De pipoca a pindaíba: 'O brasileiro fala tupi o dia inteiro sem saber':playbonds slots

Legenda do áudio, De pipoca a pindaíba: 'O brasileiro fala tupi o dia inteiro sem saber'

Cidades, fauna, flora e cotidiano: o tupi estáplaybonds slotstudo

Ao cruzar a fronteira com o Brasil pela primeira vezplaybonds slotscarro, a paraguaia Liz Benitez diz que tomou um susto quando percebeu que,playbonds slotstodas as placas, ela lia nomesplaybonds slotslugaresplaybonds slotstupi.

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Fim do Que História!

Liz é professoraplaybonds slotsguarani, uma língua derivada do tupi que é falada pela maior parte da populaçãoplaybonds slotsseu país e reconhecida desde 1992 como língua oficial do Paraguai, juntamente com o espanhol.

“Eu me surpreendi que o tupi fosse tão nativo do Brasil. Desde a primeira cidadeplaybonds slotsque entrei, Foz do Iguaçu (fruto da junção do fonema ‘Y’, que significa rio, com a palavra ‘guaçu’, que significa grande), até por exemplo Ponta Porã (fruto da junção das palavras Ponta e ‘Porã’, que significa bonita). Eu via nossas línguas origináriasplaybonds slotstudo”, diz.

Assim como Liz, que montou uma página no Instagram chamada Dicasplaybonds slotsGuarani, o estudanteplaybonds slotsfilosofia Matheus da Silva, é um apaixonado por descobrir a origemplaybonds slotspalavras. Ele também criou a contaplaybonds slotsInstagram Tupinizando para compartilhar com seus compatriotas brasileiros suas descobertas enquanto estudava tupi.

O vídeoplaybonds slotsmaior sucesso, que já foi visto por maisplaybonds slots250 mil pessoas, mostra o significado dos nomesplaybonds slotscinco estados brasileiros que derivam do tupi.

“Pernambuco é o meu preferidoplaybonds slotstermosplaybonds slotssonoridade e significa 'fenda do mar',playbonds slotsreferência aos recifes presentes naquela área”, conta.

Matheus revela ainda que Paraná (mar ou rio muito grande), Paraíba (rio ruim), Sergipe (no rio dos siris) e Tocantins (bicoplaybonds slotstucano) são todos exemplos que vêm do tupi e que mostram uma das características mais apreciadas nessa língua por quem a estuda: o seu caráter descritivo na horaplaybonds slotscriar novas palavras.

A palavra pipoca (junçãoplaybonds slots‘pira’, que significa ‘pele’ com ‘poca’, que significa ‘arrebentar’), por exemplo, descreve exatamente o que acontece com o milho quando é aquecido:playbonds slotspele arrebenta.

O mesmo vale para cutucar, origináriaplaybonds slots"kutuk", que significa furar e que, segundo Liz, até hoje é usada nas manchetesplaybonds slotsjornais do Paraguai para descrever crimes à faca.

Muito da nossa fauna e flora também tem nomes que vieram do tupi. Alguns dos casos mais curiosos vêmplaybonds slotspalavras que tiveram seus significadosplaybonds slotstupi adotadosplaybonds slotsoutras línguas, mas não vingaram no Brasil.

É o casoplaybonds slotsananas, que significa fruta excelente e foi adotado no francês pra definir abacaxi, ouplaybonds slotsjaguar, que é a palavra usadaplaybonds slotsinglês para definir o que chamamosplaybonds slotsonça.

Para além da luxuosa marcaplaybonds slotsautomóveis, o que não faltam são outras marcas no mercado brasileiro que têm suas origens no tupi.

Piracanjuba (peixe da cabeça amarela), mococa (casa do mocó, um roedor da Caatinga) e catupiry (muito bom) são apenas algumas delas.

Como Matheus relata ter descoberto desde que começou a estudar tupi antigo: “o brasileiro fala tupi o dia inteiro sem saber”.

