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A história sinistra por trás da foto da 'montanhabetnacional apostacrâniosbetnacional apostabisão':betnacional aposta
"Esta imagem é um exemplo da celebração colonial da destruição", afirma a cineasta Tasha Hubbard, do povo nativo americano Cri. Ela é professora da Faculdadebetnacional apostaEstudos Nativos da Universidadebetnacional apostaAlberta, no Canadá.
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Hubbard descreve o extermínio do bisão como parte "estratégica" da expansão colonial. A erradicação do animal "era vista como a conquista do Oeste, a subjugação daquele espaço selvagem, necessária para expandir a colonização".
O abatebetnacional apostamassa do bisão na era colonial foi um golpe permanente para as tribos que dependiam do animal para seu sustento.
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Ele prejudicou a evolução das nações dependentes do bisão,betnacional apostaforma mensurável e duradoura,betnacional apostacomparação com aquelas que não dependiam do animal. Elas registravam, por exemplo, mortalidade infantil superior às outras nações, segundo um estudo comparativo.
O estudo concluiu que a perda do bisão lançou as nações dependentes do animalbetnacional apostauma trajetória fundamentalmente diferente, que persiste até os diasbetnacional apostahoje.
Os povos originários americanos caçaram bisões por séculos.
Para aquelas nações, o animal fazia parte dabetnacional apostacultura basicamente nômade. O bisão fornecia um sustento vital – carne para a alimentação, peles para abrigos e roupas e ossos para ferramentas.
Na cultura popular ebetnacional apostafontes históricas, o bisão costuma ser chamadobetnacional apostabúfalo, como indicavam os primeiros colonizadores. Mas, na verdade, trata-sebetnacional apostadois animais diferentes.
Os povos origináriosbetnacional apostatoda a América do Norte dependiam do animal, segundo Hubbard. "Por isso, retirar aquela espécie fundamental possibilitou usar a fome como arma contra os povos indígenas, nos enfraquecendo para nos controlar e nos retirar dos nossos territórios."
Apesar da utilidade do bisão, estimativas indicam que os caçadores nativos americanos abatiam menosbetnacional aposta100 mil animais por ano. Esta quantidade fazia muito pouca diferença para a populaçãobetnacional apostaanimais no início do século 19, que erabetnacional aposta30 a 60 milhõesbetnacional apostabisões.
Mas,betnacional aposta1ºbetnacional apostajaneirobetnacional aposta1889, havia apenas 456 bisões puro-sangue nos Estados Unidos. E 256 deles viviambetnacional apostacativeiro, protegidos no Parque Nacionalbetnacional apostaYellowstone e alguns outros santuários da vida selvagem.
'Desejobetnacional apostariqueza e poder'
Existem diversos motivos para o abatebetnacional apostamassa dos bisões. Um deles foi a construçãobetnacional apostatrês ferrovias que atravessam as áreas com maior populaçãobetnacional apostabisões. A obra aumentou a demanda pela carne e pelo couro dos animais.
Paralelamente, as espingardas modernas facilitaram o abate do bisão. E também não existiam medidasbetnacional apostaproteção para restringir a caça.
Mas havia uma razão mais sinistra e específica para o declínio dos animais, do que o simples aumento da demanda pelos produtosbetnacional apostabisão. E a própria necessidade aparentemente práticabetnacional apostaobter carne e courobetnacional apostabisão,betnacional apostaúltima análise, estava relacionada à colonização e à conquista do território, segundo os historiadores.
"O desejobetnacional apostariqueza e poder na formabetnacional apostapropriedadebetnacional apostaterras, pessoas escravizadas e a busca por crescimento e lucros infinitos, além da transformação dos recursos naturaisbetnacional apostacommodities, são os motivos da intensa caça ao bisão e dos ataques físicos e políticos à condição humana e ao sentimentobetnacional apostanação dos indígenas ao longobetnacional apostacinco séculos", destaca Bethany Hughes, membro da nação Choctaw, do Estado americanobetnacional apostaOklahoma. Ela é professora do Departamentobetnacional apostaEstudos Nativos Americanos da Universidadebetnacional apostaMichigan, nos Estados Unidos.
