A polêmica envolvendo escola histórica do RJ rebatizada com nomezebet usernamebatismozebet usernameSilvio Santos:zebet username
Os profissionais do colégio também publicaram uma nota no qual se disseram “surpreendidos” com a decisão.
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Fim do Matérias recomendadas
“Repudiamos a atitude arbitrária do governo estadualzebet usernamealterar o nome da escola, que é tombada como patrimônio histórico pela relevânciazebet usernamesua construção na história da cidade do Riozebet usernameJaneiro”, afirma o texto.
A BBC News Brasil conversou com um grupozebet usernameprofessores. Eles pediram para que suas respostas fossem publicadaszebet usernamemodo coletivo, ou seja, sem identificar cada um deles.
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“Estávamos na reunião do conselhozebet usernameclasse quando a direção leu no Diário Oficial a mudançazebet usernamenome. Não houve nenhuma consulta,zebet usernametotal desrespeito com a comunidade escolar”, lamentam.
Eles contaram que ainda não houve nenhuma mudança na fachada, com letreiro indicando o novo nome. Mas relataram que na última quinta (17), funcionários da Secretariazebet usernameEstado da Educação do Riozebet usernameJaneiro (Seeduc) estiveram no colégio, possivelmente averiguando a viabilidadezebet usernamealterações.
“Documentos virtuais que estão sendo expedidos já vêm com o nome novo”, informam os professores, que estão organizando abaixo-assinado físico e virtual “no sentidozebet usernameorganizar a resistência” ao rebatismo.
Nos anos 1940, o então adolescente Abravanel estudou nesse colégio — e isto é o que justificaria a homenagem. Segundo informações, a ideia partiu do próprio governador Cláudio Castro. A resolução foi executada pela secretáriazebet usernameEducação, Roberta Barreto.
A reportagem questionou tanto o governo estadual quanto a secretaria, inclusive perguntandozebet usernamequem foi a iniciativa e se já estãozebet usernamecurso os trâmites para que a nova nomenclatura constezebet usernamefachadas, sinalizações e documentos da instituição — os uniformes dos alunos não têm o nome da escola, apenas o da redezebet usernameensino.
A única resposta veio da Seeduc, por meiozebet usernamenota — que não esclareceu todas as dúvidas, mas salientou que o objetivo foi “homenagear seu ex-aluno e uma das maiores personalidades do nosso país, Senor Abravanel, o Silvio Santos”.
A secretaria enfatizou que “valoriza e respeita o importante legado dessa unidade” e que “vê na mudança mais um capítulo gloriosozebet usernamesua história”.
'Escolas do imperador'
Há alguns fatores que tornam o caso mais especial. O primeiro é que o colégio tem uma importância histórica por ser uma das “oito escolas do imperador”.
“As chamadas ‘escolas do imperador nasceram após a Guerra do Paraguai. Quem vai hoje ao Museu Histórico Nacional se depara com uma imensa estátuazebet usernamedom Pedro 2ºzebet usernamegesso, montadozebet usernameum cavalo. Era para essa estátua ter sido fundida, mas nunca foi porque o imperador impediu”, conta à BBC News Brasil o escritor e pesquisador Paulo Rezzutti, biógrafo do monarca.
“Ele achava o gasto absurdo e dizia que seria melhor para o povo ter acesso à educação do que ser feita uma estátua dele.”
Rezzutti cita uma carta que dom Pedro 2º mandou para seu ministro Paulinozebet usernameSousazebet username1870.
"Leio no Diário [do Riozebet usernameJaneiro], que se pretende fazer uma subscrição para elevar-me uma estátua [...] desejo que declare quanto antes à comissãozebet usernameque [...] muito estimaria eu que só empregassem seus esforços na aquisição do dinheiro preciso para a construçãozebet usernameedifícios apropriados ao ensino nas escolas primárias, e o melhoramento do materialzebet usernameoutros estabelecimentoszebet usernameinstrução pública. O senhor e seus predecessores sabem como sempre tenho falado no sentidozebet usernamecuidarmos seriamente da educação pública, e nada me agradaria tanto como ver a nova erazebet usernamepaz firmada sobre o conceito da dignidade dos brasileiros começar por um grande atozebet usernameiniciativa deles a bem da educação pública”, diz o texto.
