PM que fuzilou dois colegas era conhecido pela gentileza e falou com a BBC um mês antes do crime:pixbet telefone

Sargento Gouveia durante abordagem na regiãopixbet telefoneSalto

Crédito, Reprodução/ YouTube

Legenda da foto, Sargento Gouveia disse à BBC que,pixbet telefone32 anos na polícia, nunca tinha participadopixbet telefoneuma ocorrência grave

Casado, o capitão Justi deixa dois filhos,pixbet telefone3 e 5 anos. Já o sargento Silva, também casado, deixa três filhos,pixbet telefone15, 18 e 29 anos. Ambos foram enterrados no cemitério Pax,pixbet telefoneSorocaba.

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Procuradas, a Secretaria da Segurança Pública e a Polícia Militar não deram detalhes sobre o caso e se resumiram a dizer, por meiopixbet telefoneuma nota, que "todas as providênciaspixbet telefonePolícia Judiciária Militar estãopixbet telefoneandamento neste momento e a Corregedoria da Instituição acompanha as apurações".

Há um mês, a reportagem da BBC News Brasil entrevistou o sargento Claudio Gouveia.

Durante uma conversapixbet telefonequase uma hora, a reportagem buscou entender por que ele era considerado nas redes sociais, especialmente no YouTube, um dos policiais "mais gentis do Brasil" e o que ele pensava disso.

Durante a entrevista, o sargento Gouveia agradeceu os elogios recebidos nas redes sociais e afirmou que apenas fazia o trabalho dele, seguindo o manual da Polícia Militar.

"A polícia foi aprendendo [ao longo dos anos] com as situações adversas que ela foi encontrando e foi melhorando. Não tive nenhuma ocorrência grave na minha vida, na minha carreira. Hoje, eu estou com 32 anospixbet telefonepolícia. Passei por diversos batalhões por consequência do meu trabalho", afirmou.

Duplo homicídio

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Na terça-feira (16/5), a BBC foi até Salto, onde conversou com dezenaspixbet telefonepessoas, entre testemunhas do crime, comerciantes da região e também com a mulherpixbet telefoneGouveia.

A intenção foi saber mais sobre o que motivou a atitude do sargento contra seus colegas. A reportagem teve acesso ao boletimpixbet telefoneocorrência feito pela Polícia Militar, que contém o depoimentopixbet telefone12 policiais militares que estavam no batalhão no momento do duplo homicídio.

De acordo com as testemunhas, por volta das 9h, Gouveia disse para os militares que haveria um treinamento, que seria feito com fuzis na parte externa do batalhão, e pediu para que todos saíssem do prédio e fossem até o local.

Quando todos saíram, dizem as testemunhas, ele trancou a porta e foi para a sala onde estavam as vítimas.

Um policial disse à reportagem que, no caminho, ele passou pelo setor administrativo e fez um alerta.

"Ele disse para as pessoas não se preocuparem porque não aconteceria nada com elas. Que poderiam ouvir barulhos, mas que ficaria tudo bem com as outras pessoas da equipe", afirmou à reportagem um policial que pediu para não ser identificado.

Armadopixbet telefoneum fuzil, ele fez diversos disparos contra Roberto da Silva e Josias Justi, contam as testemunhas. As vítimas chegaram a ser socorridas pelo helicóptero Águia da PM, mas não resistiram aos ferimentos.

Fachadapixbet telefonebatalhão onde dargento matou dois colegas com tirospixbet telefonefuzil

Crédito, Felipe Souza

Legenda da foto, Com bandeiras a meio mastro, clima erapixbet telefoneprofunda tristeza onde sargento matou dois colegaspixbet telefonefarda

Logo após os tiros, Gouveia algemou a si mesmo e se entregou, segundopixbet telefonedefesa. A previsão erapixbet telefoneque ele passasse por uma audiênciapixbet telefonecustódia na terça-feira (16/5) para decidir se ele seria solto ou mantido preso no presídio Romão Gomes, dedicado a policiais militares, na zona norte da capital paulista.

No entanto, ele passou mal e a audiência foi remarcada para esta quarta (17/5).

Com bandeiras a meio mastro, o batalhão funcionou normalmente no dia seguinte, mas com um profundo climapixbet telefonetristeza. Os policiais dizem que a tropa está psicologicamente abalada.

"Está todo mundo arrasado. Ninguém tem condiçõespixbet telefonetrabalhar aqui hoje. O enterro estava lotado e a nossa equipe foi ao velório. Ninguém consegue acreditar no que aconteceu", relatou um dos PMs à reportagem.