A Ferrovia Transcontinental, inauguradabetnacional aposta1869, também acelerou a dizimação da espécie.
Em 1871, um curtume da Pensilvânia, nos Estados Unidos, desenvolveu um métodobetnacional apostatransformar a pele do bisãobetnacional apostacouro comercial. Com isso, multidõesbetnacional apostacaçadores dizimaram rebanhos das planícies centrais americanas com "rapidez alarmante", segundo um estudo.
A infame fotografia dos crâniosbetnacional apostabisões foi tirada na refinaria Michigan Carbon Works, que processava os ossos. Ali, os ossos dos animais eram transformadosbetnacional apostacarvão, que era usado pela indústria açucareira para filtrar e purificar o açúcar. Os ossos também eram usados como cola e fertilizante.
"Esta foto registra uma iniciativa comercial muito bem sucedida, construída sobre os detritos criados pela expansão do Oeste americano e pela lógica racial que a acompanhava,betnacional apostainferioridade dos nativos americanos", afirma Hughes.
Nesta versão maior da imagem histórica, dois homens da refinaria Michigan Carbon Works posam sobre uma montanhabetnacional apostacrâniosbetnacional apostabisão.
"O colonialismo e o capitalismo andam juntos", prossegue ela.
"Incentivar e se beneficiar com o tipobetnacional apostasucesso econômico desta companhia que processava os ossosbetnacional apostabisão, [que] eram o subproduto das táticas, às vezes violentas,betnacional apostaexpansão dos colonizadores americanos, era [o mesmo que] se beneficiar e participarbetnacional apostaprojetos coloniais que retiravam dos povos indígenas abetnacional apostaterra, abetnacional apostanacionalidade e abetnacional apostacultura."
Para Hughes, "esta foto não é um lembrete que reforça os danos do passado colonial. É uma acusaçãobetnacional apostapráticas comerciaisbetnacional apostaconsumo que obscurecem as condições éticas e materiaisbetnacional apostaproduçãobetnacional apostaartigosbetnacional apostaluxo, como o açúcar refinado, que é facilmente disponível e, aparentemente, inofensivo."
'Mate todos os que puder'
O abate do bisão também fez partebetnacional apostacampanhas militares que usaram a escassezbetnacional apostarecursos como mudança tática.
É um fato bem documentado que oficiais do exército enviaram soldados para matar bisões no Oeste, como formabetnacional apostaesgotar os recursos dos nativos americanos durante a colonização dos Estados Unidos.
Uma análise do historiador Robert Wooster no seu livro The Military and United States Indian Policy ("Os militares e a política indigenista dos Estados Unidos",betnacional apostatradução livre) reconhece que o general do exército Philip Sheridan (1831-1888), responsável pela estratégiabetnacional aposta"Guerra Total" contra as tribos das planícies do sul, "percebeu que eliminar o búfalo poderia ser a melhor formabetnacional apostaforçar os índios a mudar seus hábitos nômades".
Existem registrosbetnacional apostaSheridan dizendo aos legisladores que tentavam aprovar leis para proteger os rebanhosbetnacional apostadeclínio:
"[Os caçadores] estão destruindo os suprimentos dos índios. E é um fato conhecido que um exército que perdebetnacional apostabasebetnacional apostaabastecimento ficabetnacional apostagrande desvantagem... Para a paz duradoura, deixem que eles matem, tirem abetnacional apostapele e vendam até que os búfalos sejam exterminados."
Em uma carta a um colega generalbetnacional aposta1868, Sheridan escreveu que "a melhor saída para o governo, agora, é empobrecer [as tribos] com a destruição dos seus rebanhos e, depois, assentá-los nas terras atribuídas a eles".
Outro oficial do exército, o lugar-tenente Coronel Dodge (1827-1895), disse a um caçador: "Mate todos os búfalos que puder! Cada búfalo morto é um índio que desaparece."
As tribos nativas americanas sabiam o que estava acontecendo.
