidade", disse Massa com entusiasmo ao tomar posse.
Na ocasião, disse que trabalharia arduamente para "devolver à presidente a confiança" que ela depositou nele. Esuas primeiras declarações como chefe da Casa Civil revelou uma intimidade: que antesprestar juramento a presidente tinha sussurrado no seu ouvido, como se fosse uma piada: "você tem 30 segundos para se arrepender."
Seria o inícioum relacionamento cheioidas e vindas.
Anti-K
Massa ficou no cargo por apenas um ano. Desencantado com os novos rumos que o governo havia tomado, voltou a assumir a prefeituraTigre2009,onde começou a construir seu próprio espaço político com a ajudasua esposa, Malena Galmarini, políticafamília com longa trajetória no peronismo.
Antessair, concorreu novamente como candidato "testimonial" nas eleições legislativas daquele ano, obtendo novamente uma cadeira na Câmara dos Deputados que não ocupou.
Após dois anos consolidando o poderseu reduto, Tigre, ele conseguiu uma contundente reeleição como prefeito, com mais70% dos votos.
Parte do seu sucesso deveu-se às políticassegurança que reduziram os índicesroubos – como a implementaçãocâmerasvias públicas – propostas que apresenta hoje a nível nacional como candidato presidencial.
Mas esta não é a primeira vez que Massa concorre à presidência da Argentina.
Após abandonar o kirchnerismo, formou seu próprio partido — Frente Renovador — e emergiu como o principal rival interno, dentro do peronismo, da força liderada por Cristina Kirchner.
Primeiro,2013, obteve — e finalmente ocupou — uma cadeiradeputado nacional, vitória que foi um duro golpe para Cristina FernándezKirchner, já que Massa derrotou o candidato presidencial.
Mas a rivalidade atingiu o seu clímax nas eleições presidenciais2015, nas quais Massa concorreu como candidato contra Daniel Scioli — eleito sucessorKirchner — e Mauricio Macri, da coligaçãocentro-direita Cambiemos.
Os mais21% dos votosMassa – que naquela ocasião ficouterceiro lugar, atrásMacri e Scioli – solidificaramposição como ator relevante no cenário político nacional.
E o apoioMassa a Macri no segundo turno, que contribuiu para a vitória do adversário, também aprofundou as diferenças comex-chefe política.
Na preparação para eleições legislativas2017, Massa criticou duramente a candidaturaKirchner como senadora.
"Eu não vou à esquina com o kirchnerismo porque eles vão às eleiçõesbuscaprivilégios", disse, acusando Cristina Kirchnerse apresentar como candidata para pedir imunidade parlamentar a uma possível condenação pela justiça por corrupção.
Nova reviravolta
Dada a rivalidade explícita entre eles, Massa e Kirchner surpreenderam2019 quando anunciaram que uniriam forças com Alberto Fernández – críticoambos – para formar uma coligação eleitoral pan-peronista – a FrenteTodos (FdT) – com a intençãoimpedir um segundo mandatoMacri.
A estratégia deu certo e a tríade assumiu o governo: Fernández como presidente, Kirchner como vice e Massa como presidente da Câmara dos Deputados.
"A janela estava aberta para reunificar o peronismo. Massa viu a oportunidade e aproveitou", afirma Novaro.
"Ele também percebeu, com astúcia, que era melhor para ele não estar no Executivo, mas na Câmara dos Deputados. Isso o colocouuma posiçãopoder próprio, autônomoFernández e Kirchner."
No entanto, o sucesso eleitoral da coligação não se traduziusucessogestão. As divergências dentro do FdT agravaram um panorama já dificultado pela pandemia e por uma seca histórica que reduziu drasticamente a receitadólares do campo, principal fontedivisas do país.
Nas eleições2021, o partido no poder marcou 13 pontos a menos do que nas eleições presidenciais, ficando oito pontos atrás do Juntos por el Cambio, a forçaPatricia Bullrich (La Libertad AvanzaJavier Milei só participou na cidadeBuenos Aires, obtendo duas cadeiras na Câmara dos Deputados).
Depois da catástrofe política, veio o desastre econômico.
No meiouma aceleração inflacionária gerada pela emissão recordedinheiro, que fez com que a subida dos preços chegasse a quase 100%2022, o ministro da Economia, Martín Guzmán, abertamenteconflito com Cristina Kirchner, demitiu-sejulho daquele ano.
O que parecia ser um colapso inevitável foi contido quando Massa, com o apoio dos seus dois parceiros políticos, assumiu o controle dessa eoutras duas pastas econômicasagosto, tornando-se um "superministro", como os meioscomunicação o apelidaram.
"Massa não é um economista, e sim um político. Mas a questão é que a crise argentina é política. Precisamosuma pessoa com capacidade política e com firmeza", comentou naquele momento o analista Carlos Fara à agência AFP.
De superministro a candidato
Nos 14 mesesque Massa comandou o Ministério da Economia, a crise inflacionária se agravou, atingindo dois dígitos por mês a partiragosto. E o Banco Central ficou sem reservas.
No entanto, quando chegou o momentoescolher um candidato do partido no poder para as eleições deste ano, tanto Cristina Kirchner como o presidente Fernández – os seus dois antigos rivais – nomearam-no para a corrida à presidência.
"Massa mostrou que é um político que faz grandes apostasmomentosque outros líderes não ousam", afirma Nejamkis, que destaca que "assumiu o Ministério da Economia não sendo economista e nessa situação".
“Ele pegou uma batata quente”, reconheceu Cristina Kirchner na época,um dos poucos elogios que fez ao candidato.
O analista disse à BBC Mundo que “ser encorajado a ser candidato” no atual contexto econômico foi “outra aposta muito ousada e arriscada”.
A aposta deu certo: nas primáriasagosto passado, Massa foi o segundo candidato mais votado, depoisMilei. E agora acabadar um resultado inesperado, sendo o mais votado nesta eleição.
Para Novaro, Massa conseguiu chegar ao segundo turno "atraindo um setor importante da população que tem medomudanças, porque sabe que - mesmo que esteja ruim agora – com as mudanças que estão por vir (se Milei vencer) será pior".
Seu foco principal foi destacar a forte presença do Estado no cotidiano dos argentinos – desde a educação e saúde pública até os subsídios aos transportes –, alertando que estariamrisco com um governo não peronista e ultraliberal como oMilei, que defende um estado mínimo.
“Peço que no domingo votemlegítima defesa edefesa do país”, disse ele antes das primárias.
Depois daquela eleição, também lançou uma sérieajudas fiscais e promoveu uma lei que eliminou o imposto sobre o rendimento, um tributo sobre os salários que tinha sido uma das suas promessas eleitorais durante anos, mas que oponentes criticaram como um “planopouco dinheiro”.
“Meu governo vai ser diferente deste”, prometeu ele nos dias que antecederam estas eleições.
Segundo turno
Para o segundo turno, “sua principal estratégia será questionar Mileiduas frentes”, diz Nejamkis.
“Por um lado, os riscos que Milei representa para o sistema democrático, para tentar atrair outros eleitores da oposição que talvez não gostem do peronismo, mas são sensíveis à discussão da democracia e das instituições, que uma liderança como Milei colocatensão.”
“E, depois, colocardiscussão a ideiajustiça social, que está profundamente enraizada no inconsciente coletivo argentino e que Milei questiona.”
Para ele, o sucessoMassa dependerá não tantosua gestão atual, massua capacidadeconvencer a maioria dos argentinos – especialmente os eleitores moderadosPatricia Bullrich – do risco que um governo Milei pode representar.
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