Eleições argentinas: quando começou a derrocada econômica da Argentina - e quão rica ela já foi?:casino astropay

Foto mostrando o obelisco e a avenida 9casino astropayJuliocasino astropayBuenos Aires

Crédito, getty images

Legenda da foto, Buenos Aires foi apelidadacasino astropay“Paris da América do Sul” no início do século XX

Essas frases nostálgicas são lembrançascasino astropayuma épocacasino astropayouro que muitos no país idealizam. E que alguns políticos, como Milei, prometem resgatar.

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“A Argentina pode voltar a ser uma potência mundial”, afirma repetidamente o economista ultraliberal.

“Se aplicarmos todas as reformas pró-mercado, nos primeiros 15 anos poderemos parecer com a Itália ou a França;casino astropay20 anos como a Alemanha;casino astropay35 anos como os Estados Unidos”, diz ele.

Ele não é o primeiro político a entusiasmar eleitores com promessascasino astropayvolta a esse passado próspero.

O ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019) – cujo campo político foi representado nestas eleições pela candidata Patricia Bullrich – propôs na época transformar a Argentina numa “nova Austrália”, um país que na primeira parte do século XX teve uma trajetória econômica semelhante à Argentina, mas que conseguiu se manter no caminho do desenvolvimento, algo que muitos argentinos tomam como exemplo do quecasino astropaynação deveria ter feito.

Mas será que a Argentina era realmente o país mais rico do mundo?

E como passoucasino astropayuma das nações mais prósperas a um dos países com a maior inflação do planeta?

Uma mão entregando notascasino astropay1.000 e 500 pesos argentinos para outra

Crédito, getty images

Legenda da foto, A Argentina tem inflação anualcasino astropay138% e eliminou 13 zeroscasino astropaysua moeda no último meio século

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Comparar a riquezacasino astropaydiferentes países é tarefa complexa, mas a maioria dos especialistas considera que a melhor formacasino astropayfazê-lo é medir o Produto Interno Bruto por habitante (PIB per capita, ou PIBpc).

Dado que o PIB dos países periféricos, como a Argentina, só começou a ser medido oficialmentecasino astropaymeados do século 20, informações anteriores a esse período devem ser vistas com cautela.

No entanto, economistascasino astropayvárias ideologias concordam que a fonte mais confiável é a basecasino astropaydados do Projeto Maddison, que usa diferentes estatísticas econômicas históricas para estimar o PIBpc no passado.

Em 2018, esta série estatística - criada pelo economista britânico Angus Maddison e mantida, até hoje, pela Universidadecasino astropayGroningen, na Holanda - estimou que a Argentina foi o país mais rico do mundocasino astropay1896, e que permaneceu entre os mais ricos nas primeiras décadas do século XX.

No entanto, a metodologia utilizada foi questionada por muitos historiadores econômicos, levando à publicaçãocasino astropayuma nova série estatísticacasino astropay2020 que tirou o troféucasino astropaynúmero 1 do país sul-americano, relegando-o para o sexto lugarcasino astropay1896.

De qualquer forma, esta edição – que ainda é a mais atual – confirma que a Argentina começou o século XX como uma das nações mais ricas do mundo, uma prosperidade que a levou a estar no “top 10” das nações ricas até a Primeira Guerra Mundial (1914-18).

A partir daí, o país declinaria até atingir o atual 66º lugar.

Quão rica foi a Argentina?

Em 1913, antes do início da Primeira Guerra, o PIBpc da Argentina eracasino astropayUS$ 6.052 (a preçoscasino astropaydólarescasino astropay2011), segundo cálculos do Projeto Maddison.

Isso era menos que o PIBpc dos Estados Unidos (US$ 10.108), do Reino Unido (US$ 8.212) e da Austrália (US$ 8.220).

Mas era o dobro da Espanha (US$ 3.067), da qual se tornou independente há quase um século, e superior à da Alemanha (US$ 5.815), da França (US$ 5.555) e da Itália (US$ 4.057), entre outras nações europeias.

Foi também muito superior ao rendimento dos países asiáticos que hoje dominam a economia, como a China (US$ 985) e o Japão (US$ 2.431).