Satanta (c.1815-1878) – chefe da tribo Kiowa, nas Grandes Planícies – reconheceu que "destruir o búfalo significava a destruição dos indígenas", relembra o explorador e caçadorbetnacional apostabisões do Estado americano do Texas, Billy Dixon (1850-1913), nabetnacional apostaautobiografia.
"Para subjugar e conquistar para sempre as tribos das planícies, o general Philip Sheridan incentivou e praticou exatamente o que Satanta receava que pudesse acontecer", segundo Dixon.
'Faltabetnacional apostahumanidade'
Privar os nativos americanos do bisão fazia com que eles fossem forçados a se mudar para as novas reservas estabelecidas para eles pelo exército americano. Só assim, eles poderiam cultivar alimentos para sobreviver.
A estratégia do exército funcionou. Os membros da tribo Kiowa foram posteriormente levados para uma reservabetnacional apostaOklahoma.
Em questãobetnacional apostauma geração, a altura média dos nativos americanos que dependiambetnacional apostagrande parte do bisão – e, por isso, foram os mais prejudicados pelo abate – caiubetnacional apostamaisbetnacional aposta2,5 cm. No início do século 20, a mortalidade infantil entre eles era 16% mais alta e a renda per capita daquelas nações permaneceu 25% inferior,betnacional apostacomparação com as nações menos dependentes do animal.
Mas houve algumas discussões ao longo dos anos sobre o abate dos animais. Como os caçadores conseguiram matar entre 30 e 60 milhõesbetnacional apostabisões, por exemplo?
Um estudobetnacional aposta2018 apresentou esta questão e ofereceu uma resposta: uma doença epidêmica.
Segundo o estudo, duas doenças existentes nos Estados Unidos naquela época – o antraz,betnacional apostaNebraska e no Texas, e a febre maculosa,betnacional apostaMontana – teriam sido "suficientemente mortais para exterminar dezenasbetnacional apostamilhõesbetnacional apostaanimais".
Independente da causa, as populaçõesbetnacional apostabisões nunca se recuperaram totalmente. A espécie ainda é relacionada como quase ameaçada.
Mas, nos últimos anos, surgiram esforços para trazer o bisãobetnacional apostavolta às Grandes Planícies. Afinal, eles são extremamente importantes para o ecossistema das pradarias.
A Leibetnacional apostaRedução da Inflaçãobetnacional aposta2023, do governo dos Estados Unidos, reservou US$ 25 milhões (cercabetnacional apostaR$ 149 milhões) para a restauração do bisãobetnacional apostatodo o país.
E também estão surgindo outros esforços menores: 1 mil bisões criadosbetnacional apostareservas pertencentes à organização ambiental The Nature Conservancy foram devolvidos para suas terrasbetnacional apostapastagem ancestrais.
Em outra iniciativa, um projetobetnacional apostarestauraçãobetnacional apostaMontana pretende trazer 5 mil bisõesbetnacional apostavolta às pradarias e as tribos devolveram 250 bisões para suas terras,betnacional apostaparceria com a Federação Nacional da Vida Selvagem.
A mensagem por trás da espantosa montanhabetnacional apostacrâniosbetnacional apostabisão foi perdida ao longo do tempo, segundo Hughes.
Para ela, a imagem transmite uma mensagem simplista que faz com que os observadores sintam tristeza pelo passado, mas não os leva a confrontar "as formas que o sistema colonial e capitalista usa para continuar influenciando negativamente o nosso ambiente e as nossas vidas".
"Mais do que isso, esta foto simboliza como os consumidoresbetnacional apostaprodutos são o motor que dirige a máquina colonial."
"Se você desumanizar outra pessoa ou transformar um ser vivobetnacional apostaum objeto,betnacional apostaum 'recurso natural', você terá reveladobetnacional apostaprópria faltabetnacional apostahumanidade e compreensão sobre o que significa viverbetnacional apostaparceria com o mundo àbetnacional apostavolta", prossegue Hughes.
"É importante compartilhar esta mensagem com o público, pois é um problema que persiste, não uma questão histórica."
*Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Earth.
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