“Além da ideia do Diário do Riozebet usernameJaneiro, a própria Câmara dos Deputados também tentou levantar dinheiro para uma estátua ao imperador, votando para isso verba própria no orçamento do império”, acrescenta o biógrafo. “Dom Pedro foi taxativo: ele disse que não aprovaria o orçamento.”
Assim, do dinheiro arrecadado foram construídas as oito escolas no município do Rio.
“Desses prédios, três foram demolidos, um deles foi reconstruído e ainda abriga uma escola. Outros ainda possuem função educacional ou cultural”, cita Rezzutti.
Essa escola no Largo do Machado é uma das remanescentes. E isto leva ao segundo fator: por conta dessa história, desde 1990, o colégio é tombado pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, o órgão municipalzebet usernameproteção ao patrimônio histórico.
A discussão movimenta a Assembleia Legislativa do Estado do Riozebet usernameJaneiro (Alerj).
Dois deputados entraram na briga. No dia 2, Carlos Minc apresentou um projetozebet usernamelei para sustar o efeito da resolução.
No dia seguinte, foi a vez da deputada estadual Martha Rocha, que buscou outra estratégia: apresentou um projetozebet usernamelei propondo dar nova denominação ao colégio — no caso, o “novo” nome seria o anterior ao atual, ou seja, mais um vez Amaro Cavalcanti.
Ambas as propostas tramitam nas comissõeszebet usernameConstituição e Justiça ezebet usernameEducação. Cada uma delas tem 30 dias para analisar os projetos. Se aprovados, vão para votaçãozebet usernameplenário — sem prazo para que isso ocorra.
À BBC News Brasil, a deputada reclamou da forma como a nova nomenclatura foi imposta, com “utilizaçãozebet usernameum instrumento administrativo” sem “qualquer consulta à comunidade escolar”.
“Nossa decisãozebet usernameapresentar um projetozebet usernamelei para trazerzebet usernamevolta o nomezebet usernameAmaro Cavalcanti é no sentidozebet usernamereconhecer a importância dele como advogado, jornalista, parlamentar, diplomata e professor no cenário da história do Brasil. E também no sentidozebet usernamerespeitar a vontade da comunidade escolar que ficou profundamente ofendida e não concorda com essa decisão arbitrária da secretária da Educação”, afirma ela.
Quem foi Amaro Cavalcanti
Amaro Cavalcanti Soareszebet usernameBrito (1849-1922) tem uma singular biografia. Nascidozebet usernameCaicó, no Rio Grande do Norte, aprendeu latim quando era criança e trabalhou como caixeiro.
Mais tarde, quando concluiu seus estudos preparatórios, conseguiu trabalhar como professorzebet usernamecolégios particulares. Lecionouzebet usernamediversos locais, principalmente no Maranhão e no Ceará.
Foi convidado a participarzebet usernameuma comissão internacional que deveria analisar a organização do ensino nos Estados Unidos.
Emzebet usernametemporada americana,zebet username1876 a 1881, aproveitou-se para graduar-se na Albany Law School, no Estadozebet usernameNova York.
Para a obtenção do seu título jurídico, defendeu uma tese discutindo o papel e a obrigação do Estado no acesso à educação.
Retornou dos Estados Unidoszebet usernameoutro patamar na carreira. “De volta ao Brasil, trazendo na bagagem não só o diploma universitário como também a experiência da viagem e admiração pelo regime do país que conheceu, foi nomeado,zebet usernameoutubrozebet username1881, diretor-geral da Instrução Pública no Ceará”, conta o verbete dedicado a ele no Centrozebet usernamePesquisa e Documentaçãozebet usernameHistória Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).