E este não era um fenômeno regional, como mostram os índices dos seus vizinhos ecasino astropayoutros países latino-americanos como o Uruguai (US$ 4.838 ), o Chile (US$ 4.836), o México (US$ 2.004) e o Brasil (US$ 1.046).

Então, quando foi que a Argentina começou a perder seu lugar privilegiado no mundo e por quê?

"100 anoscasino astropaydecadência"

Se observarmos como o PIB por habitante evoluiu no mundo no século passado, veremos que a posição da Argentina no ranking mundial tem caído constantemente ao longo dos últimos cem anos.

Embora a riquezacasino astropaytodos os países – incluindo a Argentina – tenha aumentado ao longo do tempo, a nação sul-americana começou o século XX com a rendacasino astropayum país rico e aos poucos foi ficando cada vez mais relegada na tabela internacional.

Muitos chamam o fenômenocasino astropay“os 100 anoscasino astropaydeclínio argentino” e afirmam que este é o único exemplo no mundocasino astropayum país que passoucasino astropaydesenvolvido acasino astropaydesenvolvimento.

Alguns até usam o caso argentino para ensinar o que não fazer.

Isto foi feito pela revista britânica The Economist, quecasino astropay2014 publicou uma famosa reportagemcasino astropaycapa intitulada “A Parábola da Argentina”, na qual explicava “o que outros países podem aprender com um séculocasino astropaydeclínio”.

Capa da revista Economist

Crédito, The Economist

O artigo apontava claramente um culpado pela queda: o peronismo, o movimento político fundado por Juan Domingo Perón ecasino astropayesposa, Eva Duarte (a famosa "Evita"), que desde 1946 foi principal força a governar a Argentina.

Segundo a revista, o peronismo gerou “uma sucessãocasino astropaypopulistas economicamente analfabetos” que levaram a Argentina “à ruína”.

Esta é uma opinião amplamente difundida entre setores liberais do país sul-americano.

Mas será verdade?

O peronismo

O economista Fausto Spotorno é vice-presidente da Fundação Norte e Sul, dedicada a questõescasino astropaydesenvolvimento, e compilou as estatísticas econômicas da Argentina desdecasino astropayfundaçãocasino astropay1810 até 2018.

Spotorno disse à BBC Mundo, o serviçocasino astropayespanhol da BBC, que “os dados mostram que o crescimento econômico argentino começou a desacelerar a partircasino astropay1930”, quando o país sofreu um duplo golpe: os impactos da crise internacional, devido à quebra da bolsacasino astropayWall Street, e seu primeiro golpecasino astropayEstado militar.

No entanto, ele observou: “Fica claro pelos números que as coisas começaram a ficar complicadas depois do peronismo”.

“A Argentina se assemelhava a uma economia desenvolvida,casino astropaytermoscasino astropaypadrãocasino astropayvida, renda per capita e taxacasino astropaycrescimento, até 1946”, explicou. Ou seja: até a chegadacasino astropayPerón.

Juan Domingo Perón ecasino astropayprimeira esposa, "Evita"

Crédito, getty images

Legenda da foto, Juan Domingo Perón ecasino astropayprimeira esposa, "Evita", fundaram um movimento popular que governou durante 40 dos últimos 78 anos.

“É aí que a inflação começa a aparecer”, disse ele, referindo-se ao problema mais persistente enfrentado pela Argentina.

Embora o país já tivesse tido aumentoscasino astropaypreços antes, esclareceu, a partir desse momento eles subiram para alémcasino astropay20% pela primeira vez.

E por que a inflação começou a subir?

“Porque os gastos aumentaram muito”, explicou o economista, que destacou que “a Argentina tinha gastos públicoscasino astropay8,5% do PIB e na segunda metade da décadacasino astropay1940 isso aumentou para 12%”.

No entanto, Spotorno esclareceu que muitos dos problemas que Perón enfrentou surgiram antes dacasino astropaychegada e foram agravados pelo contexto internacional desfavorável que a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) trouxe.

Os países europeus para os quais a Argentina exportava produtoscasino astropaysua agricultura atrasaram pagamentos, afirmou. E o país, que durante décadas teve um superávit primário - isto é, mais receitas do que despesas - "começou a ter um deficit na décadacasino astropay1940".