Uma comerciante da região, que pediu para não ser identificada, disse que o sargento era visto frequentemente ajudando pessoas, como vizinhos e moradorespixbet telefonerua.

"Foi por causa dessa bondade dele que as pessoas ficaram chocadas quando descobriram que foi ele [o autor do crime]. É inacreditável", exclamou.

Outro, disse que faria um almoço para os soldados nesta semana e que já tinha inclusive comprado as carnes, a pedido do capitão Josias Justi.

"Eu não tenho do que reclamarpixbet telefonenenhum deles. Conheço os policiais desse batalhão e não tem como acreditar no que aconteceu, principalmente o Gouveia. Eu não julgo porque não sei o que passou na cabeça dele, mas foi algo completamente imprevisível", afirmou à reportagem.

Questionado sobre quais seriam as possíveis motivações, o policial se resumiu a dizer: "Muita pressão".

Na terça, a BBC também conversou por telefone com a mulher do sargento Gouveia. Ela disse que, ao menos por enquanto, não vai comentar o caso. Mas mandou algumas fotos do policial durante as aulaspixbet telefonepatinação e afirmou que ela está extremamente abalada.

Procurada, a Polícia Militar não informou se Gouveia e a mulher dele, também PM, recebiam acompanhamento psicológico nem mesmo qual seria a motivação do crime.

A reportagem não conseguiu contato com as famílias das vítimas do crime.

Sargento Gouveia sentado segurando um bebê

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Pessoas ouvidas pela reportagem descrevem Gouveia como uma pessoa respeitosa não apenas como policial, mas também sem a farda

Nascido no Paraná e criadopixbet telefoneAraçatuba, no interiorpixbet telefoneSão Paulo, o sargento Gouveia já atuou também na capital paulista,pixbet telefonebatalhões da zona sul e central.

Em Salto há dez anos, ele contou para a BBC que entrou na polícia por influência do pai.

"Ele foi agricultor por muito tempo, analfabeto. Era o sonho dele entrar no Exército ou virar policial. E parte dos brinquedos que ele dava para a gente eram viaturas e distintivos. Nisso, servi o Exército e surgiu a oportunidadepixbet telefoneprestar concurso. Prestei, passei e estou até hoje, incentivado pelo meu pai", contou ele.

Ele disse ter iniciado a carreira na políciapixbet telefone1991 e que se orgulhavapixbet telefonenão ter se envolvido até entãopixbet telefonenenhuma ocorrência grave.

Durante toda a entrevista, ele manteve um tom elogioso à corporação e citou uma evolução na conduta da tropa como um todo.

'Enquadros gentis'

Em um vídeopixbet telefonepouco maispixbet telefoneum minuto, registrado por uma câmera acoplada ao capacetepixbet telefoneum motociclista abordado na regiãopixbet telefoneSalto, o sargento Gouveia conversa com o homempixbet telefonemaneira cordial e respeitosa.

Com uma postura receptiva e sem armaspixbet telefonepunho, ele pergunta o nome e o que o piloto está carregando no baú. "Marmita e bolo", responde o motociclista na sequência.

"Senhor [nome do motociclista], está sendo desencadeada a Operação Rodovia Mais Segurapixbet telefonetodo o Estadopixbet telefoneSão Paulo, simultaneamente. Desce um pouquinho (da moto), põe no pezinho e apresente o documento do senhor", disse com calma o experiente sargento Gouveia.

O registro o incluiu no rolpixbet telefoneuma sériepixbet telefonevídeos publicados no YouTube que reúne os "Enquadros mais gentis do Brasil". O que o destacapixbet telefonemeio aos outros colegaspixbet telefoneprofissão incluídos na edição é a quantidadepixbet telefonecomentários elogiosos.

"Esse policial tem meu completo e absoluto respeito. Policial digno e exemplar. Que pena que nem todos são assim tão simpáticos", diz o mais curtido deles.

Sargento Gouveia durante abordagem na regiãopixbet telefoneSalto

Crédito, Reprodução/ YouTube

Legenda da foto, No YouTube, Gouveia estápixbet telefoneuma coletânea que reúne as abordagens 'mais gentis do Brasil'

Entre as dezenaspixbet telefonecomentários que rasgam elogios ao sargento, um deles também destaca o comportamento do oficial sem a farda.

"Ele é meu treinadorpixbet telefonehóquei. Ele é um dos melhores policiais que já conheci. Conheço elepixbet telefonefarda e na casa dele. Um exemplopixbet telefonecidadão epixbet telefonepolicial. Ele tem um projeto social onde ensina patinação aqui no meu bairro. Ele é muito respeitado na comunidade local", afirmou.