No ano seguinte, transferiu-se para o Rio, onde se tornou professor no Imperial Colégio Pedro 2º, no Rio. E passou a atuar como advogado e jornalista.
“Ele foi um republicano que lutou pela democracia e contra a escravidão, contra o racismo”, ressalta a deputada Rocha.
Em 1890, foi eleito senador constituinte. Tornaria-se um dos redatores da primeira Constituição do Brasil republicano, azebet username1891.
Como diplomata, atuou prestando consultoria ao Ministério das Relações Exteriores, cumpriu missão no Paraguai e integrou a Corte Permanentezebet usernameArbitragemzebet usernameHaia, nos Países Baixos.
De 1906 a 1914 foi ministro do Supremo Tribunal Federal.
No fim da vida, ainda exerceu o cargozebet usernameprefeito do então Distrito Federal — o Riozebet usernameJaneiro — e também foi ministro da Fazenda.
Como frisa o CPDOC-FGV, deixou “vasta obra publicada, que versa sobre educação, finanças e direito”. Entre elas, Educação Elementar nos Estados Unidos da América do Norte, Ensino Moral e Religioso nas Escolas Públicas, The Brazilian Language and Its Agglutination, O Meio Circulante no Brasil, Projetozebet usernameConstituiçãozebet usernameum Estado e Tributação Constitucional, Polêmica na Imprensa.
“Amaro Cavalcanti é uma figura singular na história do pensamento brasileiro. Ele estudou nos Estados Unidos na épocazebet usernameque poucos iam aos Estados Unidos, conhecia o direito público como ninguém, era latinista e chegou a lecionar no imperial Colégio Dom Pedro 2º”, ressalta à BBC News Brasil o jurista Arnaldo Sampaiozebet usernameMoraes Godoy, professor livre-docente na Universidadezebet usernameSão Paulo (USP) e professor titular no Centro Universitáriozebet usernameBrasília (UniCEUB).
De acordo com ele, Cavalcanti deixou quatro “legados fundamentais”. O primeiro foi como tributarista, já que ele foi autorzebet usernameobras sobre direito tributário e direito financeiro.
O segundo seria o internacionalista, pois ele “foi o grande consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores”.
Por fim, os legados “como professor” e “como constituinte”. Godoy lembra que a Constituição redigidazebet username1891 “de certa maneira define a estrutura republicana que persiste até os diaszebet usernamehoje”.
“Ele foi um político e jurista importante tanto na época do Império quanto nas décadas iniciais da República”, comenta Rezzutti.
“Ele é da geraçãozebet usernameRuy Barbosa, Joaquim Nabuco, Barão do Rio Branco entre outros que tinham um projetozebet usernameBrasil e fizeram a diferença para a construção do Estado nacional. Por mais relevante que Silvio Santos seja na vidazebet usernamemilhõeszebet usernamebrasileiros, critérios como fama podem ser efêmeros e no futuro não dizer nada mais a respeito do homenageado.”
Para o professor Godoy a trocazebet usernamenome “é um desrespeito à história cultural do Brasil”.
“Ainda que nós reconheçamos o Silvio Santos como uma figura também singular, que tem os seus méritos, tenho a mais absoluta convicçãozebet usernameque Amaro Cavalcanti não pode ter o nome trocado dessa maneira tão abrupta”, declara.
Na opinião dele, “nomezebet usernamecolégio é algo que naturalmente deve ser uma evocação a um educador, a um professor ou alguém que lutou pelas letras”.
“E Silvio Santos, com todos os seus méritos, jamais foi educador, jamais foi professor, jamais lutou pelas letras”.
“Um colégio deve designar uma pessoazebet usernamecultura, uma pessoa que incentiva a informação e os livros e uma vidazebet usernamemais realização cultural. Silvio Santoszebet usernamenenhum momento chegou perto disso. E Amaro Cavalcanti é uma prova emblemática disso”, destaca.