Este rombo não poderia ser resolvido – como fizeram os governos anteriores – com empréstimos externos, também por causa da guerra, disse o especialista.

Mas estas limitações não frearam Perón, que, apesar do contexto, aumentou drasticamente os gastos sociais.

“A Argentina aumentou as despesas sem poder financiá-las”, disse Spotorno.

“Perón nacionalizou o Banco Central para poder imprimir dinheiro, o que desencadeou a inflação.”

Impressãocasino astropaynotascasino astropay500 pesos na Casa da Moeda argentina

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Legenda da foto, Segundo economistas ortodoxos, o persistente problemacasino astropayinflação da Argentina está relacionado com a emissãocasino astropaynotas para cobrir o deficit fiscal.

Esse problema (gastar mais do que se tem) foi piorando a cada governo posterior, explicou o economista.

E as soluções adotadas por todos - seja emitindo mais dinheiro ou solicitando mais empréstimos - foram o que levou a Argentina a se tornar um dos países com mais inflação e mais incumprimentos (ou cessaçãocasino astropaypagamentoscasino astropaydívidas - os famosos calotes) do mundo.

Os militares

Mas muitos também dizem que seria injusto dizer que a Argentina “perdeu o rumo” por causa do peronismo.

Afinal, as potências com as quais o país conviveu no início do século se beneficiaram pelo Plano Marshall, que depois da Segunda Guerra lhes permitiu regressar ao caminho do desenvolvimento.

Em contraposição, a Argentina, que demorou a declarar guerra à Alemanha e ao Japão, foi excluída dos mercados europeus.

Quanto à inflação, economistas lembram que Perón conseguiu reduzi-la para menoscasino astropay4% antescasino astropayser derrubado por um golpecasino astropayEstadocasino astropay1955.

E observam que, depois desse acontecimento, o peronismo foi banido por maiscasino astropay18 anos.

Acadêmicos como Eugenio Díaz Bonilla, economista e professor da Universidade George Washington, destacam que se compararmos a trajetória econômica da Argentina com a da Austrália - que sofreu os mesmos ataques internacionais e não foi incluída no Plano Marshall - pode-se perceber que o verdadeiro colapso do país sul-americano não teria ocorrido com a ascensão do peronismo, mas décadas depois, com a chegada do último regime militar, que aplicou políticas neoliberais.

“Se compararmos os dois países tomando como referência a distânciacasino astropayrelação à renda per capita dos Estados Unidos, vemos que a relação permanece entre 1900 e 1975. A mudança ocorreu com o golpecasino astropay1976”, disse Díaz Bonilla à BBC Mundo após a polêmica gerada pela revista The Economist.

Emilio Massera (esq), Jorge Rafael Videla e Orlando Ramon Agosti, líderes da Junta militar que tomou o poder argentinocasino astropay24casino astropaymarçocasino astropay1976

Crédito, getty images

Legenda da foto, Muitos acadêmicos sustentam que o verdadeiro desastre econômico ocorreu com o regime militar, há 40 anos.

O historiador argentino Ezequiel Adamovsky concluiu o mesmo.

“Nos trinta anos após 1945, a Argentina dobroucasino astropayrenda per capita e expandiu seu PIB a taxas superiores às dos Estados Unidos e também às do Reino Unido, Austrália ou Nova Zelândia (embora tenha sido superada peloscasino astropayalguns países europeus)", observou numa colunacasino astropayopinião no jornal El Diario AR.

“Com todos os seus problemas, a economia argentina crescia a um ritmo mais rápido do que o das principais potências ocidentais”, observou.

“Sócasino astropay1975 é que a economia local sofreu um declínio abrupto e perdeu terrenocasino astropaycomparação não só com os países mais avançados, mas praticamente com o mundo inteiro. Desde 1975, sim, pode-se dizer que o país sofreu um declínio”, escreveu ele,casino astropayreferência a um período marcado pela crisecasino astropayhiperinflação.