Crédito, @indigenouslanguages

A mortandade progressiva das línguas originárias

Apesar do tupi antigo ser parte importante do português moderno, a língua foi deixandoplaybonds slotsser falada após a proibiçãoplaybonds slots1758 e acabou sendo considerada morta no início do século 20.

Além dos brasileiros urbanosplaybonds slotsgeral, que perderamplaybonds slotsvez essa conexão com suas origens, boa parte das comunidades indígenas hoje têm apenas o português como língua nativa. E esse processoplaybonds slotsapagamento não parou no passado.

“Dentroplaybonds slotsum idioma, toda uma visãoplaybonds slotsmundo é construída. Ao tentar destruir (a língua geral) tentava-se apagar os resquícios do que os europeus chamavamplaybonds slotsbarbárie, mas que na verdade era uma riqueza cultural incompreendida”, relata o indígena potiguara e professorplaybonds slotstupi Romildo Araújo.

Segundo ele, devido à violência desse processo, muitos conhecimentos desapareceram e continuam desaparecendo à medida que “a colonização avança”.

“Devido ao avançoplaybonds slotsterras indígenas continua havendo esse processoplaybonds slotsque os indígenas vão perdendo não só o meio ambiente, mas as formasplaybonds slotsreprodução daplaybonds slotscultura. Se não houver políticasplaybonds slotsEstado que impeçam esse processo, aquilo que aconteceu lá no século 18 pode acontecer com os nossos povos também no século 21”, diz.

Romildo faz parteplaybonds slotsum grupoplaybonds slotsindígenas que tentam revitalizar as línguas origináriasplaybonds slotssuas comunidades.

Ele dá aulaplaybonds slotstupi para crianças, adolescentes e adultosplaybonds slotsuma escola estadual indígena do municípioplaybonds slotsMarcação, na Paraíba, e diz que existem meios para inserir línguas originárias no currículo.

Segundo Romildo, a comunidade indígena se preocupaplaybonds slotscuidar do seu idioma eplaybonds slotscriar meios para que ele se mantenha vivo ou seja fortalecido, mas precisaplaybonds slotsajuda.

“Isso envolve a participação do Estado. Ele pode ser responsável tanto pela preservação quanto pelo desaparecimento dos nossos idiomas. É um direito do povo indígena ter acesso aplaybonds slotscultura, que foi suprimida pelo processo colonial”, diz ele.

“Esse processo (de desaparecimento dos idiomas) pode ser revertido através da formaçãoplaybonds slotsprofessores e contrataçãoplaybonds slotsprofessores indígenas e da criação dessas disciplinasplaybonds slotsescolas indígenas. ONGs e universidades podem desempenhar ações como criaçãoplaybonds slotsdicionários, gramáticas, pesquisas, coletas e compartilhamentoplaybonds slotsdados referentes aos idiomas”, sugere.

No Paraguai, a inclusão da alfabetizaçãoplaybonds slotsguarani no ensino formal a partirplaybonds slots1994 foi um marco importante.

“Aqui o colonialismo não deu conta do apagamento da língua, e por isso o Paraguai é um fenômeno muito interessante que é estudado por pesquisadores. O guarani é faladoplaybonds slotstodo o país por indígenas e não indígenas”, conta Liz Benitez.

A professora considera que a reforma dos anos 1990, que reconheceu a língua como oficial do país, foi importante ao declarar que o guarani é tão importante quanto o espanhol.

Outro ponto importante, emplaybonds slotsopinião, foi a consequente aproximação da população com suas origens: “o guarani é a língua da privacidade, da família, e conseguir entender as histórias daplaybonds slotsavó com certeza te aproxima dos seus ancestrais”, acrescenta.

