Por que terremotos não são incomunsPortugal mesmo o país estando longe das grandes falhas geológicas:
Mas como é possível que dois terremotos devastadores tenham afetado Portugal no passado e tremores menores sigam acontecendo, se o país está a milharesquilômetrosfalhas geológicas conhecidas por causar grandes tremores?
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Esta questão intrigou durante anos o geólogo português João Duarte, professor da UniversidadeLisboa, que afirma ter desvendado o mistério.
Duarte apresentou os resultadosseu estudouma reunião da União EuropeiaGeociências na Áustria2019.
E o que o geólogo descobriu foi algo estranho: uma placa tectônica está deslizando sob a outra, causando uma divisão na crosta terrestre, como explicou o pesquisador à BBC News Mundo, o serviçoespanhol da BBC.
Maior terremoto na Europa
"Sabíamos que houve o grande terremotoLisboa1755, o maior na história da Europa, com uma magnitude8,7", lembra Duarte.
As estimativasvítimas variam pela carênciaregistros, mas as menores estão entre 20 mil e 30 mil óbitos, enquanto as maiores falam100 mil.
"O terremoto destruiu Lisboa, grande parte do sul da Espanha e do Marrocos, e causou um enorme tsunami que atingiu a Irlanda e o Caribe", diz o geólogo.
Um segundo grande terremoto afetou o país1969.
"A magnitude foi7,9, mas foi muito longe da costa, matando entre 11 e 30 pessoas e destruindo cerca400 casas. (A dimensão do) dano não é conhecida precisamente porque Portugal era uma ditadura na época e o governo escondeu alguns dados."
O estranho, conforme Duarte apontou à BBC News Mundo, é que grandes terremotos ocorrem geralmente no Oceano Pacífico, porque ali existe o que os geólogos chamamprocessosubducção - quando uma placa tectônica desliza sob outra placa.
"Na América do Sul, por exemplo, não há grandes terremotos no lado brasileiro, mas do outro lado, o Chile tem os Andes - onde uma zonasubducção e terremotos muito grandes ocorrem."
Subducção
A zona marinha onde ocorreram os terremotos que afetaram Portugal, chamada Planície Abissal da Ferradura, é muito plana.
Mas o trabalhoDuarte e seus colegas revelou uma surpresa sob aquela área, entre a placa africana e a placa eurasiana: "O que descobrimos é que uma placa tectônica está começando a afundar e deslizar sob a outra".
Este processo gera uma divisão horizontal na crosta. As placas têm duas camadas e, devido à subducção, a camada inferior afunda sob outra placa - mas a camada superior permanece na superfície para evitar uma brecha.
Em outras palavras, a placa está "descascando".
A subducção ocorre no fundo do mar, a mais200 km do CaboSão Vicente, no extremo sulPortugal.
Duarte e seus colegas também detectaram um processo chamado "serpentinização".
"Como as placas estão embaixo d'água, há infiltrações que penetram a rocha e enfraquecem as placas - algo semelhante ao que acontece quando os metais corroem. Esse enfraquecimento torna mais fácil a divisão da placa."
Sem desespero
Duarte observou que o processosubducção está ocorrendouma escalaaté cinco milhõesanos e provavelmente continuará por talvez 10 milhõesanos.
Para o geólogo, a descoberta da nova zonasubducção não deve ser motivoalarme.
Tendo encontrado esse fenômeno, agora será possível incrementar o monitoramento e posicionar melhor navios e sismógrafos para estudos no fundo do mar.
"A verdade é que já sabíamos, pelos terremotos do passado, que havia uma probabilidadeque ocorressem mais no futuro. São processos cíclicos na Terra", diz Duarte.
"A minha mensagem é que devemos ver esta descobertauma forma positiva, que nos permite compreender melhor os processos que geram os terramotos. Também a ciência nos dá melhores mecanismos para nos defendermos", acrescentou o cientista da UniversidadeLisboa.
Duarte reiterou à BBC News Mundo que os terremotos fazem parte da dinâmica do planeta, e a melhor maneiraresponder a eles sempre passará pela prevenção - por exemplo "construindo casas preparadas e sabendo o que fazercasoum terremoto ou tsunami".
Esta reportagem foi publicada originalmente16maio2019 e atualizada26agosto2024.