Um problemacasino astropaybase

Mas há algo com que analistascasino astropayvárias ideologias concordam: para além das falhascasino astropaygovernos específicos, o problema subjacente que afetou a Argentina é uma instabilidade institucional que levou a seis golpescasino astropayEstado no século XX.

Neste ano, o país está comemorando, pela primeira vez, 40 anos ininterruptoscasino astropaydemocracia.

Uma pesquisa conduzida pelo professorcasino astropayeconomia da Universidadecasino astropayLiubliana, Rok Spruk, destacou que esta fraqueza existe desde o início.

“Em comparação com EUA, Canadá e Austrália, a Argentina nunca completou a transição para uma democracia aberta sustentada pelo Estado Democráticocasino astropayDireito”, escreveu Rok num artigo intitulado “The Rise and Fall of Argentina” (A ascensão e queda da Argentina,casino astropaytradução direta), publicadocasino astropay2019 na revista Latin American Economic Review.

“Quando os militares quebraram formalmente a ordem constitucionalcasino astropay1930, a Argentina embarcou no caminho do desenvolvimento institucional instável e das frequentes transiçõescasino astropayidas e vindas entre ditadura e democracia.”

“Em vezcasino astropayembarcar no caminho do desenvolvimento institucional sustentado, a Argentina sofreu uma fraude eleitoral tumultuada com uma quase erosão do sistemacasino astropayfreios e contrapesos que precipitou a ascensãocasino astropaylíderes populistas”.

Um quebra-cabeça da Argentina com peças separadas

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Legenda da foto, A fraqueza institucional da democracia argentina causou muitas rupturas durante o século passado

Spotorno diz que esta instabilidade democrática fez com que a Argentina perdesse a atratividade que tinha no final do século XIX e início do XX.

“Se há um golpecasino astropayEstado volta e meia e as instituições são violadas, obviamente os investimentos começam a bambear”, disse ele.

Para o economista, a Argentina começou a sofrer um declínio “quando duas coisas deixaramcasino astropayser respeitadas: as instituições e a relação básica entre receitas e despesas do Estado”.

“A faltacasino astropayinstituições permitiu que os governos procurassem sempre atalhos,casino astropayvezcasino astropayfazerem as coisas direito, e isso culminoucasino astropaysucessivas crises fiscais.”

“O país viveu um momentocasino astropayordem, entre 1860 e 1930, onde todos estavam concentrados no mesmo lado”, resume. "Depois disso, tudo se resumia a encontrar atalhos e gastos excessivos."

Como um pêndulo

Há outro fator que vários especialistas destacam e que ajuda a compreender a dificuldade que a Argentina tevecasino astropaydecolar economicamente no último século.

O país não tem sido apenas um pêndulo político, oscilando entre democracias e governos autoritários.

Também tem ido e vindo com as suas políticas econômicas, saltando - sem parar - do nacionalismo ao neoliberalismo, do proteccionismo ao mercado livre, da ortodoxia à heterodoxia...casino astropayum vaivém interminável que ocorreu mesmocasino astropaydiferentes governos do mesmo partido.

As pesquisadoras Valeria Arza e Wendy Brau, do Centrocasino astropayPesquisas da Transformação (Cenit), analisaramcasino astropay2021 “o pêndulo argentinocasino astropaynúmeros” – ou seja, quantas vezes a política econômica oscilou – e constataram que nas seis décadas entre 1955 e 2018 houve houve maiscasino astropay30 mudançascasino astropayrumo, das quais 16 foram “mudanças radicais”.

Também revelaram outras evidências da faltacasino astropaycontinuidade da política econômica argentina: “em média, os ministros da economia duraram 13 meses no cargo” durante esse período.

“A característica dominante da política econômica é a oscilação extrema”, resumiu Adamovsky na revista Anfibia.

Poucos exemplos desta característica podem ser tão claros quanto as diferentes noções sobre o papel do Estado na economia que defendem os três candidatos com mais chancescasino astropayvitória no próximo domingo.

Sergio Massa, terceiro ministro da Economia do atual governo peronista, concorre à presidência com promessascasino astropaymanter um Estado forte, enquanto Patricia Bullrich promete encolhê-lo e Javier Milei ameaça destruí-lo.