Crédito, @indigenouslanguages

Legenda da foto, Abertura da Década Internacional das Línguas Indígenas na Unesco,playbonds slotsParis,playbonds slotsdezembro

Década Internacional das Línguas Indígenas

O problema do desaparecimento das línguas originárias é tão grave que fez a ONU declarar,playbonds slots2022, a Década Internacional das Línguas Indígenas.

“Um ano não é suficiente para haver mudanças efetivas, para que mais línguas indígenas sejam reconhecidas, revitalizadas e mais utilizadas. Um períodoplaybonds slotsdez anos parece ser mais adequado para criar uma mudançaplaybonds slotslongo prazo, para permitir que as gerações mais jovens usem suas línguas indígenas”, diz Jaco Du Toit, chefe da seçãoplaybonds slotsAcesso Universal à Informação na Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), órgão que coordena as ações da iniciativa.

Jaco explica que, quando se falaplaybonds slotspreservaçãoplaybonds slotslínguas indígenas não existe um só caminho.

“Existe uma gama muito amplaplaybonds slotscamposplaybonds slotsque precisamos intervir, vai da educação ao empoderamento digital, da saúde à Justiça, da cultura à igualdadeplaybonds slotsgênero, precisamosplaybonds slotsuma abordagem muito holística quando olhamos para a década”, detalha.

“Os governos precisam estar envolvidos no processo, a sociedade civil e o setor privado também são importantes, mas os agentes mais significativos e que precisam sempre fazer parte do processo são as pessoas indígenas.”

Adauto Candido Soares, que é coordenador do setorplaybonds slotsComunicação e Informação da Unesco no Brasil, considera a Funai como o parceiro mais estratégico nesse processo.

“Nós temos uma parceria com a Funai, que administra o Museu do Índio e nesse espaço eles têm uma baseplaybonds slotsdados enorme com gramáticas, publicações, gravações e documentos com relação às línguas indígenas”, revela Adauto, que diz ver no governo atual uma chanceplaybonds slotsavançar mais na questão.

O professor Romildo lembra que, enquanto ainda não existem muitas políticas públicas voltadas para resolver a questão do desaparecimento das línguas indígenas, a Funai é realmente uma parceira-chave no resgate dessa cultura.

“Estamos esperando para os os próximos quatro anos da Funai uma maior contribuição nessa parteplaybonds slotsresgate e fortalecimento da linguagens indígenas”, diz.

Como um exemploplaybonds slotscomo a iniciativa privada pode ajudar, Adauto cita o caso da Motorola.

Em parceria com a Unesco, a empresaplaybonds slotstelefonia anunciouplaybonds slotsdezembro, na abertura da Década Internacional das Línguas Indígenas,playbonds slotsParis, que adicionou duas novas línguas aos seus aparelhos: o kaingang, línguaplaybonds slotsuma etnia indígena numerosa que vive no Sul do Brasil e o nheengatu — variação da língua geral nascida na Amazônia que, diferentemente do que aconteceu no resto do país, não morreu e é tão falada até hoje que foi considerada a língua oficial dos municípios São Gabriel da Cachoeira (AM) e Monsenhor Tabosa (CE).

“Estamos até buscando uma parceria com a Anatel, para fazer com que essas línguas possam estar também nos outros fabricantesplaybonds slotscelulares. Eles gostaram muito da iniciativa, e a gente está tentando articular com eles. A Motorola disponibilizou, inclusive, toda a baseplaybonds slotsdados aberta para que as outras empresas possam utilizar e colocarplaybonds slotsseus celulares essas duas línguas”, revela o coordenador.

Adauto diz que esse é um reconhecimento importante para as línguas indígenas, mas que essa não é a principal conquista dessa ação.

”Nós temos um bom númeroplaybonds slotsfalantesplaybonds slotslínguas indígenas no território brasileiro, essas pessoas não podem ser excluídas digitalmente”, declara, exemplificando um problema que a simples adição dessas línguas a aparelhos celulares pode ajudar a resolver.