Um PM que patinava

Durante a entrevista à BBC News Brasil, os momentos que mais empolgaram o sargento Gouveia foram quando ele foi perguntado sobre as aulaspixbet telefonepatinação que oferecia no bairro onde moravapixbet telefoneSalto.

"A minha atuação na comunidade lá se destaca. A gente consegue atingir maispixbet telefone300 pessoas, entre os que já saíram, que se formaram, e os que ficaram e hoje são voluntários. Nós hoje temos psicólogos, professorespixbet telefonehistória, profissionais liberais. Todo tipopixbet telefonepessoa. Alunos, adolescentes que se tornam instrutores, ficam lá dentro do Instituto e continuam dando aulapixbet telefonepatinação. Tudopixbet telefonegraça", contou.

Sargento Gouveia (à esq.) ao ladopixbet telefoneparticipantespixbet telefoneprojeto social no qual ele ensina hóquei e patinação

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Sargento Gouveia (à esq.) ao ladopixbet telefoneparticipantespixbet telefoneprojeto social no qual ele ensina hóquei e patinação

São 30 voluntários que participam das aulas gratuitas. Até mesmo o equipamento é oferecido pelo sargento. As pessoas que se destacam são chamadas para participar do timepixbet telefonehóquei da cidade, apelidadopixbet telefoneJump City, uma brincadeira com o nome da cidadepixbet telefoneinglês.

"O nosso foco aqui é só cuidar da criançada, da população", afirmou.

Na entrevista, o sargento Gouveia criticou quem usa casospixbet telefoneviolência policial para generalizar o comportamento da corporação.

"Ocorre uma ocorrência lá no Amazonas e a pessoa não diz que foi lá no Amazonas, que foi aquele policial. Uma ocorrência foi lá no Pará. Você teria que falar: 'Foi um policial militar lá do Pará que cometeu aquela ocorrência e está sendo submetido a todo tipopixbet telefonesituação administrativa, respondendo por um fato que se tornou crime'. [Mas] não, a pessoa fala 'a Polícia Militar'. Hoje, com a globalização e a disseminação da notícia, é muito fácil. As pessoas acabam colocando no mesmo tonel", afirmou.

Na ocasião, o sargento ressaltou as qualidades que um policial deve ter para lidar com o público e não se exaltar durante uma abordagem, por exemplo.

"Para lidar com ocorrência, com o público, o policial militar precisa estar preparado emocionalmente, estar preparado espiritualmente, sabendo que ele corre o riscopixbet telefoneser ofendido e não levar para o lado pessoal, apenas profissionalmente. Então, se houver necessidade do emprego da força, será feito um escalonamento conforme está no manual. Mas o que eu posso adiantar é que isso é difícilpixbet telefoneacontecer, uma vez que, se você vai trabalhar, você já está no controlepixbet telefonedesviarpixbet telefonetoda aquela energia negativa", explicou.

No fim da conversa, a reportagem da BBC pediu que o sargento Garcia mandasse um recado para as pessoas que criticam e têm medo do trabalho da PM, e também aos policiais que agempixbet telefonemaneira truculenta.

"Eu posso dizer para tu, tanto para os policiais militares, quanto para a população amiga num contexto geral. A Polícia Militar está aqui para servir e proteger. E posso dizer que todos nós policiais militares estamos atuando sobre a proteçãopixbet telefoneDeus, que é o ser mais divino que tem. Sob a proteção dele, a gente atua na defesa da vida, da dignidade da pessoa humana,pixbet telefonetodos os direitos, integridade física,pixbet telefonetudo o que tem que ser preservado. Essa é a atuação da Polícia Militar", afirmou.

E encerrou com um convite.

"Eu quero agradecer a oportunidade. Muito obrigado. Você é um excelente profissional. E fica aberto um convite para você tomar café conosco e conhecer o nosso coronel. Esse pensamento que eu tenho é o mesmo do nosso coronel, o [Emerson] Drague. Ele atua com o batalhão dessa forma. É assim que ele comanda os policiais, assim ele quer que os policiais trabalhem. Ele é um excelente comandante. Então, fica aberto o convite para o senhor vir para cá conhecer a turma, conhecer Itu, uma das cidades mais antigas do país. Eu espero que essa notícia brilhe a Polícia Militar".

*Reportagem com a colaboraçãopixbet telefone pixbet telefone Felipe Corazza