A 'dama do tempoGreenwich': a história da mulher que vendeu o tempo no século 19 (e do homem que tentou impedi-la):
Wynne também insinuou que Ruth Belville teria usado seus dotes femininos para conseguir vantagens.
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Questãotempo
A empresa dos Belville era um negócio familiar, criado1836 por John Henry Belville (1795-1856). Ele era filhoum refugiado da Revolução Francesa, que passou a trabalhar como vigia e aprendiz do astrônomo real, John Pond (1767-1836).
Ao descrever Belville para um colega, Pond afirmou que o jovem era "regular, mas não inteligente".
As empresas que queriam saber a hora exata no início do século 19 — como relojoeiros, bancos e empresas do setor financeiroLondres — normalmente enviavam um funcionário para o Observatório Real. Eles batiam à porta e pediam para ver o relógio.
Mas o astrônomo sucessorPond, George Airy (1801-1892), ficou cansado desta situação. Ele limitou o acesso ao relógio a apenas uma vez por semana, às segundas-feiras.
A redução dos serviços deixou insatisfeitas as empresas que dependiam da hora certa, o que ofereceu a Belville a oportunidadeiniciar seus negóciosdivulgação da hora.
Como ex-assistentePond, ele tinha acesso a Greenwich e visitava o observatório todas as manhãs.
A primeira coisa que ele fazia era acertar seu relógiobolso. Em seguida, ele saía com seu carrinho para visitar os clientes, que pagavam uma taxa para olhar a hora certa e acertar seus próprios relógios.
Quando morreu, John Henry Belville tinha mais200 assinantes. Sua terceira esposa, Maria (1811-1899), assumiu o serviço.
E, com a morteMaria, foi a vezElizabeth Ruth, a filha do casal, passar a ser a vendedora do tempo.
'Tempo é dinheiro'
Todos os Belville usavam o mesmo relógiobolso, fabricado pelo relojoeiro John Arnold (1736-1799), originalmente para o duqueSussex.
O instrumento era confiável, mas o duque o rejeitou, dizendo que "parecia um urinol".
A ideia era incrivelmente simples — tão simples que os pioneiros das tecnologias mais avançadas subestimaramgenialidade.
Wynne (ou Winne) conversou com um grupoconselheiros e parlamentaresLondres, indicando a possibilidadeerros no método dos Belville.
Na qualidadediretor da empresa Standard Time Company, ele afirmou aos presentes que "as irregularidades dos relógios públicosLondres são diretamente responsáveis por imensos prejuízos financeiros".
Wynne descreveu a "inconveniência" do sistema dos Belville e culpou os "caprichos atuais" pela "apatia demonstrada pelo governo, pelo conselho do condadoLondres, pela corporação municipal e pelo público".
Ele disse ainda que "pode ser surpreendente para as companhias atuais descobrir como a hora era distribuída para o comérciorelógios".
"Uma mulher,posseum cronômetro, obteve permissão do astrônomo real da época (o que talvez nenhum homem tivesse conseguido) para ir ao Observatório acertar o relógio sempre que quisesse."
"Os negócios são conduzidos até hoje pelasucessora, ainda uma mulher, creio eu."
Depoisinsultar a quase todos, Wynne prosseguiu, comparando Londres desfavoravelmenterelação a Paris, Berlim e "outras cidades do continente".
Ele também criticou severamente os donosrelógios particulares por "deixaremreconhecer suas responsabilidades" e lamentou o "comportamento do públicogeralrelação à hora certa".
O objetivo dapalestra era promover a Standard Time Company, uma empresa comercial que fornecia pulsos horários elétricos,horahora, para relógios que eram corrigidos automaticamente.
Um editorial do Times sobre "relógios mentirosos" provocou grande debate na seçãocartas dos leitores.
Um certo sr. John Cockburn, da regiãoUpper Norwood, no sulLondres, sugeriu "algum tipocensura à hora certa mantida pelos relógios expostos ao público nas ruasLondres".
"Não é incomum encontrar,um espaçoalgumas centenasmetros, relógios com três ou quatro minutosvariação entre si", escreveu o leitor. "Altamente desejável como individualismomuitos aspectos, mas foralugar na horologia."
Para ele, "um relógio mentiroso é uma abominação e não deveria ser tolerado".
H. Berthoud,Wimbledon, escreveu ter ouvido "muitos estrangeiros" exclamarem surpresos que Londres não tinha relógios precisos nos "cruzamentos mais importantes da metrópole".
Já Robert Orb estava particularmente irritado: "Em Berna e Neuchatel [Suíça], relógios públicos eram controlados pneumaticamente 25 anos atrás."
"Mais ou menos na mesma época, todos os escritórios telegráficos do Império Indiano recebiam um sinal horário precisamente às 16 horas. E, aqui estamos,Londres, no ano1908, ainda perdendo tempo,forma tola e impotente, com inúmeros 'relógios mentirosos', que não são apenas um escândalo e uma desgraça, mas também infligem altos prejuízos pecuniários à comunidade."
"A desalentadora indiferença e estupidez do público é liderada pelos estúpidos órgãos do governo municipais e outros, que ficam tagarelando sobre o trabalho prático, mas são incapazesapreciar o profundo significado do provérbio inglês 'tempo é dinheiro'", conclui o leitor do Times.
Nenhum desses homens que escreviam furiosamente para os jornais da época parecia perceber o verdadeiro impacto do seu discurso sobre o humilde negócioRuth Belville.
Longeincentivar as pessoas a abandonar os antigos métodos e adotar o sincronismo eletrônico, a correspondência despertou a atençãomuitas pessoas que ainda não eram assinantes dos serviçosBelville.
Ter um serviço pessoal como aquele virou moda — e poder pagar pela atualização da hora certa três vezes por semana trazia consigo um certo graustatus.
A atenção da imprensa rendeu a Ruth Belville o apelidoDama do TempoGreenwich. Ela apareceupublicações como a revista Tatler e o jornal Evening News.
Posteriormente, ela declarou que St. John Wynne havia dado a ela grande visibilidade.
O acadêmico DonaldCarle (1893-1989), do Instituto BritânicoHorologia e autormuitas obrasreferência sobre o tema, conheceu e entrevistou Ruth Belville1939, um ano antes daaposentadoria.
Ela descreveu como saíacasa para chegar ao Observatório Real antes das 9 horas da manhã, acertar seu relógiobolso e receber o certificadoprecisão.
De Carle conta que "ela sempre se referia ao relógio como Arnold, como se fosse o nomebatismoum amigo querido".
Ela chegava ao observatório e"dizia: "Bom dia! O Arnold está quatro segundos adiantado hoje." Na sequência, ela retirava o Arnold da bolsa e entregava para você.
"O regulador ou relógio padrão era verificado e o relógiobolso era devolvido. A transação estava terminada", descreve ele.
Depoisacertar o Arnold para os próximos dias, ela passava o resto do expediente levando a hora certa para seus clientes.
Belville manteve seus negócios regulares até 1940, quando a Segunda Guerra Mundial fez com que aquela senhora86 anos passasse a ter dificuldades para andar com segurança pelas ruas.
Ela morreu três anos depois, com Arnold ao seu lado, deixando o relógio para o Museu da Clockmakers' Company,Londres.
O tempoRuth Belville havia acabado. Seu obituário foi publicadodiversos jornaiscirculação nacional no Reino Unido.
A tradição dos Belville morreu com a Dama do TempoGreenwich.